Um jeito de ser bom de novo escrita por Sassenach


Capítulo 8
Capítulo 5




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DUAS SEMANAS DEPOIS NÓS JÁ ESTÁVAMOS com as malas prontas, e colocando as últimas coisas dentro do carro. Soraya conseguira para nós um avião que saia de San Francisco e ia para uma cidade vizinha a Cabul. Ela queria que passássemos primeiro no Paquistão, para que eu pudesse ver Farid, e que depois pegássemos de lá um voo para Cabul. Mas todos esses voos resultariam num custo muito alto, então pedi para que ela fechasse o pacote que nos levaria de avião até Cabul, e depois iríamos de carro ao Paquistão. Eu estava extremamente ansioso, e não conseguia nem pensar direito. Soraya me dava um monte de malas e pedia para que eu as levasse até o carro. Fiz o que ela disse e quando terminei já nem havia espaço no porta malas. Nós entramos o carro e partimos em direção ao aeroporto de San Francisco, em direção a Cabul.

Durante aquelas duas semanas nossa casa ficou mais animada do que não esteve em dois anos. Soraya pesquisava todas as possibilidades de viagens que poderíamos fazer e todos os pacotes que poderíamos comprar. Ela achou um que faria apenas um voo, que nos levaria direto para uma cidadezinha ao lado de Cabul, e depois iríamos para minha casa de carro. Fechamos o pacote e na mesma semana recebi o pacote que Farid mandara. Lá dentro estavam as escrituras das casas, cópias das chaves, assim como os documentos dos carros e as chaves destes.

Algo que me chamou a atenção foi um papel meio amassado, escrito em máquina de escrever, onde se lia o testamento de baba. Neste, ele passava para minha posse tudo o que possuía. Os carros, casas, o orfanato, as empresas, os restaurantes... Me lembrei daquela conversa que baba e Rahim Khan tiveram uma vez na sala de fumar, e nesta meu pai disse que temia que eu não pudesse assumir seus negócios. Aparentemente ele não estava muito interessado na minha capacidade de assumi-los, porque de qualquer jeito, tudo aquilo agora me pertencia. É claro que os carros já deviam estar destruídos, os restaurantes seriam ruínas, e as empresas teriam falido. Como me fora contado, o orfanato ao qual meu pai tanto se dedicou havia sido demolido pelo Talibã, pelo menos uns seis anos atrás. Tudo o que restara era a casa. Aquela velha casa para a qual eu iria agora.

Sohrab era o cúmulo da empolgação. Claro que ele não demonstrava isso totalmente, apesar de sua explosão de comunicabilidade na semana anterior. Ele era assim: passava a maior parte do tempo na sua, apenas observando o que acontecia ao seu redor, e quando achava estritamente necessário ele manifestava sua presença. Naquela noite ele chorara em meus braços e ficamos conversando sobre a viajem. Nessa semana porém, ele permanecera calado, mas eu via sua empolgação no olhar. Era como se ele quisesse falar a cada minuto, fazendo perguntas e mais perguntas sobre como estava indo o planejamento, e como não dizia nada ele apenas sorria, sorria e sorria. Naqueles dias pedi a ele que separasse tudoo que ele queria levar a Cabul. Entreguei a ele uma mala e pedi para que colocasse ali o que pretendia levar. Achei inútil dizer que não precisava levar muita coisa, já que ele não se apegara a nada daquele quarto.

Um dia antes da viajem, enquanto ele dormia, eu e Soraya pegamos sua mala e levamos para a sala. Abrimos sobre o sofá e vimos o que tinha dentro: Algumas mudas de roupa, entre elas aquela que eu comprei para a ocasião de seu aniversário, a colcha com desenhos de pipas que Soraya comprou para ele, pertences básicos como meias, escova de dentes e roupas íntimas, e o que me chamou a atenção foi a pipa azul, em baixo de tudo, no fundo da mala. Grudada nela estava a foto na qual pai e filho se abraçavam, ambos com aquele mesmo sorriso. Ao ver a foto meu estômago se revirou. Precisei me sentar na poltrona.

— O que foi Amir? — perguntou Soraya vindo em meu auxílio — Está tudo bem?

— Não, não está! — eu realmente não estava bem. Ver aquela foto me lembrou que nem tudo havia sido um mar de rosas naquela cidade. Me lembrou que mais cedo ou mais tarde eu teria que contar à Sohrab como falhara miseravelmente com seu pai. Aquela casa me rodearia de lembranças em cada cômodo, em cada móvel em cada porta e em cada objeto. — Eu não sei se aguento Soraya, não sei se consigo.

Ela sorriu amorosamente, me deu um beijo suave e disse baixinho:

— Você consegue. E se não for por você, faça isso pelo garoto. — aquilo foi realmente reconfortante e tive que respirar fundo umas duas vezes até me sentir totalmente bem. Fechamos a mala e colocamos no carro, fomos para a cama e adormecemos.


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