Uma Nova Etapa escrita por Bianca Saantos


Capítulo 40
Capítulo 40 - Final


Notas iniciais do capítulo

OLÁ AMORES

Voltei, emocionada com os comentários de algumas leitoras. Vocês são lindas demais. Obrigada mesmo.
É isso mesmo? Mais uma história chegando ao fim? Nunca pensei que escreveria mais nenhuma história depois da minha primeira, mas isso aqui é um vício, e eu adoro este lugar.
Espero que vocês aprovem este capítulo, e que estejam preparados pelo que está por vir, porque olha... To tendo umas ideias mirabolantes hahahaha, não sei se são boas ou ruins, mas com o tempo descubro.
Boa leitura babes
Até lá em baixo!



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Violetta

 

Estou com a cabeça apoiada no peito de León, com meus braços envoltos ao seu corpo, e os meus olhos fechados, quase dormindo com tanta serenidade e paz que estou sentindo. Estamos dançando uma música lenta, enquanto alguns casais também fazem a mesma coisa, inclusive meu pai e a Angie. Acho que essa é a última dança da noite, não sei ao certo. Perdi a noção do tempo já. Estou dançando abraçada a León, sem pensar em nada a minha volta. Essa foi uma das noites mais felizes da minha vida, e olha que eu nem era a noiva, imagina só como a Angie, ou o meu pai, devem estar se sentindo? Foi tudo muito intenso, por isso tudo que eu quero fazer é ir para a minha cama. Dormir até dizer chega. Meus pés estão gritando em cima de salto.

— Meu amor... – León me chamou com sua voz rouca no pé do meu ouvido.

— Hm – resmunguei ainda com os meus olhos fechados.

— A música já acabou. – respondeu me fazendo cair no mundo real novamente. – Seu pai e Angie começaram a se despedir do pessoal.

Abri os olhos, encontrando o salão praticamente vazio, enquanto um pequeno alvoroço se formava lá fora. Angie e papai estavam se despedindo dos amigos. Um pouco sonolenta ergui meu olhar até o de León. O mesmo me olhava terno e com um sorriso torto nos lábios. Sorri vendo que ele me olhava com tanto carinho. Levei meus lábios até seu queixo, já que o mesmo era mais alto, e essa era a parte do seu rosto que eu conseguia alcançar no momento, depositando um beijo rápido.

León sorriu e se curvou um pouco tomando os meus lábios nos dele, me beijando calmamente, sem pressa. Podia ser assim para sempre, eu com certeza não iria me importar.

— Vamos nos despedir dos seus pais? – León disse entre selinhos.

— Sim.

Ele pegou em minha mão, e nos dirigimos juntos para fora do salão. Papai e Angie estavam dando os últimos abraços. Eles estavam felizes, mas eu sei que não viam à hora de ir embora, deve ser muito cansativo, mas ao mesmo tempo esplendoroso.

— Prontos para a lua de mel? – perguntei assim que o último casal de amigos desejou-lhes parabéns. Angie corou bruscamente e meu pai me olhou de cara feia. Ué? Falei alguma coisa errada? Que loucos.

— Se comporte. – papai disse ameaçadoramente. – Quero que peça para Ramalho te deixar em casa, em segurança. – continuou e eu revirei os olhos.

— Papai, você está vendo o Ramalho por aqui? – perguntei e ele olhou em volta não encontrando ninguém. – Ele deve estar em algum lugar com a Olga. Eles estão de férias. León vai comigo.

— León? Faça me rir. Depois de que eu soube o que vocês me aprontam quando estão sozinhos. Nem por cima do meu cadáver que vocês ficaram juntos na minha ausência.

— Você está sendo infantil! – bati o pé e cruzei os braços fazendo uma cara feia.

— Vocês não vão brigar justo hoje né? – Angie se intrometeu. – E Germán, por favor, você realmente está sendo infantil, desculpe, mas dessa vez eu tenho que concordar com a Violetta. – ela disse e eu sorri, vendo meu pai ficar com a cara feia – Eles já são grandinhos o suficiente, e o que eles fazem ou deixam de fazer não é da nossa conta né? Assim como o que nós fazemos não é da conta deles.

— Mas Angie... – papai tentou argumentar, mas ela o interrompeu.

— Qual é Germán? Você tem milhares de preocupações sempre, mas justo hoje você vai querer se preocupar com a sua filha e o namorado? Hoje é o dia é só nosso. E o León sabe muito bem cuidar da nossa Violetta. – sorri involuntariamente quando ela disse “nossa” Violetta. – Sem contar que os dois não têm tanto tempo juntos. León vai embora depois de amanhã, se esqueceu?

Até eu tinha me esquecido disso. Instintivamente olhei para León buscando apoio. Meu namorado está prestes a partir. Meu coração apertou, e meus olhos começaram arder. A noite estava incrível sem me lembrar disso. Suspirei alto e León pegou minha mão, apertando, acho que em uma tentativa de me consolar.

Papai me olhou pensativo e vi Angie sorrir. Acho que ela é a única pessoa que tem o poder de entrar na mente do meu pai para ajudá-lo a ter atitudes certas. Ele se aproximou de mim, olhando nos meus olhos e tomou uma de minhas mãos.

— Você vai ficar bem? – ele perguntou se referindo a partida do León.

— Espero ficar. – dei de ombros. – Quando você volta?

— Daqui quinze dias. – Uau. Quinze dias de lua de mel?

— Ok.

— Qualquer coisa que precisar me ligue que eu volto num instante.

— Pai, longe de mim, querer atrapalhar sua viagem. Pode ir tranquilo. Esqueça que eu existo. – pedi.

— Filha, eu me preocupo com você desde que você veio ao mundo, e não é agora que eu vou fingir que você existe. – falou e eu sorri.

— Tá bom... Então só tente não se preocupar muito, eu vou ficar bem.

— Mesmo depois de o seu namorado ir embora?

— Talvez eu chore um pouco, mas nada que o senhor precise voltar para casa correndo. – falei risonha.

— Tudo bem então. – me abraçou. – Vou sentir sua falta.

— Eu também.

Ficamos uns segundos abraçados, mas logo nos separamos. Papai beijou minha testa e me liberou, voltando sua atenção para León. Os dois trocaram um aperto de mão e um abraço. Sorri. Papai amava León que eu sei. Fui até Angie e a mesma abriu os braços para me abraçar.

— Juízo mocinha. – ela disse baixo no meu ouvido. – E divirtam-se.

— Pode deixar. – murmurei com um sorriso. – Obrigada Angie. Você é a melhor madrasta que alguém pode ter.

— Obrigada por me aceitar. – beijou minha testa. – Mas agora é hora de ir. – ela disse em voz alta chamando a atenção de meu pai. – Nós não queremos perder o vôo, não é Germán?

— Não, com certeza não. – papai disse apressado.

— Qual será o primeiro destino? – perguntei sabendo que os mesmo iriam fazer um tour por alguns países da Europa.

— Portugal. – Angie respondeu empolgadíssima.

— Boa viagem. – desejei e eles agradeceram.

Os dois entraram no carro e acenaram para mim e o León. Acenamos de volta e eles se foram. Olhei para León e sorri. Como iríamos voltar para casa agora?

— Acho que teremos que chamar um taxi. – murmurei e ele revirou os olhos.

— Eu odeio taxi. – resmungou me fazendo rir, mas logo pegou seu celular.

 

***

 

León

 

Um corpo é mais que só um corpo, é um vulcão de sensações e emoções. E é isso que eu estou pensando enquanto sinto o pequeno corpo de Violetta tremer embaixo do meu. Não é só desejo, tem tanto amor envolvido que eu não sei se o que estamos fazendo é sonho ou realidade. Beijei todo o seu rosto, enquanto sentia a mesma apertar o meu braço com força, fechando os olhos e sussurrando o meu nome, me fazendo perder os sentidos também.

Apoiei minha cabeça em seu ombro, sentindo sua respiração ofegante em meu ouvido. Eu amo quando estamos juntos desse jeito. O aroma que sua pele emanava estava me deixando tonto e com aquela vontade de querer mais e mais. Apertei-a em meus braços e a escutei dizer que me amava e sussurrei o mesmo. Ficamos em silêncio, enquanto eu sentia as carícias dela em meus cabelos.

— Estou me sentindo uma menina má. – Violetta disse rindo fraco, enquanto eu descansava meu corpo sobre o dela. – Foi só o meu pai sair em lua de mel que nós corremos para o quarto.

— Não tenho culpa se não consigo resistir a você. – beijei seu ombro.

— Eu também não consigo. – acariciou meu rosto.

— Então estamos quites. – dei um rápido beijo nos lábios dela.

— Hm... Tenho que te contar uma coisa.

— O que? – perguntei deitando ao seu lado prevendo que seria uma conversa séria, e aproveitei para cobrirmos nossos corpos com o fino lençol.

— Primeiro me diz o que você acha de bebês?

— Bebês? – perguntei sentindo o oxigênio sair aos poucos do meu cérebro.

— É. Bebês. – repetiu com um sorriso.

— Bem louco. – falei com a cabeça confusa, sentindo minha consciência pesar por alguns segundos.

— Que carinha é essa? – ela perguntou rindo. – Você está meio pálido. Falei alguma coisa errada?

— Violetta, você falou em bebês, depois de fazer amor comigo. Preciso me preocupar?

— Não, seu bobo. – riu me abraçando e colocando a cabeça sobre o meu peito. – Eu não estou grávida, ficou maluco? – me deu um tapa leve na cabeça. – Angie está. Meu pai vai ser pai novamente. Isso sim é louco. Nunca pensei que um dia teria um irmão. Acho que isso é bom não é? – suspirei muito aliviado. Antes o Germán sendo pai do que eu, não tenho estrutura psicológica para isso, não ainda. Sem contar que se Violetta estivesse grávida, Germán me mataria.

— Acho que sim. Sempre tive a Mel, então não sei como é ser filho único. – respondi um pouco desnorteado.

— É bem chato. – Violetta riu. – É legal ter um pai só pra você, mas às vezes você quer ter alguém sempre ao seu lado, sem ser seu pai ou sua mãe.

— Ter a mim não conta?

— É claro que conta. – me deu um beijo rápido do queixo. – Mas estou falando de alguém que vive com você o tempo todo, que divide as mesmas situações, os mesmos pais, os mesmos momentos em família. Entende?

— Acho que sim. – dei de ombros.

— Estou ansiosa para essa criança nascer.

— Seu pai mal casou e... Aliás... Ele já sabe?

— Não, Angie pediu que eu guardasse segredo, porque ela mesma quer contar. E só estou contando, porque confio muito em você.

— E sempre vai poder confiar.

— Mas já que estamos falando de bebê... – ela começou e eu ri. – Quantos filhos você quer ter?

— Quantos você quiser ter. – falei com um sorriso.

— Mas e se eu não quiser nenhum? – Perguntou séria.

— Vou respeitar, mas sonho em construir uma família. E aí eu posso convencer você ao longo dos anos que passaremos juntos.

— É claro que eu quero ter filhos, ainda mais se for com você. – beijou meus lábios. – Você é o amor da minha vida, nunca se esqueça disso.

— E você é a minha vida. – abracei-a puxando para mais perto.

— Obrigada. – sussurrou. – Boa noite León.

— Boa noite Violetta.

 

 

***

 

Violetta

 

Abri os meus olhos me sentindo um pouco desnorteada. Olhei em volta tentando identificar onde estava, e sorri ao me lembrar que estou na minha casa, no meu quarto. Estou em Buenos Aires, minha cidade. Não podia acordar tendo uma sensação melhor do que esta de conforto. Mas eu não estou sozinha, aliás, desde que León está comigo, eu nunca mais estive sozinha. Seu braço estava em torno de minha cintura, e estávamos em uma espécie de conchinha, e não sei como viemos parar nessa posição durante a madrugada.

De repente senti algo me afundar. Ele iria embora amanhã. O que esse maluco tinha na cabeça quando decidiu que iria ficar quatro anos longes? Ainda não entendo, sei que é sonho dele, mas não deixo de pensar que essa foi uma atitude precipitada. Suspirei e levei minha mão até sua bochecha. A barba feita no dia anterior já estava apontando novamente, me fazendo cócegas nas mãos.

— Eu amo você meu maluco precipitado. – sussurrei contornando o desenho de seus lábios com meus dedos suavemente.

Ele não se mexeu, estava muito cansada acho. Olhei no relógio e eram sete horas. Uau. Eu acordei muito cedo pra quem foi dormir quase três horas da manhã. Mas por incrível que pareça eu estou sem sono nenhum, ou é apenas a vontade de curtir cada último segundo regressivo com o meu namorado. Pensando nisso resolvi o acordar, nós precisamos passar o dia juntos, é nosso último dia.

Virei meu corpo ficando em cima do dele e ele resmungou algo, mas não acordou. Depositei um beijinho em seus lábios e depois em sua bochecha, nariz e por fim olhos. Pude ver um pequeno sorriso no canto de sua boca, mas o mesmo não abriu os olhos. Beijei seu queixo e segui o caminho para seu pescoço. Escutei León murmurar algo, e logo seus braços fortes me envolveram, me apertando em um abraço. A princípio levei um baita susto, mas dei risada.

— Por que tão cedo? – perguntou com a voz rouca.

— Hoje é o nosso último dia juntos. – fiz beicinho e ele me deu um rápido selinho. – Quero aproveitar o máximo.

— Não podemos dormir só mais uma horinha? – perguntou baixinho e eu neguei.

— Naninanão. – olhei em seus olhinhos verdes. – Vamos sair dessa cama, e tomar um café, porque eu não quero ficar muito tempo aqui em casa.

— E o que vamos fazer?

— Diversas coisas. – sorri travessa puxando o lençol e cobrindo o meu corpo. – Vou tomar banho. E você trate de levantar daí.

— Não precisa pedir duas vezes. – levantou-se. – Aproveito e tomo banho com a namorada mais linda do mundo.

 

***

 

León

 

Estamos andando pelas ruas de Buenos Aires as oito e meia da manhã. A verdade é que não tem ninguém, apenas nós dois. E nós literalmente tomamos café voando, Violetta queria muito sair, e não foi uma ideia tão ruim. Passar o dia com ela é maravilhoso. Violetta está usando vários casacos, o dia está frio hoje, mas eu sinto menos frio que ela. A mesma está com as bochechas e o nariz vermelho, e os lábios pálidos, mas ela é linda de qualquer jeito.

— Olha, tem uma lojinha aberta León! – ela disse toda animada, batendo suas mãos cobertas por luvas.

— Vi... – antes de eu falar algo, ela pegou minha mão e me puxou para lá.

Acabei comprando uma máquina fotográfica. Vamos registrar o último dia como se fosse o último de nossas vidas. Ela me parece tão feliz agora que não quero ir embora, me partiria o coração vê-la em lágrimas depois de hoje. Ela significa muito para mim. Muito mais do que eu pensei que um dia fosse significar.

— Sorria! – Violetta chamou minha atenção empolgada e mal tive tempo de raciocinar quando o flash da câmera barata que compramos, disparou e atingiu os meus olhos me deixando cego por alguns segundos. Ela caiu na gargalhada e eu a puxei para os meus braços, beijando-a. – Estamos em público. – sussurrou me fazendo sorrir.

Olhei para o lado e o idoso vendedor nos olhava com um sorriso, enquanto se apoiava em sua bengala. Ele balançou a cabeça e nos desejou um bom dia. Saímos da loja e ela rapidamente encontrou outro estabelecimento aberto. Já vi que hoje ninguém deterá a Violetta.

 

***

 

Estamos a duas horas rodando e rodando. Violetta está parecendo uma criança, rindo e falando tudo o que pensa. Não vou dizer que não estou gostando, porque eu estou amando. Eu amo quando a Violetta é ela mesma, me deixa mais a vontade e confortável. Não que eu não me sinta bem ao lado da minha namorada, mas é que quando estamos em dias estressados e tensos, tudo que eu quero é levar ela pra longe e pedir calma.

— Estou com fome. – reclamou se sentando em um banco, pegou a câmera e novamente tirou uma foto minha enquanto eu estava distraído. – Você é lindo até quando está avoado. – riu. – Hm... A cafeteria está aberta. O que acha da gente ir?

Olhei para a cafeteria e ao lado da mesma vi uma mulher que vendia rosas. Acho que vou comprar uma flor para a minha namorada, faz tempo que não a presenteio com flores. Tenho que demonstrar que a amo, e sei que ela ama flores.

— Faz o seguinte – comecei. – Vai até a cafeteria e me espera lá dentro.

— Mas León... – ela me olhou manhosa. – Eu falei que não queria desgrudar de você hoje. – cruzou os braços. Peguei a câmera da mão dela e tirei uma foto de nós dois, ela emburrada e eu com um sorriso de quem realmente estava feliz.

— Só preciso resolver uma coisa. – beijei seus lábios rapidamente. – Escolha a melhor mesa. – pisquei um de meus olhos e ela levantou emburrada até a cafeteria atravessando a rua, toda irritadinha.

Atravessei a rua em seguida, porém fui para o lado oposto. Fui até a barraquinha humilde da mulher de olhos azuis e ela sorriu a me ver.

— Gostaria de uma flor? – a moça perguntou simpática.

— Sim – sorri também. – Gostaria dessas violetas.

— Azul branca ou roxa? – perguntou.

— Azul. – sorri me lembrando que era a cor preferida dela.

— Gostaria de escrever um cartão? – perguntou me oferecendo um pequeno e resistente cartãozinho. Assenti com a cabeça.

 

Violetas para a minha Violetta.

Para que você nunca se esqueça de mim

Amo você.

 

León

 

— Você deve ser um rapaz muito apaixonado. – ela disse analisando o cartão e logo colocando em um pequeno envelope. – Não vemos muitos homens comprando flores hoje em dia.

— Sou realmente muito apaixonado. – sorri. – Ela é tudo pra mim. – suspirei.

— Ela é uma garota de sorte. – sorriu. – Aqui estão suas violetas.

— Quanto é? – perguntei pegando a carteira.

— Não vai custar nada, sou a favor do amor, pode ir até sua namorada e entregar. – ela disse humildemente, mas eu não achei justo. Tirei trinta pesos da carteira e lhe entreguei. – Não precisa. Eu... – a interrompi.

— Eu insisto. Suas flores são lindas, e você é uma boa vendedora. – respondi e ela assentiu pegando o dinheiro com as bochechas rosadas. – Obrigado.

Saí dali e logo entrei na cafeteria. Violetta estava sentada de costas, tamborilando os dedos na mesa, claramente impaciente. Olhou no seu relógio de pulso e cruzou as pernas. O garçom do local veio para atendê-la, mas a mesma o dispensou, devia estar a minha espera. Coloquei as violetas atrás das costas e fui até ela.

— Poxa León, eu estou aqui há quinze minutos, pensei que você tinha me... – tirei as flores das costas e ela me olhou hipnotizada. – Abandonado...? – sacudiu a cabeça e abriu um sorriso pequeno. Suas bochechas estão avermelhadas e ela está claramente envergonhada. – Desculpe, eu estava pensando besteiras e você apenas me comprando flores. Sou uma boba.

Ri e lhe entreguei as flores. Ela as analisou por um segundo e abriu um sorriso maior ao me olhar. Tirou o pequeno cartão dali e o abriu. Pude a ver morder o canto da bochecha e seus olhos brilharem. Ah não, não chora.

— São lindas. – disse baixo. – O cartão é lindo. Obrigada. E eu também amo você. Muito. – continuou com seus olhos marejados.

— Era pra você ficar feliz, não chorar. – falei segurando sua mão que estava sobre a mesa.

— Só estou emocionada León, não pira. – riu. – Não quero que você vá embora. – confessou em um sussurro.

— Eu também não quero, mas eu preciso. – sussurrei de volta.

Ela assentiu suspirando alto. Peguei a câmera que estava de bobeira em cima da mesa, e decidi fazê-la rir um pouquinho.

— Sorria! – mal deu tempo dela entender, e o flash disparou.

Ela saiu com os olhos semicerrados segurando as flores, fazendo uma careta engraçada. Dei risada e ela pediu para apagar, mas eu não iria, ela tirou fotos piores de mim e eu não disse nada.

— Vamos ter que revelar essas fotos.

— León, quase ninguém revela foto hoje em dia. Século vinte e um, amor, tecnologia.

— Mas eu vou revelar e colocar na minha carteira, como faziam antigamente.

— Bobo.

 

***

 

Violetta

 

Para a minha surpresa, a noite chegou mais rápido do que eu imaginava, e meu coração estava apertado dentro do peito. São dez horas, e León insistiu que voltássemos para casa, pois era perigoso ficar até altas horas na rua. Estamos caminhando devagar, pela calçada, enquanto alguns carros passam nas avenidas. Buenos Aires está linda, iluminada com luzes e a lua. Um ar totalmente romântico. Gosto disso.

A câmera fotográfica está no bolso do meu casaco, junto com todas as fotos reveladas. Sim, León insistiu tanto, que revelamos todas. Tanto que a mulher que revelou, deu tanta risada de nossas caretas, que eu não sei como não abri um buraco no chão para me esconder. León apronta cada coisa.

— Nunca vou me esquecer desse dia. – falei para ele, quebrando aquele silêncio confortável.

— Nem eu. – sorriu, soltando minha mão, e me abraçando pelos ombros.

Andamos assim até chegarmos a minha casa. León parou em frente da porta e segurou minhas duas mãos, me olhando nos olhos. Hora de nos despedirmos. Não quero fazer isso. Sei que ainda vou vê-lo amanhã, mas vai ser um dia tão doloroso que não vou conseguir olhá-lo como estou fazendo agora.

— Hora de ir. – disse baixo e eu assenti. – Vai ficar bem? – assenti novamente, se eu abrir minha boca, eu vou começar a chorar. E o dia foi lindo demais para acabar em lágrimas. – Obrigado por hoje, e por tudo que já vivemos e ainda vamos viver. – disse levando uma de suas mãos até minha bochecha e acariciando. Será mesmo que iremos viver mais coisas juntos? Ai meu Deus, por favor, eu espero que sim.

— Obrigada também. – agradeci num fio de voz.

— Vai ficar tudo bem entre a gente. – disse se aproximando de mim. – Você vai ver. Quando eu voltar, vamos ficar juntos, como agora. – sussurrou próximo aos meus lados.

— Por favor, não me esqueça. – pedi, e esse, é um dos meus piores pesadelos. Eu sei que jamais irei esquecê-lo e quero que ele faça o mesmo.

— Jamais. – e me beijou.

Lábios, eu amo os lábios dele. Amo os lábios dele nos meus. Entreguei-me ao seu beijo, enlaçando meus braços em seu pescoço, enquanto sentia suas mãos em minha cintura, me puxando para mais perto. Eu jamais irei me cansar de você León. Jamais.

— Amo. Você. – ele disse pausadamente quando o ar nos faltou, com sua testa colada na minha. Nossas respirações se misturavam rápidas e quentes.

— Eu também amo você. – sorri me esquecendo das lágrimas e me concentrando apenas nele, nesse momento.

— Você precisa entrar agora. – falou. – Está tarde, e eu quero muito que você não se atrase para ir ao aeroporto amanhã, quero que você esteja lá, é muito importante para mim.

— Eu vou estar. – murmurei com segurança, dando um beijinho em seus lábios. – Boa noite León.

— Boa noite meu amor. – sussurrou me liberando.

Abri a porta de casa e ele ficou esperando para que eu entrasse. Sorri e joguei um beijo no ar. Ele fingiu que pôde pegar o beijo e colocou sobre o lado esquerdo do peito, em cima do coração, fazendo com que eu me derretesse. Depois de um tempinho nos encarando, acenei dando tchau, assim como ele e fechei a porta.

Melhor dormir porque amanhã não será um dia fácil.

 

***

 

Meus olhos se abriram sonolentamente. Acordei do nada, e odeio quando isso acontece. Acho que é por causa da ansiedade né? Suspirei me virando na cama para poder olhar no relógio. Arregalei os olhos ao ver que eram seis horas, o vôo de León seria às seis e meia. Levantei-me da cama como um furacão e corri para o banheiro. Que saco! Como assim eu não ouvi o despertador tocar?! Ainda bem que eu acordei. Ai que ódio.

Lavei o rosto e prendi os meus cabelos em um rabo de cavalo. Não daria tempo de me arrumar. Escovei o dente e corri para o guarda-roupa pegando um moletom, León que me perdoe, mas eu não estou com tempo de escolher roupa bonita. Olhei no relógio e me assustei, eram seis e quinze. Preciso chegar lá a tempo, León não me perdoaria se eu não fosse. Não quero dar esse desgosto a ele.

Passei pela porta de casa como um foguete, mas esqueci de um detalhe. Como eu ia chegar lá se Ramalho estava de férias?! Estava quase chorando quando um taxi passou, e eu praticamente me joguei na frente dele para que o mesmo parasse. O cara reclamou e falou mal um pouco, mas eu entrei mesmo assim, e para o meu azar, havia uma senhora ali dentro.

— O que é isso? – ela perguntou assustada, segurando algumas flores nos braços.

— Moça, me desculpa, mas eu tenho que estar no aeroporto em cinco minutos, preciso me despedir de uma pessoa, que é muito importante pra mim. – falei com os olhos enchendo de lágrimas. Ela me olhou desconfiada e suspirou, até então o taxista estava parado no meio da rua esperando aquela senhora decidir se ia ou não

— Eu também estou indo para lá. – ela disse e eu sorri com coincidência. – Vendo flores lá aos finais de semana.

— Vai me deixar ir? – perguntei esperançosa.

— Sim – sorriu e o taxista deu partida. – Pode acelerar moço, essa jovem precisa chegar o mais rápido possível. – ela disse me olhando carinhosamente, e eu agradeci por ter entrado justamente naquele carro. – Mas então, quem é que você quer tanto se despedir?

— Meu namorado. – sorri. – Ele está se mudando para outro país, e vamos ficar quatro anos sem poder nos ver. E ele pediu para que eu fosse hoje, e vai me partir o coração se eu não conseguir vê-lo pela última vez. – murmurei olhando fixamente para a aliança prata em meu dedo. – Eu sou muito apaixonada por ele, ele é praticamente tudo para mim. – suspirei segurando a vontade de chorar.

— Que história linda menina. – a moça me parabenizou. – Engraçado, ontem vendi flores para um rapaz, que disse a mesma coisa que você, talvez com algumas palavras diferentes, mas eu me lembro muito bem. – ela riu.

— Engraçado mesmo, porque ontem meu namorado me deu flores. – ri da coincidência.

— Violetas azuis? – perguntou do nada e ergui uma das minhas sobrancelhas.

— Violetas azuis. – concordei.

— Oh meu Deus! Então você era a garota de sorte? – ela perguntou e logo riu, mas eu ainda estava horrorizada pela enorme coincidência. – Por isso amo tanto o amor. – suspirou. – Ontem vendi poucas flores, por isso me lembro. Lembro até mesmo do início do cartão: Violetas para a minha Violetta. Em mil anos, nunca pensei que iria encontrar você.

— Bom, nem eu esperava. – ri.

— Ele é muito apaixonado. Você é realmente uma garota de sorte. – ela afirmou.

— Obrigada. – sorri emocionada.

Tudo acontece no tempo certo. E quando acontece, é especialmente maravilhoso.

 

***

 

Cheguei ao aeroporto e agradeci a senhora rapidamente com um obrigado e um beijo na bochecha, e ela me entregou uma violeta azul. Ela foi um anjo na minha vida. Saí do táxi e senti algo estranho nos meus pés. Olhei para os mesmos e só agora fui ver que eu não tinha colocado meus tênis, estava de chinelo e uma meia rosa. Ai que mico.

Tentei não ligar e entrei as pressas no aeroporto. Olhei para todos os lados e... Droga. Como é que eu vou achá-lo? E se ele já estiver dentro da sala de embarque? Porque se ele estiver, eu não vou poder invadi-la. Subi a escada rolante e tentei não me importar com os olhares estranhos de alguns executivos ao me verem de moletom e meia rosa em um aeroporto internacional.

Por coincidência, encontrei a senhora Vargas nos braços de Melanie, e só reconheci por conta do cabelo brilhoso loiro, porém eles estavam mais curtos. León estava se despedindo do pai dele com uma cara não muito boa, acho que ele já tinha chorado. Sorri e comecei a correr até eles. Eu estou um pouco longe, então é necessário.

— León! – gritei quando vi o mesmo pegar as malas e dar as costas para sua família. – León! – gritei novamente. – León!

Melanie olhou para trás e deu um sorriso a me ver, mas eu não consegui retribuí, León não olhava. Eu estava cansada já. Gritei pela última vez e bem alto, chamando bastante atenção do pessoal no aeroporto. O que foi? Eles nunca viram ninguém gritando no aeroporto? Corta essa. León olhou para trás com a testa franzida e quando seus olhos encontraram os meus, achei que estava no paraíso. Finalmente. Abri um sorriso e corri mais um pouco ao seu encontro. Ele correu também.

Quando finalmente nos encontramos, nossos corpos se chocaram em um abraço mais apertado do que tudo. Pronto, agora eu estava tranquila. Meu coração batia forte e rápido juntamente com o dele, mas eu não poderia estar mais feliz.

— Pensei que não veria você mais. – ele disse pegando o meu rosto entre as mãos e espalhando beijos por todos os lados me fazendo rir.

— Desculpe, eu acordei atrasada, não sei como, mas acordei. – falei um pouco rápido demais, estou um pouquinho, afobada. – Estava com medo de não chegar a tempo, mas eu estou aqui, e eu estou muito feliz. – beijei seus lábios de verdade escutando o mesmo suspirar e me corresponder.

Mas como diz o ditado, tudo que é bom, dura pouco, e bem...

— Última chamada para o vôo 457, com destino a Los Angeles.

León separou nossos lábios e olhou para trás depois em meus olhos que já estavam cheios de lágrimas, assim como os dele. Sorri para tentar deixá-lo mais tranquilo, eu quero que ele acredite que eu estou feliz por ele, que eu torço por ele, mesmo que isso custe a minha felicidade.

— Eu tenho que ir. – ele disse sem me soltar.

— Tudo bem. – eu assenti roçando nossos narizes e lhe dando um selinho. – Eu amo você.

— Eu também, amo muito. – me beijou mais uma vez. – O que eu vou fazer sem você?

— Não fala assim. – murmurei com vontade de chorar alto. – Só tenta pensar que quando você voltar vai estar tudo bem, e eu vou estar aqui, te esperando. – lágrimas caiam de meus olhos.

— Não consigo, não posso ir. – disse ofegante, como se tivesse corrido uma maratona.

— Pode parando. – pedi. – Eu não vim de moletom e meia rosa para ver você desistindo do seu sonho. – ri entre lágrimas. – Tudo vai dar certo, você vai ver.

— Obrigado por estar ao meu lado.

— Onde mais eu poderia estar? – perguntei lhe dando um sorriso coberto de lágrimas.

Ele me abraçou mais uma vez e dessa vez parecia que nada no mundo o faria me soltar, exceto pela voz resistente que anunciava os últimos momentos para que o vôo ocorresse.

— Até breve. – sussurrou em meu ouvido.

— Até breve. – sussurrei de volta, recebendo mais um beijo.

Em anos, jamais pensei que fosse encontrar um amor tão intenso capaz de me machucar e me curar. Jamais imaginei amar tanto e ser amada da mesma forma. Ah León, você mudou a minha vida, e agora está mudando novamente. Por favor, não me abandone. Lembro-me das palavras ditas ontem à noite para ele em um apelo desesperado, e mais lágrimas caem de meus olhos. Mas o que eu posso fazer? Não sei o que nos reserva, mas tenho que confiar o nosso amor a Deus. Se nosso amor for forte o bastante, sei que quando ele voltar será a mesma coisa, o mesmo León e a mesma Violetta. Seremos nós mesmos, com o nosso intenso amor. Só eu e ele.

— Amo você. – sussurrei em uma última tentativa de calar minha saudade, enquanto o mesmo se via cada vez mais longe.

 

Fim.


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Notas finais do capítulo

Sinopse pra vocês da continuação da minha historinha hahaha

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"De todas as suas mentiras, essa foi a que mais doeu"

O tempo é capaz de afastar e de curar. Nada, nunca saí como o esperado. E talvez essa seja a graça da vida, a graça de viver. A graça de sentir-se vivo. Será que depois de tanto tempo, tudo saíra conforme a música? O que o destino reserva dessa vez? Mágoas, tristezas, sorrisos, felicidades e amor? O que esperar de um futuro completamente imprevisível?

"A vida nunca foi como eu idealizei, mas sinto que tudo acontece porque realmente precisa acontecer."

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Acabou :(
Adorei cada segundinho gasto por essa história, tudo pelo meu prazer de escrever e a satisfação de vocês em ler. Não tenho muito o que dizer. Todo final é assim né? Tristinho rs
Mas eu logo estarei de volta com um link pra vocês, então nem vamos nos despedir dramaticamente porque quero encontrar todas vocês novamente, com seus comentários inspiradores.
Amo vocês amores.
Até breve.



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