Era sábado.

Eu estava no ballet. Hoje não tinha aula pratica e sim muita teoria. Levei até caderno para anotar as coisas que a professora dizia, por mais chatas que fossem, eram necessárias.

Meu professor faltou, diz Priscila que ele pegou uma virose e não pôde vir, mas eu achei super estranho, pois normalmente Henrique, nunca, jamais faltava aos nossos treinos, ele amava nos dar aula, mesmo que fosse teórica.

Fernanda também havia faltado, parece que a senhorinha Ivani, a avó dela, havia falecido, e ela estava muito mal com isso, não a culpo, eu também ficaria, e pelo que eu sei, elas eram muito apegadas.

Assim que minha aula acabou, fui até a lanchonete, raramente eu vou até lá, apenas quando eu me esqueço de trazer o meu próprio lanche (como hoje). As comidas da lanchonete são industrializadas e isso às vezes me faz passar mal (não me chamem de fresca, por favor. Eu apenas cuido da minha saúde, pois gosto de me manter.)

Assim que cheguei lá, encontrei León conversando com Ben enquanto bebiam refrigerantes e comiam alguma coisa. Aproximei-me vagarosamente, sem eles notarem minha presença, e pude escutar uma frase de Ben.

_É cara, eu to ferrado, a Yas pensa que eu e a Fran temos algo, e... – ele me viu e calou a boca. – Hey Castillo. – estava evidentemente nervoso com a minha chegada, pois seu sorriso forçado mostrava isso.

_Oi Ben. – falei abraçando León por trás. – Oi amor. – disse um pouco mais baixo, enquanto sentia a mão dele sobre a minha.

_Oi pequena. – León disse calmo e sereno.

_Interrompi algo? – perguntei olhando diretamente para o Bem que estava com o refrigerante na boca. Ele apenas negou, acho que sabia que eu tinha ouvido alguns fatos super importantes. – Do que estavam falando? – me fiz de inocente.

_Nada não. – Ben disse ansioso. – Eu já vou indo, não quero interromper o casalzinho. – disse jogando a latinha fora. – Vargas, paga meu refrigerante. – disse saindo apressado e León suspirou.

León se virou para mim, e me roubou um selinho. Sorri antes de sentir suas mãos em minha cintura. Fiz o mesmo com ele.

_Como foi à aula? – ele perguntou olhando os meus olhos.

_Chatinha, mas aprendi alguma coisa. – falei dando de ombros e ele riu. – Não me ache intrometida, mas eu ouvi o que o Ben estava dizendo. – revelei ao León.

_É, tudo bem, cedo ou tarde eu iria te contar. – Falou colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha. – Yasmim está muito brava, com ele, por causa da Fran, eles andam muito tempo juntos, e ela fica enciumada.

_Mas a Francesca tem namorado, e ela e o Ben só ficam juntos um tempo a mais, porque o Ben tem dificuldade em uma matéria. – expliquei.

_Eu sei, mas vai tentar explicar isso para ela. – León disse rindo. – De qualquer forma, eles se resolvem depois. – falou e logo depositou um beijo em minha testa, sorri, brevemente.

_Tudo bem então...

_Hm... Tenho que te dizer uma coisa. – disse e eu olhei para ele curiosa. – Parece que a Melanie está de casamento marcado. – falou desgostoso.

_Sério?! – perguntei entusiasmada. – Quem é o sortudo?!

_Fernando. – continuou com uma expressão esquisita no rosto.

_Tomara que eles sejam felizes.

_Eu também. – disse sorrindo de lado.

_Um dia nós faremos a mesma coisa. – falei revelando o meu sonho. – E viveremos mais do que felizes para sempre.

_Eu espero que isso aconteça, caso contrário, viveria infeliz sem a sua companhia. – ele disse roçando nossos narizes.

_Você está tão carinhoso hoje. – falei sentindo beijos em minha bochecha, e logo avançando para o meu pescoço.

_A carência faz isso com as pessoas. – dizia com a voz abafada devido a sua boca que estava contra a pele fina de meu pescoço.

_Carência? Mas eu sempre te dou atenção... – falei confusa e ele parou o que estava fazendo para me olhar.

_Talvez o fato de que minha irmã irá se casar me deixou deprimido. – ele disse e pude ver a sinceridade brilhar em seu olhar.

_Não se preocupe com isso, tenho certeza que a Melanie vai ser feliz, assim como nós dois somos e seremos mais ainda algum dia. Apenas relaxe, ela sabe o que está fazendo. – falei colocando minhas mãos em seu ombro.

_Espero mesmo que saiba. – disse e logo rimos.

***

_Angie? – falei atendendo a porta e dando de cara com a minha mais nova madrasta. Eu estava de camisola, uma fininha e curta, que o León me deu. Tinha acabado de sair do banho, e estava com os cabelos molhados. – O que faz aqui esta hora? – perguntei, já que era tarde, umas oito e meia.

_Preciso esclarecer umas coisas com você. – disse apertando as próprias mãos, ela parecia ansiosa.

_Acho que não será uma boa ideia e... – antes de eu dizer algo ela entrou em meu dormitório.

_Precisamos conversar, por favor. – pediu.

Antes de eu dizer alguma coisa, a pessoa que eu gostaria que não estivesse nem no meu dormitório, saiu de meu quarto. León. Ele estava sem camisa e com uma calça de moletom, estava maravilhoso, com aqueles cabelos molhados e bagunçados.

_Vilu... – antes de ele completar a frase deu de cara com a Angie. – O que ela faz aqui? – perguntou assustado assim como eu fiquei quando a vi.

_Acho que posso fazer a mesma pergunta para você. – Angie disse com um olhar desconfiado para León. – Não acha que é meio tarde para estar em um dormitório de uma garota?

_Nós... – antes de eu continuar León me interrompeu.

_A gente ficou um tempo juntos, só que não vimos o tempo passar. – ele tentou se explicar, mas só se embolou mais.

_Mas pelo jeito iriam dormir juntos né? Porque vocês já estão com roupas de dormir... E a propósito Violetta, essa camisolinha é linda, só que é um pouco acima para usar quando se tem alguém em seu dormitório.

_Angie... – murmurei envergonhada e acho que eu já estava totalmente vermelha. – Nós não estávamos fazendo nada, eu juro. – falei desesperada.

_Vou acreditar em vocês, até porque conheço os jovens de hoje. – ela suspirou. – Não se preocupe seu pai não ficará sabendo deste episódio. – prometeu e eu sorri agradecida. – Agora podemos conversar?

_Sim – murmurei totalmente aliviada.

_Bom, não quero atrapalhar, já vou indo. – León disse também envergonhado, pegando a camisa que estava em cima do nosso pequeno sofá.

_Não vai atrapalhar León, de qualquer forma, essa conversa chegará aos seus ouvidos, e você faz parte da família, como eu também faço, agora. – disse em alto e bom som, e eu não ousei a dizer nada.

León pôs a camisa e se sentou ao meu lado em meu pequeno sofazinho. Angie se sentou de frente para gente, em uma poltroninha que ali havia.

_Violetta... Eu preciso tirar esse peso da minha consciência. – Angie começou, com um olhar baixo, parecia com medo de minha reação. – Eu sei que você não quer que eu e o seu pai nos casemos, mas nos amamos e...

_E vocês querem que eu aprove isso? – perguntei tranqüila apenas tentando decifrar as expressões que ela mesma fazia.

_Sim, mas não quero que você ache que eu esteja te enfrentando. – explicou. – Eu realmente amo muito o seu pai, e quero o melhor pra ele, e para mim também.

_Angie... Eu acho que... – olhei para León, não sabia o que dizer. Ele me fitou por pequenos instantes e ele sorriu brevemente, pegando em minha mão, como confiança. – Acho que vocês são adultos o suficientes para saber o querem da vida.

_Então... – ela queria que eu deixasse isso a desejar?

_Eu... Eu não vou impedir a felicidade de vocês. – falei em um suspiro e ela abriu o maior sorriso que cabia no rosto dela. – Espero que você não magoe o meu pai e principalmente não me decepcione como muitos já fizeram.

_Ai Violetta! – ela disse, vindo até mim, me dando um abraço apertado, me deixando sem fôlego. – Não sabe o tanto que estou me sentindo aliviada. Obrigada por dar está oportunidade.

***

_Eu quero sorvete. – murmurei para o León que se encontrava deitado de barriga para baixo em minha cama, quase dormindo, depois da longa conversa que tivemos com a Angie.

_Violetta, não tem como pegar sorvete uma hora dessas, são quase meia-noite. – ele reclamou, com os olhos fechados.

_Hm... – suspirei. – O que acha de fazermos alguma coisa hoje?

_Já sei! – ele disse e eu me entusiasmei.

_O que?! – perguntei empolgada por uma resposta.

_Dormir. – disse me prendendo debaixo do seu braço e eu suspirei frustrada.

_Não... Você já percebeu? Quando eu estou animada, você está para baixo.

_Então você está animada? – perguntou abrindo os olhos e erguendo uma das sobrancelhas, com um sorriso safado nos lábios.

_Aff León. – falei saindo dos seus braços. – Não é porque eu estou animada que eu quero... ARG! Seu pervertido. – falei cruzando os braços e ele soltou uma gargalhada.

_Eu estava brincando com você. Agora deita aqui comigo vai. – ele disse me puxando novamente, mas eu resisti. – Por favor. – virei os olhos e me deitei ao seu lado. – Está vendo, não é tão ruim dormir bem juntinho com o namorado maravilhoso que você tem.

_Coitadinho... Quem disse que você é maravilhoso? Iludido isso sim.

_Tá, para de graça que eu sei que você me ama.

***