Jogos Vorazes (Hunger Games) - Recomeço escrita por MSBica


Capítulo 11
Baga,Tinta e Sangue




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Eu janto sozinha no quarto esta noite, pedindo tanto cozido de cordeiro quanto posso aguentar e depois quebrando pratos, copos e itens de decoração para descontar minha fúria. A raiva, agonia e medo geral que eu sinto estão se condensando em uma animosidade extrema para com a minha mãe. "O que ela quer aqui, afinal?" grito enquanto quebro um prato "Ela não pode ajudar em nada! Nunca ajudou em nada!"

Eu continuo quebrando coisas e gritando obscenidades pelo que parecem horas até que não restou mais nada quebrável no quarto e minhas mãos estão sangrando. Eu não percebo isso até que começo a chorar novamente e ao enxugar minhas lágrimas coloco as mãos no rosto e mancho minhas as bochechas com sangue.

Peeta entra no quarto e dá um pulo ao vê-lo destruído.

"Katniss...o que... Oh, você está bem?" diz ele, preocupado ao me ver com o rosto ensanguentado.

"Não" digo, soluçando "Eu...não...não consigo acreditar...por que...por que ela está aqui, Peeta?"

"Eu não sei, Katniss, mas é algo bom, não é? diz, enxugando minhas lágrimas e manchando os seus polegares com meu sangue. "Um pouco de apoio."

"Não, Peeta, será que você não entende?" eu grito e faço Peeta se sobressaltar " Eu não quero o apoio dela, eu só quero salvar as crianças, acabar com estes Jogos horrorosos e fazer a Capital pagar pelo que está fazendo."

Peeta me olha, perplexo, mas não fala nada a respeito do meu plano de vingança, nem pede por detalhes. Ele apenas vai ao banheiro e pega uma toalha úmida para limpar as minhas bochechas e mãos. Mas fica claro que minhas mãos precisam de mais que uma limpeza. Elas estão sangrando tanto.

"Tome um banho" diz ele "Depois teremos que te levar para atendimento médico."

Eu não falo nada, apenas dou-lhe um beijo e saio.
Apenas me despir já faz o sangramento das mãos voltar. Entrar na banheira é um desafio e a água morna não ajuda a estancar o sangue, e em pouco tempo a espuma e a água estão vermelhas.
Peeta pareceu pensar nisso porque alguns minutos depois entrou no banheiro carregando um amontoado de roupas. Ele me ajuda a sair da banheira, me enrola em uma toalha e após o sangue ter escoado Peeta me coloca de volta na banheira e me lava com a ajuda de uma esponja.

Ele me veste em uma túnica verde e sapatos marrons, o que me provoca risadinhas ao lembrar da vez que Joahnna ficou nua no elevador por estar fantasiada de árvore. Nenhum de nós dois sabe o que aconteceria se eu enfiasse minha mão ensanguentada na caixa de secar cabelo, e seria tolice tentar descobrir, então voltamos ao quarto, sentamos na cama e Peeta gentilmente seca meu cabelo com uma toalha, o penteia e faz a simples trança que é minha marca registrada.

Então saímos silenciosamente ,e ninguém parece notar. Voltamos meia hora depois e minhas mãos estão enfaixadas exatamente como as de Peeta antes da nossa primeira arena.

"Onde vocês estavam?" pergunta Effie, assim que entramos.

Peeta e eu nos entreolhamos. Ninguém fala nada.

"O que é isso?" pergunta minha mãe, que apareceu depois de ouvir a barulheira da Effie.

Olho para minhas mãos enfaixadas como se não fossem importantes e, dando de ombros respondo.

"Não é nada...eu..."

Peeta vem em meu socorro.

"Sra. Everdeen a Katniss quebrou um vaso no quarto e caiu em cima dos cacos." diz ele "Não é nada demais."

A tensão é aliviada quando Klaus e Lira chegam à sala. Nenhum deles faz perguntas.

Volto para o quarto com a intenção de ficar lá até de manhã, Peeta me segue.

"Você quer ir ao telhado?" pergunta.

Assim, meia hora depois estamos sentados no chão de lajotas, sentindo o doce ar noturno.

"Obrigada" digo à Peeta.

"Não foi nada, sério" responde.

"Foi importante sim" digo "você sempre foi melhor que eu com essa...essa...coisa... de falar, de fazer as pessoas acreditarem em você, isso nos salvou uma porção de vezes.

"Sim e nos colocou em encrencas também" diz ele "e suas habilidades de caça e temperamento impulsivo nos salvaram mais vezes do que minha facilidade com palavras."

"Mas nos colocaram em problemas piores " retruco.

Nós dois rimos, porque ficar assustado com o que passou é fútil.

"Então" pergunta Peeta depois de um tempo " o que acha que as crianças farão amanhã?"

"Não sei" digo, dando de ombros "só espero que seja impressionante o suficiente para conseguirmos mais patrocinadores."

Peeta não responde, olha absorto a lua cheia.

"Você me ama. Real ou não real?" pergunto

Ele olha para mim, seus olhos azuis refletindo as luzes coloridas da Capital.

"Real" diz "Sempre foi real. Por isso que me enviaram para matar você. Na guerra."

"São as coisas que mais amamos que nos destroem." sussurro.

Peeta me beija.

"Não mais" diz, depois que rompemos o beijo.

Passa da meia noite quando finalmente voltamos ao quarto para dormir.

Acordamos tarde, as crianças já haviam ido para o treinamento. De qualquer modo não poderíamos acompanhá-las, hoje é o dia dos testes. Peeta e eu nos empanturramos com torradas, frutas, batatas fritas, ovos, bacon, panquecas e waffles.

Não sabemos exatamente o que fazer, então estávamos planejando passar o dia no telhado, ter um pouco de privacidade já que minha mãe está aqui ainda sem motivo aparente.

Estou por volta do segundo prato de ovos quando ela chega.

"Bom dia, Katniss" diz ela ao me ver.

Eu demoro para engolir e responder.

"Bom dia" digo, ríspida.

"Não me trate tão grosseiramente, estou aqui para ajudar." diz minha mãe, servindo-se de torradas.

"Ajudar em quê?" pergunto entre golinhos de suco de laranja " ninguém pode fazer nada contra os Games."

"Não são os Games, Katniss...é..."

"Não me interessa!" digo levantando subitamente da mesa "Só...não há o que fazer, então não há motivo para você ficar."

Minha mãe não responde, apenas continua comendo silenciosamente.

Pego muita comida da mesa, tomo a mão de Peeta e subimos para o telhado.

"Você não devia ter sido tão grosseira" diz Peeta " ela só está tentando ajudar."

"Com o quê, exatamente?" pergunto

"Não sei, Katniss, mas ela tem boas intenções"

Dou um muxoxo de exasperação. Peeta não fala mais no assunto.

Passamos o dia tranquilamente conversando, comendo e rindo. Nem parece que estamos nos sentindo tão miseráveis pelo que aconteceu com as crianças.

Na hora do jantar descemos ,apesar de nenhum de nós dois ter fome. Mas, precisamos saber como foram as avaliações.

Vou para o banho e retiro as bandagens, meus cortes estão bem melhores. Coloco um vestido acinzentado grosso e sapatos pretos. Saio para sala e estão todos lá. Peeta, Effie, Lira, Klaus, Octavia , Flavius e minha mãe. Todos comendo animadamente, exceto Peeta, ele deve estar tão cheio quanto eu.

Me sento ao lado de Peeta, pigarreio para que notem a minha presença e digo.

"Então...como vocês foram hoje?"

Há uma longa pausa antes Klaus responder.

"Bem...eu só...sabe? Eu...eu...estava tentando mostrar como diferenciar bagas boas das envenenadas e bem...encenei o episódio com os nightlocks."

"O quê?" pergunta Effie, deixando cair seu garfo de prata com um estrépito.

Todos ficam em silêncio agora.

" Bem...então acho que é uma má hora para mencionar que usei a camuflagem para me disfarçar de Rue." diz Lira, finalmente.


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