Valentines escrita por Yukii


Capítulo 4
Mãos dadas




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Te amo, te amo, ela receia respirar
Segurei sua mão, eu não tinha escolha

Me trouxe pra praia, dançamos no mar
- Rihanna - Te Amo

O restante do dia foi gasto apenas com uma conversação animada entre os três casais, na qual Botan participou ativamente e Hiei se limitou a assistir. Algumas perguntas indiscretas continuavam a se voltar para o koorime e a ferry girl, e a guia se viu obrigada a responder a todas sozinhas, já que Hiei parecia estar muito mais interessado em fazer uma carranca de desagrado e lançar olhares irritados para Kuwabara. A comida estava boa, apesar de tudo, e Botan achou que estava se divertindo bastante ali.

Para desgosto de Hiei e alegria das garotas, acabou decidido que todos iriam passear na cidade para encerrar o passeio. Não ficava muito longe; apenas alguns metros de caminhada e estariam lá.

- Vai ser divertido por lá? - perguntou Yukina, que raramente ia até a cidade.

- Sim, eu acho que você vai gostar, Yukina-chan! - respondeu Botan, ignorando o olhar assassino que Hiei lançava para o garoto de cabelos laranjas ao lado de Yukina.

O trecho de mato verde que separava a colina da cidade foi coberto rapidamente pelos passos do grupo. Botan, Yukina e Keiko iam na frente, conversando e rindo. A alguns metros atrás, caminhavam os três garotos. Ocasionalmente, Yusuke puxava conversa com Kuwabara, e ambos conseguiam sustentar um diálogo agradável por algum tempo. Com Hiei, era diferente. Ele respondia apenas com monossílabos, e parecia ainda mais agressivo que o normal para com Kuwabara.

- Credo! Você está mordido ou o quê? Você nunca foi legal, mas hoje você está impossível! - reclamou o namorado de Yukina, lançando um olhar irritado para o koorime.

Hiei se limitou a dar um olhar feroz para o outro.

- Ahn, bem, não vamos brigar, vocês sabem, não é um bom lugar para isso - disse Yusuke, percebendo as faíscas que o youkai de fogo trocava com Kuwabara.

- Urameshi! Desde quando você é tão pacifista?! - protestou o garoto de cabelos laranjas.

- Apenas parem com isso, ora, deixe Hiei, ele deve ter seus motivos para estar irritado - falou Yusuke com um ar calmo. "Provavelmente, ele quer socar Kuwabara na cara por causa de Yukina", acrescentou mentalmente o namorado de Keiko.

- Ele nunca tem motivos! Ele sempre está com essa cara azeda!

- Qual o seu problema com isso? - pronunciou-se Hiei em tom pouco amigável.

- Nenhum! - disse Kuwabara em resposta. - Mas tem gente aqui que não merece ficar vendo essa sua cara sempre tão feia! E eu pensei que se você arranjasse alguma namorada ficaria mais agradável...! - o garoto abriu um sorriso sarcástico, olhando para Hiei: - Não vai me dizer que... a Botan te bate ou algo do tipo?

Yusuke precisou de todo o seu auto-controle para não rir. Ainda assim, não pôde evitar uma risada baixa.

Em questão de segundos, Hiei já puxava a espada pelo cabo, com uma carranca irritada de quem seria capaz de decepar mil cabeças seguidas. Botan sentiu seus cabelos eriçarem na nuca com a aura maldosa emitida pelo youkai, e antes que pudesse se conter, ela já tinha se virado.

- Hiei! - berrou, observando-o resmungar alguma coisa raivosamente enquanto puxava a espada, a alguns metros atrás dela. - O que você está fazendo?! Você prometeu que ia se comportar!

A voz da ferry girl quebrou qualquer concentração assassina que a mente do koorime pudesse ter alcançado, e ele sentiu os dedos escorregarem de leve do cabo da espada, um pouco surpreso. Irritado, Hiei lançou seu olhar mais feroz para Botan, o que fez a guia rapidamente virar-se para frente e cantarolar baixinho de boca fechada, como se nada tivesse ocorrido. Se Yusuke estivesse prestando atenção em Hiei e no olhar cheio de sub-entendimentos que ele lançava para a guia espiritual, teria entendido toda a armação pendente entre os dois, mas estava ocupado demais rindo para prestar atenção no que quer que fosse.

- Não acredito! - exclamou Yusuke, enquanto ria abertamente. - O que você está fazendo, Hiei?! Ou melhor, o que a Botan fez com você?! Você prometeu que ia se comportar para ela?!

Hiei sentiu suas orelhas arderem. Não sabia dizer se aquilo era raiva, ou o que quer que fosse, que produzia aquelas cócegas interiores.

- Onna... - ele murmurou, quase rosnando, observando os cabelos azuis que dançavam cinquenta metros a sua frente. Algum dia iria se vingar por aquilo. E por um monte de coisas mais que ela já tinha feito. Incluindo as sensações estranhas que ela o fazia sentir.

Em toda sua vida, Hiei nunca imaginara que consideraria uma ferry girl abobada e alegre como uma... ameaça.


O ruído dos carros na cidade eram altos, e impressionavam Yukina. O grupo havia parado numa das praças da cidade, onde Kuwabara e Yusuke haviam se distraído com um grande cartaz pendurado na casa de jogos, anunciando a chegada de novos games. Yusuke ficou ansioso e quis entrar, mas Keiko protestou logo, dizendo que aquilo não era o tipo de coisa para se fazer num encontro, e os dois começaram a discutir, o que era normal entre eles. Kuwabara também pareceu ansioso para jogar as novidades, mas gritou para quem quisesse ouvir que não deixaria sua koorime sozinha ali. Yukina, que sempre era muito compreensiva e meiga - além de tímida -, sorriu para ele e disse que não haveria problema se ele quisesse entrar naquela loja engraçada de jogos, que ela o esperaria. Aquilo fez Kuwabara corar furiosamente e sorrir, e Hiei sentiu uma vontade brusca de vomitar.

Por fim, Keiko acabou se irritando com Yusuke e gritou para ele que ele podia fazer o que bem entendesse, que ela não estava ligando mais. Depois, saiu marchando para o outro lado da rua, onde haviam algumas vitrines coloridas, arrastando Yukina, que parecia preocupada. Yusuke murmurou consigo mesmo algo sobre ser normal brigar com Keiko, e tentou chamá-la duas ou três vezes, mas acabou desistindo.

- Ei, Urameshi! Está tudo bem vocês ficarem assim? - quis saber Kuwabara, observando com um olhar surpreso a garota de cabelos castanhos que levava sua namorada embora.

- Ahn, está, está. Daqui a pouco ela volta aqui - disse Yusuke despreocupado. - Vamos entrar?

- Vamos!

Os dois amigos desapareceram dentro da casa de jogos, deixando Botan e Hiei completamente sozinhos no meio da multidão japonesa que aproveitava a tarde fresca. Os dois não entendiam aquelas coisas estranhas de casal, e ficaram simplesmente ali, sem a menor ideia do que havia ocorrido, de fato.

Botan se sentiu incomodada com aquele silêncio. Ela olhou de esguelha para o koorime ao seu lado, que permanecia tão sério quanto antes.

- Ahn... - a ferry girl tentou pensar em algo para dizer, com um sorriso amigável. - Você não quer ir jogar também, Hiei?

- Não.

- Mas... é legal! Garotos gostam dessas coisas. Tem jogos de luta por lá.

- Não quero.

Botan não se deixou abalar.

- Então, você quer ir ver as vitrines comigo? As garotas estão lá!

- Sim, com certeza. Eu sempre quis olhar para aqueles vidros idiotas dos ningens - replicou Hiei com sarcasmo evidente.

- Sério? Então vamos!

Hiei ficou encarando o sorriso cheio de dentes dela com uma expressão rabugenta.

- Isso não foi sério, Onna. E por que você não consegue ficar calada?

Botan fez um bico, e falou em tom manhoso:

- Vamos, Hiei! Eu sei que você está se divertindo e quer se divertir mais! Você não deveria ser tão grosso comigo!

Aparentemente, aquilo não foi a coisa certa a se dizer. Hiei limitou-se a lançar um olhar mórbido para a garota ao seu lado.

- Eu vim por causa de Yukina. E ela não está mais aqui.

- Então! Vamos olhar as vitrines, a Yukina-chan está lá também, e... - a ferry girl se calou ao reparar no olhar frio que Hiei dedicava para ela.

Ficaram em silêncio mais uma vez. Enquanto o koorime permanecia de pé, as mãos enfiadas nos bolsos enquanto os olhos vagos observavam a vida cotidiana, Botan se sentou em um dos pequenos bancos verdes da praça e entrelaçou os dedos no colo, suspirando baixinho; seu cérebro doía de cansaço. Ela pensava que não seria difícil se passar por namorada de alguém como Hiei, mas era extremamente difícil para ela, já que todas as perguntas embaraçosas sobravam para a guia espiritual, e ela era obrigada a responder de uma forma que não desagradasse Hiei, se não quisesse ser ameaçada de morte mais tarde. Ah! Como aquilo era difícil! Apesar de tudo, Botan não conseguia sentir raiva do koorime. Sabia que também estava sendo extremamente difícil para ele fingir que gostava de alguém como a ferry girl, em vez de simplesmente dar as costas para ela. Ele estava fazendo tudo aquilo por sua irmã. Botan sentiu um arroubo de compaixão por ele, e poderia ter abraçado-o ali mesmo, se ainda não sentisse medo de sentir aquela espada lhe atravessando feito um espeto; de repente, o fato de ele odiá-la não pareceu lhe incomodar tanto.

- Ei, Hiei! - chamou a guia espiritual.

"Três minutos. Ela só conseguiu ficar calada por três minutos", refletiu Hiei, antes de replicar:

- O quê?

- Você quer sorvete?

Hiei se virou de todo para ela, contemplando-a em seu pequeno vestido rosa em cima daquele banco.

- Não entendi, Onna.

- Eu perguntei se você quer sorvete - disse Botan, apontando para algo por detrás dele: - Tem sorvete ali.

Ele permaneceu olhando para ela. Um olhar que dizia com todas as letras: "eu não sei o que é isso, e você está me irritando falando dessa forma".

- Ah! Você nunca tomou sorvete? - surpreendeu-se a ferry girl.

- Hn. Não.

- Então eu vou comprar para nós dois!

Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, Botan se levantou do banquinho e foi em seus passos alegres até um carrinho de sorvete a poucos metros de onde estavam. Os olhos de Hiei foram chamados pelas cores vibrantes do carrinho, enquanto ele observava a garota de cabelos azuis pedir algo para um homem que parecia tomar conta daquele pequeno veículo.

Meio minuto depois, Botan voltava, ofegante, tropeçando nas pedrinhas salientes do calçamento.

- Hiei...

- O que é?

- Você gosta de chocolate?

Os olhos ametistas dela brilhavam enquanto ela perguntava. O koorime fez uma careta.

- Não sei.

- Como? Como alguém não sabe se gosta de chocolate?! - indignou-se a guia.

- Eu não sei, não me lembro se já vi isso aí em algum canto, agora pare de encher meu saco - resmungou Hiei.

- Ah! Então eu vou comprar de chocolate para você! Ninguém pode ficar sem comer chocolate nessa vida! - disse Botan em tom alegre, antes de dar meia-volta e voltar para a carrocinha de sorvete.

O que mais irritou o koorime naquilo foi o fato de ela não ter se irritado. Normalmente, quando ele agia daquele modo com Botan, ela o reeprendia e protestava em tom choroso, o que proporcionava ao youkai de fogo uma certa - e mórbida - satisfação pessoal. Agora, ela parecia acostumada com aquilo - Hiei não gostou. Estava passando tempo demais com ela.

- No que você estava pensando? - perguntou a voz de Botan vinda de algum ponto da sua esquerda, empurrando algo nas suas mãos.

Hiei baixou o olhar e viu uma casquinha abarrotada de um creme marrom e condensado, e fez uma careta leve.

- Não é da sua conta. Como você conseguiu trazer esse troço sem tropeçar e jogar tudo no chão? - perguntou ele com sarcasmo.

Botan fez uma cara indignada, mas continuou a comer seu sorvete rosa com uma essência forte de morango.

- Você tem uma ideia muito errada sobre mim, Hiei! Eu posso ser muito habilidosa quando quero!

- Hn. Como quiser. - Hiei deu de ombros, e depois perguntou, apontando a casquinha que ela o fizera segurar: - O que é isso?

- Sorvete! - a boca pincelada de rosa de Botan abriu-se num sorriso convidativo. - Eu comprei de chocolate para você, achei que fosse gostar mais. É melhor comer antes que derreta!

O koorime franziu o cenho, mas não disse nada, encarando com insistência o doce em suas mãos. Quis perguntar como se comia aquilo, mas achou que estaria se rebaixando demais a Botan perguntando tal coisa. Espiando-a pelo canto dos olhos, Hiei achou que tinha conseguido entender como fazia para comer aquilo; ele imitou o gesto de Botan e aproximou a boca aberta daquela "gosma" marrom, e surpreendeu-se com a textura e a temperatura; era macio, e incrivelmente gelado, mesmo naquele sol. O sabor era o mais engraçado que ele já provara; um doce constante e temperado, forte, tão doce que se espalhava por toda a boca. Hiei nunca havia pensado que algo pudesse ser tão doce e frio, ao mesmo tempo.

- Então? O que acha? - perguntou Botan com um sorriso, observando o koorime por cima da cerejinha de seu sorvete.

- Hn. Não é tão ruim. Parece neve e açúcar. - ele murmurou numa voz quase inaudível, enquanto continuava a comer o resto num silêncio calmo.

- Ah! Eu sabia! Não há quem não goste de sorvete! - exclamou a guia em tom vitorioso.

Hiei não respondeu, concentrado em devorar seu sorvete. Realmente, era bom - ele tinha gostado. Não queria demonstrar o quanto havia gostado para Botan, pois acreditava que isso só iria enfraquecer o medo já enfraquecido dela por ele; mas foi inevitável. Antes que ela pudesse alcançar a casquinha do sorvete, ele já havia terminado tudo.

- H-Hiei... - Botan gaguejou, um pouco surpresa.

- O que é? Você comprou, eu comi. Onna, se você for comprar mais, compre para mim.

Quando se virou para ela, o koorime se deparou com um sorriso enorme no rosto juvenil dela.

- O que é? - irritou-se ele. - Não sorria tanto. Você parece ainda mais idiota assim, Onna.

Botan não respondeu, imersa em suas próprias reflexões. Talvez Hiei não fosse tão mal e sanguinário, afinal; estava pensando seriamente em reavaliar seus conceitos por ele. Primeiro, ela via que ele era capaz de se fingir apaixonado por alguém que odiava apenas para proteger sua irmã; depois, descobria que ele era maníaco por sorvete. Bom, Hiei não era tão mal assim.

Ou não era tão mal, ou o mundo estava acabando.

Somente depois que Hiei tinha feito com que Botan gastasse todas as suas míseras moedas em pelo menos seis sorvetes - e ainda havia sugerido para a ferry girl um possível assalto no carrinho de sorvete - , Keiko e Yukina regressaram, parecendo felizes e calmas. O rosto de Keiko, porém, transformou-se numa máscara de fúria ao ver que Yusuke permanecia jogando junto com Kuwabara, e ela largou Yukina junto a Hiei e Botan, avançando como um lobo indomado até a casa de jogos. Botan sentiu uma afeição estranha ao ver Hiei dar um discreto olhar preocupado para Yukina; é, ele não devia ser tão mal assim.

Cinco minutos depois, Keiko aparecia, furiosa, seguida por um Yusuke insistente que tentava se redimir aos olhos da namorada; Kuwabara também, apareceu, com mais alegria que o casal, e saiu correndo e gritando por Yukina, antes de pegar a mão pequena entre a sua e fazer a koorime sorrir e corar. A ferry girl jurava que podia sentir a raiva de Hiei se solidificando no ar.

Os amigos decidiram que, por hora, o melhor seria encerrar o passeio. Yusuke, ainda nervoso com a raiva de Keiko, agarrou a mão da garota e propôs - com um sorriso imenso que mal cabia em sua cara - que ele a levasse para casa. A contragosto, Keiko aceitou. Botan e Yukina estavam morando no templo de Genkai, e voltariam para lá. Hiei, que não via nada de melhor para fazer, decidiu ir junto, no pretexto de acompanhar sua suposta "namorada", mas, na verdade, sua intenção era ver se ficaria tudo bem com Yukina, já que Kuwabara decidira acompanhar a garota até o templo, mesmo morando na cidade. O koorime não tinha nada de muito grande contra Kuwabara, na verdade; apenas achava que ele era idiota demais para merecer sua confiança. Ainda mais, quando se tratava de sua irmã.

Hiei e Botan foram na frente. A guia espiritual falava sem parar, decidida a fazer o lado "bonzinho" de Hiei aflorar para que pudessem conversar mais. Ele, porém, parecia não querer colaborar com isso - se ele de fato tinha um lado "bonzinho", devia estar enterrado muito fundo. Atrás deles, vinham Yukina e Kuwabara, rindo, a koorime tímida e quieta, enquanto seu namorado falava sem parar, alegre. Mais atrás, vinham Yusuke e Keiko, o primeiro tentando reconquistar a confiança da namorada, enquanto ela fazia uma cara irritada, embora não estivesse tão magoada assim.

Foi então que Botan percebeu.

Se não tivesse olhado para trás, não teria reparado. Ao virar a cabeça, a ferry girl notou um fato interessante: Yukina e Kuwabara estavam de mãos dadas. Bom, era normal, eles eram, de fato, namorados - nenhum deles estava fingindo aquilo apenas para espionarem alguém, como era o caso de Hiei e Botan. Mais atrás, a ferry girl estreitou os olhos, e viu que, mesmo brigados, Yusuke continuava agarrado na mão de Keiko. É, pelo visto, andar de mãos dadas era uma circunstância comum entre namorados. Não que isso importasse.

Quer dizer... bem, importava sim.

Botan sentiu um olhar curioso nas suas costas. Virando-se mais uma vez, deparou-se com Keiko, olhando-a de um jeito confuso. Keiko virou-se rapidamente para Yusuke e os dois cochicharam algo que Botan não conseguiu ouvir muito bem, por causa do falatório interminável de Kuwabara. Apesar disso, a ferry girl conseguiu captar algumas palavras: "Hiei", "brigar", "Botan" e "distantes".

Oh, Deus.

Eles estavam achando que... seria mesmo?

Botan olhou para o koorime ao seu lado. De fato, ele andava a distância dela, como se tivesse medo de se contaminar pela alegria dela. Andavam separados uns três metros um do outro, e as mãos dele estavam enfiadas nos bolsos. A ferry girl suspirou, sentindo-se nervosa. Tinha um grande problema em mãos.

Quis chamar Hiei em voz alta e dizer tudo, mas se lembrou que não podia falar tudo, pois toda a farsa iria por água abaixo. Sendo assim, a guia fechou os olhos, escondendo as pupilas ametistas e concentrando sua força na mente.

"Hiei", chamou ela por telepatia, esperando alcançá-lo e não tropeçar em nada, enquanto abria os olhos o mínimo possível para enxergar o chão.

"Por que está falando por telepatia, Onna?", quis saber o koorime, alinhando seus pensamentos com os dela para se comunicarem.

"É que não quero que ninguém ouça!", explicou Botan mentalmente, lançando um olhar preocupado para Keiko, que continuava desconfiada que algo havia ocorrido entre o "casal".

"Hn. Certo. Qual o problema?"

"Keiko está desconfiada sobre nós!"

"Como assim?", a voz de Hiei conseguia soar agressiva até em pensamento.

"Eu não sei bem! Pelo que entendi, ela ficou desconfiada por estarmos andando separados, algo assim", refletiu a guia, franzindo a testa enquanto transmitia o pensamento para Hiei.

"Hn. Mulher maldita. Eu devia tê-la matado quando tive chance, daí-"

"Hiei!", chamou Botan, interrompendo o pensamento dele. "Não adianta dizer isso agora. Temos que fazer algo para apagar essas suspeitas."

"Eu sei. Mas o que você sugere, Onna?", questionou o koorime, os pensamentos deles transmitidos para ela com certo sarcasmo.

"Não sei...", disse Botan por pensamento, o que era uma certa mentira. Ela sabia, mas não tinha coragem para expressar aquilo.

"Mentira. Você sabe. Diga", replicou o koorime, lançando um olhar desafiador para as bochechas coradas dela.

Droga. Hiei conseguia entender até quando ela mentia. Botan pensou em como aquilo era chato; seus pensamentos e segredos eram um livro aberto para ele.

"Não me importa se você acha chato, apenas diga", insistiu o youkai de fogo, ainda captando a mente dela.

"Hiei! Você me deixa louca lendo tudo que estou pensando!", protestou Botan mentalmente. Ao seu lado, Hiei sorriu, e ela continuou: "Bem... você sabe... todos estão de mãos dadas, então... namorados costumam andar de mãos dadas..."

"Não", protestou Hiei, interrompendo os pensamentos quebradiços dela. "Isso seria o cúmulo, Onna. Não vou andar de mãos dadas com você."

"Mas... vão todos descobrir...! Hiei...! Deixe de...", começou Botan, apenas para ser interrompida mais uma vez:

"Não. Ninguém vai descobrir nada. Estamos bem assim."

A ferry girl suspirou e continuou a andar, num passo mais duro e irritado. Por que ele tinha que ser tão teimoso? Por que não aceitava as sugestões dela, ou ao menos deixava-a expôr sua sugestão por completo? Ele sempre subestimava o resto, achando que seus amigos eram idiotas e nunca descobririam nada. Mas Yusuke já chegara perto de descobrir naquele dia, e agora, estava sendo Keiko. Poderiam se dar mal com isso.

Hiei continuou do mesmo jeito, prestando mais atenção na voz de Keiko e Yusuke, porém. O koorime sentiu uma certa irritação ao distinguir uma frase perdida de Yusuke, dizendo algo como "Hiei deve ter maltratado Botan e devem estar brigados mesmo, é típico dele". De fato, a ferry girl não estava errada; eles estavam levantando suspeitas. E ainda era uma suspeita idiota; por que eles sempre achavam que ele era incapaz de olhar na cara de Botan sem arrancar um pedaço dela? Por que sempre o faziam aparentar como uma fera assassina querendo destruir a felicidade dela? Não era assim. Botan era a única que estava apoiando-o naquele plano idiota, e, apesar de não ter se dado conta, admirava-a por isso. Ela não tinha hesitado em se expor a aquelas situações, por causa dele.

Talvez segurar a mão dela não fosse tão mal assim. Pelo menos, aqueles idiotas ficariam surpresos, era o que Hiei pensava.

Botan sentiu seus dedos serem capturados por algo quente e grande. Olhando para a mão direita, surpreendeu-se ao ver que ela estava enlaçada na mão esquerda de Hiei, que agora olhava fixamente para frente, como se fosse um robô. Por alguma razão, a guia sentiu suas faces arderem e se avermelharem.

Hiei apertou mais um pouco a mão dela, surpreso em ver como aquela mão era pequena; apesar de ele próprio ser mais baixo que Botan, continuava sendo um garoto, e sua mão era indizivelmente maior que a dela. A mão dela era fina e comprida, pequena demais para a mão pontilhada de calos causados pelo cabo da espada que ele tinha.

Ainda estavam um pouco distantes um do outro, mas estavam de mãos dadas; isso era um bom começo. Botan ouviu os sussurros de Keiko e Yusuke silenciarem num gaguejo de surpresa do amigo, e ela sorriu consigo mesma.

Não esperava que a mão de Hiei fosse tão quentinha e confortável.

"Não me pergunte sobre isso, Onna", alertou Hiei mentalmente para a ferry girl.

Botan não respondeu e, por mais que tentasse ficar séria, o sorriso não fugia dos seus lábios, enquanto ela olhava para os próprios pés.

Quando se despediram de Keiko e Yusuke, e juntaram-se a Yukina e Kuwabara para ir até a estação de trem e voltar para o templo de Genkai, não soltaram as mãos um do outro, como se fossem incapaz de desfazerem aquele aperto.

Botan continuava sorrindo.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Acho que demorei pra postar esse capítulo, né? Me desculpem, eu tenho estado sem inspiração, isso é horrível. Pensei que não fosse conseguir terminar! Levei três dias escrevendo esse cap., espero que gostem! Eu tentei fazê-lo o mais coerente possível, mas me pareceu um pouco estranho, não sei porque Em todo caso, eu poderia ter demorado mais ainda para conseguir escrevê-lo, se não tivesse planejado antes; a sorte é que eu já tinha idealizado esse cap. desde o início da fic, então não foi tão trabalhoso assim. XD E... bem, uma má notícia D8 Minhas aulas voltarão semana que vem (socorro! Ç_Ç), e provavelmente levarei mais tempo para atualizar essa fic, e as outras (eu tenho 3 fanfics em andamento, oh god i_i). Me desculpem por isso! Farei o possível para atualizá-las o mais cedo possível, no mesmo ritmo de sempre! Ç_Ç Bem, é isso... espero que tenham gostado, até o próximo cap.! o/



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