Saga - The Alphas Pack escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 12
Dark Horse




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No silencio macabro que se seguia no deserto, Rafa tentava controlar sua própria respiração ao encarar o cadáver do amigo na sua frente. Isso mesmo. Apenas um cadáver. Agora ele não passava mais disso...

– Rafa – ele ouviu alguém se aproximar, mas não olhou. Simplesmente não conseguia mais olhar de volta. – Rafa, o que...?

Andressa parou de andar e arfou levando a mão até a boca. Ao seu lado, a garota loira arregalou os olhos.

– Ele... – ela refreou própria pergunta.

– Sim – Rafa fungou, sentindo as lágrimas começarem a sair. – Ele morreu.

O soluço de Andressa foi alto e suas pernas tremeram. Eduardo chegou logo atrás dela e a agarrou pelos braços. Não disse uma palavra a Rafa, apenas encarou a cena inexpressiva. As palavras fugiam naquele momento.

Carla, Erick e Érika permaneceram atrás de todo o alvoroço, sabendo que não deviam encarar aquele momento. Não conheciam Lucas o suficiente. Mas Érika tremeu involuntariamente, sentindo a dor no rosto de Rafa.

Rita e Marcos estavam pálidos. Pela primeira vez o garoto rico não tinha um comentário sutil para soltar. Quando Rita segurou seu braço, parecia que ele era muito mais novo e precisava de consolo. Mas era Rita quem evidentemente sofria mais. Seus belos olhos estavam cheios de lagrimas e seu peito subia e descia loucamente.

O luto os cobriu um a um.

Mas então os pontos vermelhos atravessaram o céu.

Os Atiradores.

– Nós temos que ir – a garota loira se dirigiu a Rafa. – Eles já sabem que estamos aqui.

– Quem é você? – Carla questionou avaliando ela.

– Meu nome é Lizz – ela se virou jogando o cabelo pra ela. – Eu sou uma caçadora.

Carla franziu a testa.

– Ela é de um Pack diferente – Andressa explicou. – Nós temos o nosso Pack em La Iglesia, mas não quer dizer que somos os únicos. Ela pertence a outro.

– Existem outros Packs? – Erick guinchou e sua reverberou pelo deserto.

Lizz assentiu, mas então agitou as mãos vagamente. Olhou Rafa novamente.

– Rafa, nós temos que ir.

– Eu não vou deixar o corpo dele aqui – ele tocou o rosto do amigo.

– Não temos outra escolha...

– Temos sim – Andressa interviu, a respiração irregular. – Podemos aparatar de novo e...

– E o que pretende dizer aos pais dele? – Eduardo a interrompeu. – Que ele foi baleado por um bando de Atiradores? Que isso foi um acidente? – ele olhou as feridas da bala. – Ninguém vai acreditar em nós.

Os segundos passavam enquanto todos esperavam por Rafa. Preso no torpor, ele mal se moveu até que Fernando, em sua forma de corvo, pousou na sua frente. Rafa olhou seus olhos escuros do animal inteligente e soube de cara que era ele.

– Ela tem razão – Rafa de repente se colocou de pé.

– Rafa? – Andressa o interrogou com o olhar.

– Não podemos levar ele de volta – sua voz era seca. – As pessoas não vão acreditar.

– Mas é do Lucas que estamos falando! – Rita se jogou pra frente. - Se deixarmos o corpo dele aqui, os Atiradores...

– Eles não podem fazer nada com ele – disse dando de ombros. – Ele já esta morto.

Eduardo e Andressa se encararam. Havia algo de muito errado com a simplicidade que Rafa tinha dito aquelas palavras. Seu rosto se recusava a encarar o dos outros e seus ombros estavam tensos.

Ele ainda estava digerindo.

– Nos leve de volta – Rafa se dirigiu a Lizz, sem olha-la. – Da mesma forma que você fez antes.

– Tudo bem – Lizz assentiu. – Mas pra onde?

– Pra minha casa – Rita respondeu. – É mais seguro lá, eu acho.

Lizz fez que sim de novo e pegou Rita pela mão.

– O que esta fazendo? – a garota tentou puxar a mão de volta.

– Você não acha que eu sei onde fica sua casa, acha? – ela retrucou. – Vou precisar que você foque ela na sua mente. Só assim eu vou poder aparatar até lá.

Rita assentiu meio hesitante.

– Também vou precisar que todos fiquem parados – Lizz olhou todos atentamente. – Só assim vou poder aparatar todo mundo.

– Como consegue fazer isso? – Erick questionou, mas Rafa não se ligou para ouvir a resposta.

Seus olhos pousaram no corpo imóvel do amigo. Seus olhos estavam abertos e inexpressivos. Rafa meio que ficou esperando ele suspirar e levantar. Se perguntar quem era a loira que tinha chegado e depois avaliar ela com um olhar travesso.

Mas nada disso aconteceu.

O corvo-Fernando pousou no ombro dele e Rafa deu uma ultima olhada em Lucas. Por um segundo, enquanto a luz de antes começava a aparecer, Rafa tinha jurado que era Balu quem estava deitado ali.

Mas era apenas sua mente tentando negar. Negar que Lucas também tinha morrido por culpa dele.

Na manhã seguinte, Rafa se encontrava sentado na cama de um dos quartos de hóspedes de Rita, encarando a luz fraca da manhã que entrava pela janela. A portava estava aberta e ele conseguia ouvir algumas vozes elevadas no primeiro andar. Provavelmente discutindo o próximo passo.

Eles tinham conseguido despistar os Atiradores. Ao que parece, o dom de tele transporte de Lizz tinha deixado o clã todo confuso. Rafa podia visualizar o rosto retorcido de Carolina ao ver que tinha perdido de novo e isso quase o fez sorrir.

Uma batidinha na porta o arrancou de seus pensamentos e ele se virou para olhar. Era Andressa.

– Ei – ela atravessou o quarto e se recostou na parede na frente dele. – Tudo bem?

Rafa desviou olhar de volta a janela.

– Que pergunta idiota – Andressa tentou dar uma risada histérica, mas saiu como um engasgo. – Eu só queria ver como você esta, mesmo sabendo que você não deve estar nada bem.

– Eu estou legal – Rafa coçou a parte atrás da orelha. O movimento fez toda a parte do seu corpo se mover.

– Mesmo? – Andressa continuava o olhando, mas ele não olhava de volta. – Escuta, Rafa, eu sinto muito...

– Não foi sua culpa – ele se levantou, respirando fundo. – Não foi culpa de ninguém, aliás.

Andressa deu um sorriso leve e assentiu, mas Rafa nem a olhou de volta.

– Ninguém além de mim, é claro.

O sorriso dela sumiu.

– Rafa, não foi sua...

– Foi sim – seu tom era apático. – Eu o levei até a isso. Eu o trouxe com a gente.

– Fomos nós quem te forçamos – Andressa balançou a cabeça.

– Vocês não tinham escolha.

– E você muito menos – ela retrucou, mas então respirou fundo. – Mas resumindo, não foi culpa de ninguém.

Rafa assentiu, mas seu rosto traia o gesto. Ele se sentia culpado pra caralho.

– Eu nem posso acreditar que ele morreu – ela desabafou, fechando os olhos e se sentando na cama. – Mas ele morreu te salvando.

De repente Rafa se irritou e saiu do quarto. Andressa só percebeu segundos que ele tinha partido. Ele não queria ouvir nada daquela baboseira. Do que valia ele ter salvado a vida dele? Do que valia Lucas ter salvado a vida de um idiota como ele?

No primeiro andar, todos pareciam discutir sobre algo, mas então se calaram quando viram Rafa descendo as escadas. Rita foi logo se levantando.

– Rafa – ela andou até ele para um abraço, mas ele desviou andando para o lado.

Rita o encarou, a expressão chorosa, mas ele mal a olhou de volta. Em vez disso, olhou aos outros.

– Então, qual é o plano?

Ninguém ousou dizer nada, menos Lizz que encarava a situação com um olhar lógico.

– Um contra-ataque – ela respondeu naturalmente. – Estamos planejando atacar de novo, em massa dessa vez. Mas precisamos de...

– Cala a boca – Carla a interrompeu com um grunhido. – Não vê que ele não esta em condições de ouvir sobre isso?

Rafa franziu o cenho.

– Por que eu não estaria?

Érika espalmou as mãos e o mediu com cuidado.

– Porque o Lucas...

– Morreu? – Rafa ergueu uma sobrancelha. – Tá, agora podemos focar em matar os Atiradores?

– Como você pode dizer isso assim? – Marco questionou. – Que ele tá morto e só?

Rafa deu de ombros.

– Mas não é a verdade?

Ninguém respondeu.

– Um bando de Atiradores está esta prestes a nos jogar no mesmo destino que ele teve... Acham mesmo que eu vou ficar aqui parado me lamentando pelo que aconteceu?

– Você deveria – Eduardo comentou.

– Deveria? – Rafa riu sem nenhum humor. – Quem é que esta falando isso? Logo você? Que sempre me disse que a morte é uma coisa tão comum pra vocês caçadores?

A expressão de Edu vacilou e seus dentes trincaram.

– Só porque é comum não quer dizer que não sentimos nada quando acontece.

Rafa riu mais uma vez.

– Não vem com essa pra mim agora – ele cruzou o meio da sala e pegou a arma da cintura dele. Rita arregalou os olhos e Andressa arfou da escada.

– Vocês não querem matar os Atiradores? Ótimo! Eu mesmo posso fazer isso – ele destravou a arma. – Eles podem ser muitos, mas com certeza não são imbatíveis.

– Você morreria indo sozinho – Lizz comentou em um tom inexpressivo.

– E daí? Todo mundo morre um dia. Assim como o Balu, aquele turista, o Henrique e agora o Lucas... – sua garganta se fechou. – Importa mesmo morrer?

– Larga a arma.

Rafa sentiu alguém atrás dele. Quando ele fez menção de se virar, ele tirou a arma de sua mão no mesmo momento. Fernando tinha uma expressão estranha. Parecia frustrado, mas ao mesmo tempo com pena. Rafa não gostou disso.

– O que foi? – ele ficou de frente pra ele. – Agora você quer me dar lição de moral? Eu acho que...

– Cala a boca – ele não tinha exatamente mandado, mas seu tom era cortante. – Seu melhor amigo morreu e agora você esta entrando em crise.

Rafa abriu a boca para protestar, mas a fechou de novo. Ele estava certo e isso não deixou Rafa muito feliz.

– Fica calmo – Fernando disse em um tom mais leve. – Foi horrível o que aconteceu? Sim, foi horrível. Lucas era apenas um garoto, não merecia morrer daquela forma. E nós sentimos muito pelo que aconteceu.

O corpo de Rafa começou a estremecer e Fernando afagou seu ombro.

– Mas isso não vai ficar assim – ele o olhou nos olhos e Rafa olhou de volta. – Eu prometo a você.

O silencio permaneceu na sala enquanto Fernando o tocava e Rafa esperava sua respiração se ajustar. Ele não podia desabar agora, não na frente de todo mundo.

Quando enfim sua respiração ficou leve, Fernando se afastou e se virou para os outros.

– Agora expliquem qual é o plano.

Lizz descruzou os braços.

– Nós invadimos o território dos Atiradores de novo e atacamos – ela deu de ombros.

Fernando parou um pouco e então balançou a cabeça.

– Me parece muito simples – ele cerrou os dentes. – Precisamos de estratégias e um plano. Os Atiradores se mostraram não só espertos em saírem da própria base como também mostraram que sabem do que somos capazes. Precisamos de algo mais.

Carla levantou a mão.

– Sim? – Fernando a olhou.

– Eu meio que estava pensando em emboscarmos eles.

– Mas eles são muitos – Erick comentou. – Precisaríamos de uma bomba pra fazer isso.

Eduardo deu de ombros.

– Eu posso fazer melhor que uma bomba.

Lizz balançou a cabeça.

– O que ela quis dizer é algo de dentro do lado deles. Seu ataque direto eles já podem prever.

– Exatamente – Carla assentiu. – Eu estava pensando em usarmos uma coisa, mas não tenho certeza se é seguro.

– Usar o que? – Fernando questionou.

Carla primeiro trocou um olhar com Erick, depois os dois encararam Rafa.

– Quanto da sua barreira você sabe fazer?

Visivelmente surpreso, Rafa se encolheu.

– Não muito eu acho. Nem sei como controlá-la.

– Nós testamos na academia – Andressa comentou. – Ele tentou expandir e acabou lançando a máquina pra longe.

Um sorriso brotou no rosto de Lizz.

– É exatamente isso que eu estou falando. Acha que pode fazer a mesma coisa com os Atiradores?

Lizz e Erick o olhavam com expectativa e Rafa ficou um pouco sem graça.

– Acho que sim.

– Maravilha – Lizz começou a andar. – Nós vamos lá, usamos a barreira de Rafa e esperamos ele jogar todos eles longe. Depois quando eles estiverem todos estirados no chão, matamos um por um, simples.

Fernando e Rafa sorriram, mas então Carla balançou a cabeça.

– Não é tão simples assim – ela olhou Rafa de um jeito temeroso. – E se seu nariz sangrar de novo?

Rafa estremeceu com o que ela disse.

– O que?

– Seu nariz – ela explicou, apontando. – Eu sei que ninguém aqui notou depois que ele usou a barreira na academia, mas eu mesma vi, até senti o cheiro. Rafa, seu nariz estava sangrando.

Fernando ficou imóvel, mas Rafa piscou.

– E dai? – ele tentou soar despreocupado. – Aquilo foi só sangue, não quer dizer nada.

– Ah, não? – Carla o encarou. – Quanto você acha que precisou pra usar a barreira lá embaixo?

Rafa deu de ombros.

– Quase nada, eu só pensei nela e ela veio.

– E quanto acha que vai precisar pra usar contra os Atiradores?

Rafa não disse nada.

– Pois é! – Carla exclamou e se virou para Lizz. – Ele mesmo disse que não tem controle sobre isso. Se forçar demais algo assim ele pode acabar morrendo!

– Não seja tão dramática – Erick enrolou em seu sotaque.

– Ela esta certa – Fernando enfim suspirou e encontrou o olhar de Rafa. – Você não precisa fazer isso.

Rafa, no entanto, desviou o olhar.

– Do que esta falando? – ele estufou o peito. – É claro que preciso. Não vou deixar mais ninguém morrer.

– Rafa...

– Eles mataram o Lucas – ele se empenhou de coragem. – Agora eu vou matar eles.

Roberto acordou arfante. Seu corpo se levantou e, na mesma hora, ele sentiu mãos tentando fazer com que ele se deitasse novamente. Sentiu o pânico querer sair da sua garganta assim que sentiu as mãos, porem ao abrir os olhos viu que não tinha com o que se preocupar. Eram apenas Vick e Rogério. Camila Alves estava sentada em uma poltrona no canto.

– Roberto, calma – Vick tocou em sua testa. – Você esta bem?

Ele respirou fundo, o alivio preenchendo seus pulmões, e então assentiu.

– Estou sim – ele se levantou e coçou a cabeça. – Onde eu estou?

– Na minha casa – Rogério respondeu com um ar divertido.

– O que foi? – Roberto franziu a testa.

– Você desmaiou – Vick explicou. – Tivemos que trazer você até aqui.

– Desmaiei?

– Ahã – Camila Alves assentiu. – Em um minuto estávamos saindo da casa da Taffara, no outro você simplesmente... caiu na nossa frente.

Roberto mal se lembrava disso. Pegou os óculos e os colocou na frente do rosto, ajustando a visão no quarto de cor azul boba de Rogério.

– Você esta bem? – Vick perguntou de novo. – Ficou sem comer ou algo?

– Não, eu acho. Por que a pergunta?

– Por que você ficou quase doze horas dormindo – Camila Alves explicou. – Só acordou agora, mesmo.

– Jura? – ele ficou surpreso. Ainda se sentia bastante cansado.

– Sim, sim.

Roberto levou as mãos ao rosto, tentando se lembrar de alguma coisa antes de desmaiar. Havia a casa de Taffara, a calçada onde eles andavam e... o que mais? Ele podia jurar que tinha sentido algo mais.

E então a memória veio.

– O Rafa – ele soltou.

– O que? – Rogério questionou.

– O Rafa – ele começou a se levantar. – Eu preciso ver ele.

– Por quê? – Vick questionou.

– Eu não sei – ele começou a calçar o tênis. – Eu só sinto que preciso vê-lo.

– Então temos algo em comum – Rogério comentou com um toque de sarcasmo, mas parecia tenso.

– O quer dizer com isso? – Roberto questionou. – Ele não voltou pra casa ontem?

– Não.

Vick trocou um olhar com Roberto.

– Não deixou uma nota ou algo do tipo?

– Nada – Rogério desviou o olhar. – Gente, isso tá muito familiar.

Roberto sentiu o coração pesar. Algo dizia a ele que Rafa ter desaparecido não era nenhuma novidade, mas alguma outra coisa dizia a ele que algo de muito ruim tinha acontecido.

Mas será que tinha sido com Rafa?

– Como na vez em que ele sumiu na sexta? – Vick assentiu. – É, concordo com você.

– Eu acho que não é a mesma coisa – Roberto começou a balançar a cabeça. – A ultima vez em que ele sumiu assim eu o encontrei na escola.

– Na escola? – Vick questionou. – O que ele fazia lá?

– Alguém tinha chamado ele – Roberto agitou as mãos no ar. – Mas deixa quieto – seus pensamentos arderam em Fernando. Será que ele estava com ele?

– Ele deve estar no Lucas – Vick deu de ombros. – Podemos ir checar lá.

Roberto balançou a cabeça, sem saber por que, foi apenas um movimento em resposta. Automático.

– Você pode ir checar lá, eu vou até a escola.

– E quanto a mim? – Rogério apontou para o próprio peito.

– Quanto a nós! – Camila Alves apertou os olhos para ele.

– Vocês ficam – Vick disse. – Dá ultima vez ele voltou, acho que ele volta de novo. Quem sabe ele até ligue?

Rogério assentiu e Roberto e Vick se apressaram para sair da casa. Porém, no meio do caminho, Roberto simplesmente parou no corredor e ficou olhando para o final dele. Podia jurar que algo... podia jurar que alguém estava falando ali.

Mas quando olhou não viu nada. Ninguém.

– Roberto? – Vick chamou do pé da escada.

– Tô indo – ele se apressou, tentando apagar a voz que pensou ter ouvido no fim do corredor.

– Quanto falta pra chegar? – Taffara perguntou impaciente, a mão pousada no joelho que ficava descoberto pelo short curto.

Rael deu a ela um olhar nervoso.

– Não muito – ele disse enquanto tocava no volante de jeito vagaroso. O carro dele se firmava sobre o asfalto esburacado da trilha que eles tinham pegado na floresta de Vallywood.

Taffara olhou impaciente fora da janela para a vegetação.

– Não consigo imaginar meu Henrique subindo tudo isso aqui – ela desabafou.

– Eu consigo – Rael engoliu em seco ao responder. – Ele tinha um carro... Um até melhor que o meu, um perfeito para esse tipo de coisa.

– Eu sei que tinha – ela fez questão de deixar o tom seco no final, enquanto se lembrava do jipe de Henrique. – Só não consigo imaginar ele no mesmo com carro com o seu namorado dentro.

– Ex-namorado – Rael suspirou e fechou os olhos. – E você sabe muito bem que eles não estavam aqui pra esse tipo de coisa.

Taffara riu fracamente.

– Eu sei muito bem que meu Henrique jamais teria nada com um idiota com o Rafa. Agora você, por outro lado, teve que empurrar ele de um precipício pra perceber isso.

Rael engoliu em seco e Taffara mordeu a ponta do polegar, tranquila. Ela não estava nem um pouco feliz em estar no carro de Rael, tendo que ser obrigada a aturar o cara que matou seu namorado. Mas ao menos ele ia mostrar a ela o local onde tudo tinha acontecido. O precipício.

– Eu já disse que sinto muito – Rael se defendeu.

– E eu já disse que não ligo – ela jogou o cabelo sobre o ombro. – Apenas dirija.

Quando Rael finalmente parou o carro, eles desceram em um lugar verde e alto, onde o sol soltava seus raios tranquilamente. Ali em cima o ar soprava bem forte e o cabelo de Taffara tentava se erguer.

Ela olhou a beira do precipício e tentou imaginar Henrique ali. O cabelo arrepiado escuro perfeito. O corpo escultural de um jogador de futebol. Os olhos escuros miúdos e o sorriso de gato-de-Alice perigoso que ela tanto amava. Ela quase suspirou de alegria e quis se jogar nele.

– Foi aqui – Rael dissipou sua ilusão. – Foi aqui que aconteceu tudo.

Taffara respirou fundo e se voltou para ele.

– Por que os dois estavam aqui?

Rael começou a andar pelo lugar.

– Eles iam se encontrar pra discutir sobre você – ele respondeu.

Aquilo pegou Taffara de surpresa.

– Sobre mim?

– É – Rael se virou. – Lembro que os escutei falando que precisavam fazer uma surpresa pra você. Rafa estava aqui pra ajudar o Henrique.

– Os escutou?

– Eu os segui – Rael confessou. – Os segui da cidade até aqui, sim foi isso.

– Não estou surpresa – Taffara fungou. – E então?

Rael ajeitou os ombros.

– E então eu ouvi eles rindo – a expressão dele era longe. – Parecia que o Rafa tinha caído no chão ou algo assim. Desajeitado como sempre. Henrique foi ajuda-lo a levantar e me lembro de que foi aí que eu fiquei muito puto.

Taffara ficou em silencio.

– Parecia, do ângulo que eu estava vendo, que os dois estavam bem próximos. Depois eles sumiram na mata e eu não conseguia achar eles. Passei acho que quinze minutos procurando até finalmente chegar aqui – ele gesticulou para onde eles estavam. – E então eu vi o Rafa e o Henrique conversando. Eles me viram e eu explodi de raiva. Porque no caminho pra lá, eu podia jurar que tinha visto duas pessoas se beijando.

– Mas como você disse não eram eles – Taffara o lembrou.

– É, tinham muitas pessoas aqui naquela noite – Rael assentiu. – Acho que um outro grupo, de outra cidade. Acho que me confundi – ele balançou a cabeça. – Mas naquela noite eu já tinha bebido bastante café e isso geralmente me deixa muito mais nervoso, eu não presto atenção em nada quando tomo...

– Continue a história – Taffara fechou os olhos, visualizando. – Por favor.

Rael suspirou e continuou.

– Rafa me parou e disse “Rael, não é nada disso que você esta pensando”, eu olhei pra e disse “Então é o que?”, ele me olhou de volta e disse “Eu só estava ajudando ele”, me lembro de ter ficado puto e dito algo como “Precisava ajudar aqui em cima? Nesse lugar?”. Depois disso o Henrique interviu, me olhando de cara feia e disse “Estava nos perseguindo, esquisitão?”, eu o encarei feio e disse “Eu não sou esquisitão”, ele tinha começado a rir da minha cara “É um esquisitão sim” “Só esquisitões espionam os outros”. Eu fiquei com raiva e empurrei-o. Ele me empurrou de volta. Eu empurrei mais uma vez. Ele me empurrou de volta e me jogou no chão. Começou a chutar a minha cara. O Rafa ficou tentando me ajudar a levantar. Tentou separar, mas Henrique o empurrou também. Acho que ele estava bêbado, mas não tinha certeza. Eu me levantei, pedindo pra ele não tocar no Rafa e foi aí que aconteceu.

No silencio da manhã ensolarada, os olhos de Rael se encheram de lagrimas com a lembrança. De repente o ar cheirava a madressilva, o mesmo cheiro daquela noite.

– Ele me bateu e me jogou no chão de novo. Bem perto do precipício. Ficou em cima de mim, de novo, e acho que queria me enforcar. Ou pelo menos foi o que pareceu. Estava tão escuro. Eu chutei a barriga dele e o empurrei com tudo. Pensei que ele tinha caído no chão, ao meu lado, mas quando levantei tive que me sustentar em pé. Porque eu estava na beira do precipício, onde o Henrique tinha caído.

Agora Taffara deixava as lagrimas rolarem. Não chorava, apenas sentia. Seus olhos se abriram e Rael estava bem na frente dela, alguns passos perto do precipício. Ela se atirou na direção dele e o pegou pela gola da camiseta azul-listrada. Ele a olhou assustado, enquanto ela o jogava no chão, bem perto do precipício.

– Tá sentindo isso! – ela chegou bem perto do rosto dele. – Tá sentindo o medo! Foi isso que meu namorado sentiu antes de você assassinar ele!

– Foi um acidente – Rael chorou.

– Eu sei! – ela gritou e então se desvencilhou dele. – Eu sei – murmurou mais calmamente.

Rael se levantou, alisou a camiseta e a olhou tocar a ponta do nariz. Parecia estar tentando se acalmar.

– Você o empurrou – ela abriu os olhos mais uma vez. – Nunca se esqueça disso, você o empurrou.

Rael assentiu, corajosamente.

– Mas foi um acidente – ela suspirou. – Acho que, eu, no seu lugar, teria feito a mesma coisa com o Rafa.

Rael engoliu em seco e ela o olhou nos olhos.

– O ciúme nos deixa doentio – ela explicou. – Nos faz perder a cabeça. Eu entendo pelo que você passou.

Ele não sabia o que dizer.

– Eu não te perdoo pelo que aconteceu – ela o mediu de cima. – Mas também não vou te condenar; O que aconteceu aqui morreu aqui para sempre. Você e o Rafa não precisam mais ter medo.

Rael respirou fundo, sentindo um grande peso sair de suas costas enquanto olhava a beira do precipício. As lagrimas encheram o seu rosto.

– Agora vai – Taffara de repente mudou o peso do pé. – Saia daqui antes que eu mude de ideia e jogue você daqui.

Rael franziu a testa.

– Vai embora sozinha? A pé?

– Eu dou o meu jeito – ela ergueu o queixo. – Agora dê as costas e saia daqui Rael. Está me fazendo perder a paciência.

Ele a olhou uma vez antes de se virar e depois correu até o carro, arrancado dali rapidamente.

Taffara se virou para o precipício e ficou encarando a vista da floresta inteira dali de cima. Com a luz do sol, aquela era uma bela visão.

Os arbustos do lado da colina se remexeram e Taffara só precisou esperar um pouco para que ela aparecesse e saísse de uma deles.

– Parece que ele não precisou de muita pressão – Camilla Polli saiu da mata tirando os óculos escuros. – Contou toda a verdade a você Taff, sem nem sequer piscar.

Taffara assentiu para a aliada.

– Rael sempre foi o elo mais fraco – ela sorriu ironicamente. – Acho que foi por isso que o Rafa terminou com ele, não é?

Camilla Polli riu junto.

– Isso e o fato de ele ser um obsessivo – ela revirou os olhos. – Ou pelo menos ele era.

– É, ele era – Taffara assentiu. – Mas acho que agora é só mais um passivo de merda nas nossas mãos.

Camilla Polli riu malevolamente.

– Passivo mesmo?

As duas riram mais uma vez.

– Agora vamos embora daqui – Taffara deu uma circulada no lugar. – Esse lugar me dá arrepios.

– Deve ser por que já viemos aqui, logo depois de eu conseguir arrancar um comentário do Diogo bêbado na festa dos Capoci. Dá pra acreditar que ele contou tudo com tanta facilidade?

Taffara deu de ombros e sacou um cigarro.

– É como dizem – ela acendeu na frente da boca e tragou antes de continuar. – De uma garota e uma bebida aos garotos e eles farão tudo o que você quiser.

– Quem diz isso? – a amiga questionou rindo.

Taffara tragou mais uma vez e sorriu.

– Eu.

E as duas riram enquanto saiam dali.

No hall enorme da casa de Rita, todos se preparavam para o confronto contra os Atiradores. Andressa e Eduardo conversavam de canto, tocando as duas mãos. Érika e Carla erguiam o mapa, mas logo o largariam até memorizar todas as rotas de fuga possíveis. Erick conversava com Marco sobre Lucas, enquanto Rita limpava uma ferida no ombro dele calmamente. Lizz estava com um aparelho de celular e parecia querer conseguir sinal para falar com Anna e Layane.

Rafa apenas colocava uma arma dentro da calça. Não sabia muito bem como usar aquilo, mas não faria nada de mal manter por perto. Se bem que armas eram as ultimas coisas que ele gostaria de ouvir falar dali por diante...

– Isso vai ser perigoso – alguém disse ao lado de Rafa e ele nem precisou se virar para olhar. – Você entendeu o que a Carla quis dizer?

– Entendi Fernando – Rafa suspirou. – Só não concordo com ela.

– Como não? – o loiro cruzou os braços para ele. – Rafa, você precisa tomar cuidado. Se usar demais a barreira.

– Não aconteceu nada até a agora – Rafa o cortou.

– Até agora... – Fernando repetiu sua frase.

Rafa levantou o olhar e viu que ele o encarava de um jeito intenso.

– Que é?

– Rafa... – ele se aproximou.

– Não – ele o freou colocando a mão em sua barriga. – Não, Fernando.

Fernando assentiu, mas então não aguentou mais e o pegou pela nuca. De repente os dois estavam em um abraço e Rafa estava com a cabeça no ombro dele, sentindo seus braços em volta dele. Aquele era o momento perfeito para chorar, no ombro carinhoso de um amigo. Mas ele não podia. Não agora.

Relutante, ele se desvencilhou do abraço de Fernando, que logo fez uma careta com isso.

– Obrigado por isso – Rafa disse e ele sorriu.

– De nada, Rafa – ele o olhou de uma forma que deixava claro que era ele quem estaria quando Rafa precisasse e quisesse sentir a dor de perder o melhor amigo. – Mas isso ainda vai ser perigoso.

– Eu sei – Rafa respondeu e então olhou para os outros. – E eles também.

– Eu não quero perder mais ninguém – Andressa comentou, tocando a palma de Eduardo com a sua.

– E não vai – ele levou a mão dela até os lábios e beijou. – Vai ficar tudo bem, eu prometo.

– Não faça isso – ela advertiu com um olhar. – Promessas não vão valer de nada essa noite.

– Isso é o que você acha – ele a provocou com um sorriso e a trouxe para perto. – Mas você geralmente é pessimista.

– É o que eu tenho certeza – ela provocou de volta e colocou as mãos atrás da nuca dele. – E não sou pessimista. Só não quero perder quem eu amo.

Eduardo assentiu e baixou o rosto para o dela. Eles se beijaram intensamente, sem nenhuma pressa. O momento era perfeito para dizer três palavras, mas eles sabiam que isso implicaria algo sobre um deles não voltar. E nenhum deles queria isso.

– Vocês vão ter que ficar – Erick disse a Rita e Marco.

Marco ficou pálido.

– Mas, e quanto aos Atiradores?

– Eles não vão ser um problema – ele respondeu. – Aposto que vão estar todos lá. E a Andressa disse que não quer mais nenhum humano de novo lá, porque vocês sabem...

– Sim – Rita o interrompeu com um olhar. – Eu sei.

Erick mordeu o lábio inferior e tocou o braço dela.

– Sinto muito, mesmo.

– Obrigada – ela sorriu tristemente e os dois se abraçaram.

Marco cruzou os braços.

– Eu estou sentindo cheiro de mel – ele fungou.

Rita revirou os olhos ao se afastar, mas os olhos de Erick estavam tensos.

– Tenham cuidado – ele pediu, olhando Rita nos olhos. – Por favor.

– Teremos – Rita assentiu e puxou o irmão para perto dela.

– Anna e Layane estão vindo de helicóptero agora mesmo – avistou Lizz voltando ao centro do hall.

– Elas vão vir? – Eduardo questionou.

– Vão tentar – Lizz assentiu. – Mas até lá, vamos fazer o possível pra atrasar os Atiradores, tudo bem?

– Eu vou é matar eles – Érika grunhiu. – Estava meio confuso da última vez, mas eu vi quem atirou no Lucas. Foi aquele careca.

– Ele é meu – Andressa sacou a agulha. – Mal posso esperar pelo reencontro.

– A Carolina é minha – Fernando se juntou a eles. – Esta me devendo por ter batido no Rafa.

– Sem essa, ela fez de mim e do Erick capachos – Carla deixou os olhos ficarem vermelhos. – Eu vou ter o prazer de cortar a garganta dela.

Todos começaram a escolher oponentes, mas Rafa apenas olhou com atenção para o horizonte. Mataria sim o tanto de Atiradores que pudesse, mas se concentraria dessa vez em manter todos vivos. A ideia de sua barreira jogar eles longe crepitava em sua mente, mas algo mais brilhava lá no fundo.

Ele tinha um plano na manga.

Saindo da escola, Roberto não ficou surpreso por não ter conseguido achar Rafa. Tinha procurado em cada sala, cada corredor, até mesmo no armário de vassouras da escola, mas nenhum sinal de seu namorado. Será que ele deveria ficar bravo com ele? Realmente estava começando a ficar impaciente.

Tudo bem que ele tinha que digerir o fato do Rafa ser meio puto e de que ele adorava curtir as fotos de vários amigos deles em comum e acessar o http://www.xvideos de vez em quando, tarde da noite. Mas ele ainda ficava preocupado. E se o fato de ele sumir assim, de repente, sempre quando quisesse, quisesse dizer que ele não se importava com Roberto.

Será que ele não sentia o mesmo? Será que ele estava brincando com Roberto esse tempo todo? O que Roberto deveria fazer a respeito? Ou pensar a respeito?

No estacionamento, um movimento súbito chamou a atenção dele. Parecia que alguém tinha acabado de correr por ali.

– Olá – Roberto se aproximou de um carro cinza com vidro fume. – Tem alguém ai? – ele bateu no vidro.

Um silencio enorme se passou enquanto ele esperava. O vidro do carro abaixou, fazendo-o pular de susto. Dentro dele, havia uma garota usando uma echarpe sobre a cabeça até o pescoço e óculos escuros. De forma que escondia seu rosto todo. Ela tirou os óculos.

– Roberto – ela o cumprimentou com um ronronar.

– Marta – seu tom fez parecer uma pergunta. – O que você esta fazendo aqui?

– Eu é que pergunto – ela deu um sorriso irônico.

Roberto de repente se lembrou de algo. Marta era a assassina. Sua testa começou a suar e ele ficou imobilizado onde estava. O rosto marrom-escuro dela estava um pouco... cinzento. E seus olhos estavam bem escuros.

– Você sumiu – Roberto comentou, engolindo em seco.

Marta riu.

– É, um pouco, uma doença me pegou, sabe?

Roberto a analisou. Doença não era exatamente a palavra que ele usaria para alguém que estava fugindo da policia, mas servia. A echarpe provavelmente estava ali para esconder seu rosto e seu cabelo. Ela não queria mesmo ser usada.

– Na verdade, não sei não – o estomago de Roberto roncou.

– Parece que você esta com fome? – Marta riu e o mediu com os olhos.

– Como sabe disso? – ele questionou em um tom cheio de suspeitas.

Ela deu de ombros.

– Minha doença meio que me deixou mais perceptível a algumas coisas, sabe?

Roberto balançou a cabeça.

– De novo: Eu não sei não.

Marta riu e Roberto tentou ficar relaxado. Ela era acusada, mas não quer dizer que era uma assassina ao todo. Podia ser um engano.

– Eu vou tomar um café – ele disse. – Se quiser me acompanhar.

– Não obrigada – ela tocou o volante com força e lançou um olhar nervoso para o espaço entre o banco do carona e Roberto. – Já tomei tudo o que tinha que tomar no caminho até aqui.

Roberto não soube como interpretar a resposta e ela ligou o motor do carro, o fazendo pular de susto.

– Foi um prazer, Roberto.

– Espera!

– Que foi? – ela tirou os óculos que ele nem a tinha visto colocar com rapidez.

– A policia esta de olho em você – ele confessou. – Estão te acusando de pagar a conta para um assassino.

Ele esperou que Marta ficasse assustada, mas ela apenas revirou os olhos.

– Não acredito que aquele pivete vai me fazer passar por isso – ela revirou os olhos e encarou o próprio reflexo belo no retrovisor.

– De quem você esta falando? – Roberto não conseguia segurar a curiosidade, e não sabia bem por que.

Ela o mediu com os olhos.

– De ninguém – o carro começou a andar devagar. – Fique bem, por enquanto, Roberto.

Ela deu partida e Roberto ficou parado e confuso no estacionamento, o sol derramando a luz sobre as suas costas. E então se deu conta das últimas palavras de Marta.

– Por enquanto? – ele se perguntou em voz alta.

Lizz transportou eles perto do final da tarde. O sol ainda se derramava pelo denso deserto, mas parte do céu rosa arrastava algumas nuvens finas com ele. Rafa se viu de novo naquele lugar e sentiu um nó na garganta.

Todos começaram a ficar agitados, olhando a fortaleza acabada dos Atiradores como se esperassem que eles saíssem dali, mas Rafa sabia por dentro que não seria bem assim. Quando eles menos esperassem, os vultos pretos apareceriam.

Mas dessa vez estamos preparados, Rafa pensou, talvez um pouco confiante demais. Era melhor do que não estar confiante.

– Aquele era o território deles? – Lizz questionou com um olhar para a fortaleza.

– Bem, era – Carla enfatizou a última palavra. – Mas vamos dizer que um certo alguém aqui mudou isso.

Lizz a mediu com os olhos.

– Você fez isso?

Carla pulou de susto.

– O que? Não – ela apontou com o queixo para Eduardo. – O Sr. Avatar ali é o culpado disso tudo.

Lizz desviou o olhar dele para medir Carla outra vez.

– Que pena, você parece ter todo o potencial pra isso.

As bochechas de Carla coraram, Érika pigarreou atrás dela e as duas pularam.

– Piadinha pra descontrair? – A loira questionou Lizz. – Não foi tão engraçado assim.

– Eu não estava sendo – Lizz retrucou.

– Eu não me importo – os olhos de Érika brilharam em ouro.

Erick interviu.

– Meninas, deixemos o couro pra lá – ele olhou de uma para a outra e depois para longe. – Não foi pra isso que viemos aqui.

Rafa seguiu o olhar dele e então os viu. Em incontáveis roupas pretas eles corriam para alcançar Rafa e seus amigos.

– Tudo bem, vai começar – Eduardo espalmou as mãos e olhou todos. – Seja lá quantos perdemos aqui, saibam que não vai ser em vão.

Andressa bufou.

– Tem como ser mais negativo?

Fernando os interrompeu com um olhar. Os Atiradores agora andavam com menos pressa. Rafa semicerrou os olhos e localizou Carolina no meio da massa escura. Tinha em uma das mãos uma pistola e, na outra, algo parecido com um TASER em bastão preto de tamanho médio. Alguns outros também tinham armas diferentes, como lanças, facas e até mesmo arcos.

O cara de arco e flecha lembrou Giulia e Rafa se perguntou se alguma vez voltaria a vê-la novamente.

– O que estão esperando? – Érika se perguntou ao seu lado.

Eduardo meneou a cabeça.

– Não estão esperando, estão analisando – ele cerrou os dentes. – Provavelmente decidindo quais de nós vão matar primeiro.

Rafa inspecionou o olhar frio e escuro de Carolina.

– Eu com certeza sou a prioridade – comentou.

Erick bufou, mas no momento em que ele disse isso, uns vinte Atiradores tomaram a frente e sacaram suas armas. Eduardo remexeu a mão de lado, mas Lizz o parou com o olhar.

– Deixe com o Rafa.

Os dois o olharam e ele enrubesceu. Mas tinha que começar por ele, não tinha?

Os disparos começaram e ele se jogou pra frente. Não foi tanto com um tranco, mas foi o bastante. A barreira invisível começou a repelir os tiros. Rafa olhou outros deles que se juntaram para atirar e viu que nenhum deles tinha um olhar de surpresa. Sim, ele era esperado.

Rafa então ergueu a mão a lançou o escudo longe. Os disparos cessaram na mesma hora em que muitos dos atiradores foram lançados para trás da massa. A arma de um que estava se precipitando para a frente acertou seu próprio nariz e ele quase caiu; Rafa aproveitou e o lançou no ar também.

Pelos próximos segundos, tudo o que se seguiu foram os vários vultos de Atiradores tentando passar pela barreira. Rafa repelia os tiros e depois lançava cada um deles longe, empurrando com a barreira.

O grupo de Rafa ficava silencio atrás dele, uma vez que a vantagem estava com apenas um membro deles. Mas aquilo estava fácil demais.

Em um instante Rafa conseguiu bloquear mais disparos e até mesmo desarmou um dos Atiradores que arregalou os olhos para a mão vazia antes de ser empurrado. Rafa passou mão no rosto de alegria por ter feito aquilo. Mas só então viu.

Sua mão estava com sangue.

Ele arfou, mas engoliu em seco e continuou a empurrar mais Atiradores.

– Tem algo errado – Fernando comentou atrás dele enquanto olhava um Atirador conseguir sobreviver ao empurrou de Rafa e se levantar para tentar mais uma vez. – Rafa? Esta me ouvindo?

Mas ele o ignorou, lançando o Atirador longe. Porém, no mesmo momento em que fez isso, um deles disparou na direção de Rafa e o tirou pegou de raspão em sua perna, rasgando o tecido da calça.

– Rafa! – ele sentiu um par de mãos o puxar para trás. – Rafa, recua!

– Eu não posso – ele tentou se desvencilhar. – Eles vão nos acertar.

No meio da massa ele viu Carolina dizer algo a um Atirador alto de pele castanha e depois todos eles começaram a correr mesmo, empunhando as armas.

Andressa desviou de alguns bons tiros e repeliu um com a agulha gigante. Erick e Carla foram atingidos, mas parece que balas normais não faziam efeito e eles correram para colidir com o inimigo. Érika olhou assustada as costas de Carla por um momento hesitante, mas não pensou duas vezes em segui-la com um grunhido.

Os Atiradores estavam avançando, o combate corpo a corpo não era mais inevitável. Eduardo logo se encarregou de soltar uma rajada violenta em uma dúzia que saltava para alcança-los. Mas isso não impediu todos.

Um deles com uma lança se jogou com um grito na direção de Fernando, mas Andressa atravessou o ar na direção dele, rolando na areia com ele. Dentro de segundos, Rafa pode escutar um pescoço quebrar – e não era o dela.

Fernando encarou o céu agora praticamente azul-escuro e suas unhas se projetaram para um tamanho maior. Os caninos cresceram e logo seu corpo se curvou em uma posição que rasgou suas roupas. Ele tomou a forma de um lobo meio acinzentado e ele abocanhou a perna de um atirador que tinha mirado em Lizz – que estava ocupada demais desviando de uma lança para depois cravar uma adaga no peito de quem tinha jogado nela.

O grandalhão de antes de cor castanha tentou sorte ao disparar em Rafa, mas ele não só levantou o escudo como controlou a mão do Atirador para atirar em si mesmo. Seu corpo caiu trôpego na frente dele.

O pandemônio tomava conta de todo o lado do deserto enquanto Rafa olhava todos. Tentou achar Erick e Carla, mas só viu duas formas peludas, uma totalmente escura e outra um pouco castanha. Como viu Érika no meio delas, chutando a cabeça de um Atirador já caído, deduziu que as formas fossem Carla e Erick em suas formas Alfas.

Rafa tropeçou mais para a massa preta, ganhando várias tentativas de disparo em suas costas. Um atirador caído mirou na direção dele, mas logo Andressa apareceu cortando a cabeça do desgraçado. Ele queria sorrir em agradecimento para ela, mas quando ela ergueu os olhos arfou na direção dele.

– Rafa – ela se aproximou e tocou seu rosto. – Você esta sangrando – tocou em uma região abaixo de seus olhos. – Sangrando muito – ela arfou e encontrou seus olhos. – Carla estava certa, não estava? Esse poder vai matar você, não vai?
Ele quis dizer a ela que morreria de qualquer forma, mas então Andressa foi surpreendida por trás e seus olhos se arregalaram ao máximo antes que ela caísse em sua frente. Rafa logo se empenhou em verificar sua pressão cardíaca, mas um estalo em cima dele o interrompeu.

– Ela vai ficar bem – Carolina sorria vitoriosa para ele. – Mas você, no entanto... Não prometo.

Ela ergueu o TASER e estava prestes a tocar no pescoço de Rafa. Ele desviou e fez algo que achou que não conseguia. Puxou a arma dela para si.

Inacreditavelmente, ele se encontrava apontando na direção da cabeça dela, enquanto Carolina o olhava com um olhar surpreso – surpreso e divertido.

– Olha só quem está mais ousado – ela riu. Como podia rir em um momento daqueles? – Mas devo te alertar que mesmo me matando, seus problemas estão longe de acabar.

Ele franziu a testa, mas então Carolina olhou para um ponto distante dali. Rafa seguiu seu olhar e sua respiração parou. Eduardo estava deitado no chão de barriga para baixo, a cabeleira escura escondendo o rosto todo.

Ah, não.

Rafa olhou mais ao redor e assistiu Erick e Érika sendo derrubados ao mesmo tempo. Érika grunhiu de dor. Erick não teve tempo de grunhir, porque um Atirador o chutou no estomago. E de novo. E de novo. E de novo.

A mão de Rafa tremeu e Carolina se moveu com tudo para ele. O TASER triscou em seu joelho e ele deu um grito enquanto se ajoelhava na frente dela.

– Game Over – ela riu enquanto o segurava pelo pescoço. – Pode dizer adeus aos seus amigos.

Ela virou seu rosto de propósito para que ele visse Lizz tentar aparatar e ser impedida por uma adaga em seu braço. Não muito longe do lado dela, Fernando em sua forma de lobo era cercado por muitos Atiradores com TASERS. Seu choro canino partiu o coração de Rafa.

– No fim o que adiantou vocês virem? – Carolina girou seu rosto para o dela. – Se agora vão todos morrer aqui mesmo?

Rafa apenas engoliu em seco, olhando aflito de uma Andressa uma desacordada, de um Eduardo talvez morto e um Fernando completamente cercado em sua forma mais vulnerável.

Como aquilo tinha chegado até ali?

Carolina lhe deu um tapa no rosto. Não doeu, mas também não foi bom. Foi como uma pitada irritante de um mosquitinho muito ousado.

– O que foi? – ela sorriu com a língua se mexendo de forma estranha. – Não vai dizer nada agora?

Rafa umedeceu os lábios.

– Vá pro inferno – sua voz soou rouca.

– Logo depois de você – ela fingiu um tom encabulado. – E agora, Capoci? Você perdeu seu melhor amigo. E agora vai perder todos os seus amigos de uma vez só. Não é horrível?

A dor ameaçou esburacar o coração de Rafa, mas ele se esforçou para não desabar. Carolina pareceu perceber a mudança em sua expressão e se inclinou para mais perto dele.

– Ah, então você sente pelo seu amigo? – ela riu e Rafa sentiu sua mão coçar para bater em algo. – Sente por ele ter ficado no lugar errado e na hora errada? Ou você o arrastou até aqui, hein? Nossa que amigo maravilhoso, hein? Meus Atiradores acompanharam seus passos. Você envolveu até mesmo outros humanos, não foi? – Carolina se virou e olhou para um Atirador careca. – Qual o nome dos humanos mesmo, Karl?

– Marco e Rita, senhora – Karl, o careca, respondeu.

– Isso – ela sorriu e seus olhos brilharam. – Marco e Rita Castelliano. Vamos atrás deles logo depois daqui – ela sorriu exultante para ele. – O que acha de irmos atrás do seu irmão logo depois? Fazer uma visita ao Rogério?

Rafa quase engasgou e isso fez com que Carolina sorrisse mais ainda. Ela atirou o pescoço para trás enquanto ria e isso fez com que o estomago dele se remexesse. Ele ia morrer. Todos iam morrer e logo depois disso Carolina ia atrás de todos que ele conhecia. Vick, Rita, Roberto e as Camilla’s. Será que ia atrás de Taffara também? Ele deveria ficar feliz por isso?

De repente, enquanto ele olhava com fracasso para os amigos, algo chamou sua atenção. Talvez tenha sido apenas um jogo de visão, mas ele viu Carla o olhando do outro lado do deserto, onde um Atirador ficava na frente dela. Parecia que tinha nocauteado ela e pensado que ela tinha desmaiado.

Mas ela estava bem acordada e o olhava com atenção.

Seus lábios se moveram e Rafa quase distinguiu o que ela estava tentando dizer. Teve vontade de querer perguntar em voz alta, mas sabia que um deles notaria. Então só franziu a testa.

Em meio aos vultos, Carla pareceu suspirar, mas então tentou explicar de novo, riscando o ar com o dedo. Ela fez uma vez e Rafa não entendeu. Na segunda muito menos. Na terceira ela moveu o dedo com mais velocidade, ficando frustrada e Rafa coçou a nunca de leve.

No momento em que fez isso e olhou mais uma vez algo acendeu em seu cérebro.

Ele olhou para a palma da mão. Tinha um pouco de sangue. Ele espalmou um pouco e olhou Carla riscar o ar mais uma vez para poder desenhar em sua mão. E então ele viu o símbolo.

O Triscele.

Aquele símbolo era muito significativo para ele. Era o símbolo que ele tinha visto ao abrir a caixa. Depois na campina, quando Eduardo e Andressa o tinham pedido para seguir uma pista contra os Atiradores. Aquele símbolo representava tudo até agora.

Rafa então se lembrou de sua conversa com Carla antes de eles saírem da casa de Rita.

Ela o tinha puxado repentinamente quando ele tinha resolvido devolver a arma para Andressa ou Fernando. Estaria mais útil com eles. Mas Carla o surpreendeu o puxando pelo braço.

Você não pode fazer isso – ela tinha sussurrado furiosa.

Rafa tinha olhado na direção dos outros, que estavam distraídos e a encarado com uma cara séria.

Não só posso como preciso – ele fincou o pé. – São os meus amigos, Carla. Eu não vou deixar que eles morram!

É, mas não precisa que você morra pra isso também, não é?

Rafa apenas cruzou os braços e fez cara de paisagem.

Se tiver uma boa ideia eu sou todo ouvidos.

Carla fez uma cara de deboche para ele, mas então sua expressão congelou, como se Rafa tivesse dito alguma palavra chave que dava a senha para um computador cheinho de fotos pornôs do Tyler Hoeclhin nu. E não aquelas montagens, as fotos reais mesmo!!

Para falar a verdade – o sorriso de Carla tinha sido lascivo. – Tem uma coisa que você pode fazer.

E agora as peças se encaixaram no cérebro de Rafa. Literalmente.

Ele olhou Carolina que continuava falando e esperou pelo momento em que ela se virasse de costas. Rafa acenou com a cabeça para Carla e se preparou.

Primeiro olhou de onde Fernando estava e depois da distancia entre Eduardo. De um para o outro parecia que uma linha reta se formava. Depois olhou Andressa e viu que ela fazia a curva certinha entre os dois para formar um triangulo.

Ele só precisava entrar no centro dos três, onde um grande espaço de areia ficava vazio.

Carolina se aproximou de Rafa mais uma vez, pegando ele pelo pescoço.

– Olha pra mim – ela sussurrou. – Eu quero que você me olhe nos olhos antes de morrer. Quero ser a última coisa que...

Mas Rafa revirou os olhos.

– Por favor, querida, tem como cortar o papo de Lorde Voldemort? – ele bufou. – Eu sei que você não é toda essa porra não, viu?

Carolina foi para trás, surpresa pela total mudança dele. E essa era sua chance. Rafa pegou a ponta do cabelo escuro dela e puxou. Ela primeiro arregalou os olhos, mas depois gritou para ele. Parecia surpresa por sua ousadia – ou melhor, puta por sua ousadia.

Ele a jogou longe com a barreira e começou a sentir os disparos dos vários Atiradores ao seu redor. Eram todos. Mas isso não o desencorajou, apenas fez com que ele se levantasse, erguesse a barreira ainda mais – tanto que o sangue escorreu pelo seu pescoço – e se dirigiu até o centro do triangulo.

Todos o olhavam. Era a hora.

Ele primeiro olhou Andressa o ao redor dela a barreira tomou forma real, brilhando ao seu redor e fazendo alguns dos Atiradores, inclusive o careca de antes, pularem assustados. Não demorou muito para Andressa recobrar a consciência e, com os olhos brilhantes, olhar ao seu redor confusa.

Depois ele mirou em Eduardo e a barreira se levantou também com uma luz, empurrando alguns atiradores e lançando outros longe. A barreira estava levantada. Eduardo não.

Rafa tentou não engolir em seco e se virou para Fernando. O lobo assustado foi cercado pela barreira, completando o triangulo brilhante e iluminando o deserto. Fernando uivou em resposta.

Os Atiradores, Carolina e os outros membros e amigos de Rafa olhavam as barreiras levantas. Rafa então ergueu os braços e deixou sua própria barreira se levantar. Mas a dele não era comum. Não cobria apenas ao redor dele como todo o espaço. Sua forma física mais parecia como um grande pássaro acima de sua cabeça.

Exaltado de energia e tendo completado o símbolo físico do Triscele ele controlou as barreiras, movendo elas até o resto de seus amigos. Primeiro em Carla. Depois Erick e Érika. Depois Lizz.

– Mas que merda é essa? – Carolina se levantou, um pouco de sangue caindo do canto de sua boca.

Agora era a vez de Rafa sorrir.

– Essa – ele entoou calmamente. – É a sua morte chegando, vadia.

A luta contra os Atiradores recomeçou, dessa vez mais agressiva. Os que ainda tinham armas tentavam perfurar os escudos, sem nenhum sucesso. E os que as munições tinham acabado, tentavam ataques direto, sem sucesso nenhum também. Os amigos de Rafa estavam de pé novamente, preparados.

Érika pegou a lança de um deles, acertou o rosto de um e depois bateu em outros dois que vinham na direção dela. Andressa recobrou a força e dançou na frente deles, movendo a agulha em movimentos surpreendentes que Rafa nunca achou possível. O lobo que Fernando era parecia brincar ao passar por cima de vários deles. Quando um atirador tentou se jogar em cima das costas dele, este o abocanhou e o levou para cima. Só a cabeça do Atirador voltou.

Erick saltou em cima de um e depois agarrou outro pelo pescoço, como um gorila. Lizz mostrava não ser só um cabelo perfeito enquanto desferia socos em um atirador que tinha o dobro de seu tamanho. Um dos capangas dele tentou agarra-la por trás, mas ela virou a adaga no pescoço dele. Outro atirador foi correndo na direção de Rafa, o olhar todo venenoso, mas Carla o encontrou no meio do caminho e cortou seu pescoço sem piscar. Rafa pensou em sorrir, mas notou que ela estava nua. Ela e Erick.

– Mate-o! – Carolina gritou no meio da bagunça para o careca Karl. Só quando Karl rugiu e começou a correr foi que Rafa viu que ela apontava para ele.

Rafa se preparou, se lembrando de Érika comentando Karl tinha atirado em Lucas. Aquela seria a vingança perfeita.

Mas então Karl sacou um arco repentino e uma flecha em uma velocidade desastrosa. Rafa pensou em erguer a barreira, mas ele estava perto demais. Karl sorriu enquanto mirava.

Mas então algo perfurou a mão dele na mesa hora, o fazendo gritar e largar o arco no chão. Karl e Rafa olharam da agulha na mão dele para Andressa que vinha desfilando na direção deles.

Corajoso, Karl tirou a agulha e se virou para ela, esperando. Rafa estava prestes a intervir, mas algo atrás de Karl chamou sua atenção. O Lobo Fernando veio por trás e mordeu seu ombro. Karl gritou ao ver parte da carne ali dentro da boca de Fernando.

Rafa tentou não vomitar.

Andressa e Fernando trabalharam juntos. Karl ainda segurava a agulha e isso deixava Andressa brava. Fernando rugiu uma meia risada quando Karl apontou o objeto na direção dele.

– Pra trás! – ele gritou desesperado. – E você também! – ele se virou com expectativa na direção de Andressa... Mas ela não estava mais ali.

Karl nem teve tempo de ficar confuso quando ela apareceu atrás dele e o socou na nuca. Ele se desdobrou e ela pegou sua agulha. No momento em que ele baixou a guarda Fernando saltou e tudo tinha acabado.

Rafa se afastou um pouco dos dois, em parte com nojo em parte feliz. Mal podia acreditar. Eles estavam ganhando. Não muito longe dali, Carla, Erick e Érika batiam nos que ainda resistiam, parecendo entediados. Lizz tocava as costas de Eduardo. Rafa estremeceu. Ele não podia...

– Game Over – alguém disse atrás dele e Rafa percebeu que aquilo estava longe de acabar. Carolina empunhava uma pistola na parte detrás da cabeça dele.

Rafa se virou com tudo e ela sorriu.

– Como você ainda pode ficar de pé?! – Rafa gritava. – Por que não morre logo de uma vez, droga?!

Ela riu outra vez e o socou no rosto, depois passou as pernas na dele, o fazendo cair.

– Não entendeu ainda, Rafael – ela cuspiu sangue ao lado dele. – Eu vou matar você.

Rafa a encarou. Seus olhos eram loucos.

– Por quê? – ele questionou. – O que eu fiz pra você?!

– Não é nada disso – ela desviou o olhar e chutou sua barriga. Tudo ao redor de Rafa começou a girar. – Você tem algo que eu quero.

Ele franziu o cenho para ela.

– Como?

– Eu sei de tudo – ela não respondeu a pergunta. – Mais do que você sabe, pode parar de disfarçar, eu sei.

– De que merda você esta falando?

Carolina o encarou por um momento intenso.

– Espera – ela engatou a arma. – Você não sabe mesmo?

– Do que droga? – o coração de Rafa começou a palpitar forte.

Carolina sorriu.

– Sabia que eu tenho um traidor entre vocês?

Todos os ossos de Rafa congelaram. Silencio.

– Eu tenho sim – ela riu. – É uma droga que não seja eu que mande nele e sim o contrario, mas é bem isso.

Rafa franziu o cenho. Ela estava de brincadeira? Que papo todo era aquele agora?

Carolina se agachou perto dele, a arma tocando a barriga dele.

– Nunca se perguntou por que Marta esteve sumida esse tempo todo?

Rafa congelou. Marta Joane? Sua amiga.

– Pois é, eu tenho ela toda pra mim – Carolina riu malevolamente. Uma risada diferente das outras. Uma que apontava que ela sabia que estava ganhando.

– Não entendo – Rafa ficou confuso. – Não era em você que ela devia mandar? Não é ela a traidora?

– Eu nunca disse que Marta era a traidora – ela apontou. – Apenas disse que a tenho.

O cérebro de Rafa começava a girar. De repente algo parecia querer fazer sentido, mas ele não conseguia achar as peças para montar toda aquela bagunça em seu cérebro.

Ele deveria saber de algo, mas não conseguia.

– Que seja – ela se levantou. – Ainda não é a hora, de qualquer forma.

Rafa estava prestes a questionar, mas então Carolina o chutou para continuar no chão e olhou algum ponto não muito distante dali.

– Droga! – ela reclamou enquanto pegava uma forma de bola pequena em sua palma. A cor dela era roxa.

– Carolina! – Rafa ouviu alguém gritando e se virou a tempo de ver Anna e Layane correndo na direção deles.

Mas Carolina apenas olhou as duas friamente e depois deu uma última longa olhada em Rafa. Depois disso apertou a bolinha e uma fumaça se dissipou ao seu redor.

Assim que ela fez isso e sumiu dentre a fumaça, Rafa perdeu a consciência e desmaiou.

Anna e Layane chegaram tarde demais. A silhueta sombria de Carolina havia partido juntamente com a fumaça da bomba que ela tinha usado. Não era bem uma bomba, era apenas uma distração.

Layane correu em suas bostas para ver Rafa. Seu rosto estava todo cheio de sangue escorrido. Parecia ter escorrido não só da boca como do nariz e dos olhos. O esforço de um poder tão desejado, Layane pensou enquanto limpava o sangue do queixo dele.

– Ele esta vivo? – Anna perguntou sem olhar na direção dela.

Layane primeiro tocou o pescoço para medir a pressão e depois tentou entrar na mente dele. Assim que sentiu um calor nas próprias bochechas, assentiu.

– Sim – ela chacoalhou a cabeleira ruiva. – Certamente ele usou uma grande quantidade de poder, mas vai ficar bem – Layane abriu um dos olhos fechados dele. – Contanto que não o faça de novo.

Anna apenas assentiu silenciosamente e isso fez com que Layane erguesse o olhar para sua Chefa. Ela continuava encarando a fumaça que Carolina tinha deixado.

– Não fique chateada – ela aconselhou. – Nós vamos pega-la.

Anna bufou.

– Você disse isso das últimas dez vezes que aconteceu – ela a lembrou.

Layane assentiu e deixou a cabeça de Rafa descansar na areia por um tempo. Não demoraria muito a acordar. Talvez umas oito horas, quem sabe?

– E vou continuar dizendo nas próximas dez – Layane brincou. – Isso se Carolina conseguir fugir na próxima.

Anna se virou. Um sorriso mais confortável brotava em seu rosto.

– Não vai haver próxima vez, porque se eu ver aquela vadia de novo, eu a mato – o fato de Anna dizer aquelas palavras no rosto só deixavam a ameaça mais real.

E então elas ouviram um guincho:

– Edu!

Andressa percorreu a distancia de onde estava para alcançar o corpo do amado. Quando fez menção de se ajoelhar ao lado dele, percebeu Lizz e a chutou na perna.

– Sai!

– Dessa...

– Sai daqui! – ela arfou enquanto virava o corpo dele. – Ele esta bem, ele esta bem – disse, mas então olhou onde os vários tiros tinham acertado.

– Ele não esta respirando!

Andressa fungou histericamente.

– Isso não significa nada – sua voz era trêmula ao tocar o rosto de Eduardo. – Você vai acordar. Você vai acordar.

Os outros se aproximaram e trocaram olhares breves. Érika levou a mão à boca, mas disfarçou com medo de Andressa ver. Carla abaixou a cabeça.

Eles tinham vencido a guerra.

Mas a toda vitória tinha seu preço.

Rafa acompanhava o grupo até a casa de Rita. Tinha acordado a alguns minutos quando o sol nasceu. Na sua frente o grupo prosseguia em uma marcha lenta. Mas não porque eles estavam cansados, e sim porque precisavam carregar Eduardo.

Na frente da fila, Erick e Fernando carregavam Eduardo, segurando seus braços em seus ombros. Andressa seguia logo a frente, para abrir o portão enorme de ferro que Rita tinha aberto.

Quando os encontrou na soleira, a garota tinha um sorriso exultante. Parecia feliz por todos terem voltado. Mas então viu Eduardo e seus olhos pousaram em Andressa.

– Precisamos colocar ele no sofá – ela a ignorou, passando rapidamente pela porta e acenando para Erick e Fernando continuarem.

Rita assentiu, mas quando os garotos passaram, ela olhou Erick nos olhos. Ele apenas assentiu silenciosamente.

Com aquilo, Rafa começou a sentir a bile de dor começar a subir. Sabia que era só uma questão de tempo para as lagrimas escaparem de seu rosto.

Anna e Layane que andavam ao lado dele na fila franziram as testas. Rafa subiu a escada sem respirar, sabendo o que o aguardava. O silencio permaneceu ali, até que Anna soltou:

– Quem morreu?

Era alguma piada? Rafa não suportou e a dor o atingiu no corpo todo ao pensar em Lucas e agora em Eduardo. Rita deu dois passos em sua direção, mas ele balançou a cabeça e correu para o segundo andar.

Fernando logo quis subir junto, mas Erick acenou com a cabeça.

– Ele precisa de um momento sozinho.

No quarto, Rafa se jogou contra a parede e desabou até suas costas atingirem o chão. Seu choro ecoou por todas as paredes da casa perfeita. Seu corpo se encolheu como uma bola perto do chão e as lagrimas desciam em seu corpo tremulo.

Era culpa dele. Era tudo culpa dele.

No segundo andar, Eduardo estava deitado de barriga para cima, os olhos fechados. Andressa se sentou na beira do sofá ao seu lado, tocando seu rosto pálido, seus lábios.

– Ele vai acordar – ela engoliu em seco. – É só uma questão de tempo.

Marco, que tinha aparecido da cozinha, se sentou na parte detrás do sofá onde Erick e Rita sentavam para olhar a cena tristemente. Érika e Carla se recostaram na parede, cansadas.

O silêncio se seguia enquanto Andressa tentava convencer a si mesma:

– Ele já vai acordar – ela se esforçava para ficar firme. – Ele já vai acordar – repetiu o mantra mais uma vez, e outra, e outra...

– Roberto!

– Vick!

Os dois amigos se encontraram na frente da escola na manhã seguinte. Vick tinha pintado o cabelo outra vez, deixando ele mais escuro dessa vez. Roberto usava uma camiseta amarela e sorria, combinando totalmente com a manhã ensolarada.

– Então – ela tocou o cabelo. – Conseguiu achar o Rafa?

Roberto balançou a cabeça.

– Nem sinal – ele suspirou. – Mas já estou acostumado. Ele vai aparecer, eu sei – ele então pigarreou. – E o quanto ao Lucas?

Vick revirou os olhos e deu a ele um sorriso irônico.

– É, acho que devia ter esperado por essa – Roberto riu. – Aposto que ele volta também.

– Claro que vai – Vick cruzou os braços. – Eu só não sei o que dizer a ele quando nos reencontrarmos.

– Foi por isso que pintou o cabelo? – ele questionou. – Uma mudança de visual pra combinar?

– É – Vick riu do tom zombeteiro dele. – Acho que é hora de algumas mudanças, sabe.

Roberto não entendeu totalmente, mas quando Diogo passou pelos dois, encarando-a, Vick ergueu o queixo.

– Ah, sei sim – Roberto sorriu de volta e se virou para o céu. O sol parecia ter acordado de bom humor. – Acho que essa manhã esta perfeita pra tomar decisões.

Vick assentiu, mas um frio na barriga a fez congelar.

– Acho que sim.

Os dois sorriram um para o outro e foram interrompidos pela sineta da escola. E para eles, o resto da manhã foi normal. Como se nada tivesse acontecido. Como se uma estrela não tivesse se apagado em lugar algum.

Andressa ainda aguardava Eduardo acordar. Não tinha se passado tanto tempo, mas os minutos foram o suficiente para Marco se cansar daquilo e tentar fazer o chá. Não queria parecer insensível, mas tinha que fazer algo se não ia acabar enlouquecendo.

Anna e Layane praticamente correram para se juntar a ele na cozinha e Andressa fez o máximo que pode pra ignorar as encaradas deles. Tudo ia ficar bem, recitou mentalmente, Eduardo ia acordar logo, logo.

Rita suspirou e Erick a olhou. Seus olhos se encontraram por um instante antes de ele assentir e olhar Andressa. Rita engoliu em seco e se levantou do sofá e andou lentamente até ficar atrás dela.

Quando tocou seu ombro, Andressa primeiro se remexeu e recuou:

– Ele vai ficar bem – ela respondeu, forçando um meio sorriso. – É sério, acredita em mim.

Rita tocou seu ombro assim mesmo.

– Eu sei que vai.

Mas então Andressa encontrou seus olhos e não aguentou mais. Levantou-se perdida e Rita a abraçou fortemente. A caçadora feroz e totalmente perigosa chorava no ombro da humana rica. Uma coisa que nenhum deles achava que ia conseguir ver no dia seguinte.

Até porque tinha uma chance enorme de eles não terem sobrevivido. Assim como Lucas. Assim como Eduardo.

Andressa chorava.

– Ele... – ela soluçava. – Eu sempre amei ele! Demorei anos até perceber e agora que eu me dou conta ele tem que morrer? – ela se debatia. – Por que essas coisas acontecem? Por que essas coisas tão injustas acontecem?

Rita apenas assentia e passava a mão na cabeça dela.

– Eu amo ele – Andressa soltou mais uma vez. – Eu amo e agora ele morreu... – ela soluçou violentamente. – Por favor, me diz que isso vai parar. Me diz que vai parar de doer.

Rita estava prestes a se deixar chorar também, não estava suportando aquela dor toda. Mas então elas ouviram uma voz:

– Que barulheira toda é essa? – disse uma voz grossa.

Andressa primeiro arregalou os olhos, depois se virou.

– Edu!

Seus olhos estavam abertos e ele se sentava tranquilamente no sofá, o rosto confuso, o cabelo escuro bagunçado e revolto.

– Sim – ele franziu o cenho. – Por que esta chorando, boba?

Andressa pensou em responder, mas então se atirou na direção dele, os braços passando pelo seu pescoço. Ela o beijou fortemente. Eduardo primeiro ficou surpreso com a intensidade do beijo, mas então um sorriso percorreu seus lábios e ele devolveu o beijo na mesma medida.

Rita sorriu de alegria para Erick que fingiu que não estava chorando. Fernando tinha os olhos brilhantes de tanta emoção.

Érika e Carla sorriam e, quando seus olhos se encontraram, não conseguiram resistir ao momento. Carla tocou seu rosto e Érika tocou seus lábios com voracidade. Um alivio pareceu percorrer nas veias das duas – talvez o medo de que uma não sentisse o mesmo pela outra tinha ido embora.

Marco, Anna e Layane que tinham voltado franziram as testas para os dois casais na sala. Layane cutucou Anna para olhar Érika e Carla e a Chefa sorriu ironicamente.

– Eu aprovo – ela sorriu maliciosamente.

Marco deixou a xicara de chá cair no chão ao olhar de um casal para o outro:

– Eu quero beijar nessa porra também! – ele guinchou.

As lagrimas de Rafa tinha secado. A dor ainda não tinha acabado, mas agora ele se sentava na cama e sua respiração estava melhor. As palmas de suas mãos estavam vermelhas de tanto ele segurar. Nem sabia bem porque tinha feito aquilo.

Uma batida soou na porta e ele nem precisou se virar para ver quem era.

– Eu sei que você tá cansado de ouvir isso – ele hesitou. – Mas eu realmente sinto muito por tudo.

Rafa fungou.

– Tudo bem – ele murmurou, mesmo sabendo que não estava bem porra nenhuma. – Eu acho que com o tempo vou ter que me acostumar com isso, não é? O luto é inevitável.

Fernando parecia querer dizer algo mais, porem apenas adentrou o quarto lentamente se sentou ao lado dele na cama. Ficou em silencio, parecendo saber que Rafa estava nervoso pela proximidade e respeitava isso.

Para a surpresa de ambos, foi Rafa quem quebrou o silencio:

– Foi culpa minha – ele desabafou. – Tudo isso que aconteceu. É minha culpa, sabia?

Fernando logo chacoalhou a cabeça.

– Você sabe que não é. Nós te arrastamos aquele dia no estacionamento. Fui eu que inclusive te mandei ficar parado. Se nada daquilo tivesse acontecido você teria se acalmado do que quer tenha deixado você daquele jeito e voltado para dentro.

Rafa olhava a lembrança em sua mente.

– Não, eu toquei a caixa – ele o lembrou. – Meu destino estava traçado.

Fernando suspirou. Não tinha como discutir com aquilo.

– Deus do céu – Rafa de repente elevou a voz. – O que eu vou dizer a Vick? Ao Roberto? Aos pais do Lucas quando eu voltar?

– Não diz nada – Fernando respondeu. – Ninguém viu você com ele, ninguém pode provar nada ou te ligar até o que aconteceu. Sem falar que agora o corpo de Lucas não vai ser achado naquela parte do deserto.

Rafa pensou um pouco na igreja abandonada e estranha, mas então franziu a testa.

– O que quer dizer com isso?

Fernando estufou o peito.

– Você vai fazer como da última vez – ele sugeriu. – Não vai contar nada a ninguém e as pessoas vão pensar que ele sumiu. Assim como...

– Assim como o Henrique – Rafa completou com um olhar congelado. – Então vai ser assim? Vou encobrir a morte de mais um amigo meu?

Fernando se arrependeu de suas palavras, mas tinha uma expressão decisiva.

– Escuta, nós te colocamos nessa bagunça – ele disse. – E agora eu vou te tirar dessa, ok?

Rafa nada disse e se levantou.

– Essas foram às semanas mais estranhas da minha vida – ele confessou. – Eu nunca tive que correr tanto pra salvar a minha vida antes.

– Você se acostuma – Fernando deu de ombros.

O olhar de resposta de Rafa era inexpressivo.

– Enquanto as mortes que eu vou carregar nas minhas costas? – ele questionou furioso. – Acha que isso eu posso me acostumar? Dois cadáveres em apenas dois dias? Acha que é algo que eu possa rir no fim da tarde?

Algo passou rapidamente pela expressão de Fernando.

– Um cadáver, apenas – ele corrigiu.

Rafa o encarou.

– Como assim?

– Edu acordou – ele respondeu. – Faz alguns minutos.

Rafa não teve nenhuma reação, mas sua respiração pareceu ficar mais leve.

– Pelo menos agora Andressa não vai me matar.

Fernando tentou rir.

– Acho que isso também é algo que você possa se acostumar.

E então Rafa girou para ele.

– Por que esta dizendo isso? Por que esta supondo que eu quero uma vida assim?

O outro apenas piscou os olhos azuis.

– Rafa, você já faz parte disso – ele exclamou. – Olha ao seu redor, você entrou nessa bagunça toda sem perceber. Você não teve muitas escolhas.

Rafa meio que queria assentir, mas então algo que ele disse crepitou em sua mente. Escolha. As palavras de Brenda Sharman naquela tarde na escola ecoaram em seu cérebro. Escolha?, Rafa tinha perguntado. É, uma escolha, ela tinha respondido em um tom natural, Um dia vai ter que pensar, acredite, Um dia você vai ter que escolher.

E então as palavras de Lucas no dia anterior, antes de ele morrer. Rafa – o amigo tinha balançado a cabeça. – Sempre dá pra fazer suas próprias escolhas.

Então era tudo isso que se baseava tudo aquilo?

Escolhas?

Fernando se levantou, interrompendo seus pensamentos e tocando sua mão. Ele a entrelaçou com a dele e seus olhos se encontraram. Os lábios de Fernando se entreabriram, o coração de Rafa martelou.

Ele tinha que escolher mesmo?

– Eu não sei – ele olhou as mãos entrelaçadas.

Fernando paralisou.

– Rafa?

– Eu não sei – ele continuou olhando as mãos. – Não sei o que escolher.

Silêncio.

Fernando apertou suas mãos.

– Você vai conseguir – ele encorajou, a respiração ficando mais acelerada.

Mas Rafa não estava tão cem por cento certo disso. A incerteza tinha levado ele a outro mundo. A outras pessoas e a situações que deixavam sua vida na beirada. A incerteza levou um amigo.

– Desculpa, Fernando – ele soltou a mão dele sem nenhuma delicadeza. – Eu acho que não consigo não.

E então ele passou por ele e atravessou a porta, não sabendo se queria voltar ou não.


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Notas finais do capítulo

Galerinha esse é o fim da Season 1B e o fim do primeiro livro, nos vemos em 7 de janeiro



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