*Lucy Heartfilia*

Um belo domingo de sol, com poucas nuvens no céu, tão brancas e fofinhas como algodão e eu aqui debaixo de cobertas, com febre, dor de cabeça e ranhenta. Ai, é o que eu mereço por ter passado minha tarde brincando na chuva? Deus, que crueldade.

Falando em tarde, meu sábado foi muito bom, não me divertia assim há bastante tempo. Gray é frio e rude, mas ele tem seu lado brincalhão e simpático também. E esse lado tem prevalecido ultimamente. O rapaz tem sido meu melhor amigo, meu companheiro para almoço e almoço na chuva e eu tenho sido sua válvula de escape para Juvia, sua conselheira e agora sua cozinheira.

Falando bem a verdade, antes de Natsu ir viajar, eu não gostava de Gray, sei lá, não simpatizava com ele, o principal motivo era o jeito como ele tratava Juvia, também por que ele não se socializava, o garoto estava sempre sozinho, quer dizer, ele saía conosco, com a turma, mas mesmo assim eu percebia que ele estava distante de nós.

Mas depois que nos aproximamos, que eu conheci melhor sua personalidade, seus ideais, suas metas, seu pensamento, o modo como ele vê as coisas, ele é um cara que vai se dar muito bem na vida, ele mostrou que seu antissocialismo é na verdade seu comportamento sério que o torna ignorante a palhaçadas. Gray é simplesmente o cara. E não combina com Juvia, pois mesmo que ela seja o contrário dele, e como dizem, que os “opostos se atraem”, no caso desse casal, é como misturar sprite e banana, nem preciso dizer nada, NÃO DA CERTO!

Juvia é uma garota linda, simpática, extremamente inteligente, fofa, leal aos amigos, companheira, corajosa, mas a única coisa que atrapalha seu possível relacionamento com Gray, é sua obsessão que ele a enxergue e que a ame, admiro muito isso na menina, mas se o rapaz não reparar no que ela tem a oferecer e querer cobrar mais, digamos que não vale a pena investir e muito menos desejar ter tantos filhos e gritar pro mundo que o ama. Juvia merece alguém que a ame e que de valor a sua personalidade e todo o carinho que ela tem pra dar.

Já Gray, sabe que Juvia o ama, mas já que ele está pouco se lixando pra relacionamentos agora, e não vê nenhum futuro com a moça, ele simplesmente a ignora. Isso acaba machucando o coração frágil da menina, mas um dia espero que ela perceba que Gray não é o príncipe que a levará num cavalo branco. Gray está mais para o cavaleiro frio que leva as meninas para o seu reino de gelo, e só uma garota que irradia felicidade e calor para aquecer esse coração. Por tanto, esse casal estão em linhas diferentes que não se cruzam no destino.

Nos meus devaneios, lembro-me da nossa tarde de ontem, quando ele estava feliz com a chuva.

. – o chamo colocando minha mão em seu rosto molhado, ele fecha os olhos e sente meu toque, nunca vi o rapaz tão sereno, ele estava feliz e deixando-se divertir. Sorrio mais em saber que eu consegui trazer ele para um mundo mais quente, mais divertido, meu mundo.

_Lucy! – ele me chama, seus olhos estavam atentos aos meus, ele continha um sorriso discreto, mas cheio de esperança, sua boca estava entreaberta, sua respiração estava ficando ofegante, ele era lindo mesmo molhado, mesmo lambuzado de sorvete, mesmo sério e frio, mas sorrindo e com sua voz rouca chamando meu nome simplesmente fez meu coração acelerar...

Meu sorriso diminui um pouco, deixando os lábios entreabertos também, sinto minha respiração ficar ofegante também, ele se abaixa um pouco apoiando seu peitoral nos meus peitos, no mesmo instante sinto seu batimento cardíaco acelerado. Sinto minha bochecha esquentar, e um embrulho se formando na barriga, mesmo estando deitada sinto como se não tivesse chão, ele fecha os olhos e começa a se aproximar mais devagar, sinto seu hálito gelado de menta e chocolate... ele estava a 3 centímetros de distancia, sinto cada vez mais sua respiração... a 2 centímetros, quase sinto o gosto de seus lábios.. a 1 centímetro sinto algo descendo pela cabeça e...

_Atim! – espiro e bato minha testa na de Gray.

.. – ele reclama saindo de cima de mim e sentando na grama com a mão no local da colisão.

_Me desculpe... – coloco a mão na testa também, e a dor se alivia aos poucos.

_Não foi nada – ele diz e se levanta. O acompanho com o olhar e vejo algo estranho e seus olhos. Seria dúvida?

_Está tudo bem? – pergunto automaticamente.

Ele olha para mim e sorri.

_É claro que sim, só uma dorzinha de cabeça. – ele me estende a mão e me ajuda a levantar. – é melhor nós entrarmos e tomar um banho quente, você não vai querer piorar e me dar mais uma testada né?

Com seu comentário, meu rosto ficou corado, mas concordo com a cabeça por que não sei o que responder a ele.

Recolhemos as coisas e entramos na universidade. Quando chegamos ao 4° andar nos despedimos, ele seguiu para o corredor da direita e eu o da esquerda, ambos indo para seus respectivos dormitórios.

Tanto no banho quanto na cama, o hálito e o ritmo do coração de Gray não saíam da minha cabeça. E quando finalmente durmo, eu sonho com ele nu na minha cama, o que diabos está acontecendo comigo?

TOC TOC TOC...

Alguém bate na porta do meu quarto acordando-me de meus pensamentos pervertidos.

_Entra.. – falei rouca sem sair da cama.

O trinco gira e um rapaz entra, era Gray. Ele estava vestido, para minha sorte, ou não.

_Wou... vejo que não está nada bem. – ele chega perto da cama e senta nos pés da mesma. – você não vai sair daqui não é?

_Não... – respondo.

_Mas você vai comer alguma coisa né? – ele pergunta preocupado.

_Sim, alguma coisa... – respondo novamente com minha voz de porta.

_Você está um caco! Se importa se eu almoçar com você e passar a tarde aqui? – ele pergunta inocentemente.

Levanto uma sobrancelha, o que ele queria fazer aqui comigo?

_Se importa se eu pedir por que?

_Relaxa não vou abusar de você! – ele sorri maliciosamente. Ele roubou minha frase. Desde quando ele tinha virado um malicioso?

_Ok, você pode ficar aqui, mas não espere que vou fazer comida. – eu disse enfiando a cara no travesseiro.

_Tudo bem, eu faço! – ele disse levantando-se da cama e indo em direção à cozinha do meu quarto.

_Você sabe cozinhar? – ergui a cabeça e olhei para ele, estava procurando alguma coisa no armário.

_Sim, você prefere que sabor? Galinha ou churrasco? – ele perguntou, meu primeiro pensamento foi, “ele vai fazer carne?”, mas acabei vendo os pacotes de miojo na mão dele.

_Hahahahaha, é você sabe cozinhar! – ironizei e ele riu também.

_Oras, miojo é macarrão, portanto é comida, e se eu sei preparar miojo, então sei cozinhar! – filosofou Gray.

_É!.. – ele me olhou e ergueu as mãos indicando que eu escolhesse um sabor. – Churrasco.

Ele sorriu e foi pegando uma panela sumindo na cozinha. Eu abaixei a cabeça no travesseiro e adormeci. Em torno de 10 minutos depois sinto um cheiro de tempero e abro os olhos, Gray estava segurando o prato com o almoço pronto na minha frente.

_Sente-se dona moça! – ele aconselha e eu faço o que ele diz. Ele me alcança o meu prato e se senta na cama também de frente para mim.

Levo uma garfada na boca, estava delicioso, mas não era de churrasco.

_Hey, não é churrasco! – olho pra ele, estava rindo.

_Hahahahahaha! É que o meu favorito é churrasco, é claro que eu não ia dar pra você! – ele diz como se fosse óbvio.

_Mas eu estou doente!- argumentei.

Ele pareceu considerar por um momento. Pois me olhou sério, ele olhou pro prato dele, e depois olhou para mim novamente.

_Tudo bem! – ele pegou um pouco de miojo no garfo e levou em direção a minha boca, eu não acredito que ele iria me alimentar, mas mesmo assim abri a boca, e na hora que fui abocanhar ele chegou mais perto e abocanhou o macarrão.

Olhei indignada pra ele, ele fechou os olhos e levantou um canto da boca, mastigou com vontade.

_Hummm... – ele abriu os olhos e viu minha cara, estava de boca aberta, indignada com a atitude dele. – Hahahahahaha!

_Ok! – fiz beicinho e encostei-me à cabeceira da cama e comecei a comer o meu miojo de galinha.

Ele parou de rir e ficou me olhando. Pensei em virar a cara, mas não sou tão mesquinha assim, olhei pra ele.

_O que foi? – perguntei.

_Eu não sei. – disse sério. – você joga videogame?

Estranhei sua pergunta, mas fiz que sim com a cabeça.

_O que você quer jogar? – perguntei pra ele.

_Você tem Resident Evil? – ele esboçou um sorrisinho.

_Sim, tenho o 4. – respondi.

_Você é demais! Vamos jogar? – ele ficou extremamente empolgado.

_Vamos. – eu sorri com o jeito dele, quem diria, o grande Gray, o cara mais sério da escola jogando um videogame de zumbi.

_O que foi? – ele perguntou enquanto colocava o jogo.

_Nada, só ficando maravilhada com você! – disse isso sem pensar, percebi que ele ficou meio sem jeito, isso me fez lembrar da cena de ontem na chuva, minha bochecha começou a corar de novo, mas o que tinha com essa parte do meu corpo? Que coisa!

Nós passamos horas jogando, dando risada, xingando o nosso personagem, xingando os zumbis, xingando um ao outro, foi uma tarde de domingo extremamente divertida. La pelas 17hrs, ficamos com fome, Gray foi buscar uns salgadinhos para nós, depois fomos assistir a trilogia do Senhor dos Anéis juntos, descobrimos que gostamos dos mesmos personagens, Légolas, Aragorn e Gimli, e que detestamos os mesmos também, Frodo e Sam. Acabamos de assistir o último filme 2 horas da manhã. Tanto eu quanto Gray estávamos com muito sono. Mas não queríamos dormir.

Então ouvimos uma batida na porta.

_Quem é? – pergunto.

_É a Juvia, que queria saber se você está bem? – ouvimos a voz dela e Gray se desesperou.

_”Não diga que estou aqui, manda ela embora.” – ele sussurrou.

_Ah... cof.. cof.. estou meio mal Juvia, quem sabe amanha eu melhore... não leve a mal, mas não quero te passar nada, então não vou abrir a porta... cof.. cof.. – inventei.

_Não, imagina, tudo bem.. – ela entendeu, graças a Deus. – Ahm. Você sabe alguma coisa do Gray?

Gray me olhou praticamente implorando.

_Ah não, eu nem vi ele hoje. – menti, eu odiava fazer isso, mas não pude negar isso a ele, ele me olhou tão agradecido.

_Ahm, que pena, mas então tá, vou indo. – ela se despediu. Ficamos em silêncio um pouco, mas logo voltamos a ouvir a voz dela. – Ah Lucy, esqueci de falar, tenho algumas cartas aqui endereçadas a você, vim entregar, quase deixo passar.

Me levantei, mas Gray segura minha mão, ele faz sinal para pedir pra ela passar por baixo da porta.

_Ah, Juvia, você se importaria em passar as cartas por baixo da porta? – pedi educadamente. Ela deve ter estranhado a pergunta, pois demorou pra responder.

_Ok, aqui estão. – ela responde, olho para baixo e vejo papéis surgindo na fresta da porta. – boa noite Lucy!

_Boa noite e obrigada! – digo e vou sentar na cama ao lado de Gray.

_Muito obrigada mesmo! – ele desabafa agora com a voz normal.

_Por nada, bem vou ler minhas cartas, você quer me ajudar? – pergunto para o garoto, ele estranha, mas pega a primeira da pilha e abre.

_”Querida Lucy, minha maravilhosa e encantadora filha, como estamos com saudade de você, como estão indo as aulas? E o seu romance? Estamos empolgados para as férias, vai ser daqui 3 meses, nós sabemos, mas queremos tanto passar um tempo com você meu bem. Espero que você e ... e Na.. Natsu estejam se acertando, eu não vejo a hora que você apareçam de mãos dadas aqui em casa. Tenha um ótimo dia meu amor. Beijos de sua mãe que te ama muito. Atenciosamente, Layla.” – Gray lê pra mim, mas sua voz deu uma pequena falhada quando ele leu o nome de Natsu, estranhei.

_Obrigada Gray, sua voz da bem mais emoção pras coisas! – disse sorrindo e pegando a carta da mão dele. Ele sorriu e pegou outra carta.

_Posso? – pediu gentilmente.

_Claro, vai em frente! – incentivei.

_”Mi... minha querida e amada Lucy! Sei que falei que ia mandar uma carta por semana, mas não aguento mais um minuto sequer sem ter noticias suas, obrigada pela carta que você me mandou, suas palavras como sempre são muito lindas e me deixam mais relaxado. Fico feliz que você e o Gray estejam se dando bem, mas lembre-se, ele é ligeiro. Beijos mi...minha linda! Atenciosamente, Natsu.” – Gray terminou de ler, fico muito feliz que Natsu esteja bem, mas ele nunca me chamou de minha linda, por que usaria isso numa carta? – Por que diabos ele fala que você é dele?

Gray pede indignado. Vejo em seu rosto que ele não gostou nem um pouco.

_Eu não sei. É uma forma carinhosa de se dirigir a uma pessoa. – falei erguendo os ombros.

_Acho que Natsu está exagerando, você não é nenhum objeto pra pertencer a alguém. – Ele argumenta, ele estava ficando nervoso.

_Tudo bem, olha se isso te incomoda tanto, não precisa mais ler. – falei e tentei pegar a carta da mão dele. Mas ele levanta a carta para fora do meu alcance. – Gray!

_Desculpe, mas ainda estou puto! – ele disse, e depois olhou para a carta e me devolveu. – eu não quero mais ler cartas por hoje. Disse indo em direção a porta, mas o que eu houve com ele, surtou de repente, só por causa de uma carta?

_Ok. – eu peguei outra carta e abri, era de Natsu também, eu comecei a ler mentalmente. Vi Gray sentando ao meu lado na cama, ele não disse que não queria mais ler? Quem entende.

“Lucy, estou com tanta saudade, não aguento mais, estou com saudades das noites que passávamos juntos, dos jogos que zeramos juntos, dos animes que vimos juntos, da sua comida, da sua risada, do seu abraço, do cheiro do seu cabelo, meu Deus, estou pirando, pra você ter uma ideia, ouço o meu pai roncando a noite inteira, tenho que assistir jogo de futebol com ele, e você sabe que não gosto, não jogo mais, eu estou amando e odiando essa viagem, amando a parte de passar um tempo com meu pai e conhecer o mundo, mas odiando estar longe de você! Voltarei logo, eu espero. Grande abraço minha loira. Atenciosamente, Natsu.”

_Mas que porra é essa? – Gray pergunta se levantando – Vocês dormiram juntos?

_O que? Não! – respondo indignada a Gray. – Você falou mesmo um palavrão?

_Quem se importa? Por que na carta diz que vocês passaram noites juntos? – Gray estava agindo muito estranho desde que começamos a ler essas cartas.

_Ele dormia aqui, mas não na cama, nós passávamos a noite acordados assistindo, conversando ou jogando. – defendi minha dignidade. – Mas o que deu em você?

Ele olhou pra mim ofegante, ele arregalou os olhos e depois colocou a mão no lado esquerdo peito. Ele fez uma cara como se estivesse com dor.

Levantei-me e fui para perto dele, coloquei uma mão em seu rosto e a outra no peito em cima de sua mão.

_Você está bem? – perguntei olhando-o.

_Desculpe, eu não sei o que me deu. – ele diz olhando pra mim. – Tenho me sentido estranho desde ontem. Lucy eu queria te pedir um favor.

_O que foi? – pergunto preocupada para ele. Seus olhos negros estavam olhando nos meus olhos castanhos, seu coração acelerou, ele começou a soar frio. – Meu Deus, Gray o que foi? Está me deixando assustada.

_Você.. você... você... – ele gagueja.

_Eu? – incentivo a continuar.

Ele respira fundo e suspira.

_Você quer namorar comigo? – ele pede, eu admito, demoro pra cair à ficha de algumas coisas, mas dessa vez me superei, fiquei olhando pra ele como se tivesse levado um tapa na cara e não soubesse o que fazer em seguida. Por que diabos ele estava me pedindo isso? Nós nos conhecemos a pouco tempo, e ele sabe dos meus sentimentos por Natsu, se bem que ontem se não fosse pelo meu espirro, nós teríamos nos beijado, será que Gray roubou uma parte do meu coração? Deus, o que eu faço agora? Tenho sentido muita diferença no rapaz e também sentido muito carinho por ele. Mas será que isso é o bastante para ter um relacionamento sério? E será que ele gostava mesmo de mim para me pedir algo assim? – De mentira é claro.

Ele acrescenta, me senti aliviada, estranha, triste e decepcionada ao mesmo tempo. Não sei o porquê mas senti.

_O que? – Não entendi.

_Lembra que você disse que se eu arranjasse uma namorada, a Juvia pararia de vir atrás de mim? – ele perguntou. Concordei com a cabeça. – Então, eu pensei muito nisso e percebi que você tinha razão, mas não achei uma garota que se enquadrasse tão bem quanto você, por favor, Lucy, preciso da sua ajuda!

Agora eu entendi, ele queria ajuda para fugir da Juvia, olhei em seus olhos e vi que ele estava mesmo desesperado, tentei imaginar outra menina para ajudar ele, mas só de pensar em Gray namorando com outra pessoa, eu me senti estranhamente desconfortável.

_Ok, eu te ajudo amigão. – eu falei, e ele sorrio disfarçadamente.

_Obrigada mesmo Lucy. – ele agradeceu e me abraçou forte, no momento em que senti suas mãos em minhas costas, um arrepio e também aconchego se espalharam pelo meu corpo. – Bem eu vou indo agora, tenha uma boa noite de sono minha linda namorada.

Ele piscou um olho pra mim e saiu do meu quarto, eu ouvi bem? Ele disse “minha linda namorada”? Gray não era contra a palavra minha? Ai ai, me senti bem quando ele disse isso. Ai meu Deus, acabei de aceitar namorar com Gray Fullbuster, as meninas da Fairy Tail, (principalmente uma certa menina de cabelos azuis) iriam me caçar assim que soubessem da novidade. Mas de certa forma, acho que vai ser divertido. Mal sabia eu que acabaria entregando a Gray muito mais do que um sim.