Quando Amanhecer escrita por Clara Luar


Capítulo 1
Fugitivos


Notas iniciais do capítulo

Capítulo curto como prólogo. Espero que curtam e acompanhem :)



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Uma Ferrari azul corre apressada sobre o asfalto da rodovia. O vento no rosto é frio e cortante, não que possa ferir seu corpo quase imortal. Se não fosse levantar tantas suspeitas indesejadas faria a viagem a pé. Não se cansa tão rápido e tem força para tal. O momento, porém é inoportuno: precisa se alimentar o quanto antes. As feridas no braço esquerdo estão quase curadas; a pele se remendava engolindo a carne e os cacos de vidro, por isso ainda lateja. A raiva tomava-lhe o corpo e fazia as feridas doerem mais.

E agora possuía um fardo a carregar consigo: uma garota. Pedira para ficar no carro enquanto ele resolveria o assunto, no entanto ela não pôde esperar. Entrou no meio do fogo cruzado. Ela sozinha explodira tudo: o dinheiro, o edifício e os policiais. E todo o seu esforço de até hoje para mantê-la escondida e salva também. Ato desnecessário. Inútil. Inconsequente!

- Não irei perguntar mais que uma vez. Responda: por que inventou de ir atrás de mim, hein? - braveja sem tirar os olhos gélidos da estrada.

A menina deitada no banco de trás balbucia algo. Ardia em febre e não falava muita coisa. A renda da barra do seu vestido chamuscara com o fogo do incêndio, deixando a mostra uma porção considerável da coxa branca, macia e deliciosa. O carro sai da pista e volta no breve minuto que o vampiro ao volante precisou conter seu instinto animal diante da presa.

- Você estava... em perigo... - se esforça para respondê-lo.

- Não, eu não estava! - esmurra o volante.

Sinceramente, estava. Esse último assalto que planejara não tinha como dar certo desde o início: era uma emboscada. Uma armadilha arquitetada pelos agentes federais. Ele já havia assaltado um número considerável de bancos do país. As rotas eram óbvias, os planos muito simples; afinal um vampiro só precisa aparecer no local, causar pânico, entrar no cofre (estar trancado ou destrancado não faz diferença) pegar o que precisa para pagar as contas do hotel e comprar várias coisas supérfluas (vestidos para ela, carros para ele, por exemplo). Foi ao local sabendo disso. Não pretendia ser preso. No instante que se viu cercado por policiais lembra ter pensado que seria muito bom se as balas que o acertavam realmente pudessem matá-lo. O vampiro queria morrer. Vivia para encontrar uma forma de morrer. A morte é boa para alguém que já viveu o que deveria. Noutro segundo, recordou quando encontrou a garota deitada no deserto, embrulhada no cobertor branco entre os cabelos negros manchados de sangue. Um demônio sonhando com os anjos. Ela era como ele, e ao mesmo tempo a outra face da moeda. Vínculo enigmático rasgara o vazio de seu peito e conectou-o a ela.

- Você pensou em morrer... Que seria bom... Seria bom morrer... - disse, um fio de voz quase desaparecendo.

Ele suspira. Ao vê-la surgir no círculo de armas sentiu uma estranha sensação. Negra e sombria, que o fez suar frio. Era o pavor: o medo de perdê-la. Tudo poderia ser como antes. Não sentir emoções, não se importar com a possibilidade de morte de alguém próximo. Ser humano é muito complexo. Ela não tinha o direito de trazer-lhe a humanidade de volta. Embora esteja envolvido demais para reclamar agora.

- Eu não pensei - murmura em resposta.

- ...Eu vi. - toca-lhe o ombro. O toque dela lhe dava calafrios. - Eu não quero... que morra. Não é bom.

Encontra os olhos dela, aflitos e preocupados no espelho do carro. Muito bipolar, ela demonstrava sinceridade apenas quando no limite das forças mentais, o momento perfeito para devorá-la. O vampiro tentara uma vez, mas não conseguiu. A situação transformou em demonstração de afeto e desejo, um abismo sem volta para o qual ela conseguiu arrastá-lo. A menina o fazia sentir-se fraco. Como não conseguia resistir a uma garota de pouco mais de quinze anos, sendo o mais poderoso? Talvez não fosse. Contudo, não admitiria nunca. Ambos detinham poderes destrutivos incríveis.

- Não vou. Não mais. – o modo como fala afirma ser uma promessa.

Ela sorri. Esgueira-se no banco, apoia nos joelhos e agarra o pescoço dele num abraço surpreso. Um abraço trapaceiro. Não é fácil surpreender um vampiro, por isso adorava fazê-lo. Usara o pouco de força médium que recuperara para desligar os cinco sentidos vampíricos, o que não é tão fácil quanto fazê-lo em humanos, por dois milésimos de segundos. O suficiente para abraçá-lo por trás. O carro voltou a sair da pista. Estar pendurada nele permitiu roubar-lhe um beijo.

Por fim, esgotada deixa a febre vencê-la. Desmaia ao chão do carro e a última coisa que ouve é um palavrão.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!



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