Sociedade Devoradora de Cérebros escrita por Silent Lulamoon


Capítulo 3
Presos


Notas iniciais do capítulo

O Dólar não existe, pois ele não é Real :0



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/545880/chapter/3

Anne terminava de secar as lágrimas enquanto eu limpava seu braço ensanguentado com folhas do meu caderno. A cena que tínhamos acabado de vivenciar era pra quebrar qualquer um, sr.Gerard havia jogado o corpo da faxineira pela janela, ele era um adulto formado, porém estava tão desesperado quanto qualquer um de nós, ou talvez mais. Ele gritava coisas enquanto empurrava mesas e cadeiras para fazer uma barricada na porta:

– Ninguém vai sair dessa sala enquanto eu estiver aqui ! Não sabemos oque está acontecendo, e até descobrirmos, continuaremos aqui !

Todos podíamos entender o desespero dele. Meia hora atrás uma faxineira louca e doente havia pulado em cima da pessoa com quem eu mais me importava naquela sala, e tentava desesperadamente mordê-la. Não era um incidente isolado, logo depois do professor de física espancar a faxineira com toda sua força, gritos de horror se espalharam pelo prédio da escola, como se em todas as salas isso estivesse acontecendo. Então os gritos foram para o pátio, e tivemos a infelicidade de olhar pela janela, a cena era desesperadora. Pessoas normais como nós corriam por suas vidas por todo lado, enquanto doentes cuspindo sangue corriam atrás deles a toda velocidade. Isso durou por mais ou menos 10 minutos, logo os gritos pararam e quando olhamos, havia apenas doentes andando lentamente pelo pátio, muito lentamente, como se não tivessem razão para viver.

Terminei de limpar o braço de Anne, mas não importa oque eu faça, a mordida continua horrível em seu braço. Ela pede um tempo a sós, e então senta em uma carteira no canto da sala. Neste momento eu paro para olhá-la, não Anne, a sala. Alunos reagiam à situação de todas as formas possíveis, alguns ligavam, inutilmente, para seus pais ou para o 911 , eu havia tentado isso, porém todos os dispositivos estavam sem sinal, acho que derrubaram a antena da cidade ou alguma coisa assim. Outros choravam no canto, imaginando se a doença estava reservado à escola, ou se era realmente produto do vírus da televisão, significando que o país todo estaria assim, talvez o mundo. Alguns, a maioria, simplesmente ficavam em grupos conversando, não sei o assunto, e realmente não sei se gostaria de saber. Anne ainda estava sentada em sua carteira, dormindo, tenho inveja de sua calma, não são todas as pessoas que conseguem dormir em uma hora dessas. Eu olho em meu relógio, ele marca 12:00, ouço murmúrios sobre fome e sede, sr.Gerard parece ter ouvido também:

– Ninguém sai da sala, quantas vezes vou ter que falar ?

Fred me chama no canto, ele estava em um grupinho com outros dois, um garoto de óculos escuros e cabelos encaracolados castanhos que eu não conhecia, e Rachel, uma garota ruiva que era conhecida por ser a mais inteligente da sala. Eu chego:

– O que foi, Fred ? O que vocês estão planejando ?

Fred coloca o dedo indicador na frente de sua boca, fazendo sinal para eu falar mais baixo. Olho para o lado e sr.Gerard não estava olhando, Fred me apresenta a seus "novos amigos":

– Essa é Rachel, ela tem um plano para a gente sair da sala durante a noite. E esse é Jack, e Rachel me disse que só confia nele.

Eu estranho:

– Ok, vocês estão... Namorando ou alguma coisa assim ?

Jack beija Rachel:

– Pode-se dizer que sim. - E sorri pra ela.

Eu interrompo o momento:

– Beleza, voltando ao assunto... Por que vocês querem sair da sala ? Parece muito mais seguro aqui dentro.

Fred olha pra mim:

– Lá fora temos uma chance de sobrevivência, mesmo que pequena, aqui vamos morrer de fome, com certeza. - Ele aponta pros alunos que se espancavam do outro lado da sala, brigando por um pacote de salgadinho.

Eu concordo com a cabeça, e depois pergunto:

– Essa noite ?

– Não, ainda é mais seguro aqui dentro que lá fora, apesar de tudo. O corpo humano aguenta de 3 a 5 dias sem água, mais ou menos, aguentaremos até amanhã a noite, se a ajuda não chegar, sairemos. Do contrário, o professor maluco nos manterá nessa sala até morrermos. - Responde Rachel, com sua voz de intelectual.

– É a nossa única chance de sobreviver. - Diz Jack, levantando com o dedo os óculos escuros, que caíam sobre seu nariz.

Eu assenti com a cabeça, sabia que precisávamos sair da escola, eu precisava. Tia Mary provavelmente ainda estava no apartamento, apenas olhando as ruas e vendo medo e desespero, eu tinha que salvá-la, levar para algum lugar seguro, se é que existe um. Anne acorda e entra para o grupinho, ela não chorava mais, porém ainda está com com cara triste, como se apenas tivesse aceitado seu destino, ela escondeu a mordida nas mangas de seu casaco, todos haviam visto a faxineira pular em cima dela, mas apenas nós dois sabíamos da mordida. Os noticiários haviam dito que o vírus era transmitido através da troca de sangue, Anne estava destinada a se tornar um deles, dos doentes. Eu não contaria nada a ninguém, viraria um deles, mas não a mataria, nunca.

O dia passou de forma muito lenta, ninguém tinha nada pra fazer, garotas dormiam em suas carteiras, garotos se espancavam no chão sem razão aparente, pelo menos tinham alguma coisa pra fazer. Anne, Fred, Jack, Rachel e eu continuamos no canto da sala, conversando até esgotarem os assuntos, então os namoradinhos começaram a se beijar novamente, Anne encostou a cabeça em meu ombro e Fred simplesmente começou a tocar bateria imaginária em uma carteira com duas canetas.

O sol se pôs no horizonte e a noite chegou, entrando pela janela. Sr. Gerard foi bem claro, ele disse que se não fizéssemos nada, morreríamos de fome ou sede. Amanhã ele nos dividiria em grupos e nos mandaria em buscas pela escola, normalmente teríamos medo e nunca iríamos, mas estamos com tanta fome que qualquer chance de obter comida já é excelente. Empurramos as cadeiras para a parede e deitamos no chão, como um acampamento sem camas, deitados no frio. Eu durmo, depois de muito tempo de olho fechado, imaginando como estaria tia Mary. Acordo com a doce e fraca voz de Anne:

– David.

Abro os olhos e a vejo, deitada ao meu lado. Sr. Gerard estava dormindo na frente do quadro negro. Anne sussurrava:

– Me beije.

Nos beijamos como se fosse a última vez, provavelmente era, não podíamos fazer barulho, ou o professor brigaria. Ficamos nos olhando com carinho até dormirmos novamente. Acordo com gritos dessa vez, sr. Gerard corre para o outro lado da sala, aonde um garoto com boné estava com sua régua, espancando a cabeça de Anne com toda sua força, no chão, ela já havia morrido. O professor segura o garoto, como que dizendo que já era o suficiente, e pega a régua de volta, o menino chora:

– Ela tentou... Ela tentou... Ela era um deles. Não é minha culpa, por favor.

O professor tenta acalmá-lo, dizendo coisas como "está tudo bem", ou "não foi culpa sua". Eu me ajoelho ao lado do corpo de Anne, chorando. Seu rosto estava irreconhecível, o garoto havia batido tanto nela que estava completamente desfigurado, jorrando sangue. Eu já sabia que esse momento chegaria, apenas não estava tão preparado quanto ela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mesmo esquema, comentem se gostaram e se não gostaram, apenas comentem ! :0



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sociedade Devoradora de Cérebros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.