American Girl escrita por Ste Costa


Capítulo 5
Ventiladores


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários! Fico muito feliz mesmo. Qualquer dúvida favor ir lá perguntar que responderei para expor minha visão dos fatos, se eu não puder por envolver algum evento futuro eu aviso.
P.S.: Para quem está gostando do casal formado por Pam e Ernesto eu tenho um canal no youtube e já postei um video deles lá: https://www.youtube.com/watch?v=Gbn4TqPxvZ0



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CALIFORNIA, 30 de setembro de 2017.

Sábado.

Davi Reis saiu do banho sem pressa. Enxugou-se com uma toalha branca e a pôs sobre a cintura. O espelho estava embaçado pelo vapor do banho quente, mas com um meneio rápido ele poliu a névoa do vidro deixando-se ver no reflexo. Avaliou o homem que o olhava do objeto. Vinte e seis anos. De barba feita. Contudo, o melhor, em sua opinião, era a falta de uma papo abaixo de seu queixo. Um sorriso longo se abriu em suas bochechas magras. Um físico normal. Saudável. Como ele tinha saudades daquilo. Bateu com o perfume no pescoço e deixou o banheiro entrando no quarto. Quarto de hóspedes.

– Será que já tá na hora? – Davi perguntou a uma Manuela ainda de pijama desde o cochilo depois o almoço. Ela alegara dor de cabeça e ficara no quarto a tarde toda.

– Acho que sim. – a mulher mudou de canal.

– Você não vai se arrumar?

– Não, vou ficar aqui.

Davi parou de fechar a calça preta social e olhou sério para ela.

– Você só pode estar brincando.

– Eu estou cansada. Minha cabeça latejando.

– Tá certo, você bebeu um pouco ontem a noite... Mas alguns coquetéis não te deixam inválida.

– Pra que você quer ir pra isso, aliás? – ela reclamou irritada, se sentando. Davi revirou os olhos castanhos fechando a braguilha e pondo o cinto. – Nós já deveríamos estar em casa uma hora dessas.

– Eu já te expliquei que a Megan pediu. É importante para ela.

– E o quê te interessa o que é importante pra essa garota, hein Davi? – ele a ignorou. – Me responde Davi. Eu falando com você!

– Manuela, não vou ouvir essa história de novo. Megan é minha amiga. – ele terminava de abotoar a camisa branca. – Nós somos hóspedes aqui e você vai pra essa festa sim!

– Eu não vou. – ela disse deitando-se novamente e pegando o notebook no criado mudo.

– O que é isso? – Davi perguntou virando-se atônito para ela apontando em direção do computador. – Você não vai trabalhar, não é?

– Eu preciso resolver umas coisas pendentes...

– Porra, mas que merda! – ele gritou de repente fazendo Manuela se sobressaltar. Uma raiva se estampava na cara dele. Ela apertou as sobrancelhas. Davi caminhou em sua cólera até a esposa e tentou arrancar o notebook de suas mãos, mas ela se agarrou ao aparelho com força. – Solta isso Manuela!

– Não, vai logo pra essa festa idiota e me deixa em paz de uma vez! – ela desvencilhou o computador portátil dele, o colocou ao seu lado na cama e lhe deu um empurrão para longe.

Davi mordeu o lábio inferior, respirou fundo e saiu em disparada para não discutir mais com a mulher, levando o terno consigo.

– Não esquece de mandar um beijo pra loira por mim! – ela gritou, sarcástica, antes dele fechar a porta.

Parado e sozinho no enorme corredor, Davi se recostou a porta do quarto. Abaixou a cabeça e massageou a testa com força tentando se acalmar. A mão ainda tremia e ele respirou, e expirou, pausadamente. Cansado. Estava muito estressado ultimamente, entre as causas se destacavam as constantes discussões, o trabalho desgastante e dois bebês com menos de dois anos.

Manuela Yanes ficara insuportável depois da falência da Marra. Ele a apoiava e fazia tudo, a seu ver, direito, porém ela continuava lhe dispensando e reclamando de suas ações. Sentia-se mal por ela, claro. Sua esposa lutara até o final por aquele seu sonho, mas o navio já estava afundando e Davi só a convidara a pegar um bote salva-vidas. Por fim, ele fizera o que mais se arrependia: criara um monstro.

Há aproximadamente um mês Davi, em um momento de desespero e tentando deixar a mulher desempregada feliz, convidou-a para um posto administrativo em sua empresa, a Brazuca.

A esposa pela primeira vez em muito tempo o beijou com vontade e ele, esperançoso, correspondeu. Transaram três vezes naquela noite e quando Davi se levantou durante a madrugada para socorrer Pedro que chorava de seu berço não sentiu cansaço. Estava enérgico. Feliz.

Lamentavelmente, seu plano não ocorreu conforme as expectativas. Manuela tinha algumas visões, incisivas, muito diferentes das dele e de Ernesto. De personalidade forte e acostumada no antigo posto de tomar decisões sozinhas, queria fazer tudo do jeito dela. Davi tentava argumentar de que ali não era a Marra, porém convencê-la era outra história.

Se conviver em casa com uma Manuela workaholic era detestável, ele não sabia ainda como conseguia trabalhar com uma. Não que fosse uma funcionária ruim, não, era incrível. Sua dedicação era invejável. Só estava acostumada a ser a chefe.

Outro problema que ocasionava brigas com durações de quase horas eram os filhos. Nicolas e Pedro já tinham um ano, cinco meses e trezes dias. Davi sabia de cor.

A pior de todas as discussões fora um dia em que o hacker chegara do trabalho e abrindo a porta da geladeira encontrou um par de mamadeiras vazias lá dentro. Manuela esquecera-se de encher as garrafas com seu leite materno antes de ir trabalhar, o que impedia de alimentar as crianças no período da tarde. O casal procurava ir para a Brazuca dentro de horários opostos fazendo com que sempre um dos pais estivesse em casa para com os filhos.

Davi então cumprimentou a babá, Janaína, uma garota de vinte anos que tinha muita experiência só de cuidar dos seus outros cinco irmãos. Em seguida, aninhou os bebês por um tempo e se sentou na sala assistindo o History Channel enquanto esperava a esposa chegar. Quando Manuela voltou para casa às paredes quase caíram. Foi a primeira vez que Davi gritara com ela. E o ato ficara bem mais frequente.

Você não ama os seus filhos, Manuela! Lembrou-se de ter deixado escapar. Ele não acreditava naquilo de verdade, mas no fulgor do atrito despejou o veneno atrelado na garganta. Manuela Yanes amava seus filhos, e ele sabia daquilo desde o momento em que vira seu olhar para os bebês ao pô-los em seus braços. O problema é que era uma mulher jovem, ainda com muitos sonhos, vigor, que não sabia medir entre aqueles dois mundos.

Depois do dito, Davi logo se arrependeu. A esposa começou a chorar, envergonhada, do ato falho, e correu para Nicolas e Pedro, beijando-os desesperada. Ele observou a cena quieto, deixando-a amamentar os bebês já alimentados de uma vitamina que ele pedira para Janaína preparar.

De qualquer forma, ele tentou ver aquela situação por um lado positivo. Após o erro ela demonstrou uma atenção cinco vezes maior em relação aos filhos. Tornara-se uma mãe melhor, entretanto, no lado de esposa, ainda deixava a desejar. Davi tentava não dar importância ao fato de que a última vez que fizeram sexo tinha sido quando lhe dera o emprego. Há mais de um mês atrás.

Davi Reis resolveu esquecer Manuela pelo menos aquela noite. Tentaria se divertir. Não que aquilo fosse difícil com Megan Lily... Oh wait, Megan Parker por perto. Ela sempre o fazia se sentir livre. Sem preocupações. Um garoto novamente.

Colocou o terno, endireitou a gola da camisa e decidido, caminhou em direção ao quarto da amiga. Eles já tinham essa liberdade.

Mais cedo, quando passavam a tarde na praia, com outro grupo de convidados que envolviam conhecidos, como Dorothy Benson, Barata, Luene, Vander e Vicente, Meg, como ele passara a chama-la, tirou uma prancha rosa que ele não sabia da onde, subiu na mesma e saiu em direção do mar. Davi arregalou os olhos se pondo de pé, em pânico. Contra todas as suas expectativas à loira não gritou por socorro. Não desapareceu entre as ondas, e sim flutuava em cima delas.

– O que foi aquilo? Você foi genial! – ele comentou animado quando ela voltou para a praia.

What? The surf? – Davi balançou a cabeça positivamente, ainda com uma expressão boba no rosto. – Oh yeah, aprendi quando estava no Hawaii.

– Você nunca me disse que tinha aprendido a surfar na sua viagem.

– Bom, parece que eu preferia que você visse pra não make fun with of me. Aposto que você ficaria, “como assim surfando? Tentando não morrer você quer dizer?” E então eu te daria um soco pra você parar com essa cara de winner.

– Ah, qual é? Eu não faria isso!

– Não faria?! Depois daquela vez que você, like, saved me lá no mar. Oh boy, você me encheria o saco.

– Acho muito esquisito você acertando expressões brasileiras, Meg.

– Acho muito weird é o Vander trabalhando, isso sim.

Davi acompanhou o olhar dela para o grupo que os acompanhava. Luene estava sentada no colo de um Vander muito diferente do que ele via sempre pela Gambiarra há alguns anos. A barba ainda estava lá, mas bem feita, aparada. O cabelo também cortado, coberto de gel e penteado para trás. Usava óculos de sol ray-ban e conversava com Barata sobre investimentos.

– O mundo dá voltas. – Davi disse olhando dele pra Megan. Por um segundo achou estranho a vontade que teve de beijá-la. Repentina. A espantou rapidamente. Ele e Megan eram grandes amigos. Um carinho de irmãos, apenas isso. Não que ele estivesse tendo grandes problemas quando ia se masturbar procurando pornôs nerds na internet, e de repente, a imagem da loira vestida em uma fantasia de princesa Leia invadisse sua mente. Aquilo estava ficando ridículo.

Yeah, but Luene continua a mesma. – ela disse rindo avistando a brasileira abaixando seu óculos amarelo checando a bunda de um americano sarado que passou correndo. Vander pareceu perceber.

– Ô Luene, que que é isso aí?

– O quê meu xodó?

– Você olhando pra bunda daquele cara.

Oh Vander, stop it que ela não tava olhando just to the butt. – Megan disse travessa dando um assovio alto em seguida que fez o tal americano olhar para trás vaidoso e acenar para a celebridade sem realmente acreditar que Megan Parker flertara com ele em uma praia.

– Para que ele pode querer vir pra cá. – Davi disse abaixando a mão de Megan antes que ela correspondesse ao aceno.

– E o que é que tem?

– Ora, o que é que tem? – Davi disse irritado cruzando os braços. – O que é que tem é que a gente não sabe nem quem é.

– Davi, silly boy, aí está o ponto. Vamos poder conhecê-lo.

Todos riram, exceto Davi que continuava emburrado.

– Pois eu também adorei a ideia. Novas amizades são sempre bem vindas. – Dorothy disse erguendo seu copo de limonada para o céu.

– Novas amizades pobres e feias, você quer dizer. – Barata falou com os olhou semicerrados. – pelo menos mais do que eu! – brincou dando um bofetão nas costas de Dorothy que se engasgou e começou a dar vários tapas no homem que então a beijou envolvendo-a em seus braços.

Davi e Megan se olharam rindo.

This is weird. – ela sussurrou pra ele.

– Casal mais improvável impossível. – Davi complementou ainda com um sorriso no rosto.

Estavam todos reunidos para o famoso terceiro casamento de Pamela Parker, mas as expectativas eram de que esse durasse até o fim de sua vida. Ernesto Avelar, o noivo, cintilava como um ótimo partido nas capas das revistas nos ensaios que ele e a futura esposa, à época, fizeram. A mais adorada pelos dois era uma que Ernesto segurava sua Pam em seus braços enquanto ela olhava surpresa para o fotógrafo e ele a observava sorridente. Sempre com um olhar encantado.

Finalmente chegara ao quarto de Megan, bateu nas bochechas antes de prosseguir e deu alguns toques contra a porta chamando pelo seu nome. Ela não respondeu.

– Meg?! – ele voltou a chama-la, olhou para o relógio verificando se estava na hora certa. Confirmou os dez minutos para as vinte horas. Tudo devia estar arrumado lá embaixo.

O Casamento de Pamela e Ernesto tinha durado quatro dias, com vários eventos e programas para os convidados que estavam hospedados na mansão e hotéis próximos. Ontem, os pombinhos oficializaram a união em uma cerimonia na praia. Davi foi padrinho de Ernesto e Megan de Pamela. O casal tinha deixado à Califórnia e partira rumo a Bali. Só que ninguém deveria ainda ir embora! Afinal, isso era o que Megan repetia desde que os convidados começaram a chegar. No dia seguinte ao casamento uma festança organizada por ela aconteceria na casa. Davi concordara, mesmo com uma relutante Manuela atrelada a ele, de comparecer. Sua tia Rita podia aguentar mais um dia cuidando das crianças.

A porta do quarto dela se abriu, revelando uma Megan de cabelos revoltos o fitando entre uma fresta pequena. Ela com certeza ainda não tinha ainda terminado de se arrumar.

Hi Davi, o que foi?

– Desculpa, é que você disse pra eu vir aqui quando estivesse na hora e bem... Tá na hora.

Oh yeah, so sorry. Eu não estou pronta ainda.

– É, eu meio que percebi. – ele disse rindo abaixando os cabelos dela com as duas mãos de uma forma esquisita. Ele sempre era muito estranho quando se tratava de tocá-la. Ela fez uma careta. – Que foi?

– Você tá amassando minhas bochechas.

Ele apertou com mais força.

– Ficou ótima, devia colocar um pouco de botox pra ficar igual a sua amiga Versace.

Megan forçava Davi a ler o seu blog diariamente para pedir suas opiniões sobre as postagens. Não que ele ajudasse muito com suas dicas “essa saia tá parecendo um melão”, ou “se ela colocar mais um anel vou levar pra pôr na minha sala no natal”, mas era bom ouvir suas críticas e de uma forma engraçada ele começara a ter um senso mais aguçado para moda. Essa semana Megan até percebera que Davi usava uma peça Yves Saint Laurent chegando até a pronunciar o nome corretamente.

Oh, stop it Davi! - ela se desvencilhou dele. – Vai me esperar que daqui a pouco eu desço.

– Ok, só me devolve meu celular que eu deixei aqui quando a gente voltou.

Davi tinha acompanhado Megan até o quarto e eles ficaram papeando um pouco antes de ele voltar ao seu cômodo. Ele acabou deixando seu celular lá e era melhor recuperar o mais rápido possível. Se Manuela sonhasse com aquilo ele acordaria sem alguma orelha. Se não perdesse algo mais abaixo da cintura.

– Tá, pega rápido. – ela falou abrindo a porta e deixando Davi entrar no quarto que estava uma bagunça.

– Pelo amor de Deus Meg, o que diabos aconteceu aqui?

Megan o olhava de braços cruzados batendo o pé impaciente.

– Ok, ok... Vou deixar você se ajeitar. Cadê o celular?

– E eu que vou saber? You were the one que deixou aqui. – ela disse sentando-se em sua penteadeira começando a separar os pinceis de maquiagem.

O amigo começou a mexer pela cama procurando o aparelho, de repente, deu um grito. Megan se levantou em um pulo.

What?! What?!

Davi fazia uma cara aterrorizada e apontava para a cama desarrumada. A loira então se aproximou e pôs a mão na boca ao constatar o que era, mas mais rápido do que pudesse se explicar um homem saiu do seu banheiro com uma toalha amarrada na cintura e um secador de cabelos erguido nas mãos como uma espécie de arma. Davi ficou parado olhando boquiaberto pra ele.

Hi... Is everything ok here? – o quase fisiculturista perguntou. Uma barriga quadriculada. Cabelos loiros. Um nariz afiladinho. E tão alto que quase não conseguiu passar da porta.

Yes, this is Gabe... Hm, Gabe this is Davi! Davi this is gabe! – Megan os apresentou sem jeito levantando os dois braços tentando parecer animada.

– Eu sei quem ele é. – Davi disse com uma expressão estranha. Gabe então surpreendentemente estendeu uma das mãos em sua direção com um sorriso abobalhado. – Não, cara a gente já... Ai meu Deus! Meu Deus! – uma expressão de horror tomara seu rosto.

Com o movimento de Gabriel sua toalha caíra. Megan estava paralisada sem saber se ria ou se chorava. Se chorava de rir. Gabe ficou olhando confuso para um Davi desesperado que andava de ré esbarrando na parede e gritando palavras que ele não entendia. O homem estranho apontava pra ele com uma mão e erguia a outro no rosto como se tampando sua visão. O loiro olhou então para Megan buscando uma explicação e viu seus olhos castanhos nas suas partes privadas.

Oh shit, hm, I’m really, I’m sorry. I didn’t... – ele começou a falar pegando a toalha do chão e cobrindo-a sem jeito sobre o seu pênis, que infelizmente Davi percebeu ser proporcional ao resto do seu corpo.

– Ok, só sai daqui! Sai daqui! – Davi gritou e então se virou para Megan. – Fala com ele!

– Mas você sabe inglês!

– Eu não consigo falar inglês com alguém que está completamente nu!

Davi então tentou abrir um pouco os olhos na direção do aindatentandoseexplicarGabe.

– Não tá cobrindo tudo! Cara, ajeita essa toalha! – ele disse voltando a cobrir o seu rosto. – Please, for God’s sake, I can see everything!

Gabe olhou para baixo vendo que não estava escondendo direito seu amigo e antes que pudesse arrumar a situação Megan o empurrou para dentro do banheiro e bateu a porta na sua cara.

I’m sorry! Again! – Davi o ouviu gritar lá de dentro.

O hacker esperou alguns segundos até abrir os olhos novamente. Quando o fez percebeu que não estava mais no chão e sim em cima da cama, encolhido contra a parede. Megan o olhava com as sobrancelhas erguidas e um sorriso de chacota no rosto.

– Ele já foi? – perguntou antes de olhar em sua direção.

– Já.

– Ai meu Deus. – Davi disse com um suspiro, deixando-se descer com os joelhos fracos da cama. – Essa foi a experiência mais traumática da minha vida.

– Davi, what was the big deal?

– O quê?! Eu acabei de olhar um cara pelado. Um cara! Pelado! Ele tava pelado, Megan!

Davi falava erguendo os braços pra cima irritado e ela não conseguiu se segurar começando a rir.

Hahahaha, não é engraçado Megan Lily. Parker. O que for! Porque você não me avisou que a anaconda tava no seu banheiro?

– Anaconda really? Então você prestou atenção?

– Ora, se eu não prestasse. A coisa tava quase na minha cara!

– E você nunca viu another guy naked?

– É claro que eu já vi... Eu só tenho uma grande preferencia em não ver! E qual era a do ventilador?

– Ventilador?

– Não, calma... Qual o nome daquele negócio de cabelo?

– O secador?

– Secador! Tá vendo, eu traumatizado! Nem sei como ainda sei o meu nome.

– Oh, you’re so dramatic! Nem foi tão ruim assim. Ele até ficou pedindo desculpas. Look: Gabe?!

Yeah? – ele gritou do banheiro.

Apoligize to Davi. Say it: Me desculpe!

Mê dêscupê.– um Gabe de sotaque carregado americanizado tentou o português.

Megan então olhou pra Davi com um sorriso orgulhoso.

– Não, não, não... Nem venha com essa carinha, dona Parker. Eu peguei em camisinhas. – ele disse balançando a cabeça várias vezes. – Camisinhas!

– A gente nem usou essas!

– Ai meu Deus Megan para de falar! Eu não estou ouvindo! – ele botou as mãos nos ouvidos e saiu correndo do quarto. – Não acredito que peguei em camisinhas! – ela o ouviu dizendo antes de sair. Megan mordeu o canto do lábio com um sorriso no rosto. Nunca vira Davi tão sem jeito e desconcertado. A cena tinha sido impagável e naquele momento se arrependeu de não ter aceitado a sex tape com Gabe, porque se tivesse, teria todas aquelas imagens pra si.

Depois de muitos copos de uísque, Davi começava a relaxar na festa. Estava tudo incrível. A decoração fora inspirada em Las Vegas. Era um templo de perdição, com garçonetes vestidas de coelhinhas e barmans sem camisa, para as mulheres, claro. Ele evitava olhar para eles ao pedir uma bebida porque ainda tentava afastar a imagem do tal Gabe sem roupas da sua cabeça.

– Quem fica andando nu por aí?

What? – o barman perguntou para ele.

Nothing. – Davi respondeu saindo dali e indo para perto do grupo de conhecidos.

– Davi, o que foi que aconteceu? já tá no quinto cara. – Vicente perguntou preocupado. – É a Manuela?

– Oi? – demorou a assimilar Manuela a situação. Tinha esquecido completamente dela. Estava cumprindo o que prometera ao deixar o quarto mais cedo, mas agora desejava que até a esposa voltasse a preencher a sua mente para esquecer aquela cena horrorosa. – Não, não... Tá tudo bem.

– Ah ok... – Vicente o estudou com o olhar. – Ela ainda tá se sentindo mal?

– Vicente, de boas. Eu não queria falar da Manuela hoje.

– Ah, ok então. Saquei cara. Desculpa aí.

–Tudo bem. Você viu a Megan? – perguntou, então se lembrando de Gabe, continuou. – Sozinha?

– Não, não. Ela tá com um cara.

Davi tomou o restante do uísque no copo e continuou a andar pela casa tentando encontrar a anfitriã em meio aos convidados. Repetia para si mesmo que o desconforto que sentia era devido a sua preocupação com Megan. Eram amigos. Aquilo não era ciúme.

– Como você consegue sair com tantos otários Megan Lily? – ele perguntou a si mesmo, e como o tapa que ela lhe dera quando deixara o Brasil anos atrás, percebeu que também fora um dos otários. O pior de todos. Que a deixara mais magoada.

Finalmente a encontrou, felizmente com um grupo de amigos que não envolvia seu novo affair. Chegando mais perto reconheceu Harry Morrison no meio deles e decidiu dar meia volta, mas antes que pudesse, ouviu a voz do homem gritar em sua direção.

Hey Davi!!! Brazilian boooy!!!

Eu odeio a minha vida. Davi pensou fechando os olhos e voltando a abri-los, continuando o rumo até Megan.

Hi Harry, how you doing? – perguntou educado. – Hi, I’m Davi Reis. – ele se apresentou apertando as mãos das outras amigas de Megan.

I heard about the news, huh?

Davi o olhou fingindo não entender.

What news?

About you and the... Anaconda! – Harry brincou rindo lhe dando um empurrãozinho no peito. As outras garotas também deram risadinhas. Davi olhou para os lados mordendo o lábio inferior num misto de raiva e vergonha. De todos os amigos de Megan, gays, ou héteros, bilionários, ou milionários, Harry era o único que o tirava do sério. O maquiador inglês adorava tirar sarro dele nos lugares mais inconvenientes. E aquele era só mais um nas inúmeras vezes que s sentira desconfortável. Lembrava até quando soube por Megan que Harry e Brian tinham terminado o relacionamento o quanto vibrou chegando até a mandar um whats para o ex-namorado do britânico o apoiando na decisão, de que ele merecia coisa melhor e outras coisas do tipo. Até hoje não sabia se Harry tinha conhecimento disso, e se tinha, essa seria a hora perfeita para se vingar.

Well, well... It was all her fault. – Davi disse apontando para Megan.

Mine? What? You were the one who kept shouting on portuguese.

At least I shouted something. You just laughed.

Ok, this vibe is too dark. Let’s go take some drinks, girls!!! – Harry sugeriu dando meia volta sendo seguido pelas outras ricaças.

O copo de vidro na mão de Davi era avaliado por ele enquanto dobrava o maxilar com a boca fechada. Ele não estava nada satisfeito.

Oh, c’mon Davi. Vamos relaxar, você está muito tenso.

– Porque você foi contar aquilo pra ele?

– Porque ele é meu amigo! E bom foi, like, really funny. Eu precisava compartilhar com alguém.

– Compartilhava comigo!

– Você estava lá Davi!

– Não importa!

Ela revirou os olhos e segurou seus braços o fazendo tirar atenção do copo vazio de uísque e olhar nos seus. Davi por um momento sentiu uma sensação de afogamento. Os olhos de Megan eram enormes e pareciam lhe chamar mais para perto. Ou era só o efeito do álcool mesmo batendo no seu organismo.

– Davi, você não tá bem. What happened? – ela perguntou séria.

Hiii!

Isso só pode ser piada. Davi pensou. Um Gabe sorridente aparecera abraçando Megan por trás com a cabeça recostada no seu ombro.

– Hi. – Davi se limitou a dizer com um sorriso bem ensaiado. – Bom, eu acho melhor eu ir...

No, Davi. – Megan disse ainda com as mãos nos seus pulsos. Ele deu um sorriso fraco pra ela, antes de olhar para seus pés.

It was nice to meet you Anaconda... I mean... Gabe... Merda! – ele se atrapalha e se afasta balançando a cabeça.

Um sentimento estranho invadia seu corpo. Uma estranha sensação de chorar. É essa droga de bebida. Reclamou olhando para o copo vazio de uísque e indo ao bar sentando-se com uma expressão derrotada. Tacou o copo na mesa. Os olhos distantes. O rosto inexpressivo.

Hey, I’m here. – mãos conhecidas tocaram seus ombros. Ele não conteve um sorriso. – Pode conversar comigo.

Megan então se sentou ao seu lado. Uma expressão parecida com a de Vicente, preocupação, era exibida na sua face de porcelana. Aliás, ele só percebera agora, mas a amiga estava deslumbrante. Usava um vestido incrível prateado que ele já podia imaginar quem desenhara. A própria.

No começo do ano ela o mandou uma foto na frente da Parsons. Megan estava muito engraçada com os braços abertos, pulando, na hora exata do flash. Ela começara design de moda na universidade em Nova Iorque. E estava apaixonada pelo curso.

– Não precisa se preocupar comigo. Eu bem, sério.

– Ok, e eu sou the wonder woman.

– Você é.

– Davi...

Ele respirou fundo e ergueu os olhos para o seu norte.

– Tá... Eu e a Manuela... A gente... A gente vai se separar. – ele parou por um momento, se ouvindo dizer aquilo. – Tá impossível de continuar.

But... Você não tinha me dito que vocês tinham ficado bem? Tinham até ido pra cama.

Davi revirou os olhos.

– Eu não falei assim, eu disse “fizemos amor”.

Wathever... What happened?

– Nada, só isso. Uma noite não muda dois anos Meg.

Ela encarou o homem a sua frente séria. Sempre dizia que ele iria quebrar a cara com Manuela na época que esperava ansiosa por sua vez, mas ver era bem diferente do que imaginara. Ela e Davi agora eram amigos. Seu relacionamento tinha evoluído em cem por cento e ela sabia que a possibilidade de existir algo entre eles era nula. O ciúme de Manuela fora soterrado habilmente e por todos os momentos que aconselhou Davi, realmente foi na intenção para que ele continuasse casado.

– Sabe, eu... Eu nem me importo muito por mim. Na verdade, seria bem melhor se a gente acabasse de uma vez. Eu só fico pensando nos meninos...

Megan sentiu um apertou no coração. Nico e Pedro eram tudo na vida de Davi. Ela imaginava o quanto aquilo devia atingi-lo.

– Eu sempre pensei que eu seria um ótimo pai e... E em dois anos nem consegui segurar a mãe deles dentro de casa! – ele falou com uma voz revoltada, meio embargada e chorosa, mas sem realmente chorar.

Shh, Davi. That’s not true. Você é o melhor pai que eu conheço. É só não ir pra cadeia. - ela piscou pra ele. Davi não conseguiu se conter e soltou uma risadinha que ela curtiu ter causado.

– É... Pelo menos isso.

Hey, Megan! – Davi ouviu a voz de Gabe a suas costas. – You love this song, remember? You said that gives you a lot of memories. What do you say? Let’s dance!

– Oh Gabe, sorry, but I’m with...

– Não, não... Vai lá.

– Davi, eu não vou deixar você sozinho.

– Não, você vai, ou eu nunca mais falo nada pra você. – ele disse se levantando ficando frente a frente, ou melhor, de cima para baixo com Gabe. Segurou a mão direita de Megan e a estendeu para o loiro que a pegou contente lhe levando para a pista de dança.

Com as mãos nos bolsos do terno novo, Davi ficou ali parado vendo tudo em câmera lenta. Sua vida estava sem pé nem cabeça. E Megan o observava de longe agarrada por um empolgado interesse romântico, mas ao finalmente chagarem ao destino, seu olhar tomara outro rumo. A iluminação estava escura, azulada. Os casais dançavam abraçadinhos. Gabe a girou dando um beijo em sua boca que sorria se divertindo. Davi engoliu em seco e finalmente prestou atenção na música que troava em seus ouvidos.

Adele cantava sombriamente Someone like you.

Davi então se virou de costas para a festa e pediu outro copo de uísque.


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Notas finais do capítulo

Someone Like You - Adele

I heard that you're settled down
That you found a girl and you're married now
I heard that your dreams came true
Guess she gave you things I didn't give to you

Old friend, why are you so shy?
Ain't like you to hold back or hide from the light
I hate to turn up out of the blue uninvited
But I couldn't stay away, I couldn't fight it

I had hoped you'd see my face
And that you'd be reminded
That for me it isn't over

Never mind, I'll find someone like you
I wish nothing but the best for you too
Don't forget me, I beg
I remember you said:
"Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead"

Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead, yeah

You'd know how the time flies
Only yesterday was the time of our lives
We were born and raised in a summer haze
Bound by the surprise of our glory days

I hate to turn up out of the blue uninvited
But I couldn't stay away, I couldn't fight
I had hoped you'd see my face
And that you'd be reminded
That for me it isn't over

Nevermind, I'll find someone like you
I wish nothing but the best for you too
Don't forget me, I beg
I remember you said:
"Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead"

Nothing compares, no worries or cares
Regrets and mistakes, they're memories made
Who would have known how bitter-sweet
This would taste?

Nevermind, I'll find someone like you
I wish nothing but the best for you
Don't forget me, I beg
I remember you said:
"Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead"

Nevermind, I'll find someone like you
I wish nothing but the best for you too
Don't forget me, I beg
I remember you said:
"Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead"

Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead, yeah