Quase dois meses se passaram. Regina estava sentada em sua cama refletindo tudo que tinha acontecido nas últimas semanas. Ficou claro que o culpado do incêndio foi Gold. Depois daquele acidente, Gold nunca mais telefonou ou procurou Regina. Pelo menos era o que parecia. Quando o pé da Prefeita ficou curado, ela foi a rua pelo menos pra andar um pouco. Mas se arrependeu ao perceber que estava sendo vigiada, ela tinha certeza disso. O fato era que Regina estava com medo por ela e pelo seu filho naqueles dias de sua recuperação. Ela não deixou Henry ir mais a escola, ou sair pra qualquer lugar. Henry não saia muito, porém ficou bem chateado por não poder nem passar da porta de casa mais. Então, ele teve uma ideia. Emma Swan. Mãe, por favor. Emma é a Xerife, ela pode nos proteger. E além disso, ela pode ficar aqui jogando comigo. Regina ainda se lembrava do filho a pedindo e com aquela face pidona que ele fazia. Ela não resistia, então aceitou. Para Regina poder trabalhar, uma viatura a levava. Ficavam duas paradas na Prefeitura para sua proteção. Ela achou um pouco exagero, só precisava de um policial. Mas quando soube que foi ideia da Xerife sorriu e por dentro ficou feliz pela preocupação. Quem levava Henry era Emma. Regina morria de ciúme pelo jeito dos dois serem um com o outro. Mas ela amava ver seu filho dando gargalhadas, brincando, se divertindo. Era assim com ela também, porem ela não tinha tanto tempo para isso. No primeiro dia que a Xerife apareceu em sua casa trazendo Henry foi constrangedor para as duas. Para a Xerife, porque ela sabia que a Prefeita não ia muito com sua cara. E para a Regina, por Emma ter visto ela daquele jeito no Hospital, por tê-la pegado no colo e protegido. E para ficar mais constrangedor, o jovem Mills convidou Swan para entrar e jogar um pouco com ele. Obviamente ela recusou na hora e inventou uma desculpa. Deixa pra outro dia, ela disse.

Depois de dois meses, Emma passava o tempo inteiro com a família Mills. Para proteger, é claro. Era o que ela tinha em mente. Mas foi diferente. Levava Henry para escola, ia pra Delegacia fazer quase nada, só arquivar e analisar alguns papéis. Não queria admitir, mas ficava ansiosa pra sair daquele lugar logo e pegar Henry na escola. Quando ele entrava em seu carro, começava a falar tudo o que houve na escola, bem agitado. Henry fez novas amizades e ele estava super feliz, Emma ria de suas histórias. As vezes, ela o levava ao Grannys para tomar sorvete que ele tanto gostava. Umas duas vezes por semana ela entrava na casa de Regina e ficava mais tempo com ele. Ou eles, na verdade. Nas primeiras semanas era constrangimento. Depois de alguns dias, elas conversavam, riam, as vezes Regina colocava Henry para dormir e ficava na sala bebendo a sua famosa cidra de maçã com Emma. Mas quando se despediam Regina tomava uma postura de autoridade, colocava sua máscara rigorosa e dizia “até mais, Swan”, e fechava a porta. Emma não achava ruim, sabia que ela sempre iria fazer isso. Na verdade, ela até ria disso. E quase todos os dias foram assim.

E Regina estava lá, sentada em sua cama refletindo sobre isso. Ela não queria admitir, mas só de pensar na Xerife seu coração pulsava de uma maneira diferente. Ela não queria admitir, mas gostava do jeito carinhoso em que Emma tratava seu filho e ela. Ela não queria admitir, mas gostava de Swan a protegendo. Ela não queria admitir, mas estava sentindo algo pela loura.

Só de pensar dessa forma, Regina despertava e balançava sua cabeça.

_ Regina, acho que você está louca. – disse para si mesma.

No apartamento da loura não era diferente. Lá estava Emma encarando o teto, e pensando na morena. As duas sem perceber estavam criando uma amizade. As noites em que Regina bebia sua cidra e começava a desabafar. Emma apenas dava um gole, não ficava nem tonta. Queria ouvir a Prefeita, prestar atenção em cada palavra. Ou quando não bebiam e ficavam apenas sentadas no mesmo sofá, perguntas apenas profissionais, até que um dia percebeu Regina a encarando e ficando nervosa ao ter sido pega no flagra. Swan sempre sorria ao lembrar daquele dia, do como a morena ficou sem graça. Não entendia o que estava sentindo. Era algo novo, teve que admitir isso. Nunca se apaixonou de verdade por homem ou mulher algum. E pelas cidras tomadas por Regina, descobriu que ela também não.

E naquele dia, algo aconteceu, por elas ficarem tão pensativas assim. Regina queria sair depois de Emma ter deixado o garoto na escola.

_ Podemos caminhar um pouco? É cansativo ficar aqui. – pediu a Prefeita. As duas saíram e andaram pelas calçadas distraídas. Emma as vezes dava uma olhada pelas ruas para achar algo de errado, ou se estavam sendo vigiadas. Mas nada houve. Era dia de semana, tinham que estar indo trabalhar, mas não questionou, apenas fez a vontade de Mills. Compraram duas garrafinhas de água e começaram a andar novamente.

Regina começou a falar um pouco sobre a Prefeitura bem desanimada. Emma não estava cansada de ouvi-la falando sobre coisas profissionais. Mas queria que ela esquecesse um pouco seu trabalho. Quando queria, ou até mesmo não querendo, a loura era engraçada, extrovertida, seus amigos sempre falaram isso a ela. Então resolveu praticar essa tática. Quando Regina ficou calada e olhando para o chão pensativa, a loura resolveu falar certas coisas de sua vida. Coisas engraçadas e hilárias. E isso Emma tinha de sobra pra falar. Regina não esperava por aquilo, nem mesmo Swan quando viu Regina sem querer cuspir a água ao rir da história de Emma em seu colegial. As duas começaram a rir, não sabiam quais os motivos. Ou a história, ou de como Regina sorria. A loura travou por dentro. Nunca tinha visto ela solta daquele jeito. Impossível, foi o que ela pensou ao ver o enorme sorriso da morena. Impossível ela ser mais linda assim. Cortou seus pensamentos ao perceber no que já estava em sua mente e olhou para a morena. Regina estava respirando fundo tentando controlar sua euforia.

_ Me avise antes quando for falar algo assim, Swan. – disse dando uma cotovelada de leve nela.

_ Ok, então continuarei, já está avisada. – e assim, continuou com outras histórias e Regina perdendo seu fôlego. Caminharam quase uma hora. Mas pararam não porque queria, porque Kathryn avistou as duas e foi cumprimentar. Regina não parou de rir, mas se controlou ao ver sua amiga. Depois das mensagens trocadas meses atrás, Regina quis explicação. Mas Kathryn era esperta. Disse que tinha mandado aquilo sem querer, não era nada demais e deu de ombros pra situação. Kathryn tinha muitos planos para a Swan e Mills. Mas ainda não estava na hora, viu o como as duas estavam se conhecendo ainda.

_ Muito obrigada por não ter retornado as milhares de ligações que eu te fiz, amiga. – disse abraçando a morena.

_ Sem drama, Nolan.

_ Oi, linda Xerife! – disse Kathryn abraçando Swan. A loura ficou surpresa mas retribuiu. Regina estreitou os olhos para aquela cena. – Do que estavam rindo?

_ Srta. Swan estava me contando algumas coisas. O que está fazendo aqui? – perguntou já sem sorrir.

_ Credo, queria saber como você estava. – Kathryn fingiu estar magoada, mas queria que aquilo causasse algo em Regina. Ciúme.

_ Hm, to ótima. – respondeu seca. – Bem, depois a gente conversa. Temos que ir.

E assim, as duas se foram. Emma deu um sorriso sem graça para Kathryn. Já Nolan deu um enorme sorriso de volta.

_ Yeeees! – exclamou. Kathryn estava se sentindo vitoriosa por ter causado ciúme na sua amiga. E mais vitoriosa ainda quando recebeu uma mensagem de Regina logo depois. “Linda Xerife?”. Preferiu nem responder e caminhou sorrindo.

O que deu nela? pensou Emma a encarando. Regina andava calada, séria, com a cabeça erguida, segurando bem firme seu celular. E estavam andando oposto, de volta a sua casa, pegando atalhos. Eu e minhas histórias bobas. Parabéns, Emma.

Swan não fazia ideia que nada era sua culpa, não tinha feito nada para a Prefeita estar daquele jeito. Mas se culpou.

Regina estava fervendo de raiva. Não era algo grandioso pra ela ficar daquele jeito. Porém ela era Regina. Emma estava a fazendo tirar sua máscara. Não achou isso ruim, no começo. Só quando estava morrendo de raiva de Kathryn, decidiu ter raiva de tudo em sua volta inclusive a loura com aquela jaqueta ridícula e aqueles olhos verdes ridículos. Ridícula.

Ao chegar na porta de casa, Regina pegou a chave e girou com força na porta.

_ Obrigada, Srta. Swan. Tchau. – Regina ao destrancar a porta, se despediu da loura sem a olhar e foi entrando em sua casa.

_ Regina, espera! – a loura a chamou exasperada. Regina sentiu a mão fria de Emma em seu braço quente. Emma estava nervosa, e Regina com raiva.

_ O que foi? – perguntou abrindo mais a porta e cruzando seus braços. Swan de repente chegou mais perto de Regina. Queria se explicar, seja lá o que ela fez.

_ Me desculpa. Pelas histórias. Não deveria ter enchido sua cabeça com isso. – e a cada respiração ela se aproximava, como se estivesse arrependida do que fez. Regina logo percebeu o que tinha feito. Nada era culpa dela. Descruzou os braços e não sabia onde enfiar a cara.

_ Não, Swan. Me desculpa. Nada é sua culpa. – foi o que a morena conseguiu falar. Idiota, idiota.

_Ahm.. ok. – a loura estava confusa. Se não foi nada que ela fez, por que Regina estava daquele jeito? – Bem, pelo menos agora você sabe que ainda continuo do mesmo jeito.

Ambas riram quebrando um pouco o clima tenso.

_ Bem, melhor eu ir. Tenho alguns papéis na Delegacia para resolver. – Regina já ia dizer pra ela ficar mais um pouco, mas se lembrou que naquela noite, Emma iria lá de novo.

_ Tudo bem, então. Obrigada, Swan. – e as duas se despediram.

Regina fechou a porta e não aguentou, teve que sorrir. Do jeito que Emma contou as coisas para ela, as expressões hilárias. Foi tomar um banho e foi ao trabalho. Swan passou em seu apartamento para organizar seus pensamentos, sem sucesso, e tomar banho.

A morena checou seu celular para ver se Kathryn respondeu sua mensagem, mas nada de Kathryn.

(...)

As horas se passaram rápido, e lá estava Henry no carro da Xerife contando como seu dia foi.

_ Sério? Que ótimo! Gosto muito quando minha mãe esquece um pouco do trabalho. – disse o garoto todo empolgado quando a loura conta sobre ter caminhado com Regina.

_ Então, jogaremos o que hoje? Que tal de luta? – Swan deu sua sugestão.

_ Pode ser, mas tem que ser de adversário pra eu poder derrotar você. – ambos riram.

Os dois estavam sentados no sofá, concentrados no jogo. Henry estava na frente porque a loura deixou, mas depois viu que deixou demais e já estava perdendo feio.

_ Muito bem, meu filho. Destrua ela. – disse Regina entrando na sala com dois copos de cidra e sorrindo levemente.

_ Obrigada, estou precisando. – disse Emma pegando o copo, fazendo Regina sorrir. Ela está calma, finalmente.

Estava difícil Swan se concentrar. Estava conseguindo virar o jogo, porém no outro sofá percebia Regina a olhando e dando leves sorrisos. Emma olhou para o copo dela e viu que já estava no segundo. Ela olhou para o jogo e sorriu. Gostava quando a morena ficava mais solta.

_ Ems, podemos parar? Já estou com sono. – disse Henry dando pause no jogo.

_ Sono? Não é por que estamos empatados, é? – perguntou se divertindo com a expressão do garoto. Henry já ia responder, mas Regina falou primeiro.

_ Henry, pode ir dormir. Jogarei por você. – a loura e o garoto olharam assustados para a morena.

_ Sério, mãe? Mas você nunca quis jogar.

_ Bem, agora quero. E acho que já sei de alguns truques já que sempre vejo você jogando. – disse se levantando e sentando no lado de Emma, no lugar de seu filho.

_ Oba! Tudo bem, boa noite pra vocês. – disse abraçando a loura e beijando o rosto de sua mãe.

Quando o garoto subiu, ficaram caladas por um tempo.

_ Está tudo bem, Swan? Está com medo de perder? – brinca Regina. Emma a olha e da um sorriso tímido.

_ Você está bem? Gold te telefonou? – perguntou Emma escolhendo novo personagem pra lutar.

_ Não, não o vi mais.

O silêncio permaneceu novamente até o jogo começar. No primeiro round, Regina ganhou. Emma olhou com seus olhos arregalados para a manete da Prefeita, que riu de sua expressão. No segundo round, a loura venceu suspirando aliviada. Não queria perder da Prefeita. No terceiro round faltava apenas um golpe para o personagem de Emma morrer. Então, ela meche na manete de Regina, ambas rindo, e consegue vencer o jogo.

_ Wow, sou demais! – disse Emma se levantando.

_ Assim não vale! – disse Regina se levantando. Não estava brava com aquilo, tentava ficar séria mas não conseguia com a comemoração de Emma, que virou a cidra.

_ O que não vale? Não fiz nada de errado. Bem, acho melhor eu ir. Já está ficando tarde e tenho que ir antes da cidra fazer efeito. – disse indo em direção a porta.

_ Isso mesmo, Xerife. – param na porta e se despedem. – Obrigada, por hoje. Emma ao ouvir, sorriu tímida olhando para o chão e depois para a morena. – Até amanhã.

_ Até amanhã. – Emma se aproximou de Regina quase a abraçando. Mas resolveu não fazer isso, nunca tinha feito antes. Mas ao sair, não notou o olhar de decepção que Regina estava. Mas a morena entendeu, e continuou do jeito solto que estava ao fechar a porta. Tomou um banho e foi dormir.

E lá estava Regina refletindo sobre tudo o que estava acontecendo. Não sabia onde esse sentimento iria parar, sabia que nunca iria acontecer nada entre elas e que Emma não sentia nada por ela. Era um sentimento que crescia a cada dia, e ela não estava sabendo como lidar. Tinha ciúme de todos que chegavam perto demais da loura e não conseguia disfarçar.

Kathryn estava em sua casa preparando tudo para as duas. Fiz ciúme em uma, hora de fazer na outra.

Perdida em seus pensamentos, Regina sentiu seu celular vibrando. Uma nova mensagem de Kathryn.

“Quero te apresentar alguém”.