Sexta-feira, mais uma sexta-feita monótona, eu não queria ficar em casa observando os tons de solidão estampados em minhas paredes cansadas. O que mais um homem de sessenta e três anos poderia fazer?
Foi esse simples pensamento que me tirou de casa naquela noite, e que mudou minha vida para sempre. Jogada no chão estava uma jovem maltratada, com um vestido azul tão curto que não sei dizer se poderia mesmo ser considerado um vestido, suas pernas estavam abertas e ela desacordada, quando encostei levemente em seu braço se levantou rapidamente e eu pude ver o medo em seu olhar brotar e sumir com a mesma velocidade. Trocamos poucas palavras, ao olhar diretamente para seu rosto consegui ver sua beleza por trás de todo aquele descuido e toda aquela maquiagem exageradamente borrada. Eu era um bom homem, não demorei para levá-la embora daquele lugar sujo na Lapa, eu queria cuidar dela.
Depois de um banho, já sóbria, ela finalmente dissera seu nome, Juliana, me apaixonei por sua beleza pura e me encantei pelo seu tom de voz, seus olhos profundamente castanhos me absorveram e foi naquele momento em que senti algo que nunca senti na minha vida.
Eu cuidei dela, tratei suas doenças e lhe dei carinho e abrigo, eu era um bom homem. Com o passar dos meses, Juliana virara uma verdadeira obra de arte, porém, o poder corrompe, e não demorou muito para que ela percebesse o poder que tinha sobre mim. Ela arranjou outro. Arranjou outros. Eu não perderia esse gostinho de tê-la só pra mim, meu amor por ela era tão grande... Para cada novo ''namorado'' de Juliana eu me mudaria, decidi que seria assim para o bem do nosso amor, renovando cada vez em um lugar, mesmo assim ela não colaborou, não se importou com meu amor nem com tudo que eu já fiz por ela.
Foi então que meu amor se tornou desespero e senti uma sensação estranha, uma compulsão diferente, como se um novo lado de mim agora viesse a tomar conta de toda a minha essência.Tudo isso já durou mais de três anos, eu sabia o que tinha que ser feito e eu precisava fazer...
Era sexta-feira, mas não só mais uma sexta-feira, essa seria a minha sexta-feira. Encontrei Juliana em um beco com um cara qualquer, assim que ele viu meu propósito saiu correndo, sem nem mesmo hesitar deixou eu e ela a sós.

- Pra quê essa arma, meu bem?- eu pude ver o terror em seus olhos e sua voz estava trêmula, eu senti meu dedo indicador latejar apoiado no gatilho da minha pistola automática já carregada. Essas foram suasultimas palavras antes de eu atirar quatrovezes no peito de Juliana, me aproximei do seu corpo já sem vida no chão e acertei dois tiros em sua testa.

- Eu era um homem bom.