Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 33
Ela




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Wes não conseguiu deter o General Sparks, embora ele tenha percorrido todo o caminho até detenção argumentando, enquanto o General permaneceu impassível, de queixo erguido e com os olhos fixos a sua frente, como se Wes não estivesse de fato a seu lado proferindo uma série de termos médicos, seguido de ameças e consequências desastrosas a minha saúde e os planos que do governo em relação a mim.

Enrico e eu fomos conduzidos cada um a uma cela, distantes uma da outra, creio que para evitar que pudéssemos conversar sem sermos ouvidos. A minha é a primeira do lado esquerdo, de modo que os guardas, mesmo estando em seu posto na recepção, poderão tranquilamente vigiar-me, imagino que deva ser ordem expressa do General Sparks, manter-me sob vigília constante. E pelo que pude constatar não há muitos desertores na Base, visto que a julgar pelo silêncio as celas estão vazias. Então me ocorre um pensamento: Onde está Alejandra? Com certeza o General deve ter lhe concedido um induto, afinal foi notória a sua predileção pela garota, o que me faz pensar que talvez ela seja mais importante do que o Enrico me fez acreditar.

_ Beatrice! Você está bem?! - Wes me tira do meu devaneio. Ele está aqui agarrado as grades com um olhar torturado.

_ Estou bem! De verdade, pode ficar tranquilo! -

_ Tentei de todas as formas argumentar, mas o General Sparks não quis ouvir. Estou tentando contato com o Presidente, mas não sei por onde começar, já que na única oportunidade em que falamos, foi ele quem fez contato comigo.

_ Não se preocupe. Qual é a pior coisa que poderia me acontecer nessa situação?! Pegar alguns meses de detenção?! Ser condenada a prestar serviço comunitário, recolhendo lixo, limpando banheiros, ou algo do gênero?! Relaxa Wes, li todo a apostila de treinamento militar, mais de uma vez essa semana que passou, então conheço todas as punições para os diferentes níveis de deserção. Na verdade o que pior poderá acontecer é ter meu acesso ao curso de pilotagem e ao treinamento militar. - Digo tentando tranquilizá-lo.

_ Eu sei Beatrice, na verdade, penso que seria muito bom que você pudesse manter uma distância segura dessa gente.

_ Wes você bem sabe que sou muito mais forte do que aparento ser, e de mais a mais, se terei que ficar aqui por um longo tempo preciso me manter ocupada, caso contrário vou enlouquecer.

_ Beatrice, você não precisa esconder-se de mim, eu conheço suas motivações. Embora não concorde estou com você para o que der e vier. - Ele diz com tanta doçura no olhar, tão diferente da primeira impressão que tive ao fitar aqueles olhos azuis, na época tão frios e assustadores.

Não consigo deixar de pensar no quanto nossa relação mudou desde então. Na verdade, não sei se eu é quem não havia percebido, ou se ele disfarçou muito bem quem realmente ele é, mas o fato é que desde que conheci o seu passado as coisas mudaram, hoje tenho alguém com quem me preocupar aqui também. Alguém em quem eu confio, admiro e que jamais deixaria pra trás.

_ Eu sei, obrigada Wes, significa muito para mim. - Eu digo e ele me lança um pequeno e tristonho sorriso.

_ E o ombro? Precisa de analgésicos. Ainda faltam algumas horas para administração do seu anti- inflamatório, de modo que se estiver sentindo alguma dor, poderá tomar analgésicos. - Ele assume a postura séria de médico novamente.

_ Não, estou bem. Sem dor. - Respondo. Desconfio que não o convenci, afinal ele me olha descrente, de modo que desvio o assunto para algo realmente relevante.

_ Wes, ontem lembro de você ter dito a Alejandra que ela chegou aqui sozinha. O que você sabe sobre ela. - Ele me olha intrigado, sem saber ao certo a onde quero chegar com essa pergunta.

_ Imagino que teremos uma longa conversa aqui, então espera um momento que vou pegar uma cadeira. - Ele diz e fico curiosa, será que ele sabe tanto a respeito dela que ficaremos aqui conversando por horas?

_ Tudo bem, não vou a lugar algum! - Respondo ironicamente.

_ Muito engraçado! - Ele diz, sem rir da minha piadinha infame, enquanto se afasta.

Eu o ouço trocar algumas palavras com os guardas, então ele retorna com uma cadeira, se senta pigarreia e então fala:

_ Respondendo a sua pergunta, Alejandra chegou aqui sozinha há uns 7 anos. Os guardas a encontraram inconsciente do lado de fora da cerca. Tratei pessoalmente dela e quando ela de fato se recuperou, nos contou que ela e os pais, saíram do seu pequeno povoado no novo México quando uma epidemia matou quase toda a população do seu vilarejo. Pelo que ela disse os pais adoeceram ao longo do caminho, primeiro a mãe faleceu e o pai a enterrou e depois foi a vez do pai e então ela fez as honras fúnebres.

_ Estranho, como uma menina de apenas 10 anos teve força o suficiente para cavar uma cova e enterrar um adulto! Tem também essa história do vilarejo... O Enrico me contou que ele assim como a sua família e muitas outras pessoas do seu vilarejo no novo México foram extraditados para Milwaukee e os que se rebelaram contra o governo foram parar na Margem....

_ Beatrice, quando Alejandra chegou aqui foi que atentamos para existência de vida no México. Várias buscas foram feitas por lá e conforme as pessoas eram recolhidas algumas foram alocadas em Milwaukee, outras ficaram na Base. Enrico chegou aqui muito depois de Alejandra. E quanto a capacidade dela sepultar o próprio pai, depois do seu relato guardas fizeram uma varredura nas proximidades da cerca e de fato encontraram o corpo de um homem de meia idade parcialmente enterrado e sendo devorado por urubus. O corpo dá mãe foi localizado há 20 km do corpo do pai e de fato estava enterrado como a menina havia relatado. De modo que não houveram motivos para desconfiar da sua história.

_ Entendo. E ela passou a viver com quem?

_ Na maior parte do tempo ela viveu num dormitório como o seu, pois toda vez que tentamos adaptá-la a uma família, depois de poucas semanas os adultos a devolviam com a alegação de que ela maltratava as demais crianças da família, ao que tudo indica, ela tinha sérios problemas em dividir a atenção. Gail, passou a tratá-la, com o que chamou de terapia. Sabe, Gail tem o hábito de estudar as reações humanas, ela costuma dizer todas as respostas estão escondidas no subconsciente...

_ Não preciso ser nenhuma especialista para perceber que Alejandra tem sérios problemas em dividir a atenção...

Rimos juntos do meu comentário, o riso causa pontadas de dor no meu ombro ferido, mas eu ignoro.

_ Do que vocês estão rindo? - Enrico diz, ouço sua voz vindo da minha direita, creio que há uns 10 metros de distância.

_ Não é da sua conta! - Wes responde em tom divertido, ainda rindo.

_ Acho que ele deveria rir conosco Wes, já que ele é motivo de toda encrenca! - Eu digo entrando na brincadeira.

_ Saquei! Muito engraçado! - Enrico responde tentando imprimir um tom chateado na voz, mas não consegue.

_ Já chega, o interrogatório começa em 10 minutos. - Um dos guardas grita da recepção.

Nos calamos assim que outros dois guardas abrem nossas celas, Wes se apressa posicionando-se atrás da minha cadeira e dessa vez o guarda não faz objeções. Quando já estamos no corredor vejo Enrico algemado sendo escoltado por um dos guardas e conversa animadamente com ele. É, a camaradagem tem seus limites...

Os guardas nos conduzem ao piso superior até uma sala retangular cujas paredes são brancas e no centro há uma mesa oval num tom de cinza desbotado, com 12 lugares. As cadeiras são velhas tem acentos estofados com cores diversas, obviamente foram reaproveitadas. Wes tira duas cadeiras de lado e aproxima a minha cadeira de rodas da borda da mesa e se senta ao meu lado, Enrico toma lugar do meu outro lado. Poucos segundos depois a porta se abre e Alejandra entra escoltada por outro guarda. Ela está com um grande curativo no nariz, mesmo assim abaixo dos olhos é possível ver grandes manchas roxas, ela não olha para nenhum de nós, e calada senta-se o mais distante que a mesa oval lhe permite.

Sua postura, me deixa intrigada, ela está introspectiva, não adotou a agressividade e arrogância costumeira, muito menos a fragilidade ensaiada. O que me faz pensar que talvez ela tenha tomado uma bronca, mas de quem? Do General Sparks? E deve ter sido algo que realmente a tenha preocupado.

Estamos num completo silêncio há algum tempo até que a porta se abre e uma mulher de estatura mediana, com olhos castanhos tão claros que parecem quase amarelos, os cabelos loiros quase brancos estão presos num coque severo, ela veste um jaleco branco como o de Wes. Então ela o cumprimenta:

_ Wes, já esperava encontrá-lo aqui.

_ Gail, para mim também não é surpresa nenhuma que você tenha vindo como testemunha de Alejandra.

_ Beatrice, tudo bem? Sou a Doutora Gail Lincoln. Fico feliz em ver que Wes está fazendo um ótimo trabalho com você. - Ela se dirige a mim, suas palavras são gentis, seu tom complacente, mas tudo soa falso. Sua voz, sua postura, essa aparente atenção para comigo. Talvez seja apenas impressão, afinal estamos de lados opostos nesse momento.

_ Oi. - É tudo que digo.

_ Parece que todo mundo tem testemunhas importantes e eu aqui sem defesa. - Enrico resmunga.

_ Por que você tinha que se entregar?! - Eu digo em tom de reprimenda, porque achei sua atitude muito estúpida. Ele podia simplesmente deixar que as coisas fossem resolvidas por mim com a ajuda de Wes...

_ Até parece Tris! Não vou deixar você levar a culpa, afinal foi eu quem te meteu nessa encrenca. - Ele diz lançando um olhar duro na direção de Alejandra e acaba encarando o topo da cabeça de sua cabeça (pois ela mantém os olhos fixos nas próprias mãos que descansam no colo).

Nesse momento a porta se abre pela terceira vez desde que chegamos então José entra na sala e senta-se ao lado de Enrico.

_ Tris, Dr. Wes, Drª Gail, Alejandra. - Ele cumprimenta todos com a menção dos nomes e por fim se dirige a Enrico:

_ Hermano! ¿Tienes problemas. Estoy aquí para ayudar. - Ele fala em outra língua, creio que deva ser a língua mãe de ambos.

_ Sí! Ella no me deja en paz. - Ele responde no mesmo idioma, enquanto balança a cabeça na direção de Alejandra.

_ Ellos luchan por su causa? - José e Enrico continuam esse diálogo nessa língua que desconheço.

_ Já chega rapazes, é falta de educação conversar em outra língua. E de mais a mais, compreendo tudo que estão dizendo. - Wes repreende.

_ Desculpe Dr. Wes. - José abaixa a cabeça envergonhado.

E a porta se abre uma quarta vez, e por ela passam um guarda, o Capitão Cameron, outro militar que não conheço e por fim o General Sparks.

Os militares ocupam os três lugares vazios da mesa enquanto o guarda fecha a porta e pára ao lado dela, imagino que para garantir que ninguém passe por ela, a expressão dele é séria, dura quase petrificada. A crescente tensão na sala é intenrrompida pelo pronunciamento solene do General Sparks.

_ Estamos todos aqui presentes as 11 horas da manhã do dia 27 de novembro do ano 2998, na Base Militar da Capital New York, dos Estados Unidos da América, Nação Governante e Soberana do Planeta Terra. Para uma audiência extraordinária para julgar delitos dos Réus supracitados seguindo a ordem alfabética: Alejandra Gonzalez, Beatrice Prior e o soldado Enrico Hernandez. Os delitos são: perturbação da ordem, luta corporal não autorizada em local de comum circulação e desacato a autoridade. Na comissão julgadora supracitados seguindo a ordem alfabética: Capitão Finth Cameron, General Georges Sparks e Capitão Jason Stone. Cito agora as testemunhas supracitadas seguindo a ordem alfabética: Soldado José Espinoza, Doutora Gail Lincoln e Doutor Paul Wes Shefield. Lembro a todos os presentes que esta audiência está sendo gravada para posterior arquivamento na sala de registros 437, junto a coluna P, seção 3, documento de número 12.743.

Lido o protocolo, o General Sparks pigarreia enquanto remexe nas folhas que lhe foram entregues pelo guarda que estava na porta. Na realidade não reparei de onde vieram, pois da última vez em que eu havia olhado em sua direção ele estava de braços cruzados e não havia nem sinal de papéis.

_ Dando início ao interrogatório as perguntas iniciais serão dirigidas a ré Alejandra Gonzalez, respeitando a ordem alfabética. Quando solicitado pela ré e autorizado pela comissão julgadora a testemunha poderá falar. - General Sparks prossegue com seu protocolo blá-blá-blá...

_ Srtª Alejandra Gonzalez, onde a senhorita estava as 12 horas do dia 26 de Novembro de 2998?

A fala sério! Tô vendo que isso vai demorar!

Alejandra continua olhando para mãos, o que está me deixando nervosa. Depois de um longo tempo ela responde com a voz fraca e entrecortada:

_ Estava no restaurante.

_ E o que aconteceu lá?

Ela exita por um momento e então infla o peito tomando fôlego e solta o ar lentamente. Gail põe a mão em seu ombro num sinal de conforto.

_ Eu estava me preparando para procurar o Enrico, queria conversar com ele, fazia mais de uma semana que não o via... - Ela faz uma pausa, levanta os olhos por um breve espaço de tempo, depois torna a baixá-los e então continua:

_ Ele estava lá, na fila do buffet, atrás dela... Estavam rindo, conversando, íntimos.... - Mais uma pausa.

Isso está ficando irritante!

_ A raiva tomou conta de mim! Desde que ela apareceu o Enrico tem me esnobado! Ele me usou e quando achou conveniente simplesmente me dispensou, me trocou por ela.

Olho de soslaio para Enrico e vejo que ele está vermelho de raiva, as duas mãos fechadas em punho sobre a mesa, os nós dos dedos brancos pela força empregada.

_ E Então, o que se sucedeu depois que a senhorita os viu no buffet? - General Sparks pergunta.

_ Eu fui tomar satisfação.Provoquei o Enrico, e ela tomou as dores dele e me chamou para brigar lá fora. - Ela responde e eu queria poder acrescentar que a provocação também foi direcionada a mim, e que no mínimo havia sido a terceira ou quarta vez em que ela me tratava de forma hostil, e que eu precisei pôr um fim nisso. Mas como não era a minha vez engoli em seco.

_ E depois? A senhorita aceitou o desafio? - Sparks continuou com o interrogatório.

_ Sim, fomos lá para a campina. Avancei contra ela mas perdi o equilíbrio quando ela desviou e me acertou nas costelas então caí no chão e a derrubei, rolamos por algum tempo até que ela deu um soco no meu nariz. Foi isso.

_ Agora, Senhorita Beatrice Prior, nos dê a sua versão dos fatos.

_ Na verdade General Sparks, foi exatamente isso que aconteceu. - Respondo e sinto os olhos de Wes me fuzilarem.

_ Então a senhorita confirma que desafiou a senhorita Gonzalez para uma luta e que quebrou no nariz dela?

_ Sim, confirmo.

_ Certo, passamos agora ao soldado Enrico Hernandez.

_ Desculpe General Sparks, acho que o senhor se esqueceu de me perguntar o que me levou a desafiar a senhorita Gonzalez para uma luta. - Digo de forma altiva, mantendo meu queixo erguido de forma a sustentar esse postura que tanto me custa encenar diante desse velho raposino.

_ Pensei que a senhorita havia confirmado as colocações da senhorita Gonzalez. - Ele responde um tanto contrariado.

_ O que não quer dizer que eu não tenha nada a acrescentar a história, principalmente os motivos pelos quais a desafiei. - Respondo.

_ Então prossiga, estamos todos ansiosos para saber quais motivos levaram a senhorita a desafiar uma moradora da base que mal conhecia. - Ele diz num tom irônico.

Se fosse em outro momento essa colocação da parte dele me irritaria profundamente, pois ele acaba de insinuar que não teria motivo, mas nesse momento fico satisfeita por ele deixar bem claro frente a todos a sua predileção.

_ Bem General Sparks, eu realmente mal a conheço, mas devo dizer que estou em desvantagem aqui, pois todos já me conheciam e deixaram bem claro isso por onde quer que passei nesses últimos dias. Minha fama me precedeu por aqui. E digo que na maioria das vezes as pessoas me superestimam, mas eu... Eu, sou apenas humana, com qualidades e defeitos, como qualquer um nesta sala.

_ E o que a sua fama ou a sua condição humana tem a ver com o ocorrido? - General Sparks atropela meu raciocínio, mas ou invés de me irritar e me desconcertar que era o que de fato ele esperava, eu mantenho a tranquilidade ao prosseguir.

_ Se o senhor deixar, gostaria de concluir meu raciocínio. - Digo olhando profundamente naqueles olhos de serpente.

Ele assente com a cabeça, um sorriso cínico estampando do rosto.

Então continuo:

_ Temo em dizer que a moradora a qual o senhor se refere, depois dos seus infortúnios amorosos, depositou a culpa das suas desventuras em mim. Acho que desta acusação não é necessário defesa... Então a partir daí toda vez em que nos encontramos fui provocada, hostilizada e humilhada por ela e quando vi que não haveria outro jeito de acabar com isso propus que nos enfrentássemos. Foi assim que aprendi a resolver as diferenças na audácia. Imaginei que pudesse ajudar.

_ Aqui Srt.ª Prior não lutamos com os nossos pares, salvo em treinamento militar! - General Sparks repreende.

_ Certo, entendo senhor. Espero ser admitida para o treinamento militar a aí então delegarei quaisquer diferença que eu venha ter com alguém para ser resolvida no ringue.

_ Essa é outra questão que será resolvida ao final dessa audiência, de acordo com a sua punição. - Ele responde e a esperança cresce em mim, afinal se a decisão será tomada aqui tenho chances, o Capitão Cameron disse admirar a minha coragem.

Por reflexo, esse último pensamento faz com que meus olhos busquem a fisionomia do Capitão Cameron, mas seu rosto está inexpressivo enquanto ele gira a pulseira no punho direito como fez mais cedo enquanto me aplicava os exames.

_ Podemos seguir senhorita Prior, ou a senhora tem mais alguma colocação pertinente ao caso julgado? - Sparks, o raposino acrescente naquele irritante tom irônico.

_ Sim, senhor. Obrigada. - Respondo forçando um tom respeitoso.

_ Soldado Enrico Hernandez, é verdade que o senhor teve um relacionamento amoroso com a senhorita Gonzalez? - O General Sparks está inquirindo Enrico, que cora com a pergunta inesperada.

_ Bom senhor, eu não diria que tivemos um relacionamento. Ficamos juntos algumas vezes, quando percebi que ela esperava mais do que eu poderia lhe dar, fui sincero lhe disse que não estava interessado em relacionamentos e me afastei.

_ Sim, mas se o senhor não estava interessado em relacionamento porque "ficou algumas vezes" com a senhorita Gonzalez? - O general parafraseia Enrico fazendo aspas com os dedos indicadores e médios de ambas as mãos.

Enrico está ainda mais corado, e me pergunto aonde o General Sparks quer chegar com essas perguntar.

_ Com todo respeito General Sparks, que relevância tem essa pergunta para o caso em julgamento? - Enrico pergunta ainda corado.

_ Acho que eu decido quais perguntas são relevantes! - Sparks responde de forma cortante com toda a arrogância que lhe é peculiar.

_ Certo senhor. Respondendo a sua pergunta... Fiquei algumas vezes com ela porque eu estava num momento ruim, meus pais haviam morrido, ela estava lá, tão disponível, me provocou e... Senhor, de fato eu sou homem, não resisto por muito tempo. - Ele diz a última frase e abaixa a cabeça escondendo toda vergonha que há em seus olhos.

Olho na direção do General Sparks e vejo que agora quem está vermelho é ele, imagino que de raiva... Ele olha de soslaio para Alejandra e percebo uma certa repulsa no seu olhar.Isso é novo pra mim!

_ Entendo, embora eu não ache que essa sua atitude seja realmente uma atitude de homem. Mas voltando as perguntas: O que de fato aconteceu no dia 26 de Novembro de 2998 no restaurante da Base e fora dele?

_ Estávamos nos servindo no buffet até que Alejandra chegou nos ofendendo e usando toda a sorte de xingamentos que encontrou naquele momento. Então a Tris não aguentou mais! Ela passou a semana toda com a cara nos livros, sem respirar ar puro, esteve estudando, não se alimentou direito, obviamente seu humor deveria estar mais suscetível a irritação e Alejandra como de costume abusou da sua paciência. - Ele diz.

_ Você afirma que a senhorita Prior estava de mau humor?! - O general raposino tentando pôr palavras na boca de Enrico.

_ Não disse que ela estava de mau humor, disse apenas que era compreensível que neste dia ela estivesse com menos paciência do que costume, visto que ela passou toda a semana estudando e alimentando-se mal. A Tris nunca fica de mau humor, não que eu tenha visto.

_ Então você a conhece bem? Há quanto tempo são amigos? Se é esse o termo que usam... - O General Sparks está tentando nos desestabilizar e no meu caso ele está quase conseguindo.

_ Somos apenas amigos e nos conhecemos há alguns meses, desde que ela veio pra cá.

_ Alguns meses e o senhor é capaz de dizer que ela nunca fica de mau humor. Imagino que 7 meses não é tempo suficiente para julgar a personalidade de alguém.

_ Não senhor, não é. - Enrico diz de cabeça baixa, derrotado e abatido.

_ Soldado Hernandez, o senhor não fez nada para impedir a briga?

_ Eu tentei, mas Tris disse que Alejandra não pararia de outra forma e entendi que se eu a parasse ali estaria apenas adiando o inevitável.

_ Então quer dizer que o senhor aprova o comportamento da senhorita Prior?

_ Sim senhor, eu aprovo. Alejandra mereceu!

Ele está encrencado! Vejo que Alejandra levantou a cabeça e lhe lançou um breve olhar ressentido.

_ Agora quero ouvir as testemunhas;

_ Doutora Gail Linconl, o que tem a dizer em defesa de Alejandra?

_ General Sparks, não é novidade para ninguém que veio tratando Alejandra há alguns anos, pois ela sofreu traumas horríveis até chegar aqui e já havia constatado que ela sofre alguns transtornos emocionais e não ajudou em nada a rejeição que sofreu da parte de Enrico. Estivemos trabalhando isso em consultório, mas é um processo lento. Então sinto que tenham chegado as vias de fato... O que posso fazer é me comprometer em mantê-la sob vigilância, entrar com medicação calmante até que ela consiga superar isso.

_ Certo Doutora Gail. Obrigado.

Estou surpresa! O General Sparks agradecendo alguém...

_ Doutor Paul Wes Shefield, o quem a dizer em Defesa de Beatrice Prior?

_ General Sparks, todos sabemos mais da vida de Beatrice do ela pode imaginar, então é de conhecimento de todos que em se tratando de traumas ela supera qualquer um nesta sala, não vejo necessidade de enumerar seus infortúnios, mas posso dizer que ela ainda estava e está em tratamento. Veio de um realidade completamente diferente da nossa, está em fase de adaptação. Creio que ela será de grande utilidade para este governo, mas para isso precisamos tratá-la e introduzi-la na nossa sociedade de forma funcional, explorando o que ela tem melhor, suas habilidades em combate, suas habilidades como estrategista, sua habilidade em sobreviver. Já sabemos como reage sendo hostilizada, então peço que a luz da sabedoria influenciem sua decisão, não gostaria de passar por um processo de regressão neste momento, visto que fomos tão longe até agora.

_ Obrigado Doutros Paul Wes Shefield.

_ Agora, Soldado José Espinoza, o que tem a dizer em defesa do Soldado Enrico Hernandez?

_ Senhor, o Enrico é uma ótima pessoa, um soldado exemplar, que cumpre seus horários rigorosamente, ele é um piloto como poucos, senhor. E no caso da Alejandra, tenho que lhe dizer, eu vi o quanto ela cercou ele senhor. Enquanto não se deitou na cama dele ela não sossegou. Eu avisei: Enrico esta chica es una complicación, quer dize: essa garota é complicação, e então ele dizia: eu deixei as coisas claras com ela, somos amigos... E deu no que deu.

_ Certo soldado.

O General Sparks assim como os outros dois militares se levantam e dirigem-se a porta, o guarda abre e eles saem e a porta se fecha atrás dele.

_ O que é isso? Aonde vão? - Pergunto a Wes.

_ Eles não reunir-se na sala ao lado para deliberar a respeito e depois voltam e cada um dá a sua sentença. - Wes responde.

A tensão é quase palpável na sala, todos em silêncio aguardam o retorno dos militares com um veredicto, a maioria de nós olha num ponto fixo, as mãos no colo, as cutículas, um ponto qualquer na parede, mas eu não, eu tento olhar detidamente as feições de Alejandra e da Dr.ª Gail, tento entender o que aconteceu com a primeira e tento decidir o quão dissimulada é a segunda.

Depois do que acredito ser pelo menos uns 15 minutos eles retornam a sala e sentam-se nos seus lugares.

O General Sparks se empertiga na cadeira, pigarreia e diz:

_ Passo a palavra para o Capitão Jason Stone. -

Ao ouvir isso todos exceto Alejandra, nos voltamos para o Capitão Jason e me permito olha-lo detidamente. Seu tom de pele é negro, o rosto liso sem barbas ou bigodes, os olhos também negros são pequenos e estreitos, o maxilar quadrado, ele é grande e musculoso. Eu diria que ele é assustador.

_ Unânimes em uma questão. Todos tem sua parcela de culpa e erro nesse caso. Por isso a sentença para os três réus supracitados, Alejandra Gonzalez, Beatrice Prior e Enrico Hernandez é culpados.

Pra mim não é novidade, o que me preocupa não é a sentença, mas sim a pena...

_ No que tange a penalidades, depois de algumas divergências chegamos a um consenso. Capitão Cameron, pode ler as penas, por favor? - General Sparks passa a bola para Cameron.

_ Alejandra Gonzalez, pelos delitos: perturbação da ordem e luta corporal não autorizada em local de comum circulação a senhorita está condenada a prestar três meses de trabalho voluntário no setor de limpeza da base. A Doutora Gail Lincoln ficará responsável por supervisionar suas atividades, e administrar medicação calmante e manter consultas diárias para acompanhamento.

_ Soldado Enrico Hernandez, - Como assim? E o raio da ordem alfabética???

_ Pelos delitos: perturbação da ordem, luta corporal não autorizada em local de comum circulação e desacato a autoridade o seu brevê será suspenso por 6 meses e o seu trabalho será em solo, ministrando aulas no simulador de vôos da escola de pilotagem. A supervisão da sua pena deverá ser feita pelo seu superior direto o Tenente Jim Carter.

Pela expressão de Enrico deve ser o pior de todos os castigos, pois os olhos estão brilhantes, cheios de lágrimas, mas ele não se entrega, olha para cima, funga limpa os olhos e me lança um sorriso triste, mas não derrama uma lágrima. Deve ser horrível a sensação de ter as suas asas amarradas, de ser impedido de voar, quando você só se sente livre, seguro e em paz lá em cima... Como tenho certeza que deva ser para ele.

_ Beatrice Prior. - Cameron pronuncia meu nome e meu corpo enrijece.

_ Pelos delitos: perturbação da ordem, luta corporal não autorizada em local de comum circulação e desacato a autoridade deverá prestar serviço comunitário por 6 meses na academia militar, mantendo a ordem e a limpeza do local. É de conhecimento de todos que a senhorita prestou exames para escola de pilotagem e treinamento militar, sua aceitação e ambos ainda está condicionada a aprovação dos exames. - Meu corpo relaxa imediatamente, um grande sorriso começa a crescer no meu rotou sem que eu possa contê-lo então os olhos do Capitão Cameron encontram os meus e percebo que não será tão simples assim. Meu coração dá um salto quando ele conclui:

_ A supervisão do cumprimento da sua pena será feita pelo General Sparks.


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