Elemento escrita por Grind


Capítulo 23
Capítulo 23 - Ligação




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Elemento / Capítulo 23 - Ligação

A semana passara voando, de repente, já era sexta feira, eu estava no final do expediente, e não aguentava mais aquela sala. Eu não prestava para trabalhar em ambiente fechado, eu pretendia passar no consultório de Marcelo o mais rápido possível, pra ele me tirar daquele cafofo.

Mas eu estava ocupado revezando pensamentos entre documentos, casa, e minha mãe me ligando toda noite para conferir se eu ainda estava vivo. As vezes eu me arriscava a perguntar por Gabrielle, mas ela logo fugia do assunto. E foi olhando a minha lista de contatos quando não havia mais nada para se fazer, que eu encontrei o número de Marco e o encarei por um longo tempo.

Eu fiquei tentado a ligar, não querendo saber de seu bem estar mas talvez ele tivesse alguma noticia de Gabrielle, se por acaso o objetivo era evitar que nossos caminhos se encontrassem, ela estava conseguindo fazer com sucesso.

Eu joguei o celular sobre a mesa. Repreendendo a mim mesmo. Eu não tinha que demonstrar interesse no paradeiro de Gabrielle. Eu estava com raiva dela não estava? Raiva por ela ter mentido pra mim. Eu não poderia dar lhe o gostinho de saber que eu queria saber como ela estava, porque Marco certamente contaria.

Eu precisava de uma ótima desculpa para usar, porque certamente Marco não se convenceria tão fácil, e mesmo se acreditasse, era pouco provável que ele fosse falar alguma coisa.

Peguei o celular, resolvendo ligar de qualquer maneira. Marco no minimo, iria me dizer não e desligar na minha cara. O telefone tocou, três ou quatro vezes antes dele atender.

– Alô? - Ele certamente não sabia quem era, e se eu falasse meu nome ele com certeza ficaria mais confuso.

– D - Suspirei.

Houve um silêncio do outro lado da linha, talvez ele não estivesse acreditando. Eu também não estava.

– Elemento? - Perguntou, como se para confirmar as suas suspeitas.

– O próprio.

Alguma coisa se quebrou e eu franzi o cenho. Gabrielle poderia estar com ele?

– Pois não?

– Eu - Hesitei, eu não - Estou ligando porque minha mãe queria saber sobre Gabrielle.

Ótimo. Perfeito, havia sido uma ótima desculpa.

– Tá, e porque ligou pra mim? Poderia ter ligado no telefone dela. Você prestou para isso para convida-la pro churrasco onde vocês discutiram.

Onde ela deixou claro que não sentia nada além de ódio por mim, quis corrigi-lo mas não o fiz.

– Eu não quero falar com ela, quem quer saber é minha mãe.

– Tá bom - Resmungou - Me engana que eu gosto. É tão difícil assim pro seu orgulho machista admitir que você se preocupa?

Cerrei os punhos, tudo o que eu menos queria a essa altura era levar sermão. Principalmente partindo de Marco.

– Não estou preocupado.

– É claro que não, Angela que está com preguiça demais para pegar o telefone.

– Ela queria que eu o fizesse. - Franzi o cenho - Espera, conhece a minha mãe?

– Eu fui com Gabrielle para a festa de natal na casa dela. Ela não te contou?

– Minha mãe não vaza informações sobre nada. Ela só conta se você souber fazer a pergunta certa.

– Enfim, eu fui embora cedo, Gabrielle passou a noite lá, se escondeu logo após a ceia dentro da casa com Angela, ela provavelmente não estava se sentindo bem.

– O que ela tinha? - Alguém em mim gritou mais alto, ele jogava as informações rápido demais para soar como uma mentira improvisada.

– E desde quando você se importa, você vai me culpar dizendo que estou mentindo. - Eu fechei os olhos inspirando fundo algumas vezes, quase me arrependendo de ter ligado.

– Então você apoia Gabrielle na mentira dela? - Ergui uma sobrancelha, eu me sentia virando as cartas no jogo.

Ele ficou em silêncio antes de responder de forma seca.

– Gabrielle odeia mentiras, ela não suporta saber que alguém mentiu pra ela, e muito menos fazer isso. Eu só cometi o erro uma vez, então não conte muito com isso.

– Você fala como se as pessoas gostassem de mentir.

– Algumas gostam - eu podia subtender o duplo sentido enquanto ele se explicava - Algumas mentem tanto para si mesmas para não ferir o orgulho, que logo elas não sabem distinguir o certo do errado.

– O que está insinuando?

– Eu não estou insinuando nada. Agora se a carapuça serviu eu não posso fazer nada. Não me sinto na obrigação de falar nada sobre Gabrielle pra você, você é arrogante demais, eu não conseguiria lidar com seus ataques se as coisas não acontecessem do jeito que você quer, me admira que Gabrielle tenha conseguido te aturar por tanto tempo.

– Aturar?

– Vamos enxergar a realidade Elemento - Ele suspirou - Em nenhuma das vezes em que vocês se encontraram foi algo planejado, então ela, se mantinha o mais educada possível para não voar em seu pescoço quando você começava com as suas gracinhas. E a única vez em que, realmente marcaram de se ver, no caso, no churrasco - Ele estava mastigando alguma coisa - E ela tentou ser agradável, não por educação, mas por vontade própria, você a tratou que nem lixo. Como sempre, na defensiva.

– Eu estava estressado - Fechei o punho com força - Não era hora pra brincadeiras.

– Você sempre soube que Gabrielle não tinha hora para brincadeiras. Ela sempre foi assim, desde o fundamental, esse é um dos maiores motivos pela qual o vocês não se quer olhavam na cara um do outro. Você era metido a concentrado, sério, sem piadinhas enquanto nós eramos o grupo de boa com a vida.

A pior parte era que, eu não poderia discordar. Quando eu entrei na escola que Gabrielle estava, era o 1º ano, nossas rodas de amizades eram tão distante, tão distintas, que só fomos realmente notar a presença do outro quando chegou o 9º ano e o número de alunos diminuiu consideravelmente.

Ela estava sempre com Marco, e alguns amigos nerds dela, era uma alegria tão constante, eles riam tanto de tudo e de todos, que eu me irritava. E quando eramos obrigados a dirigir a palavra um ao outro, o clima era pesado como se um tivesse matado alguém importante do outro.

– E o que queria que eu fizesse? Previsse que isso a deixaria abalada? A tratei como sempre.

– Ela tinha abaixado a guarda, isso a machucou.

– E eu sou adivinho? - Bati a mão sobre a mesa com força ficando de pé.

– Vocês tinham se pegado - Falou como se fosse óbvio - Ficaram de bem pela primeira vez, e na primeira oportunidade você descontou sua raiva nela. Ela agiu por impulso, revidou na mesma moeda, sabe que ela não leva desaforo pra casa.

Eu senti meu coração bater forte outra vez. Que palhaçada era aquela? O que ele queria dizer? Havia a possibilidade dela ter falado o que viera a cabeça? Que na verdade, o que ela havia dito, não era a verdade?

Eu fechei os olhos com força. Pare.

– Está mentindo.

Ele suspirou.

– Como eu imaginei. Você tem que ser sempre o certo não é mesmo? Mesmo que eu odeie a ideia de que vocês gostem um do outro, pelo o que eu percebi, fica difícil pra você entender que ninguém se apaixona ao mesmo tempo que a outra. Você pode ter sido primeiro e ela depois, ou talvez o inverso, não que faça diferença pra mim.

Eu ofegava. O que ele estava dizendo? Quem tinha falado em paixão? Eu, apaixonado pela Gabrielle? Que alternativa horrivel. Impossível. Ridículo. Que absurdo. Ela apaixonada por mim? Era pior ainda.

– Talvez ainda seja cedo pra tocar nesse assunto - Prosseguiu - Você certamente ainda não chegou a considerar essa possibilidade, e talvez, nem precise.

Eu não respondi.

– P-Por que não? - Foi a única coisa que me veio a mente, e pude sentir seu sorriso de satisfação.

– Gabrielle viajou, foi passar o mês na casa do irmão, é tudo o que eu sei. Diga a sua mãe que eu mandei um beijo. - Ele desligou.


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