Elemento escrita por Grind


Capítulo 20
Capítulo 20 - Conclusões




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Elemento / Capítulo 20 - Conclusões

Mesmo com Marco tendo pego no meu pé eu resolvi passar mesmo assim para ver Elemento na manhã seguinte, pedi um dia da semana para Dona Maria e ela disse que não havia problema. D sairia hoje e pensei que poderia acompanha-lo até a case dele, que aliás, eu nunca havia visto.

Após bater na porta perguntando se poderia entrar, D já estava de pé, vestido com o que julguei que Angela havia trazido. Jeans, tênis, e uma camisa lisa azul marinho. Marcelo estava tirando alguma coisa do braço dele que ligava ao soro.

– Licença - Entrei meio sem jeito.

Marcelo aceno com a cabeça para mim sorrindo, Elemento não se mexeu.

– Antes que você resolva perguntar, meus pais foram pra casa, minha mãe precisava descansar.

Eu não respondi, engoli a resposta malcriada. Eu mal havia entrado e ele já estava com quatro pedras não mão? Não iria começar a baixaria com Marcelo ali.

– Pronto! - Marcelo sorriu em satisfação, e deu alguns tapinhas no ombro de D - Liberado, e trate de se cuidar.

Houve uma risada cúmplice e Marcelo sorriu, enquanto recolhia a bandeja prateada com alguns algodões sujos de sangue, uma agulha, e o que restava de um pacote de soro vazio. Marcelo saiu, e eu cruzei os braços.

– Meu Deus, vai começar já cedo? - Resmunguei.

– O que veio fazer aqui?! - Se virou para mim irritado. Ajeitava a camisa no corpo.

– De nada Sr. Ingrato por me importar com o seu bem estar. - Trinquei os dentes enquanto o fuzilava com o olhar.

– Não estou pedindo favor nenhum a você e nem a ninguém - Sorriu com desdém - Obrigado.

Eu recuei um passo perdendo o controle.

– Olha aqui - Cerrei os dentes - Eu não sei quem você pensa que eu sou, mas é melhor ir abaixando o tom de voz - Eu apontava o dedo indicador pro seu peito.

Ele bufou, a raiva quase palpável entre nós, segurou a minha mão que estava erguida e quando puxei meu braço para me soltar ele segurou com mais força.

– E você vai fazer o quê, Gabrielle? - Seus olhos cintilaram. Quase como se houvesse planejado um desafio a mim a manhã toda

– Ontem - Eu respirei fundo, tentando me acalmar - Eu aguentei tudo o que você disse, eu te poupei, eu te entendi, tinha todo o direito de ficar estressado, afinal, estava em coma. Mas agora, você não tem motivo nenhum pra me agredir. Eu não sou barraqueira Elemento, eu não vim atrás de briga, já tenho problemas o suficientes não quero arrumar mais um.

Eu puxei meu braço outra vez e ele me soltou, calado.

– O que veio fazer aqui? - Perguntou, pela segunda vez, a voz estável.

– Queria saber como estava - Eu coloquei as mãos nas costas constrangida, abaixei a cabeça, meus pés ficando subitamente interessados dentro dos tênis a considerar meu rosto vermelho - E em parte porque estava curiosa pra saber onde você mora.

Me certifiquei de não erguer a cabeça, eu não queria saber qual seria sua reação.

– Vamos sair daqui - Sua voz permanecia no mesmo tom - Eu não gosto de hospitais.

Ele saiu na frente, e segurou a porta para que eu passasse - para minha surpresa - e foi bom sair daquele lugar e saber que eu não voltaria tão cedo. Paramos na calçada durante alguns minutos, olhando para frente, apesar de não haver nada além de um prédio com pessoas entrando e saindo. Ele respirou fundo, fechando os olhos e jogando a cabeça para trás como se finalmente relaxasse.

– É bom não é? - Eu não pude esconder um sorriso. Ele concordou levemente com a cabeça.

– Sabe do que foi feito do meu carro? - Ergueu uma sobrancelha voltando a posição normal enquanto nos afastávamos daquele lugar, caminhando em uma direção qualquer.

– Acho que seu pai é quem resolveu, lembro vagamente sobre ele ter dito algo. Mas não acho que vai vê-lo tão cedo, sinto muito.

– Então isso significa, que vamos precisar andar a pé. - Houve um desapontamento em sua voz.

– Eu não vou pegar ônibus, estamos em horário de almoço e aquilo é uma loucura, não sei se compensa comparado ao stress que se passa. - Adverti.

– Talvez - Ele deu de ombros colocando as mãos nos bolsos. Ficamos em silêncio por alguns minutos, e torci internamente para que ele desse inicio a um novo assunto, não sei se aguentaria ficar naquela gelo até sabe onde. No entanto, para minha surpresa, quase como se lê-se os meus pensamentos ele voltou a falar - Como foi seu natal?

Eu desviei o rosto de seu alcance, tentando disfarçar o meu choque. Considerando o fato de que eu tivera natais melhores. Eu não poderia simplesmente dizer que havia ido a festa de sua mãe, e depois chorado no colo da mesma pelo fato de estar internado.

"Vai com calma" Marco dissera.

– Foi bom... -Engoli em seco - Acho. Eu fui na festa da sua mãe e ela me deixou levar Marco, foi divertido. - Ótimo, parabéns Gabrielle, pelo seu tom de voz você certamente está mentindo.

– Mas? - O tom sugestivo em sua voz parecia que ele estava invadindo uma área delicada demais, ou talvez dando uma segunda chance para que eu falasse a verdade

– Mais nada. Foi só isso oras, o que esperava?

– E o Ano Novo? - Suspirou.

– Eu passei com a minha irmã, mas fui embora logo depois que deu meia noite, não estava em clima de festa. - Pelo menos em parte era verdade, quase toda a parte, desta vez.

Ele ficou em silêncio por uns três minutos

– Então, resumidamente seu final de ano foi terrível.

Eu o olhei assustada e ele olhou para mim, sem expressão alguma, e aquilo estava começando a me perturbar, olhar em seu rosto e ele não demonstrar nada era como falar com a parede.

– O que quer dizer? - Franzi o cenho, fazendo-me o mais desentendida que conseguia.

– Você não esboçou felicidade nenhuma, pareceu que eu tinha te perguntado como foi o funeral de alguém. - Eu quis dizer que não faria diferença já que ele estava completamente inexpressivo.

– Eu só não estava em clima pra festas, nada demais, só porquê era Natal, Ano Novo, eu deveria estar obrigatoriamente pulando e distribuindo felicidade?

– Você não tinha motivos para estar aborrecida. - Aquilo soou mais como uma facada no peito. Ele estava falando aquilo mesmo? Ele realmente me disse isso?

– É claro - Joguei os braços para o alto enquanto ria sarcástica - Afinal, meus motivos não são bons o suficientes, afinal se eu estivesse com dor, eu teria que aguentar e fazer farra até que tudo acabasse, pra que logo no inicio do ano eu tivesse que parar no hospital.

– Não necessariamente, se fosse algo grave você teria dito, mas fica evitando olhar pra mim enquanto fala, então esse não é o seu caso.

Ah meu Deus, como pode ser tão lento - eu coloquei as mãos no rosto não acreditando em tudo aquilo - Será que é tão difícil perceber que eu não quero mais discutir? Que eu quero acabar com essa picuinhas sem sentido. Não estamos mais no colegial, que espécie de amadurecimento era esse que havíamos passado?

– Eu estava preocupada com você, não conseguia me conformar com todo mundo fazendo festa enquanto você estava internado. - Eu joguei os braços ao lado do corpo cansada, estava tudo óbvio demais até pra mim - Entendeu?

Ele manteve o olhar fixo em meu rosto, sério, sem qualquer emoção. Raiva, desapontamento, ou alegria, nada. Ele avançou, dois passos, e ficamos frente a frente, cara a cara. Sua respiração abafada bateu contra o meu rosto e eu fiquei sem saber para onde olhar com tanta aproximação.

– Eu não acredito em você. - Sua voz saiu em um quase sussurro.

Eu fiquei horrorizada, e sua face inexpressiva estava me fazendo odiá-lo a cada segundo.

– Está me chamando de mentirosa? - A segunda pior coisa que alguém poderia me dizer, depois de me chamar de egoísta.

– Eu não disse isso - Rebateu, como se previsse o escândalo que eu estava por fazer - Só não acredito que você tenha sofrido tanto, pode ter ficado sentida, mas acho que está sendo dramática.

Eu lhe estapeei o rosto. Ele cerrou os dentes. Empurrei seu peito com força. A raiva que eu não sentia dele a tempos, voltando a tomar conta de mim. Se eu quisesse responder na mesma moeda eu precisava respirar primeiro, e isso não era algo fácil de se fazer com ele tão próximo.

– Nunca. Mais. Duvide. De. Mim - Eu fechei meu punho com força, eu quase podia sentir o sangue me subindo a cabeça - Eu não tenho motivos pra ficar fazendo drama! Isso não é um assunto pra se fazer piada. A sua descrença em mim me ofende.

– Eu não vejo motivos para ter ficado tão desesperada - Deu de ombros, erguendo a cabeça de forma ignorante, como sempre fez - Você me odeia. - Concluiu.

Eu fechei os olhos, com a respiração acelerada, cabeça estava começando a doer, e eu já não tinha mais ideia do que dizer.

– Simples assim? - Eu passei a mão na testa suada e ergui a cabeça para olhar em seu rosto, entrando em sua frente, impedindo de continuar o caminho que queria fazer - Você sai por ai julgando o que as pessoas sentem ou não por você, e como elas devem se comportar quanto a isso?!

– Eu não saio julgando ninguém, você que sempre quis deixar isso bem claro, não sei porque de repente resolveu se importar com o que eu faço ou deixo de fazer - Ele gesticulava enquanto falava - Pois saiba Gabrielle, que se eu descobrir que esta fazendo isso por dó, eu vou ficar muito revoltado. - Finalmente ele fechou a cara, deixando bem clara sua desconfiança sobre mim. - Não quero que sintam dó de mim.

– Dó? - Agora eu já não tinha certeza de mais nada. Eu queria que tudo aquilo fosse um sonho - Você acha que eu estou com dó de você?! - Tudo era uma loucura, bufei irritada - Será que você não consegue entende que-

– Que nada Gabrielle! - Ele começou a andar de um lado para o outro, e não acreditei que havia mesmo me cortado daquela maneira - Não tem explicação! - Ele parou para olhar pra mim, e eu não sei se era capaz de sustentar o olhar tão forte que se prendia ao meu rosto - Você não me deve explicações, e nem eu a você. Você não queria evitar um problema? Pois então Gabrielle, eu não quero que se preocupe comigo - Voltou a ficar a minha frente - Eu sei me cuidar sozinho.

Eu recuei um passo, atordoada, mesmo com a respiração descompassada e com o ódio nas veias não me veio nada a cabeça para que eu o respondesse. Não tinha resposta. Eu fechei os olhos, a angustia tomando conta do meu peito e uma sensação ruim, ruim como se algo horrível tivesse acontecido, ruim como se uma parte de mim morresse e a outra tivesse que aguardar pela sua vez.

Fechei ambos os punhos com força quando senti que seria capaz de chorar. "Não Gabrielle, agora não", o pouco que restava do meu orgulho naquele momento me advertiu. Eu respirei fundo, bem fundo tentando acalmar meus nervos.

– Você não sabe o que está falando - Eu tampei os ouvidos, minha visão embaçada pelas lagrimas que teimavam - Você se quer me deixou-

– Falar, não vou deixar dessa vez Gabrielle, porque é sempre você quem fala, agora, é minha vez!

Quando foi que eu dei incio a essa loucura? O que me fez pensar que tentar abaixar a guarda funcionaria alguma coisa? Marco havia me advertido, mas eu fui teimosa demais. Eu ergui o rosto, tirando os cabelos que me atingiam o rosto, minha pose, tão arrogante quanto a dele. Ele não me humilharia, eu não me humilharia.

– Então está bem - Minha voz saiu suave e um brilho de suspeita passou rapidamente pelo seu rosto - Você também não precisa se preocupar comigo Elemento– Eu fiz questão de dar enfase no apelido que eu sabia que não o agradava - Me ver não vai ser mais um problema, eu vou deixar você sozinho. - Suspirei - Do jeito que você deseja.

Eu me virei, ainda de cabeça erguida me afastei de forma rápida e discreta, louca para ficar o mais longe possível dele e sua ignorância, no final das contas ele era o mesmo de sempre desde de o médio.

(...)

Dei graças a Deus quando cheguei em casa, os meus pés doloridos pela pressa em chegar cedo e evitar que ele me acalçasse - caso fosse atrás de mim. Eu me sentei no sofá da sala, sentindo por fim os meus músculos relaxarem. Eu certamente já estava concorrendo ao cargo de trouxa do ano. Passei ambas as mãos pelo rosto, fechando os olhos e a contra gosto revendo os últimos acontecimentos na minha mente.

Eu estava desapontada. Desapontada comigo, desapontada com Elemento, mas talvez, principalmente por mim. Olhei para meu celular, largado em cima da mesinha de centro. A papelada da faculdade amontoada na outra ponta. Eu havia estudado tanto nos último dias, adiantado tanto a matéria, que cheguei a julgar até desnecessário as próximas aulas. Eu estava ansiosa para as provas, eu felizmente estava no fim, poderia me formar e fazer o que sempre quis.

Por um breve momento lembrei de minha irmã, e de como ela era boa em me escutar sem me julgar - pelo menos não verbalmente - nesses tipos de situações quando estávamos de bem, e fiquei tentada a ligar pra ela, mas se o fizesse, estaria apenas dando mais uma categoria para meu papel de trouxa. Por ser minha irmã, eu sempre baixava a guarda e pedia desculpas primeiro, resultando a fazia se poupar de fazer o mesmo e diminuir seu ego absurdamente grande.

Fechei os olhos outra vez, mas eu voltei a encarar o celular. Tinha perdido total contato com meu pai, mas acredito que mesmo se tivesse o número dele em minha lista de contatos eu não seria capaz de ligar, eu não tinha intimidade com ele para algo assim. Marco passou pela minha mente, mas achei que seria melhor não perturba-lo, ele já não gostava do D, e certamente não iria querer falar sobre ele depois de ter me avisado que tudo isso provavelmente iria acontecer. Eu precisava conversar e não tinha ninguém.

Eis que pensei em Angela e hesitei. Elemento certamente acharia a ideia ruim, mas meu orgulho bateu mais alto. Desde quando eu me importava com a opinião daquele traste? Eu peguei o celular, procurando o número com rapidez.

– Alô? - Antedeu do outro lado.

– Oi Angela, aqui é-

– Gabi! - Exclamou contente. - Que bom que ligou, está com meu ursinho?

Eu fiquei meio abalada.

– Não, bom, eu estava mais-

– E aonde ele está agora? Saiu pra comprar alguma coisa, vocês estão se divertindo?

– Não Anjêe - Usei o apelido que ela vivia pedindo para que eu usasse. Eu parei para respirar, minhas mãos tremiam, minha voz embargada - Ele... Eu não estou mais com ele, quer dizer, eu estava, nós saímos do hospital juntos... Só que eu estou em casa e ele... Eu não sei.

– Oh - Houve um surpreendimento do outro lado da linha - Vocês brigaram?

Eu suspirei.

– Você quer que eu fale com ele? - Disse com cautela, quase como se tivesse o discurso pronto na ponta da língua.

– Não, por favor! - Eu me exaltei, quase ficando de pé - Por favor, eu só, queria conversar com alguém. Eu, já não tenho mais ninguém pra conversar.

– Mas é claro meu bem. É só falar.

Eu coloquei a mão sobre a boca, odiando a mim mesma quando as lagrimas me escaparam e escorreram pelo meu rosto. Eu reclamei da discussão que tivemos, reclamei de minha irmã e tudo mais que me veio a mente. Ela escutava, e quando eu dava algumas pausas explicava para mim o que achava que eu deveria fazer. Quando eu finalmente acabei, me senti mais aliviada, como se tivesse tirado uma sobrecarga das costas. No fim, ela me disse que eu deveria me reerguer, esquecer todos aqueles pensamentos ruins.

Recomendou que eu fizesse algo para me distrair, algo que me entretece. E eu passei a noite pensando naquilo, sem fome, eu apenas tomei um banho, coloquei uma roupa confortável e me escondi debaixo do lençol. Devia ser altas horas da madrugada quando me lembrei de um convite antigo de Gabriel para passar alguns dias na casa dele, até onde me recordava da ultima vez que havíamos conversado estava para pedir uma namorada em noivado. Estava feliz por ele, e só esperava não ser, pensei em ligar para ele de manhã - Olhei para o relógio em cima do criado e descobri que não demoraria muito para o 'amanhã' - e bufei em frustração forçando a mim mesma a descansar. Talvez, espairecer fizesse me bem afinal.


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