Elemento escrita por Grind


Capítulo 16
Capítulo 16 - Se recompondo




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Elemento / Capítulo 16 – Se recompondo

Eu abri os olhos com dificuldade, ainda estava sonolenta e a vontade que eu tinha era de dormir e não acordar mais, no entanto, uma forte luz batia no meu rosto me deixando incomoda.

Avistei Marco de cara emburrada e braços cruzados olhando pela janela, e hesitei em falar alguma coisa.

– Oi?

Ele olhou para mim de esgoela, nervos a flor da pele, bufou antes de virar o corpo e caminhar até o pé da cama.

– Eu só vou te fazer uma pergunta, e se você começar a se explicar eu vou perder o que ainda me resta de paciência, vou sair por aquela porta e não voltar tão cedo.

Balancei a cabeça em positivo.

– O que raios você tinha na cabeça pra resolver ficar histérica em um hospital?

– Não sei – Respondi baixo – Eu só queria saber o que estava acontecendo.

Ele passou ambas as mãos no rosto e começou a andar de um lado para o outro nervoso.

– Primeiro eles te aplicaram um sedativo por estar muito agitada, mas mesmo dormindo você não sossegava, ficava murmurando coisas sobre isso e aquilo então partiram para a segunda dose, o que significa que você está apagada desde o final da tarde de ontem.

– E Elemento? – Eu tentei sentar, sem sucesso. Meu corpo ainda parecia mole.

Marco me ignorou.

– Angela ligou no meu celular, através do seu quando chegou e teve noticias suas. Então eu entrei o mais rápido que pude e ela me contou sobre o que havia acontecido e lógico, eu fiquei possesso não que você se importe não é mesmo? Nem se deu ao trabalho de explicar direito – Ele deu ênfase na palavra ‘direito’ – O que estávamos fazendo aqui.

– Você não respondeu a minha pergunta.

Seus olhos fuzilaram o meu rosto.

– Acho que você não se encontra no direito de exigir muita coisa aqui.

– Eu quero saber o que aconteceu – Resmunguei entre dentes.

– Alias, aproveitei a deixa e os médicos fizeram exames em você. Sua saúde está ótima Gabrielle – Sorriu de forma cínica – Quanto ao seu namorado ele teve uma parada cardíaca.

Meus olhos se arregalaram, mas Marco gesticulou para que eu me acalmasse.

– Ele está bem, Angela me disse que foi a segunda desde que ele chegou, mas não é pra acontecer de novo.

Fechei os olhos respirando fundo.

– Sabe o que aconteceu?

– Ataque cardíaco, ou parada cardíaca seria uma falha em uma das veias, boa parte dos casos é por excesso de colesterol, isso é gordura no sangue. Dependendo da idade da pessoa pode ser por altas emoções, ela tem um acesso de ansiedade vai perdendo o ar, chega ao desespero e de repente o coração para. Deve ter sido a segunda opção, a julgar pelo modo como eu te conheço, tenho certeza que você deve ter gritado e armado um barraco, principalmente pelo fato de ele não estar em condições para responder.

Revirei os olhos.

– E ela não gosta de mim – Resmungou se sentando – Angela deve achar que eu sou algum tipo de intrometido querendo atrapalhar o romance de vocês. Não que ela tenha dito em voz alta, mas deu pra receber o recado só pelo modo que ela olhava pra mim.

Aquilo me fez rir, e a porta do quarto se abriu.

– Olha só quem acordou! – Juan passou por ela sorridente seguido por Angela que sorriu de orelha a orelha a me ver.

– Você nos deu um grande susto ontem Gabi, está se sentindo melhor, mais calma?

Senti minhas bochechas arderem.

– Estou, estou sim.

– Ótimo, o médico disse que logo que acordasse se estivesse mais calma ele te liberaria.

Marco sorriu

– E o D? Ele acordou?

Angela franziu o cenho, estranhando o apelido que era comum apenas para mim, Marco e Elemento, mas não comentou nada referente.

– Ele não acordou ainda, mas o olho anda melhorando e o rosto parece estar com mais cor, não é mesmo Juan?

– É sim – Ele cruzou os braços

– Acho que a sua visita fez bem pra ele.

Eu corei violentamente e Marco percebeu.

– É talvez sim.

– Ou talvez ele tenha gostado de te ouvir gritar – Marco murmurou ao meu lado para que apenas eu escutasse.

– Você está com fome? É claro que sim, que pergunta! – Angela bateu na própria testa – Juan, Marco vão procurar uma enfermeira pra trazer algo para a Gabi.

Marco olhou para mim e suspirou se colocando de pé

– Sim senhora – Resmungou e os dois saíram, Angela correu pra sentar ao meu lado.

– Meu ursinho murmurou seu nome uma ou duas vezes noite passada.

Eu virei o rosto de súbito em sua direção e ela segurou o riso.

– Não contei pro Juan porque ele vive dizendo que eu crio expectativa demais, mas eu sou a mãe tenho esse direito não é? Enfim, eu andei pensando se ele sonha com você, ele sonha, e talvez de alguma forma o cérebro dele esteja trabalhando para voltar a normalidade.

Eu senti uma pontada de alivio dentro de mim.

–Isso é maravilhoso Angela

Ela voltou a sorrir de forma brilhante.

– Eu vou atrás dos meninos que provavelmente devem ter se perdido e se eu encontrar o doutor no caminho peço pra ele vir te ver.

– Está bem.

Angela saiu e eu me senti mais tranquila, voltei a me deitar sentindo meus músculos relaxarem fechei os olhos e uma brisa gelada entrou no quarto. Inspirei fundo, e eu me senti subitamente cansada, olhei para a janela. Eu podia ver vagamente o tempo e o lugar lá fora. O céu estava limpo, sem resquício de uma nuvem se quer, o sol brilhava intensamente, mas não fazia o mesmo calor de ontem. Não havia movimento na rua, as vezes um carro ou alguém passava de forma silenciosa, fui tirada dos meus devaneios quando me assustei quando a porta se abriu.

Barba rala, marcas de expressão, olhos fundos e castanhos, indiferentes, ele estava devidamente cansado, era mais alto que eu certamente, pude ver pelas costas largas. Entrou de forma silenciosa murmurando um bom dia, e se eu estivesse de pé e teria caído.

– Marcelo?

Ele franziu o cenho na minha direção, devidamente confuso.

– Desculpa, mas é... A gente se conhece?

Fechei os olhos descrente, amaldiçoando minha vida mentalmente, o que deu esse ano de errado para eu me encontrar com todo mundo com que eu estudei?

– Gabrielle?! – Ergui uma sobrancelha.

Ele levou um tempo para processar a ideia, e depois de longos cinco minutos seus olhos se arregalaram e eu me senti levemente desconfortável.

– Quanto tempo! Como você está?

– Bem... – Menti, ele percebeu isso.

Ele riu. Tinha uma jeito dócil e charmoso, um verdadeiro cavaleiro ao falar com mulheres. Talvez Marco devesse aprender algumas boas maneiras com o “Judas” que era seu apelido – dado por mim e por Marco para variar – quando estudávamos juntos.

– Então quer dizer que você precisou ser sedada duas vezes? – Ergueu uma sobrancelha com a expressão divertida, como se a história toda fosse realmente engraçada. Eu devo ter voltado a ficar vermelha, o que vinha se tornando um habito desagradável do meu ponto de vista.

– É que Elemento teve uma parada cardíaca no quarto o lado.

Ele franziu o cenho, agindo da mesma forma que Angela, estranhando o apelido incomum, no momento que sua boca abriu para perguntar de quem raios eu falava fomos interrompidos pela entrada bruta de Stela no quarto.

Usava um jeans surrado, uma camisa vermelha com alguns detalhes de renda na gola. O cabelo estava preso em um coque alto, o braço esquerdo ocupado com uma pasta.

– Finalmente! – Exaltou-se entrando no quarto sem cerimônias – Eu me perdi nesses corredores brancos estava me sentindo em um hospício!

Ela jogou a pasta no pé da minha cama e se jogou na poltrona ao meu lado suspirando.

– Meus pés estão até doendo.

Marcelo não sorria, mas seus olhos brilhavam de forma curiosa, ele pigarreou, roubando a atenção de Stella, que por acaso se levantou em um salto passando a mão no cabelo de forma rápida e em seguida na roupa, quase como se procurasse por algo

– Ah meu desculpe, eu não havia visto o senhor doutor.

– Marcelo – Respondi, eu estava achando tudo aquilo cômico.

– Opa, sim? – Ele estava totalmente distraído, deu um pulo quando o chamei.

– Ah não, ela só estava me dizendo o seu nome. – Stella sorriu brilhante. Houve uma troca de olhares suspeita, e como se voltasse à realidade, Marcelo pegou uma papelada – até então despercebida no criado mudo ao meu lado – e pediu licença para sair.

Stella voltou a se sentar.

– Você está paquerando o meu médico?

Stella olhou para mim de forma assustada.

– Quem eu? Que isso Gabrielle, da onde você tirou essa ideia absurda?

– Pelo modo como os dois ficaram sem graça quando você chegou e como ele não tirou os olhos de você antes de fechar a porta, estou me perguntando quem é a paciente aqui.

– Enfim Gabrielle acho que você está delirando, eu fiquei desconfortável porque entrei se educação nenhuma achando que você estava sozinha, e eu ofendi o ambiente de trabalho dele.

– Não se envergonhe disso, foi até engraçado de se ver. –Sorri de canto e Stella também.

Nós conversamos amistosamente. Não eramos amigas, mas tive certeza que depois daquele momento certamente nos tornaríamos. Stella exalava uma auto confiança invejável, mas não de maneira que gosta de se vangloriar por cima dos outros, ela só era decidida e possuía uma facilidade incrível em se expressar.

Em minha sincera opinião, me surpreendia que ela não tivesse nenhum namorado, ela era linda e tinha esse ar de simpatia até com estranhos. Questões essas que eu deixaria pra ver nessa futura amizade.

Marcelo me liberou mais cedo, e Stella ficou para ver Elemento – ou o médico, pouco me importa. A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi tomar um banho e colocar uma roupa limpa. De certa forma eu estava exausta, e nem um pouco animada para ir na aula de noite, mas eu queria voltar ao hospital, ver como D estava, já que Marco me proibira quando fui liberada.

Coloquei uma calça jeans surrada com uma camisa estampada, preferi deixar o cabelo solto já que o tempo estava mais fresco. Em seguida fiz macarrão da forma mais rápida possível, só com o cheiro minha boca já enchia d’água.

Comi dois pratos em questão de minutos, e quando me senti satisfeita voltei a pegar minhas coisas para sair. Felizmente Marco não estaria lá para por caraminholas na minha cabeça. Antes, passei na floricultura para justificar a falta e felizmente, Maria, minha chefe, foi completamente compreensível.

Para compensar comprei flores, cínica o suficiente, margaridas. Eu podia me lembrar perfeitamente da expressão cínica de D ao deixar a flor em cima do balcão, com os olhos brilhando e um sorriso presunçoso.

Eu parei na calçada, de repente voltando a me sentir culpada, um aperto no coração e eu respirei fundo algumas vezes, procurando voltar a me estabelecer, evitar que as lagrimas caíssem.

A verdade era que, eu não me sentia bem sabendo que estava pra ir visita-lo no hospital.

Fechei os olhos jogando a cabeça para trás, uma brisa gelada bateu contra meu rosto e começou a chuviscar. Acelerei o passo, suspirando de alivio quando entrei no hospital e o ar condicionado estava desligado. Um clima agradável, a recepcionista acenou com a cabeça para mim com um sorriso singelo e acenei de volta sentindo o rubor em minhas bochechas e voltei a caminhar.

Uma enfermeira acompanhou-me, guiando-me pelos longos corredores a procura do quarto em que D estava hospedado. Parecia mais com um labirinto interminável, e mesmo com o auxilio de alguém, acabei me sentindo um pouco perdida internamente.

Demorou para encontrarmos a sala 223, ou era eu que estava muito apressada. Tive esperanças de abrir a porta e vê-lo em é, saudável em sua típica arrogância e superioridade.

Mas ele estava naquela cena melancólica, deitado coberto por faixas e ligado a aparelhos barulhentos.

–Vou dar um espaço a você – Comentou a enfermeira. Percebi empatia em sua fala, e cerrei os punhos com força. Eu não precisava da pena de ninguém.

–Tudo bem, obrigada – Minha voz saiu seca, dei um sorriso frouxo e forçado.

Ela saiu e fechou a porta. Novamente, o silêncio consumiu o local. Eu apenas o encarava sem dizer uma única palavra, e nesse momento percebi o quão fraca eu poderia ser.

–Eu não sei o que dizer – Minha voz falhou e senti minhas pernas bambearem. – Diga algo, por favor.

Nada.


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