Um Outro Lado da Meia-Noite escrita por Gato Cinza


Capítulo 2
Plano de vingança




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Meg saiu do quarto co os olhos desfocados, eu podia tê-la deixado enfeitiçada até que se casasse com Edwin, mas isso não seria justo nem com ela nem com ele que conheceria apenas uma marionete, além do fato que eu detesto usar magia para coisas fúteis, magia é coisa seria que só deve ser usado em casos de emergência – não que a rebeldia de minha irmã seja uma emergência. Liberei a mente dela e antes que me acusasse de qualquer coisa lhe disse:

– Vamos descer e vai agir como uma dama, ao menos será mais agradável que eu seria se fosse eu em seu lugar. Do contrario eu te manterei como minha marionete até que seus filhos tenham netos – eu não posso manipular com magia, mas posso ameaçar.

Ela me olhou tentando ver alguma mescla de insegurança, eu também duvidaria no lugar dela. para minha sorte e alivio Meg acreditou que eu realmente falava serio, como eu estava enganada, no fim daquela noite eu descobriria o que minha irmã havia decidido naquele exato momento na porta de seu quarto ao me ouvir ameaça-la com um feitiço perpetuo. Mas não vamos nos adiantar aos fatos.

Descemos e encontramos Narciso no pé da escada, ele me lançou um olhar assassino como se eu tivesse trancado Meg no quarto ou coisa do tipo – detalhe na vida de uma bruxa neste século, todos te culpam de alguma coisa mesmo sabendo sobre sua inocência. Eu dei meu melhor sorriso “Prove que fui eu” e empurrei Meg para o nosso jardim onde seu noivo a esperava.

Meg foi estranhamente simpática com Edwin e seu escudeiro Christopher que cheguei a pensar que não tinha desfeito o feitiço lançado horas antes sobre ela, Edwin parecia realmente encantado com minha irmã que parecia que a sequestraria para si, o jantar ocorreu tudo bem, conversas monótonas sobre trabalho e família e o mais importante; o pedido da mão de minha irmãzinha em casamento.

Depois que Edwin foi embora começamos a arrumar a pequena desordem que ficou na cozinha conversando sobre como incrivelmente Meg não enfiou uma faca nos olhos do seu noivo, David e Margarida levaram seus filhos para cima para dormirem, teriam que passar a noite em nossa apertada casa, Verbena e eu continuamos nossa conversa sobre como seria as coisas agora, basicamente estávamos planejando arrumar uma noiva para Narciso, um homem de 27 anos bonito, charmoso, honesto, trabalhador e inteligente não pode passar a vida á cuidar da terra sem ter ao seu lado uma mulher que o ame – na minha sincera opinião uma mulher é muito mais estável emocionalmente para viver sozinha que um homem, eles sempre fazem coisas erradas e vem com aquele papo furado de que foi por amor.

– Por que vocês insistem nesse assunto? – perguntou-nos Narciso que secava os talheres

Uma mania adorada minha e de Verbena falar das pessoas como se elas não estivessem presentes quando elas estivessem ao nosso lado.

– Ora irmão, você é um partido perfeito qualquer mulher com um pouco de juízo se casaria com você – disse Verbena piscando

– E qualquer mulher em juízo perfeito viveria longe da sociedade preconceituosa em que somos obrigas a nos casar e ter filhos sem termos a chance de escolher o que realmente queremos – eu já disse que não consigo ficar quieta?

Narciso me jogou o pano de pratos úmido no rosto irritado pela minha falta de tato com as palavras, que culpa tenho eu de ser sincera? Mas antes que eu revidasse um frio anormal correu minha espinha e senti os pelos do meu corpo se eriçarem, vi a mesma expressão de incredulidade no rosto rosado de Verbena. Trocamos um olhar de pânico total e saímos correndo da cozinha. Eu não acreditava no que estava acontecendo.

– O que foi? – perguntou Narciso nos seguindo

– Alguém ativou nosso cajado – respondeu Verbena sabendo bem que era por isso que eu corria – Seja lá o que for é magia poderosa.

Cada feiticeiro ou mago – ou o nome que quiser dar para uma bruxa – possui um canalizador de energia, uma pedra incrustada em uma joia, um símbolo preso a um cordão, uma varinha, um amuleto, minha família sempre usou um cajado. Meu cajado é feito de carvalho tem minha altura – 1, 68 se quiser saber – e possui uma pedra da lua no alto é bem simples e útil. O de Verbena é uma herança de família passado de geração em geração á mais séculos que eu possa me lembrar é igual ao meu só que ela herdou de nossa avó – Odete, mãe de meu pai – seu cajado tem um rubi.

Encontramos o alçapão que levava para nosso porão secreto e descemos desesperadas. Meu coração parou de bater por um segundo quando vi Magnolia desacordada no centro de um pentagrama desenhado com sal e açúcar, em cada ponta havia uma vela de uma cor acesa, o cajado meu e de Verbena estavam cada um de um lado reluzindo fantasmagoricamente ás luzes de vela. O grimório de Odete estava aberto no pé do pentagrama o que significa que Meg estava em pé quando leu o feitiço e caiu após encerrar a leitura.

Narciso correu para despertá-la, eu fiquei meio sem reação tinha coisas demais passando em minha cabeça e não estava me sentindo bem, parecia que o mundo estava fugindo de meus pés, a ultima coisa que vi foi Verbena folheando o grimório buscando pelo feitiço que Meg estava realizando antes de apagar, depois eu perdi os sentidos.

Acordei sentindo o desagradável cheiro de éter, abri os olhos afastando Narciso que segurava aquela coisa de cheiro forte. Sentia minha cabeça pesada e um vazio estranho no estomago – era fome – olhei em volta, ainda estava no nosso porão improvisado onde enterramos por duas gerações os segredos de nossa família – as pessoas ainda se divertem queimando as bruxas. Verbena lia o grimório ainda me lançando um olhar assustado e Narciso parecia que estava tentando controlar um acesso de choro e risos, e Meg estava em um canto encolhida me olhando como se temesse por sua vida.

– Desculpe Mort – pediu começando a chorar e soluçar – Eu... não era assim... eu...

– Que inferno é este? – falei sem desejar ter falado, as palavras saíram de minha boca como se fossem socos minha voz estava melodiosa e suave.

– Morticia – chamou-me Verbena, eu virei sentindo lagrimas me subirem aos olhos.

Verbena segurava um espelho, eu não olhava para meu comum rosto magro e inexpressível de cabelos negros cacheados e olhos cor castanhos escuros. A imagem refletida no espelho era o de um gato cinzento como fumaça. Perdi as palavras e fiquei abrindo e fechando a boca como se fosse um peixe fora da água. Não precisava de explicação, fosse lá o feitiço que Meg usou ela me transformou em um gato. Um gato.

– Meg usou um feitiço de transmutação, mas não deu certo e você virou isso, não há nenhum modo de reverter o processo...

– Impossível, Meg não é bruxa ela abriu mão da magia para ter uma vida normal, juramento de sangue nunca usar magia.

– Ela quebrou o juramento o que torna o feitiço uma maldição. Por isso eu disse que não se pode reverter.

Eu ri, melhor ronronei um som seco e vazio que parecia de aço sendo lixado. Aquilo estava longe de piorar, mas naquele momento a única coisa que eu queria e que eu fiz foi me virar e grudar no pescoço de Magnolia, quase isso eu era um gato e minhas patas serviram apenas para fazer uns belos ferimentos no rosto dela. Narciso me tirou de perto de Meg enquanto Verbena buscava um meio de desfazer a maldição. Poupando a parte de choros e soluços que estavam me fazendo querer matar Magnolia, ela conseguiu explicar o que planejava.

Usando minha escova de cabelos – que como descobri mais tarde, naquele dia Daisy usara para escovar os pelos de um gato que ela encontrara no jardim – Meg mudaria nossos corpos, eu seria ela e ela seria eu. Ela ia viver livre enquanto eu presa em seu corpo me casaria com Edwin.

– Por quê? – gritei quase miando

– Por que você é má – disse ela choramingando – Disse que me tornaria sua marionete, eu resolvi fazer o mesmo com você. Para todos os efeitos Magnolia se casaria com Edwin, mas ninguém saberia por que quando e estivesse em seu corpo teria sua magia e poderia fazer o que eu quisesse.

Cravei as unhas no braço de Narciso que ainda me segurava, ele gritou me soltando e eu aproveitei para atacar Magnolia que gritou tentando se livrar de mim. Mas uma vez Narciso me segurou.

_ Pare com isso Morticia – disse ele entre os dentes – Verbena mais rápida ai, por favor.

Eu estava furiosa, minhas garras afundaram cada vez mais no antebraço de Narciso que estava mais impaciente que eu. Verbena lia o grimório de Odete, o meu e o dela própria. Cada uma de nós tínhamos nosso livro de feitiços o de vovó era o mais antigo com feitiços muitos mais complexos e poderosos. O de Verbena era quase um livro de poções de todo tipo e o meu eu escrevi em uma época em que estava quase obcecada por alquimia e na possibilidade de transformar metal em ouro, alias meu grimório eu chamava de o Alquimista.

– Achei – disse Verbena animada – Posso amaldiçoar você

– Já estou amaldiçoada se não percebeu – disse irritada

– Sim Mort, mas posso fazer um desejo mais forte que a maldição que Meg criou a amaldiçoando de um modo bem menos doloroso, seria uma benção. É único antifeitiço existente para uma maldição.

– Mas, não pode quebrar uma maldição – Meg falou

Preciso dizer que desejei poder arrancar os dentes brancos dela?

– É claro que posso, sou uma Belaya e posso quebrar a magia mais poderosa que você imaginar – o tom de Verbena foi exageradamente confiante.

– Faça – pedi sem mesmo saber o que ela ia fazer.

– Tem certeza Mort? Se algo der errado eu não sei se seria capaz...

– Verbena eu sou um gato o pior que pode acontecer é meus pelos caírem.

– Como quiser – ela se segurou colocando no centro do pentagrama que Meg já havia desenhado – Preciso de uma coisas, Narciso pegue uma pedra lá fora e Meg me arrume um copo com água.

Fiquei sentada sobre minhas pernas enquanto observava Verbena apagando algumas velas e acedendo um incenso. Nas pontas do pentagrama ficaram uma pedra, um copo cheio de água, uma vela acesa, um incenso e o meu cajado. Representando os elementos e eu. Verbena meneou a cabeça me olhando cheia de duvidas. Suspirou e recitou o feitiço.

– Na noite foi amaldiçoada e na noite será abençoada. Enquanto uma caminhar a outra repousara, sempre unidas e eternamente separadas, eu o disse e assim será.

Não senti nada, nem formigamento, nem sono, nem arrepio ou calafrio. Ia rir do encanto de Verbena quando as velas todas se apagaram e um aperto tomou conta do meu coração, eu ouvia apenas silêncio e logo abri meus olhos mais uma vez ao sentir o cheiro amargo do éter. Daquela vez as coisas pareciam maiores e mais normais, quase me deixei ficar feliz quando então notei no espelho meu reflexo, eu era humana

Antes que eu comemorasse Verbena me explicou os contras do sua benção.

– Bom, agora você vivera entre dois corpos Mort. Durante as duas da madrugada e duas da trade será humana, nas doze horas seguintes será uma gata.

Me desanimei de volta, Verbena tinha apenas trocado minhas maldiçoes. Eu ainda seria um animal domestico pelo resto da vida por que Meg havia me amaldiçoado, falando naquele projeto de bruxa.

– Por que eu me transformei em gato? Não devia ser a Meg? Afinal foi ela quem fez o feitiço e era para ela mudar de corpo.

Verbena deu de ombros.

– Posso tentar descobrir o que deu errado, mas não fará muita diferença. É praticamente reverter uma maldição e você será metade humana metade gato para sempre.

– Onde está o projeto de doutora Jekyll? – perguntei

– A mandei ir dormir – disse Narciso que parecia em duvida se ria ou se brigava comigo – Acho melhor irmos fazer o mesmo, teremos muito que fazer amanha e tenho que tomar uma decisão a respeito do que ela fez esta noite.

Meia hora depois deitada em minha cama pensei como seria o dia seguinte, desejava que o encanto de Verbena tivesse quebrado a maldição de Magnolia. Não era justo que eu fosse amaldiçoada, Magnolia havia mexido com alta magia, quebrado um juramento, brincado com meu cajado e me transformado em um animal domestico. Eu ia me vingar daquela maldição – uma coisa que talvez você precise saber sobre mim, eu sou vingativa.

Acordei com Verbena me chamando, ainda não era mais que seis da manhã. O cheiro de pão assando enchia a cozinha, Margarida, os filhos e o marido já estavam de saída para a cidade. Magnolia estava trancada no quarto ainda.

– Que vai fazer com ela? – perguntei á Narciso.

– Agora estou preocupado com o que farei com você Mort – disse ele olhando para Margarida que arrumava sua bagagem na carruagem de Verbena – Concordei com a Verby que não devemos dizer nada e manter tudo escondido até que seja tarde ou impossível esconder o seu segredo. Nem mesmo a Margo deve saber o que aconteceu, sabe como ela fica quando se trata de magia.

Margarida era de nós quatro irmãs Belaya a única que não nascera bruxa, quando Meg renunciou á magia ela ficou contente – eufórica – e tentou me convencer a abrir mão dos meus dons também. Dizer para ela o que Meg tinha feito seria quase como dar á ela uma tocha e mandar nos caçar e queimar. Era melhor ficarmos quietos.

– Certo, mas o que vai acontecer comigo? Semana que vem eu tenho que voltar para o convento. Como vou explicar as freiras o fato de eu passar doze horas desaparecida?

– Você não vai voltar ao convento até que isso seja anulado, desfeito ou sei lá o que a Verby vai fazer para te trazer ao normal.

Após me despedir de minas irmãs e Narciso ir para o campo onde trabalhava, eu resolvi ir ter uma conversinha particular com minha irmã. Minha vingança estava começando.


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