— Pov. Magali

Seco minhas lágrimas de tristeza e desespero, e volto a me olhar no espelhinho do pó compacto. Eu sou bonita, sei disso, mas sou bonita o suficiente para ele? Acho que não… Ou sim… Vá saber!

Já não sei mais se eu saio de cabeça erguida e encaro a realidade, ou se pulo a janela e saio correndo para bem longe! Não sei o que se passa direito na minha cabeça, mas que tem a ver com ele, eu sei que tem.

Acabo optando por sair de cabeça erguida, pois de uma forma ou de outra, vou ter que enfrentar isso, que seja mais rápido então. Olho no relógio do aromatizador do banheiro, e percebo que faltam 20 minutos para que se acabe o intervalo e comece a outra aula, então resolvi me arrumar um pouco, já que minha maquiagem teria borrado toda!

Passei uma sombra cinza bem clara e esfumei com preto, passei também um lápis preto e delineador. Retoquei o batom rosa choque e coloquei um rímel, como toque final. Fui direto para meu armário, para pegar minha mochila, que eu tinha tacado lá, com muita força a propósito.

Entrei na sala de inglês, encarei todos e vice-verso, me virei para sair da sala, mas o professor segurou meu braço e me virou. Acho que foi um “se sair da sala eu te mato!” Considerei um aviso, para nunca mais sair da aula de inglês. Pelo menos, não sem permissão.

– Vamos começar a aula! Eu sou o Cebola, o professor de inglês.

Ele é bem novo… E bonito… E gostoso! Pff! Magali, controle! Ele é seu professor.

– Alguma pergunta?

– Professor, quantos anos você tem?

Perguntou uma das menininhas metidas da primeira fileira.

– Vinte e dois.

– Você não é muito mais velho que agente.

Essas vacas da frente já estão interessadas no professor novo!

– Engraçado, eu acho que cinco anos muda muito uma pessoa.

Uh! Fatality!

– Eu tenho uma pergunta!

Hum… Marina! Essa vaca vai falar merda!

– Pergunte.

– Você acha que uma, nerd qualquer, teria chances com um dos garotos mais gatos da escola?

Essa indireta foi bem, BEM direta!

– O que você acha?

Não, não pergunta não!

– Eu acho impossível que um gatinho vá querer uma nerd qualquer!

– Eu acho que não é impossível, apenas pouco provável.

Hum… Isso é bom, ou ruim?

A aula continuou e o professor explicou algumas coisas, como qualquer professor faria, e depois liberou agente uns dez minutos antes da próxima aula. Acho que ele queria causar uma impressão muito boa mesmo!

Algumas horas antes

– Essa é a Magali? Hahaha! O Dc tá queimado até o fim da vida!

– Meu deus, Dc desceu o nível, ein!

– Como o menino mais gatinho da escola, pode estar com essa... Nerd?!

Deus, o que está acontecendo? O que tem eu? O que tem o Dc?

– Maga, Maga!

—Que foi Mô?

—Olha isso!

(Foto <-)

Ai meu deus! Como assim?!

– Mônica, o que é isso?

– Sei lá, cara! Sá porra apareceu na mesa central, na cantina!

– Mônica, por favor, diz que só você viu isso!

– Maga…. A sala toda viu.

– QUE?

– Que isso! Magali, ein! Dc ficou louco.

– Ai, Mô, que vergonha!

– Vergonha? O cara mais gato da escola te abraça e você fica com vergonha?

– Vergonha das pessoas comentando, apontando, sussurrando...

– Aff, Maga! Deixa de ser boba!

– Eu só não quero ninguém me zoando! Qual mal tem nisso?

– Não é que tenha algum mal, mas para um pouco de se importar com as pessoas!

– Não são só as pessoas, o Dc também! Nunca mais vão deixar ele em paz!

– Arg! Você é linda, deixa disso!

– É, eu sou linda, mas ele é mais!

– O que você disse do MEU namorado?

– Ca-Carmen?

– Carmen! O que cê tá fazendo aqui, ein broaca?

– Eu estou tentando descobrir o que está acontecendo, vaquinhas!

– Acontecendo? Não tá rolando nada...

– E mesmo que tivesse rolando alguma coisa, tenho cara de G1?

– Você quer mesmo saber de que você tem cara?

– Carmen! Carmen! Você tá sabendo do rolo?

– Que rolo, criatura?

– Olha isso aqui.

– O QUE É ISSO?

Ai meu santo deus do céu! Vai dar merda!

– Olha aqui sua broaca, você acha que pode inventar essa porra e virar algo mais que uma nerd? Pois está muito enganada!

– Calma, Carmen...

– Ainda me manda ter calma? Olha só sua...

– Carmen! Nada é motivo para falar assim com uma pessoa.

– Que? E quem é você para falar comigo? Seu projeto de lesma!

– Eu sou Mônica Souza, e você, barbie, quem é?

– Arg! Cadê o MEU namorado Marina?

– Vem comigo, eu acho que ele tá na sala de música.

God mine, why? Tudo sempre acontece comigo! Eu corri para o banheiro, já chorando um pouco.

Voltando à hoje

– Carmen! Carmen! Alguém viu a Carmen?

– A Carmen? Você não tá procurando a Magali? Hahaha!

– Vá à merda, imbecil!

– Maga, vai atrás dele!

– Ficou louca, Mô? Claro que não!

– Porque?

– Por que sim!

– Aff! Eu iria!

– Embora eu te adore, nós não temos nada à ver, Mô.

– Cê tá terminando comigo? Haha!

– No joke moment!

– I'm sorry, darlyn.

*Trim trim

– O sinal tocou, vamos?

– Ok…

– Ei! Você vem comigo!

– Que? Eu não pos…

– Ela vai sim! Eu te cubro na aula, agora vai!

– Mas…

Ele me puxou até um corredor deserto… O que diabos ele quer?

– Quem você acha que é para inventar essas mentiras?

– A… Q-que mentiras?

– Pff! Aquela folha. Nós nunca nos falamos na escola, ainda menos fora dela!

– Você acha que fui eu?

– E quem mais seria?

– Sei lá, que tal as trocentas pessoas que querem tomar seu lugar?

– Meu lugar?

– É, seu lugar de…

– De?

– Ah, esquece! Nem adianta tentar te convencer que não fui eu. Você não acreditaria mesmo.

– Seu teatrinho de vítima não vai funcionar comigo. Eu sei que foi você.

– Ah… Discutir pra que, né? Você achar ou não que fui eu, qual a diferença?

– Nossa! Você é tão falsa quanto sua irmã!

– Não se atreva a falar assim da minha irmã! Não se atreva sequer a falar o nome dela!

– E se eu me atrever, o que você vai fazer?

– Eu... Eu vou…

– Hã! Imaginei. A mesma indefesa sem reação de sempre.

Depois da discussão, eu fui correndo para o banheiro. Como pode o garoto que eu sou afim desde a terceira série me tratar assim? Ele sempre foi tão educado, tão fofo, gentil… O que aconteceu com ele? Ele pareceu tão… Insano.

Quando me dei conta, já estava chorando como uma idiota. Ah… Essa é a minha melhor reação? Sempre, para tudo? Eu não consigo reagir de modo diferente… Sempre a “indefesa” e nunca a corajosa!

Seco minhas lágrimas de tristeza e desespero, e volto a me olhar no espelhinho do pó compacto…