Do fim para o começo escrita por Letícia G


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Primeira parte, de três, que mostrarão um improvável relacionamento entre Aramis e Athos. Por favor, se você já assistiu à série, mande uma MP, estou louca para conversar e shippar freneticamente, mas não conheço ninguém que já a tenha visto.



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Nenhum som chegou aos ouvidos de Athos após a última explosão. Escondido detrás de algumas caixas e barris, ele esperou, cada célula de corpo contida de ansiedade, apenas aguardando o som que ele tanto desejava ouvir. Já era tempo de a voz de Aramis alcançá-lo, perguntando-o se ele estava bem. Sempre havia sido assim. Enfrentavam os inimigos, sobreviviam a tudo e a todos, e depois o mais jovem fazia algum gracejo com o ocorrido, quebrando a tensão e a adrenalina dos momentos de quase morte com sua fala leve. Mas, dessa vez, o som não veio, e foi o silêncio que reverberou nos ouvidos do líder.

Ele levantou a cabeça levemente, e pôde ter um vislumbre do túnel que se abria à sua frente, calmo e vazio, em contraste com momentos anteriores, quando fervia de ladrões e fugitivos. Viu apenas a silhueta de um corpo caído no chão, imóvel. Ergue-se sobre pernas fracas, com mais uma batalha se iniciando dentro de si, na interminável dualidade que sempre havia controlado sua vida. Sua mente levava-o para a situação atual e o que realmente acontecia. Era o corpo de Aramis, sem vida, estirado naquele beco lamacento. Seu coração, em contrapartida, dizia-lhe simplesmente que não, sem qualquer fundamento ou motivo além da pura vontade de querer negar que havia perdido, ou, melhor, deixado morrer, outra pessoa que amava. Ergueu-se do chão e guardou as pistolas no cinto no quadril. Caminhou com torpeza, os lábios quietamente pronunciando uma única palavra, um nome.

“Aramis?” Sua voz saiu fraca e falha quando, próximo ao corpo, viu seus temores confirmados.

Com o rosto barbado enterrado no chão imundo, estava Aramis. Percebendo-se sozinho no lugar, Athos deixou que o desespero o dominasse. Carregou o corpo do outro, consideravelmente mais pesado que o seu próprio, até um local iluminado. No primeiro toque de suas mãos contra os ombros de Aramis, sentiu um líquido quente a tocar-lhe. Seus anos de experiência como guerreiro lhe notificaram de imediato do que se tratava. Olhando-o sob a luz, Athos viu que o sangue jorrava do abdômen de Aramis, encharcando suas vestes e tornando escarlate a faixa azul que circundava sua cintura. Em seu descontrole, Athos não conseguia raciocinar, mover-se, gritar, reagir. Podia apenas sentir. Limitou-se a encarar o corpo inerte do amigo, irmão, amante. Quando havia se tornado tão incapaz de proteger aqueles a quem amava? Sua visão estava turva, mas seus ouvidos permaneciam atentos, ainda no aguardo ansioso da voz de Aramis a encher-lhes.

Minutos, ou talvez uma eternidade depois, Athos, ajoelhado ao lado de Aramis, com as mãos banhadas de sangue e os olhos fechados em derrota, escutou um suave e dolorido gemido. Em meio às lágrimas divididas entre o alívio e a desesperança, pôde ver o mais jovem abrir fracamente os olhos, com a visão perdida em algum ponto acima de sua cabeça. Uma pequena linha de sangue trilhava seu caminho pela lateral do rosto de Aramis, partindo de seus lábios abertos em um de seus costumeiros sorrisos.

“Aramis? Pode me ouvir?” Athos questionou.

“Athos?”, respondeu o outro com a voz excessivamente baixa.

“Estou aqui” disse o capitão, segurando o rosto do outro entre suas mãos.

“E eu, em breve, não estarei”, brincou Aramis, sorrindo precariamente.

“Não diga isso. Você ficará aqui. Comigo”, Athos chorou.

“Você sabe que nem sempre nossas palavras se tornam verdade.” Pela primeira vez Aramis encontrou os olhos de Athos sobre os seus.

“Por favor, eu lhe imploro. Um por todos e todos por um, lembra?” Athos segurava o rosto de Aramis cada vez mais próximo ao seu, e deu-lhe um cálido beijo na fronte.

Aramis apenas sorriu em resposta, e pegou com cuidado uma das mãos de Athos entre as suas. Afundou-se nos olhos azuis do outro, e também nas memórias que aquele olhar lhe trouxe. Sabia que estava partindo, e queria reviver, nem que nos poucos minutos que sentia lhe restarem, os momentos importantes de sua vida. Viu em cada marca no rosto de Athos as inúmeras batalhas que já enfrentaram juntos, e relembrou o sabor da vitória e do alívio de ter sobrevivido mais uma vez. Pensou nas incontáveis mulheres que haviam dormido com o rosto apoiado em seu peito, depois de uma noite romântica de paixão gentil e intensa. E lembrou-se também do constante vazio que sentia no coração todas as vezes que elas partiam. A doce despedida na manhã seguinte tornava-o consciente demais de que o que quer que tenha tido com a jovem durante a noite, não passava de um encanto momentâneo, entrega física, era apenas o ato carnal de fazer amor. Mas senti-lo, compreender aquele sentimento causador de guerra e paz, era algo estranho a Aramis. Até que Athos deixou de ser somente seu capitão.

“Aramis, fique comigo, só aguente mais um pouco. Já mandei que chamassem um médico agora, ele estará aqui em alguns minutos, você só tem que se acalmar e respirar.”

“Respirar realmente é importante”, brincou Aramis, sentindo uma fisgada funda no peito. Seu sorriso enfraqueceu um pouco, e Athos percebeu.

“Não fale nada, guarde suas forças”, ele embalou o corpo de Aramis como se o estivesse ninando.

“Athos -”

“Silêncio”, o capitão interrompeu.

“Athos, olhe para mim. Não me mande ficar calado, sabe que isso é impossível”. Cada palavra doía em Aramis, e expulsava mais sangue do ferimento em sua barriga, mas ele queria viver seus últimos momentos, e não esmorecer em solidão.

“Estou olhando”, respondeu Athos com o choro se intensificando, percebendo que Aramis estava tomando aquilo como sua despedida.

“Pronto... Agora se acalme. Sabe tão bem quanto eu que não há nada que possamos fazer. Na verdade nem sei como estou encontrando forças para falar”, riu Aramis. “Deixe-me apenas olhar para você”.

Por alguns momentos, foi tudo o que fizeram. Agora, mais calmo e relaxado, e com Athos seguramente a seu lado, Aramis deixou-se levar às favoritas de suas lembranças. Não ficou surpreso de todas elas envolverem Athos. Dentre os três mosqueteiros, ele era o mais novo, e talvez fosse por isso que tinha algum tipo de sensibilidade desconhecida aos outros. Aramis sabia dizer com precisão quando seu melhor amigo Porthos estava de mau humor, ressentido, ou desejoso de uma vida diferente. Muitas coisas em seu passado o torturavam e faziam parecer que havia coisas melhores perdidas em algum lugar atrás do presente. E, assim, Aramis sempre se punha de volta em sua vida para lembrá-lo de que a luta e a dor e os sacrifícios valiam a pena. Da mesma maneira, ou talvez mais intensa, ele sentia quando Athos estava mergulhando no escuro sem fim de suas memórias e arrependimentos, perdendo-se de si mesmo. Por vezes, deixava que encontrasse seu próprio caminho de volta; em outros momentos, porém, quando até aquilo parecia uma tarefa por demais exaustiva para Athos, ele o socorria, lembrando-o de seu valor, de sua honra e mostrando-lhe sua lealdade. Ensinava-o a caminhar novamente, resgatava-o passo a passo de seus pensamentos autodepreciativos. Foi assim, em meio a seus resgates, que o caminho de volta de Athos tornou-se, também, o caminho para os braços de Aramis.


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Notas finais do capítulo

Reviews, mps, facebook? Fico mais do que feliz de receber qualquer retorno, mesmo que seja um ruim, só quero saber como estou depois de um longo tempo sem escrever.
Beijos e obrigada pela leitura :)



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