Uma Nova Vida - Peeta e Katniss escrita por MaryG


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Vim postar mais um capítulo para vocês. Eu gostaria de ter postado na semana passada, mas tive um pequeno bloqueio na escrita. O próximo post, porém, provavelmente virá mais rápido, pois eu já tenho as ideias na cabeça.

Só tenho a agradecer pelos comentários que recebi do último post pra cá. Foram nada mais nada menos que 35 comentários! Desde "Amor Real" que eu não recebo tantos comentários assim de uma vez. Obrigada, pessoal! :D

Boa leitura!



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10 anos...

– Katniss, onde você está? – ouço Peeta me chamar. Certamente ele está andando pela casa, à minha procura.

– No escritório! – grito.

Ouço seus passos se aproximando do escritório e logo sinto sua presença. Levanto meu olhar para ver os olhos azuis dele me fitando.

– Ah, aí está você – diz ele, sorrindo. – O que você está fazendo?

Ele se aproxima da mesa e logo percebe que estou folheando o livro de memórias.

– A história do memorial ainda está na sua cabeça, não é? – pergunta Peeta, e eu assinto com a cabeça.

Sim, definitivamente isso está na minha cabeça. Ontem à noite vi na TV o anúncio de que o memorial dos Jogos Vorazes finalmente ficou pronto e será inaugurado na próxima semana, e isso mexeu muito comigo. Tive pesadelos horrorosos envolvendo as cenas terríveis que presenciei nas duas vezes em que passei pelos Jogos na última noite e acordei Peeta mais de uma vez, suando e berrando. Acordei me sentindo péssima, com a sensação de que tudo de bom que tenho hoje pode me ser tirado a qualquer momento. Comecei novamente aquele jogo entediante de reunir mentalmente todas as boas ações que vi as pessoas realizarem até hoje, para forçar em minha mente traumatizada a ideia de que as coisas agora são diferentes.

Peeta perguntou se eu queria que ele faltasse ao trabalho para ficar comigo, mas eu quis que ele fosse. Eu sei o quanto trabalhar é importante para ele manter sua mente sã. Além disso, eu queria ficar um pouco sozinha. Pensei em ir caçar, mas a única coisa que consegui fazer durante toda a manhã foi ficar olhando o livro de memórias, sofrendo por aqueles que tiveram suas vidas tiradas pelos Jogos.

– Katniss, não fique assim – diz Peeta, tirando-me dos meus pensamentos. – Esqueça isso. Se um dia a gente se sentir bem para ir conhecer esse memorial, a gente vai. Ninguém vai nos forçar a nada.

É nessas horas que percebo que Peeta me conhece melhor do que eu mesma. Eu nem tinha me dado conta de que minha tristeza não era só pelos traumas e pela saudade dos que se foram, mas também pelo receio de conhecer esse memorial e reviver todos os momentos terríveis que passei naquelas duas arenas.

Peeta pega uma cadeira e se senta à minha frente na mesa. Ele pega minha mão direita e coloca entre as suas.

– Nós já sofremos muito, meu amor, mas hoje nosso mundo é outro. Ninguém vai nos fazer nenhum mal. Ninguém vai nos obrigar a ir visitar esse memorial.

– Eu sei... – digo, olhando para o livro.

Peeta solta minha mão e levanta meu queixo, forçando-me a olhar para ele.

– Sempre que tenho um flashback e fico mal em seguida, você me diz que temos um ao outro e que vai ficar tudo bem. Quero que você tenha isso em mente sempre que ficar triste com alguma coisa.

Dou um sorriso.

– Tudo bem. Você tem razão.

Ele sorri para mim.

– Bom, agora que tal a gente ir almoçar? Eu imaginei que você estivesse chateada demais para cozinhar, então passei naquele restaurante que fica perto da padaria e comprei cozido de carneiro com arroz selvagem.

– Oba! – exclamo, já me sentindo um pouco melhor.

– Então vamos – diz ele, levantando-se da cadeira e me puxando pelo braço.

***

Os dias vão passando rapidamente. A inauguração do memorial é transmitida pela televisão. Sei que vai ser coisa rápida, mas mesmo assim eu opto por não assistir. Peeta decide me acompanhar, e nós então passamos nosso tempo livre no estúdio de pintura dele. Depois que Peeta veio morar comigo, dez anos atrás, ele transformou um quarto vazio que fica no andar de baixo num pequeno ateliê onde ele faz suas pinturas e seus desenhos.

– Levante mais sua cabeça... – pede ele, e eu obedeço. – Isso! Tá ótimo!

Eu me encontro sentada em frente a Peeta, fazendo pose para que ele me desenhe. Ele simplesmente adora fazer pinturas e desenhos de mim. Eu não me acho atraente o bastante para isso, mas se ele acha, não há problema. Sei o quanto pintar e desenhar faz bem a ele, então tento ignorar o tédio que sinto nas raras vezes em que ele me pede para fazer pose para ele.

– Pronto, o que tenho aqui já dá – diz ele. – Pode se mexer.

Eu me levanto da cadeira e estico meus braços e minhas pernas.

– Sei que isso é chato pra você – diz ele, rindo, enquanto guarda os lápis especiais de desenho na caixa. – Mas relaxe. Não vou pedir para você fazer pose novamente nem tão cedo. Eu consigo te desenhar sem olhar pra você. A diferença é que olhando fica mais realístico.

– Tá tudo bem – digo, rindo. – Ser desenhada é bem melhor que ouvir falar daquele memorial...

– Esqueça isso, ok? – Peeta pede gentilmente enquanto se levanta da cadeira.

– Vou tentar – digo. – Peeta, que cheiro é esse?

– Meu Deus! Os biscoitos! – exclama ele. – Eu vou à cozinha. Daqui a pouco eu volto.

Ele diz isso e sai em disparada do ateliê. Eu já tinha esquecido que ele estava preparando biscoitos de chocolate para mim. Ele sabe que não ando muito bem emocionalmente e quis fazer um agrado, presumo.

Olho para a escrivaninha onde Peeta faz seus desenhos e vejo o esboço do desenho que ele estava fazendo agora há pouco. Do lado oposto, vejo uma pequena pilha de papéis com um pesinho em cima. “Devem ser os desenhos que ele andou fazendo”, penso. Sei que se ele quisesse que eu visse esses desenhos, ele já teria me mostrado, mas a minha curiosidade fala mais alto. Tiro o pesinho de cima e pego os papéis. O primeiro desenho é de uma mulher segurando um bebê recém-nascido nos braços. O desenho não tem cor, mas sei que o rosto dela me é familiar. É aí eu percebo que não é qualquer mulher, mas eu mesma! Uma sensação desagradável se forma em meu estômago e eu decido passar para o desenho seguinte.

O que vejo é parecido: Um homem, que com certeza é Peeta, segurando um bebê e eu junto, sorrindo. O terceiro desenho é pior ainda: Eu com uma barriga enorme e Peeta ajoelhado à minha frente, com a cabeça e as mãos encostadas nela. Passo para o quarto, com a esperança tola de que seja algo diferente, e ele é nada mais nada menos que Peeta, eu e uma menininha que deve ter uns três ou quatro anos.

Angústia. Esse é o nome que melhor define o que estou sentindo agora. Desistindo de ver os desenhos que restaram, coloco os papéis no devido lugar e desabo sobre a cadeira. Peeta continua fascinado com a ideia de paternidade, e também continua com a esperança de que eu vou mudar de ideia, de que eu um dia vou dar a ele o filho que ele tanto deseja. Mas eu sei que eu jamais terei condições de dar isso a ele.

A angústia de antes se extravasa em lágrimas quentes que me descem pelos olhos. Eu sei que o desejo de Peeta é profundo e significativo, mas eu não posso arriscar colocar uma criança no mundo. E se um novo golpe ditatorial for dado em Panem e meu filho for obrigado a conhecer as agruras da fome e da miséria? E se os Jogos Vorazes voltarem e eu for obrigada a ver seu nome ser sorteado na colheita? E se eu falhar com ele, como eu falhei com Prim e como minha mãe falhou comigo? E se ele sofrer por ter pai e mãe com feridas mentais que nunca cicatrizarão? Não posso, simplesmente não posso!

Mas nada disso faz sentido para Peeta. Ele acredita que as coisas mudaram, que o nosso mundo hoje é um lugar digno para uma criança crescer. Ele também acha que nossa situação não seria prejudicial para nosso filho, presumo.

Ele não tocou nenhuma vez nesse assunto de filhos desde a nossa conversa em que eu disse que ia ficar aberta à ideia, cinco anos atrás. Isso me fez ter esperança de que ele houvesse simplesmente esquecido o assunto, e ver esses desenhos foi como uma tapa na cara, como um lembrete de que eu nunca vou poder fazê-lo feliz por completo.

– Meu amor, o que houve? – pergunta Peeta, tirando-me dos meus pensamentos. Eu nem mesmo percebi quando ele entrou.

– Não é nada... – digo, fugindo do assunto. Não posso dizer a ele o real motivo de eu estar assim.

– É o memorial, não é? – pergunta ele. Ele se aproxima de mim e enxuga minhas lágrimas com seu polegar direito.

Assinto com a cabeça, mentindo. É melhor mesmo que ele pense que é isso.

Ele me puxa para cima e me abraça.

– Eu estou com você, e sempre vou ficar.

– Eu sei – digo, enquanto minhas lágrimas molham seu ombro.

Ele rompe nosso abraço e segura minha cabeça com as duas mãos.

– Agora quero que você ponha um sorriso nesse rosto e venha comigo até a cozinha para comer aqueles biscoitos que você adora.

Forço um sorriso, pois a última coisa que quero no momento é chatear Peeta com a minha tristeza.

Depois de comermos os biscoitos, nós nos arrumamos para dormir e nos deitamos em nossa cama. Eu tento disfarçar ao máximo o quanto estou triste, mas sei que não estou conseguindo. Coloco minha cabeça em seu peito e adormeço rapidamente.

Estou andando numa rua larga. Não sei onde estou, até perceber que é a rua da mansão presidencial na Capital. Tento achar alguém, mas pareço estar sozinha. Depois de um tempo andando, chego à frente da mansão presidencial. Uma voz doce me chama.

– Katniss.

Me viro e vejo os doces olhos azuis de Prim me fitando.

– Prim! – grito, e me jogo em cima dela, abraçando-a forte. – Que saudade de você, minha patinha!

Antes que ela possa dizer alguma coisa, um barulho de explosão anuncia que bombas foram jogadas em cima de nós e nós nos separamos sobressaltadas. Logo vejo o fogo lambendo o corpo de Prim, derretendo sua carne.

– PRIM! PRIM! – grito, tirando meu casaco e batendo nela, tentando apagar o fogo. É nesse momento que começo a sentir meu próprio corpo sendo queimado.

– KATNISS! – grita Prim, desesperada.

Uma gargalhada estranha preenche o ambiente.

– É ISSO QUE VOCÊ É, KATNISS! INCAPAZ DE PROTEGER QUEM QUER QUE SEJA! VOCÊ FALHOU COM PRIM E VAI FALHAR DE NOVO COM O SEU FILHO, SE VOCÊ O TIVER!

Tento ignorar a dor em meu corpo e o desespero da minha irmã para ver quem é que está gritando para se fazer ouvido diante do barulho da explosão e das chamas, e então eu vejo a figura de Alma Coin do lado oposto de onde estou, sorrindo diabolicamente.

Katniss, é só um sonho. Acorde.

De onde veio essa voz?

Katniss! Acorde!

É então que eu percebo que estou no meu quarto na Aldeia dos Vitoriosos, com Peeta ao meu lado. Um suor febril escorre pela minha testa e minha garganta arde, como se eu tivesse gritado demasiadamente. Sento na cama, sentindo meu coração retumbando no meu peito. Antes que eu diga qualquer coisa, Peeta me abraça.

– Está tudo bem, meu amor. Eu estou aqui.

É aí que o terror do sonho se transforma em lágrimas. Quando dou por mim, já estou soluçando. Peeta alisa as minhas costas e diz palavras tranquilizadoras no meu ouvido, tentando me acalmar. Quando eu finalmente me acalmo e rompo nosso abraço, ele diz:

– Você gritou muito o nome da sua irmã. Você quer falar sobre isso?

Com a luz do luar que entra pela janela, vejo que Peeta está com uma expressão preocupada no rosto. Eu já tive pesadelos envolvendo Prim, mas nada tão horrível quanto o de hoje.

– Eu sonhei com a morte dela – digo, omitindo a parte em que Coin falou sobre filhos.

– Eu entendo... – diz ele, acariciando o meu rosto. – Mas agora ela está bem, Katniss. Está num lugar bom onde nada de mau poderá atingi-la.

– Eu sei...

Ele se afasta de mim e senta na ponta da cama, pegando na mesinha de cabeceira a jarra com água e despejando no copo. Em seguida ele se volta para mim, me entregando o copo.

– Beba um pouco – diz ele, e eu lhe obedeço. – Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu prometo. Eu vou te abraçar bem forte e nenhum pesadelo vai se atrever a chegar perto de você pelo resto da noite.

Termino de beber a água e lhe entrego o copo.

– Obrigada, Peeta. Obrigada por tudo.

Ele sorri para mim e se afasta para colocar o copo no lugar. Quando se volta para mim novamente, ele diz.

– Não há o que agradecer. Tudo o que faço é por amor.

Eu me aproximo dele e lhe dou um beijinho nos lábios.

– Eu te amo – digo. É a única coisa que me parece expressar toda a gratidão que sinto por ele.

– Eu também – diz ele, e também me dá um beijinho. – Agora temos que dormir, pois amanhã é dia de trabalho. Venha, vou te abraçar bem forte.

Ele se deita e me puxa para os seus braços, me abraçando bem forte. Para meu alívio, nenhum pesadelo me atormenta pelo resto da noite.


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Notas finais do capítulo

É isso, pessoal. Não se esqueçam de dizer nos comentários o que estão achando. Não dá pra responder todo mundo, mas eu leio e considero cada comentário. Quem achar que a história está muito boa, por favor, recomende. Ficarei muito grata. :D

Beijos e até a próxima.