Não pude negar que, após a reconciliação e partida de Melissa, me senti mais aliviada. Quer dizer, não quero nem imaginar o que ela faria se descobrisse o que realmente lhe aconteceu com a mãe, mas por ora, estava satisfeita.

Louise não acreditava na mudança repentina de Melissa, mas concordava que seria melhor tê-la do nosso lado, ao invés de contra. O médico vivia me fazendo consultas, alegando que tontura e dores de cabeça seriam considerados "normais" durante um curto período e que eu devia permanecer em repouso constantemente.

Por demais, vivia trancada em meu quarto, onde, discretamente, me remoía de culpa pela morte de Anna, meus pais e até Lauren. Todas as noites, acordava de um pesadelo aos berros. Sempre deixava a trinca congelada, de modo que ninguém entrava. Aos poucos, todos pararam de frequentar meu quarto, inclusive Louise.

Era melhor assim

Meus pesadelos geralmente voltava aos piores dias da minha vida, multiplicado por cem. Revivia a morte de Anna de diversas maneiras, sendo que, em um deles, eu a mantinha com a cabeça debaixo da água para se afogar. Na dos meus pais, eu que causava um enorme buraco no navio que, juntamente com as tempestades, fazia-o afundar mais rápido. Eu o assistia afundar, enquanto rolava de rir em um bote salva-vidas

Podia considerar os de Lauren, como a culpa falando mais alto. Nos sonhos, Melissa estava amarrada e amordaçada em uma cadeira, no salão de bailes, com o rosto coberto por lágrimas e pânico. Sua mãe sangrava, enquanto berrava xingamentos para alguém nas sombras, onde só era possível ver uma espada mortal de gelo. Eu via a cena do outro lado do salão, sã e salva, mas mantida presa por um vidro. Não pude deixar de arregalar os olhos ao ver que era eu que saia das sombras e matava Lauren na frente de sua descendente. Melissa chorava e implorava pela vida de sua mãe, enquanto era morta.

Por mim

Eu berrava e batia no vidro, apenas para chamar a atenção da outra Elsa, que olhava com o mesmo olhar assassino.

Monstro. Aquele era meu reflexo, meu outro lado.

Havia o lado bom, que perdoara Melissa e a permitira que voltasse para casa. Mas o lado ruim, foi responsável pela morte da irmã, previu a morte dos pais e não fez nada e ainda matou a tia de consideração

Então uma voz repetia a mesma frase nos outros sonhos, uma voz bem familiar

"Isso não é real!"

Então o vidro, que na verdade era o gelo todo desenhado, rachava e se partia deixando-me cair na escuridão, mantendo-me longe do meu reflexo

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O tempo passava depressa e logo o inverno se aproximava. Meu aniversário também.

Dezoito anos, coroa, povo

Tinha a sensação que enlouqueceria.

Por sorte, o ferimento não deixou nenhuma cicatriz e não tinha mais tonturas ou dores de cabeça repentina.

Em uma reunião com os ministros, sobre a coroação, ficou decidido que a cerimônia ocorreria no verão. Dia quinze de fevereiro

No dia do meu aniversário, acordei grunhido. Gostava de aniversários quando criança, mas deixei de gostar deste a morte de minha família. Neste dia, estou detestando mais ainda.

Levantei e fiz minha higienes, como de costume.

Escutei as batidas leves em minha porta, que significava que meu café da manhã chegou. Abri a porta e encontrei uma bandeja chia de coisas deliciosas com um cartãozinho dos funcionários, desejando Feliz Aniversário.

Tomei meu café tranquilamente e decidi ir para a biblioteca. Deixei a bandeja em um canto da porta e sai.

Levei um susto quando encontrei todos os funcionários ao pé da escadaria. Ao me verem gritaram "Surpresa!" e logo começaram a cantar parabéns. Sorri, embora meu coração estivesse aos pulos por causa do susto. Louise carregava um enorme bolo de chocolate com algumas velas acessas, do qual eu assoprei de uma só vez.

De uma certa forma, isso me lembrava meus pais, que sempre apareciam com um grande bolo de chocolate, cantando parabéns, logo pelo comecinho da manhã

Comi bolo com eles e até ganhei alguns presentes, depois segui para a biblioteca, onde fiquei até a hora de dormir.

Abri meus presentes e gostei de todos, iria dar um jeito de agradecer

Mas o maior de todos, foi com certeza, minha corrente, que nunca tirava do pescoço. Ela começou a transmitir um brilho azulado e a emitir a música do móbile. Sorri até meu rosto doer.

Por fim deitei e torci para que o tempo passasse mais devagar