Desde o dia do baile da coroação, quando Lauren e Melissa descobriram meus poderes, me ameaçando, eu não saí mais do meu quarto.

Era bem comum eu ir até meu quartinho de bebe, utilizando o recém descoberto túnel, onde eu passava a tarde toda lendo livros que Louise fazia questão de levar até mim.

Havia realizado melhorias no túnel, instalando cristais de gelo em pontos estratégicos para iluminar o caminho de um quarto ao outro e fazendo uma ponte de gelo sobre o lago, evitando usar o barquinho, que parecia querer afundar a qualquer momento. Eu podia simplesmente congelar todo o lago e patinar, mas desde a morte de Anna que não faço mais esse tipo de coisa

Fazia minhas refeições o quarto e ninguém me incomodava a tarde toda.

Porém, comecei a ficar entediada e desejava sair, apenas para tomar ar fresco. Mas minhas adoráveis parentes sempre apareciam com suas provocações, ameaças e chantagens,evitando agressões físicas, temendo acabarem congeladas.

Um dia, vi pela minha janela, mãe e filha saírem do palácio, em direção ao povoado.

Era minha chance

Saí apressada, temendo que mudassem de ideia e voltassem. No caminho, trombei violentamente com alguém, e acabei caindo no chão.

– Elsa! - era tio August - Minha nossa, quanto tempo não vejo você! Deixe-me ajudá-la - ele me ajudou a me levantar

– Obrigada tio! - pela sensação de quentura nas bochechas, podia jurar que não estava vermelha de vergonha e sim roxa

– Aonde ia com tanta pressa? - ele indagou

– Até os jardins, gostaria de tomar ar puro! - esclareci

Isso era meia verdade. Além de respirar, queria encontrar pistas de quem fez a parede de gelo naquela noite

– Eu lhe acompanho. Já queria ir também tomar um bom ar fresco! - ele confidenciou

Fomos até os jardins em uma conversa aleatória agradável. Sentamos em uma mesinha que havia ali e logo uma criada trouxe uma bandeja com um bule de chá, duas xícaras, biscoitinhos e cubos de açúcar.

Era primavera e as flores estavam mais belas que nunca. Ficamos conversando sobre flores e estações do ano, até ele perguntar:

– Elsa, pretende ir ao baile de aniversário do herdeiro das Ilhas do Sul?

Engasguei levemente com o chá. Como pude esquecer?

– Quando é mesmo? - perguntei, colocando a xícara no pires

– Na próxima semana. Sabe, sua tia e prima - fiz uma leve careta de indignação que, felizmente, tio August não percebeu - foram atrás de vestidos para o tal baile. Pensei que gostaria de ir também, afinal, faz décadas que não sai daquele quarto

Sua voz tinha um leve tom de censura, que não me passou despercebido. Suspirei pesadamente

Hans era um garoto adorável, havia me convidado pessoalmente.

Mas, se eu fosse colocar ameaças à parte, havia ainda um trauma. Como ir para o mar sem me lembrar o que acontecera com meus pais?

– Tio, seria muito divertido ir até o baile - ele se animou - mas, desde o.....acidente - era difícil falar ainda da morte de meus pais - aquilo me deixou assustada. Acho que ficaria muito melhor aqui - conclui

Ele me encarou, chateado, mas também com um olhar compreensível

– Entendo querida. Mas, pense melhor sobre o assunto sim? Sabe, no baile você pode se divertir, coisa que, no seu quarto, não irá conseguir - seu tom de voz era amável

Assenti com a cabeça e continuamos a conversar normalmente

Quando conclui que já estava na hora de voltar ao quarto me despedi e pude ouvi-lo murmurar

– Deveria sair mais do quarto Elsa. Não poderá governar um reino lá dentro

Sussurrei para mim mesma, mas sei que ele escutou

– E se eu não quiser governar?

E saí, sem nem esperar uma resposta