I'm forever yours escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Coloquem para carregar e deem play quando eu pedir, ok?
http://www.youtube.com/watch?v=SGlkwKA-t_4



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O clima em Nova York era fresco, bem mais do que eles estavam acostumados. Milhares de pessoas já se aglomeravam no local do show, causando barulho e frisson. Mesmo de dentro dos trailers, as bandas já podiam sentir a excitação.

Pedro agarrava o cordão em seu pescoço, os dedos brincando com os dois anéis de prata. Sol sentou ao seu lado, colocando a mão em sua perna.

“Pensando nela?”

“Sempre.” Ele sorriu timidamente. “Será que ela vai assistir a transmissão?”

A cantora deu de ombros, suspirando. Sabia o estado em que Karina estava há quase duas semanas, o motivo pelo qual a mãe não havia ido para Nova York a seu convite. Foi um choque descobrir que a lutadora não havia perdido o bebê, e um choque maior ainda descobrir que ela estava em coma. E estava sendo muito complicado não contar toda a verdade para Pedro.

“Eu tenho certeza que ela vai ouvir a música que você escreveu para a manezinha.” Garantiu a morena, abraçando o amigo. “Agora se acalma... Faltam 40 minutos para subirmos no palco, você tem que estar tranquilo.”

~P&K~

Era o primeiro show grande da banda, abertura de um show do Capital Inicial. Pedro estava tremendo, com o estomago revirado, as mãos suando frio. Discava o número de Karina, mas sem sucesso.

“Esquentadinha, eu sei que você não quer me ver na frente, e eu mereço, eu sei que eu mereço. Eu não devia ter aceitado o acordo da Bianca, ter aceitado o dinheiro, mentido para você. Mas eu te amo, minha esquentadinha, te amo muito e de verdade. Te amo mais do que... Mais do que... Eu não sei, Karina, com o que comparar o que eu sinto por você. Mas me atende, meu amor, por favor. Eu preciso te ouvir dizendo que vai dar certo, ou eu não vou conseguir subir naquele palco.”

“Vai dar tudo certo.” Ele girou nos calcanhares, encontrando a ex-namorada ali. Ela usava uma calça jeans, camiseta cinza e moletom preto, os cabelos loiros bagunçados pelo vento e nenhuma maquiagem no rosto.

“Perfeita.” O guitarrista suspirou, fazendo-a corar.

“A Sol me ligou, disse que você estava à beira de um colapso e precisava de mim. Por quê? Precisa de mais dinheiro da minha irmã?” O tom de voz de Karina era ressentido.

“Eu devolvi cada centavo que a Bianca me deu.”

“Ela me contou.”

“Karina, me escuta.” Ele tentou se aproximar, mas ela deu um passo para trás. “Eu errei, esquentadinha, eu sei que eu errei. Fui um filho da puta, um mercenário do inferno, mas eu já estava apaixonado por você antes disso tudo. Quando eu dediquei ‘Proibida pra Mim’ eu já tava caidão, mas você ouviu minha conversa com o Nando e tirou conclusões precipitadas. E aí eu juntei o útil ao agradável e...”

“E me fez de mercadoria.” Ele suspirou, confirmando.

“Eu sei que não muda o que eu fiz, mas eu te amo muito, Karina. Caramba esquentadinha, eu te amo apesar dos diversos chutes no saco que você me deu. Sabia que é a nossa descendência? Você não quer que tenhamos filhos?”

“E quem disse que eu vou ter filhos com você?” Ela cruzou os braços, tentando disfarçar o que sentia.

“Seus olhos, seu sorriso, seu corpo...” Ele começou a se aproximar lentamente, enquanto ela desviava o olhar. “Você está com raiva de mim, mas ainda me ama e me quer, eu sei.”

“Você não sabe de...” Ela não tentava se afastar, enquanto ele se aproximava. Já ansiava pelo abraço, mas novamente o destino interveio. O cadarço de Pedro se enroscou quando ele foi dar o passo, causando uma queda e a derrubada de Karina embaixo do seu corpo. “Moleque.”

“Acho que o destino gosta de deixar a gente assim.” Ele riu, apoiando os braços ao lado da cabeça dela. Karina abriu um sorriso tímido. “Adoro quando você sorri para mim.”

“E quem disse que é para você?” Ele aproximou o rosto do dela, encostando suas bochechas. “Eu também te amo, moleque.”

~P&K~

Gael estava sentado, observando a filha. Se não fosse a palidez e magreza, poderia jurar que ela estava apenas dormindo. Aproximou a cadeira, até ficar bem rente à sua cama. Pegou a mão magra, beijando diversas vezes. Queria dizer algo, mas não conseguia encontrar o que dizer.

“Eu te amo tanto, filha. Tanto. Por favor, não me deixa.” Ele sussurrou, com a voz embargada. “Volta pra mim, pra sua irmã, pra nossa família... Volta pra sua filha, pra sua manezinha. Ela precisa tanto de você, Karina, tanto.”

Ele passou a mão na franja dela, retirando da frente do rosto. Sentia falta dos cabelos curtinhos, que podia bagunçar sem medo. Sentia falta do jeito desleixado e moleque da caçula, mas também se orgulhava e admirava de ver a mulher que ela se tornou.

“Você conseguiu encontrar a maneira de ser doce e carinhosa, ao mesmo tempo em que segue briguenta e marrenta. Você se tornou uma mulher maravilhosa, sem perder quem você é. Eu tenho muito orgulho de você, minha criança. Hoje o Pedro vai tocar no Brazilian Day, e eu sei que ele gostaria muito que você assistisse. Então eu liguei o notebook na TV e vou colocar o live stream, para você acompanhar o seu moleque desafinado.”

O mestre se levantou, indo até o notebook e erguendo o som ao máximo. Voltou para a poltrona próxima à cama, cruzando as mãos em frente ao rosto e observando as imagens da tela.

“Galera, tá na hora.” Wallace apareceu correndo, tremendo de ansiedade. “Vocês vão subir no palco e a Believe vai fazer seu primeiro show internacional próprio. To mais emocionado que vocês.”

“Se controla, negão, por favor.” Sol riu do namorado, lhe dando um selinho. “Prontos?”

“Sempre.”

A banda subiu no palco sobre ovações e gritos, cumprimentando a plateia com entusiasmo.

“Fala aí, galera.” Sol gritou ao microfone, recebendo berros em resposta. “Nós somos a Believe. Vocês estão prontos?”

Gael observava a filha vez ou outra, talvez esperando alguma reação dela diante do show de Pedro. Queria que ela abrisse os olhos e se deparasse com aquilo, esperava que os acordes conhecidos lhe despertassem.

Cada uma daquelas músicas, Pedro havia escrito para ela ao longo dos quase três anos que haviam ficado juntos. Se havia algo, além da filha, que faria Karina acordar, seria Pedro.

Pelo menos, essa era sua esperança.

Tocaram quatro músicas, acompanhados por um grande coro e ovacionados de pé. A última música seria o lançamento do novo single, a música que Pedro havia composto para Karina e para a filha.

“Boa noite, pessoal...” Ele parou em frente ao microfone, passando a mão na testa e tentando afastar os cabelos grudados pelo suor. “A última música de hoje é uma inédita, nosso primeiro single do segundo álbum... É uma música muito especial, que eu fiz para duas pessoas muito especiais. Há alguns meses aconteceu uma tragédia na minha vida e eu perdi alguém que, mesmo sem conhecer direito ainda, eu amei e amo muito: a minha filha. Então essa música se chama If You Could See Me Now[1] e vai ser cantada em parceria com o Di Ferreiro, do NX Zero. Palmas pra ele gente.”

Gael se inclinou para a frente, observando Di subir no palco e parar ao lado de Pedro, os dois se cumprimentando com um abraço amigável.

“É uma honra ter você aqui, cara.” Agradeceu Pedro.

“A honra é minha por você ter me chamado para cantar uma música tão maravilhosa com você, irmão.” O vocalista sorriu, encarando o guitarrista.

“Esquentadinha, onde quer que você esteja, essa música é pra você e a nossa manezinha.” Pedro avisou no microfone, arrancando gritos da plateia. O lutador encarou a filha adormecida, sorrindo.

“Escuta, K, é pra você e a manezinha. Vai, escuta.” Ele segurou a mão dela com força, voltando a encarar a TV.

Rominho assumiu o piano do palco, começando a melodia instrumental. Pedro segurou o microfone, deixando a guitarra caída nas costas. A plateia tornou a aplaudir quando o restante do NX Zero subiu no palco, ocupando os instrumentos.

Definitivamente era uma honra ter uma banda como eles participando da música que a Believe tinha escrito, e não o contrário. Sol e Wallace praticamente pulavam de excitação, ela dentro e ele fora do palco.

Oh if you could see me now

Oh if you could see me now

A voz de Pedro foi uma grata surpresa para todos, já conhecidos da voz estrangulada do carismático guitarrista.

It was February fourteen, Valentine's Day

The roses came, but they took you away

Tattoed on my back is a charm to disarm all the harm

Gotta keep myself calm but the truth is you're gone

All I'll never get to show you these songs

Baby, you should see the tours that I'm on

I see you standing there next to your Mom

Both singing along, yeah arm in arm

And there are days when I'm losing my faith

Because we would not be good, would be great

She'd say music was the home for your pain

And explain, I was young, she would say

Gael escutava tudo quase maravilhado. Não era fluente em inglês, mas conseguia entender a maioria da música e se sensibilizar com o que Pedro cantava. Apesar de tudo de ruim que sentiu quando descobriu a verdade, sabia mais do que nunca o quanto o ex-genro amava sua filha e neta.

Torcia para que esse amor transcendesse a distância e curasse sua garotinha.

"Take that rage, put in on a page

Take the page to the stage

Blow the roof off the place"

I'm tryna make you pround

Do everything you did

I hope you're up there with God

Saying that's my dad

Di e Sol ecoavam os finais de sua frase, um de cada lado seu. A plateia não poderia estar mais louca e apaixonada por uma música. Todos ali falavam inglês até melhor do que ele, então a letra lhes era simples e tocante.

I still look for your face in the crowd

Oh, if you could see me now

(Oh, if you could see me now)

Would you stand in disgrace or take a bow

Oh, if you could see me now

(Oh, if you could see me now)

(Oh, if you could see me now)

Apenas Di e Sol cantaram o refrão, que exigia uma afinação melhor do que a que Pedro podia alcançar. Ele aproveitou o momento para tirar o cordão do pescoço, encaixando os anéis nos dedos, beijando o menor com a reverência de sempre.

If you could see me now would you recognize me

Would you pat me on the back or would you criticize me

Would you follow every line on my tear stained face

Put your hand on a heart that's was cold as the day you were taken away

I know it's been a while but I could you see cleat as day

Right now, I wish I could hear your mom say

I drink too much and I smoke too much dutch

But if you can't see me now that shit's a must

Os olhos azuis se abriram lentamente, piscando algumas vezes para se acostumar à claridade. A voz lhe era conhecida, mas ainda não conseguia focalizar direito a imagem na TV. Apesar do torpor, as palavras em inglês lhe eram claras e a letra era como uma conversa.

Gael estava focado demais na TV para perceber que Karina havia finalmente acordado, ainda imóvel e sem saber o que acontecia, apenas observando a imagem de Pedro ocupando toda a tela da TV, enquanto ele conversava com ela pela música.

She used to say I won't know I will until it cost me

Like I won't know real love till I've loved then I've lost it

And if you're lost a sister, someone's lost a mom

And if you're lost a dad, then someone's lost a son

And they're all missing now, ya they're all missing now

So if you get a second to look down at me now

Baby girl, daddy's missing you now

O soluço irrompeu sem que ela controlasse, assustando o pai. Ele segurou as mãos dela mais apertado, mas não ousou chamar sua atenção. Os olhos dela estavam fixos na TV, ouvindo a história que Pedro cantava.

I still look for your face in the crowd

Oh, if you could see me now

(Oh, if you could see me now)

Would you stand in disgrace or take a bow

Oh, if you could see me now

(Oh, if you could see me now)

Pedro encarava o céu alaranjado do pôr do sol, sentindo os olhos cheios de água e o peito apertado. De algum jeito ele sabia que Karina assistia e ouvia aquela música. Rezava para que ela entendesse tudo que ele queria dizer.

Would you call me a saint or a sinner?

Would you love me a loser or a winner?

Oh.. oh..

When I see my face in the mirror

We look so alike that it makes me shiver

Ele caiu sobre o joelho, trazendo o punho a boca e beijando o anel dela repetidas vezes. Tirou a camiseta, atraindo gritos, enquanto Di e Sol começavam o refrão. A câmera focou nele, que se virou de costas e teve a tatuagem ampliada nos telões, para todos verem.

I still look for your face in the crowd

Oh, if you could see me now

(Oh, if you could see me now)

Would you stand in disgrace or take a bow

Oh, if you could see me now

(Oh, if you could see me now)

I still look for your face in the crowd

Oh, if you could see me now

(Oh, if you could see me now)

Would you stand in disgrace or take a bow

Oh, if you could see me now

(Oh, if you could see me now)

Karina soluçava sem conseguir segurar, enquanto Gael segurava sua mão com força, ele mesmo com lágrimas rolando pelos olhos. Começou a se preocupar que ela passasse mal, mas não ousou interromper. Aquele era o momento que ela precisava, e se o maldito moleque a havia trazido de volta, ele iria permitir.

You could see, you could see me now

(You could see, you could see me now)

Pedro cantou a última estrofe, com Sol e Di ecoando. A plateia explodiu em aplausos, enquanto o vocalista do NX ajoelhava ao seu lado, o abraçando e deixando que o rapaz chorasse em seu ombro tudo que havia segurado por toda a música.

“Estejam onde estiverem, as duas amaram, pode acreditar em mim.” O mais velho sussurrou em seu ouvido, o ajudando a levantar e o abraçando de novo, enquanto os demais integrantes das duas bandas aplaudiam.

“Calma, meu anjo, calma.” Gael abraçava Karina, que soluçava com força. “Obrigada, meu Deus, obrigada.”

“O-o que aconteceu, pai? Cadê a minha filha?” Karina tentou perguntar entre os soluços, após colocar a mão na barriga e encontrá-la chapada.

“Calma, Karina, calma... A manezinha está bem, tá lá no berçário. Nós convencemos os médicos a segurarem ela aqui até você acordar, para você poder ver ela assim que isso acontecesse.”

“Acordasse?”

“Você passou muito mal, filha, quase morreu.” Ela se arrepiou ao ouvir aquilo. “Os médicos controlaram tudo, mas você ficou inconsciente alguns dias...”

“Quanto tempo eu fiquei apagada?”

“15 dias. Não importa, Karina, o que importa é que você está bem, minha filha. Você está bem.” Ele repetiu, beijando o topo da cabeça dela, que fechou os olhos com o carinho.

“Aquilo ali... O Pedro está vivo?” Gael estranhou a pergunta. “Não era ele dirigindo a van no acidente?”

“Não, não era.” Ele ficou curioso para saber como ela sabia sobre o acidente, mas perguntaria isso depois. “O Pedro está bem, a banda toda está. Aquilo ali eram eles se apresentando no Brazilian Day, agora. E essa música que você ouviu, o Pedro escreveu pra vocês duas.”

“A minha filha...” De repente ela se esqueceu de tudo. “Pai, eu quero ver ela. Por favor.”

“Eu vou buscar.” O mestre sorriu, beijando o topo de sua cabeça.

Assim que ele saiu, Karina voltou suas atenções para a TV, onde o live stream reprisava alguns momentos do show que acabara de acontecer. Tentou não voltar a chorar ao ver Pedro com as alianças e depois mostrando a tatuagem nas costas. Sabia que aquela luva lhe representava e deduziu que a auréola era sua filha.

“Filha?” Virou-se para a porta, vendo Gael entrando com algo nos braços. “Tem alguém aqui morrendo de saudade de você.”

Com a garganta seca e os braços trêmulos, Karina se ajeitou na cama, sem desviar os olhos do embrulho que o pai trazia nos braços. Com cuidado, Gael ajeitou a neta nos braços da mãe da melhor maneira possível.

“Minha filha...” Ela repetiu, como se tentasse se convencer que era real. Uma coisa era senti-la dentro de si, outra coisa era olhá-la em seus braços.

Mas a reconhecia, saberia distingui-la em meia de uma dezena de bebês. Seus cabelos eram da mesma cor que os de Pedro, tão finos quanto os dele. O narizinho e o formato dos lábios também eram os mesmos do pai, apenas os olhos eram seus: tão azuis quanto o oceano.

“Ela é tão perfeita.” Sussurrou a mãe, maravilhada.

“Eu sou suspeito, mas para mim ela é a criança mais linda do berçário inteiro.” Karina riu do pai, que lhe acariciava os cabelos sem parar. “Posso saber o nome dela? A Tomtom disse que sabia, mas se recusava a falar até que você acordasse.”

“Ela se chama Ana Clara.” Pela primeira vez ela desviou os olhos da criança, encarando o olhar emocionado do pai.

“Ana, que nem a sua mãe?” Ela assentiu, sorrindo. “E o Clara?”

“Clara que dizer luz. E de hoje em diante, ela é a luz da minha vida, a única coisa que importa.” A loira voltou a encarar a filha, que a encarava com os olhos idênticos. “Você é a coisa mais importante da vida da mamãe, manezinha. Eu te amo para sempre, meu amor.”

Karina trouxe a filha mais próxima de si, encostando o rosto no topo da cabecinha quente. Os olhinhos da criança se fecharam diante do contato com a mãe, sua pequena mãozinha gorducha envolvendo o indicador que lhe era oferecido.

A lutadora encarou a TV uma vez mais, vendo o rosto de Pedro sorrindo, e fechou os olhos, querendo esquecer ele de uma vez, mas sabendo que seria impossível.

Uma parte dele agora vivia em seus braços e nunca deixaria que ela se esquecesse daquele maldito sorriso, que havia balançado todo o seu mundo.

A verdade, é que ela sempre seria dele.


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Notas finais do capítulo

[1] Música originalmente da banda The Script, com letra adaptada para a história.
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