Capítulo 5 – Ah Não!

O resto da manhã passou normalmente. Mostrei a escola a Alec, às vezes esbarrando com Chad ou com algum amigo meu que estava matando aula: Ben, Ana, Henry, Mayana, Laura... Todo o povinho que estava na festa ontem. Os apresentei a Alec, claro que todos foram gentis, menos Ben.

Ele havia agido de uma forma muito estranha perto de Alec, como se tivesse se refreando para não matá-lo. Depois iria descobrir o que realmente aconteceu.

– E ai? – perguntei – gostou da escola?

– Claro. E seus amigos são bem legais.

– São sim – falei sorrindo – me desculpe pelo modo como o Ben agiu. Ele geralmente não é assim.

– Magina. Mas posso te pedir uma coisa? – perguntou Alec meio receoso.

– Claro.

– Me explica sobre seus amigos. Embaralhou-me tudo quem eles são e essas coisas.

Deu uma risada, mas assenti concordando.

– Ok, mas seria melhor se nós nos sentássemos, porque a explicação é longa.

– Que tal no refeitório? Lá não vai ter ninguém e assim nós podemos ficar mais a vontade – levei um segundo para perceber a que ele estava se referindo.

– Opa! Opa! Vai com calma Volturi! Eu tenho namorado e não vou trai-lo – por mais que eu quisesse. Claro que a última parte eu falei mentalmente.

– Hei, eu não estava falando sobre isso! Só pensei que seria mais confortável se nós nos sentássemos lá – disse ele rapidamente tentando se defender. Levantei uma sobrancelha e coloquei as mãos em minha cintura – O quê?

– Nada, nada. Só esperava que você pudesse mentir melhor – comecei a andar em direção ao refeitório.

– Mentir melhor? Quem disse que eu estou mentindo? – disse Alec me alcançando.

– Sabia que a negação é primeiro sinal de culpa?

– Eu não estou negando.

– Negar que não está negando é negação.

– O que você sabe sobre negação? – ele perguntou se sentando em uma cadeira. Olhei em volta e vi que já havíamos chegado ao refeitório. Fiz o mesmo, mas me sentei em uma cadeira que ficava de frente para ele.

– Simples. Negação é quando você não quer admitir uma coisa. Seja para alguém ou para si mesmo. Isso geralmente acontece quando a pessoa tem vergonha ou simplesmente não quer admitir alguma coisa que vai mudar sua vida.

– Esqueceu de uma coisa.

– O que?

– Negação também pode ser uma operação matemática – não agüentei e comecei a rir – você devia ter se lembrado disso Thompson.

– Como você sabe dessas coisas?

– Simples, eu estudo. Mas vamos esquecer um pouco sobre esse assunto. Fale-me sobre os seus amigos.

– Ok. Com quem quer começar?

– Marina.

– Marina – parei um pouco tentando pensar sobre tudo sobre a minha amiga – Bom, seu nome completo é Marina Fernandes, tem 15 anos e ela foi a primeira pessoa a falar comigo quando eu mudei para cá. Foi por causa dela que eu conheci a Marcela e o Ben e conseqüentemente a Anna, a Mayana, o Henry e a Laura. Ela é minha melhor amiga. Próximo.

– Marcela.

– Seu nome completo é Marcela Muniz, tem 15 anos, eu sou mais amiga da Marcela que a Marina. De uns tempos pra cá elas começaram a brigar pra caramba. A Marcela namora o Henry há três semanas. Próximo.

– Henry.

– Seu nome completo é Henry Smith, têm 16 anos, eu só o conheci ano passado, ele é melhor amigo do Ben. Namora a Marcela. Próximo.

– Anna.

– Antes de tudo, me desculpa estar falando o nome completo deles, mas você vai precisar. Aqui todo mundo se chama pelo sobrenome.

– Tudo bem, eu não ligo – senti seu hálito em meu rosto. Nem havia percebido que nós dois estávamos debruçados sobre a mesa. Nossos braços quase se relavam, nossos rostos estavam tão próximos... afastei-me um pouco, recuperando a postura. Alec continuou do jeito que estava – O nome completo da Anna é Anna Monteiro, ela tem 15 anos. Tornou-se a minha amiga porque a madrasta dela começou a namorar o meu pai.

– Ela mora com a madrasta?

– Sim. Quando o pai dela morreu, deixou tudo que tinha para a segunda mulher dele, a madrasta. E quando eu digo tudo, foi tudo mesmo, incluindo a Anna. Próximo.

– Laura.

– Seu nome completo é Laura Wood, ela tem 16 anos e é a melhor amiga da Mayana. Nós só ficamos amigas dela esse ano, apesar de já parecer que andamos com ela há anos. Próximo.

De repente o sinal bateu. Bufei irritada. Como o tempo havia passado tão rápido?

– Depois nós continuamos – disse Alec se levantando.

– Aonde você vai? – perguntei quando vi que ele havia começado a andar em direção a porta do refeitório.

– Prometi a Jane que me encontraria com ela no almoço. Nos vemos mais tarde, ok? – perigo, perigo! Sorriso lindo ao extremo! Perfeição demais. Cérebro de Heloisa derretendo. Já era.

– O que?

– Ainda faltam dois amigos: Mayana e Ben.

– Ã? – não conseguia entender uma palavra do que ele dizia, devia estar parecendo uma boba. Coisa que não tenho culpa como eu disse perfeição demais.

– Que bom que você é gata, porque é meio lerdinha – Cérebro voltando! Ninguém me chama de lerda, nem esse deusinho grego metido a besta.

– Como é que é?

– A gente se vê Thompson.

Quando ia protestar, vi que Alec já havia saído do refeitório.

– Droga.

– Falando sozinha, Lô?

– Não estou a fim de papo Anna – falei enquanto ela se sentava ao meu lado. Em seu rosto havia um sorriso cansado, mas um sorriso. Melhor do que nada.

– Então você não quer saber o que a baranga fez quando eu cheguei em casa às cinco da manhã?

– Me diz que ela teve um troço e morreu, por favor! – implorei juntando as mãos e fazendo biquinho.

– Quem me dera. A mulher parecia que ia ter um ataque, como se a qualquer momento ela fosse me matar. A boa coisa foi que eu tirei uma foto.

– O que uma foto tem de tão especial?

– Heloisa, acorda! Baranga as cinco da manha de robbie, mascara de dormir no rosto, cabelos cheios de bobbies... Você não acha que isso seja uma boa chantagem quando nós quisermos alguma coisa?

– Você acha que eu sou muito lerda?

– O quê? – perguntou Anna confusa – você está prestando atenção no que eu falo?

– To sim. Mas responde minha pergunta.

– Sim, às vezes você é meio lerda.

– Concordo – disseram Ben e Marina, enquanto se sentavam ao nosso lado.

– Quando é que vocês chegaram aqui? – perguntei surpresa.

– E essa é a prova final de que você é a pessoa mais lerda e desligada que existe.

– Muito obrigada Marina.

– De nada, minha cara amiga lerdinha – disse, logo em seguida, mordendo uma maça – então, cadê o italiano? – Ben voltou sua atenção para nossa conversa. O olhei de um jeito que ele saberia que mais tarde, nós iríamos ter uma conversa.

– Foi se encontrar com a irmã. Por quê?

– Nada, nada. Só queria te avisar que eu ganhei a aposta.

– Que aposta? – perguntou Anna interessada.

– Nós apostos que se a Marcela nos xingasse pela festa de ontem, a Helô teria de beijar o garoto novo.

– E se ela não xingasse, a Marina teria de beijar o Ben - completei sorrindo maliciosamente. Ben engasgou ao ouvir a ultima parte, Mah me olhava com raiva, como se quisesse explodir minha cabeça. Anna rolava de rir, mas parou de repente, olhando alguma coisa. Segui seu olhar. De repente, todo mundo na nossa mesa se calou, sabiam que uma briga estava por vir.

Haley.

Típica patricinha de escola, loira, olhos claros, adorada por todos. Vive rodeada por admiradores e sempre está acompanhada por suas duas leais guarda-costas: Britany e Tiffany. Elas eram até legais, mas depois que começaram a andar com a senhorita eu-sou-popular-e-por-isso-posso-fazer-o-que-eu-quiser, se tornaram insuportáveis.

Haley é minha maior inimiga, na verdade, nos odiamos desde sempre, mas isso só aumentou com a notícia do namoro de nossos pais.

- Olha se não é o grupinho dos excluídos – disse Haley perto da nossa mesa, seguida por risadas de seus clones – não está faltando alguns membros não?

– Cai fora, Gibley – falei cerrando os dentes.

– Nossa! Que raiva toda é essa Helô? Está bravinha porque ficou sabendo que nossos pais vão se casar?

– O quê?

– Oh, me desculpe. Você ainda não ficou sabendo? Mamãe me contou ontem à noite. Seu querido papaizinho a pediu em casamento há uns dois dias. Pelo que eu sei, o casamento será em maio – minha mente estava em choque, mal consegui ouvir as últimas palavras ditas por Haley.

– Sai daqui, aprendiz de biscate – disse Anna se levantando brava. Senti alguém me levantar da cadeira e me arrastar para fora do refeitório. Nem me dei o trabalho de ver quem era, realmente, esse detalhe não era importante. Paramos de repente, a pessoa me fez sentar em um lugar macio e confortável, acho que um sofá.

– Hei, hei, hei! Calma, não precisa chorar – disse Ben se sentando ao meu lado e me abraçando. Afundei meu rosto em seu peito, deixando as lágrimas rolarem pelo meu rosto, caindo em sua blusa – a Haley deve estar mentindo. Se seu pai tivesse pedido a Bruna em casamento, teria te contado.

– Não teria e você sabe disso muito bem, Ben – me livrei de seu abraço – mais não é sobre isso que eu quero conversar. Fale-me uma coisa. Porque agiu de forma tão estranha perto do Alec?

– Do que você está falando?

– Não se faça de bobo, Ben Tyler, eu te conheço muito bem. Por que você agiu de forma tão estranha perto do Alec?

– Ah, agora ele é Alec? Você mal o conhece, Heloisa, e já está chamando-o pelo primeiro nome?

– Isso não vem ao caso agora. Por que você agiu de forma tão estranha?

– Porque ele é um vampiro!