Querida Nevasca escrita por Clarinha


Capítulo 3
Capítulo 3: A verdade.


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitor (a). Eu ouvi alguém dizer "capítulo novo"? Então, cá está o terceiro capítulo de "Querida Nevasca"! Boa leitura. ♥ // Editado: 02/05/2019.



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 • Narrador: Margot 

[06:30 - Segunda-feira, casa da Margot]

Acordei meia hora atrasada nesta segunda-feira. Simplesmente não ouvi o despertador tocar e acabei dormindo, talvez um pouco de mais. Me arrumei o mais rápido que consegui, e quando peguei meu celular, tinham dez ligações de Karoline e 28 mensagens; todas perguntando sobre onde eu estava ou se tinha acordado. Bem, a resposta era não.

Peguei minha bolsa e saí as pressas de casa, encontrando Karol sentada no banco em seu jardim. 

— Desculpa a demora! - Gritei, enquanto a puxava pelo braço em direção ao nosso caminho. 

Nada havia mudado entre a gente, felizmente. Continuamos com nossas conversas de sempre, e com as demonstrações de afeto; mas nada exagerado ou que deixasse transparecer a confusão que sentíamos uma pela outra. No trajeto, íamos rindo alto e cantando músicas aleatórias que só nós duas conhecíamos, até que chegamos em Bridgestone College.

Fomos diretamente pra sala de aula, onde já se encontrava Sra. Keilah, nossa professora de história que infelizmente daria os quatro períodos do dia. Até que as duas primeiras aulas passaram rápido, ou eu estava tão avoada pensando em sábado que nem sequer percebi o desenrolar da matéria. Ouço o sinal tocar, indicando que era hora do intervalo, e em seguida, todas a turma sai apressada daquele recinto. 

— Anotou tudo? - Karol perguntou.

— Tudo o que, que nem sequer prestei atenção. - Respondi, rindo de nervoso. 

Saímos dali e, novamente, fomos até a biblioteca do colégio; desta vez, simplesmente porque não tínhamos mais nada interessante para ficarmos fazendo. Escolhemos uma mesa perto da janela, onde tinha uma paisagem muito bonita e entrava bastante sol, que ajudaria a esquentar já que o dia estava frio. 

Assim que nos acomodamos, um rapaz bonito, de olhos verdes e cabelo castanho ficou me encarando por um bom tempo. De início, achei que estava olhando para a vista atrás de mim, mas ele olhava tão profundamente que depois foi fácil perceber que eu estava errada. Tentei imaginar o que se passava por sua cabeça, já que não o conhecia e provavelmente ele também nem sequer sabia quem eu era. 

Bem, permanecemos ali até dar o horário pra voltarmos às salas. Karoline nem sequer reparou no moço que estava ali presente, e eu também não fiz questão de comentar. Retornamos para nossa "deliciosa" aula de história, onde ficaríamos por mais dois períodos até sermos liberadas. Ao fim da aula, seguimos nosso caminho até nossas respectivas casas e nos despedimos.

• Narrador: Karoline

[12:33 - Casa da Karoline] 

Assim que entrei em casa, pude notar que meu pai não se encontrava lá. De início estranhei, mas provavelmente ele teve que ficar um pouco mais no trabalho, o que eu não via problema. Fiz um macarrão instantâneo para almoçar e me sentei no sofá da sala para comer enquanto assistia a algo. 

Já passava das 14:00 quando meu pai chegara em casa. Perguntei se tinha tido mais serviços em seu trabalho hoje, e ele fez que sim com a cabeça. 

— Me desculpa por não avisar. - Disse. - Comeu alguma coisa?

Apontei para o recipiente onde tinha comido, respondendo com um breve "arram". O mesmo completou:

— Certo, menos mal. Acho que vou fazer o mesmo. - Sorriu. - Ah, e amanhã se você quiser, eu te dou uma carona pro colégio. - Completou, enquanto colocava a água para ferver. 

Meu pai, me dando carona? Ele geralmente já nem está em casa quando acordo. Saí discretamente do sofá, enquanto o mesmo preparava sua refeição, e fui para meu quarto. Algo estava estranho. Mandei mensagem para Nevasca, dizendo a ela que eu não poderia acompanha-la na manhã seguinte pois, por algum motivo, meu pai resolveu que me levaria ao colégio. 

A mesma também estranhou, mas disse que não tinha problema e que nos encontraríamos lá. Conversamos o resto do dia por ligação de vídeo, até mesmo fizemos nossa tarefa de casa juntas, até que um pensamento me veio em mente... Não tínhamos tocado naquele assunto, daquela noite, nem sequer por mensagens. 

— Hm, Margot... 

— Sim? - Respondeu, erguendo sua cabeça para a câmera.

— Sobre aquela noite... 

A mesma ficou quieta e um tanto quanto pasma, talvez por medo do assunto. Voltou a baixar sua cabeça em direção ao desenho que estava fazendo, e dali não tirou os olhos.

— ...Bem, o que foi aquilo?

Ela não respondeu, na verdade, nem sequer voltou seus olhos para mim. Continuou manuseando seu lápis. 

— Sabe, eu queria mesmo falar sobre isso. Faz um tempo que estou sentindo uma coi... 

— Não diga! - Margot me interrompeu, e em seguida continuou seu desenho.

— Desculpa, não devia ter entrado nesse assunto. - Completei, enquanto me encostava na parede atrás de minha cama.

A partir de então, ficou um clima bem pesado entre nós; não falávamos mais nada, e Nevasca não tirou seus olhos daquela maldita borboleta que a mesma havia feito. 

— Estou indo... - Cortei o silêncio.

Eu achei que ela teria alguma atitude, mas nem sequer tentou me manter ali. Simplesmente continuou quieta, até eu desligar, e assim que o fiz; meu coração chegou a doer. Por quê ela ficou desse jeito, se naquela noite quem começou, foi ela?! Eu realmente não entendia.

Me joguei na cama e acabei adormecendo ali mesmo, o dia todo, e nem sequer jantei. Acordei apenas no dia seguinte (terça-feira), com meu pai batendo em minha porta enquanto dizia: "- Karol, acorde, você está 15 minutos atrasada.".

Me levantei e rapidamente entrei debaixo do chuveiro, tomei um banho e me arrumei para ir ao colégio. Assim que saí do meu quarto, o mesmo me esperava perto da porta com uma feição diferente, um misto de nervoso com ânimo... Isso me dava medo.

Entramos no carro, e um silêncio tomou conta do ambiente. Sabe quando você sente que alguém quer falar algo pra ti, mas permanece quieto por medo? Pois bem, era o que parecia. Enquanto íamos em direção ao colégio, eu apreciava tudo em minha volta... Olhava pra grama que balançava quando o carro passava, os pássaros piando em cima das árvores, o céu nublado e o vento que batia em meu rosto. Eu realmente viajei, e quando me dei conta...

— Ham...Filha? - Meu pai disse, me dando um cutucão no ombro. - Chegamos. 

— Ah, desculpa pai. - Respondi rindo, enquanto ia abrindo a porta do carro. Antes mesmo de sair completamente, meu pai me chama.

— Filha. 

— Oi?

— Tem um tempo, antes de ir?

Olhei pro celular à fim de ver o horário, e ainda me faltavam 10 minutos, já que eu tinha chego mais cedo por ter ido de carona.

— Claro. - Respondi, me sentando novamente ao banco do seu lado.

— Então... - Colocou sua mão esquerda na nuca. - ...Você sabe que desde que sua mãe faleceu, a 10 anos, eu nunca tinha pensado em me envolver com outra mulher, certo? Fiz isso pois prometi a mim mesmo que focaria em cuidar de você, faria o que fosse preciso e até hoje é assim...

Concordei com a cabeça. A verdade, é que eu já sabia onde isso iria parar, e pulei direto pro ponto principal.

— "Tá" saindo com alguém?

Meu pai me olhava, meio assustado, mas moveu seu rosto para cima e para baixo, afirmando. 

— Pai. - O abracei. - Não precisava ficar nervoso pra me contar isso! Fico muito feliz pelo senhor ter seguido em frente, e ter encontrado alguém que te faz feliz. 

Meu pai intensificou o abraço, e notei que aquilo era algo que o tinha deixado com medo por muito tempo. Eu entendo sua preocupação, mas realmente tinha ficado feliz por ele; por mais que fosse me doer pensar que não seria mais minha mãe que o faria feliz...

— Bem, agora tenho que ir! - Respondi, deixando uma lágrima escapar. - São 07:00 em ponto! 

— Tudo bem. - Respondeu, com um sorriso fechado. - Obrigado, filha. 

Sorri de volta, e parti dali para a sala de aula. Porém, no caminho avistei Margot conversando com um rapaz, alto, com cabelo castanho e bem atraente. Não era amigo dela, muito menos meu. O mesmo a abraçou e em seguida se despediu, dando-a um beijo em seu rosto, bem no canto da boca.

Uma crise de ciúmes veio até mim, e acho que foi evidente, afinal, a hora que Margot se virou pra mim, sua expressão mudou totalmente. Eu devia estar roxa, rosa, laranja, azul... De todas as cores possíveis. Simplesmente saí de la, e saí correndo; nem pensei na aula, só fui em direção a biblioteca e me isolei lá.

Nem me preocupei em ver se ela vinha atrás. Me sentei em uma das mesas, a mais distante de todas, e me debrucei à fim de disfarçar meu choro. Eu não sabia muito bem o motivo do mesmo, o por que de ter ficado tão brava; era pra ter ficado feliz pela minha melhor amiga! Mas não foi o que senti... 

Fiquei o resto da manhã lá, e aproveitei pra distrair minha mente. Peguei um livro que gostava muito, o meu favorito daquele lugar, e fiquei lendo. Acho que já o tinha lido umas cinco vezes, mas eu não me cansava dele; porém, eu estava tão exausta devido a muitas coisas em minha cabeça que acabei pegando no sono. Acordei quando a bibliotecária colocou sua mão gelada em meu ombro, e me disse que já era 12:30 e que daqui a pouco encerrariam suas atividades. Ou seja, a aula já tinha terminado a meia hora e eu permaneci ali.

Fui embora a pé para casa, e desta vez sozinha. Provavelmente Margot já tinha ido a um bom tempo, mas... Eu não queria mais pensar nela. Tentei focar em outras coisas ao meu redor, mas a desgraçada insistia em permanecer na minha cabeça. Chegando em casa, meu pai veio até mim extremamente preocupado.

— Onde estava Karol? Eu já ia sair em busca de você! Você nem sequer atendeu minhas ligações.

— Me desculpa, pai. Eu acabei me atrasando na escola porque tive que resolver algumas coisas, e não vi que o senhor tinha me ligado... Eu estava avoada.

— Hm, tudo bem. Vamos almoçar, fiz tacos de forno para nós hoje.

Nos sentamos à mesa e almoçamos juntos. Ficamos conversando sobre o tempo que fazia ali em nossa cidade, e que provavelmente mais tarde iria nevar... O inverno estava mesmo chegando, e com ele, as férias também.

Assim que terminamos, lavei as louças e fui para meu quarto. Eu não sentia vontade de fazer nada, a não ser permanecer deitada e dormir. Foi o que fiz, porém, quando era umas 19:15, recebo uma ligação de vídeo; era Margot. Atendi e fiquei em silêncio.

— Karol...

— Hm?

— Preciso conversar com você... - Disse, seguido de um suspiro.

— Diga. - Respondi, fria.

— Primeiramente, você me deixa explicar desde o início?

— Você não tem que explicar nada Margot, sabe disso. 

— Mas... Mas..

— Mas nada. Por que teria que se explicar? Não aconteceu nada.

— É sobre isso que quero falar...

— Aconteceu? - Perguntei.

A mesma permaneceu quieta, abaixou seu rosto e nada mais disse. Já era o suficiente pra eu entender que os dois estavam tendo algo, só não sabia quando "isso" tinha começado. Foi de uma hora pra outra?

— Tudo bem. - Ri, ironicamente. - Tenho que ir...

— NÃO! - Margot se voltou para mim rapidamente, com um grito e com uma cara de choro. Pude ver seus olhos cheios de lágrimas, prestes a cair.

— Por quê?

A mesma ficou me olhando. Me encarou por longos minutos, sem dizer uma só palavra e chorando muito; e quando sua boca estava quase dizendo algo, voltou atrás e abaixou seu rosto novamente. Da noite pro dia, era como se minha melhor amiga fosse uma completa estranha pra mim! Não sabia com quem ela estava falando ou até mesmo ficando, não sabia o que estava passando pela sua cabeça, não sabia o motivo real de estar chorando... Meu medo de perde-la simplesmente me consumiu! Mas eu não podia ser egoísta, não com ela; ela tinha de estar com alguém que ela quisesse, e eu não ia suportar aquilo porque... Eu estava a amando!

Olhei em seus olhos, fechei-os em seguida e desliguei... Eu não podia ser fraca naquele momento. Deitei-me em minha cama, olhei para o teto e fiquei pensando naquele sábado onde toda essa confusão começou. Depois do nosso primeiro beijo, vieram mais outro e outros... Permanecemos grudadas uma na outra, como um verdadeiro casal! Senti coisas que jamais havia sentido por outra pessoa, e de certa forma, eu gostei. Era algo que ultrapassava o medo que senti antes. Mas agora... Era como se tudo tivesse ido por água a'baixo, e eu simplesmente não a conhecesse mais.

Infelizmente, eu sabia que no fundo estava agindo muito por impulso, simplesmente por estar com ciúmes. Talvez tivesse deixado-a explicar... Mas, agora era tarde, e minha cabeça estava explodindo de dor. Concluí que dormir seria o melhor remédio... Ou, pelo menos eu não ficaria mais pensando nisso. 

Assim o fiz! Tentei abstrair tudo que me vinha em mente, para que eu pegasse no sono, mas infelizmente não era tão fácil assim. Passei horas e horas tentando adormecer, mas quando me dei conta, já amanhecia lá fora e eu tinha passado a madrugada toda acordada, virando de um lado pro outro.

 

•Narrador: Margot

[20:00 - Casa da Margot]

Quando Karoline desligou, senti meu peito apertado como se tivesse sendo esmagado por algo. Me faltava ar, e lágrimas caíam sem sessar pelo meu rosto quente. Como e porquê tudo isso está acontecendo?

Peguei meu cobertor que ali ao lado estava, me enrolei no mesmo e me sentei em minha cama; nada do que eu fazia parecia conseguir me fazer parar de chorar, ou de pensar em como minha melhor amiga estava se sentindo naquele exato momento. Eu nem sequer consegui explicar, e as coisas aconteceram de forma muito rápida... Foi realmente de um dia pro outro. 

Aquele menino que me encarou na biblioteca... Bem... Ele veio falar comigo naquele mesmo dia, um pouco depois que eu havia chego em casa, através de uma rede social. Conversamos bastante e sobre diversos assuntos, e realmente nos interessamos um pelo outro; tínhamos várias coisas em comum e ele me pareceu ser um cara super gente boa. Disse que sempre me achou muito bonita, mas nunca soube como chegar em mim até então, mas que agora estava motivado e que no dia seguinte iria ter coragem até de ir falar comigo pessoalmente.

Eu não acreditei que iria mesmo, ainda mais já no dia seguinte em que começou a falar comigo! Eu queria ter contado pra Karol antes de ela ter pensado coisa errada depois do que viu naquela manhã, mas... Depois da nossa conversa ter terminado daquele jeito na segunda-feira, eu fiquei com medo de magoa-la, afinal, eu não queria que ela pensasse que aquilo tudo que aconteceu no "sábado das melhores amigas" fosse pouca coisa. Eu realmente senti vontade de fazer aquilo, e não me arrependi nem sequer um segundo... Mas, tudo aconteceu tão depressa, e olha no que resultou! Isso porque ela só viu ele me dando um beijo no rosto... Mas não sabia o que tinha acontecido mais tarde, no intervalo e após a saída do colégio. Bem, leitor (a), o que eu esqueci de comentar era que; entre esses diversos assuntos que tivemos, um deles era sobre relacionamentos. Falamos muito a respeito, até que certa hora chegamos em um tema um tanto quanto peculiar... Sexo!

 

[FLASHBACK— Terça-feira, 03:50]

Gabriel, o menino, comentou que até então só havia se relacionado com duas meninas; uma sua ex e outra uma amiga, que ainda a via de vez em quando. Já eu, comentei que jamais tinha chego na hora H, de fato, por mais que já tivesse ficado com algumas pessoas. O mesmo então ficou espantado, dizendo que jamais pensaria que uma garota bonita como eu ainda fosse virgem, "- ...Pelo contrário, achei que conquistava os meninos por aí para mostrar a eles o jeito certo de se fazer as coisas!", completou. 

Até então, rimos muito, e o assunto só foi prolongando e indo mais adiante. Era madrugada e nós dois ainda falávamos nisso, mas o que eu não esperava era que Gabriel começaria a me mandar mensagens picantes, à fim de me atiçar... O pior é que, quando vi, havia me entregado a seus chamegos e ambos estavam cheios de prazer.

Porém, achei que seria melhor dar um basta ali mesmo, e disse que iria dormir. Me despedi e então, sem muita demora, adormeci. Achei então que aquele papo tinha sido encerrado, afinal, o mesmo não tocou no assunto de manhã; quando nos vimos na entrada do colégio... Mas, foi quando bateu o sinal do intervalo e o mesmo me chamou pra ir atrás da quadra, que eu vi que aquele fogo estava bem acesso, e que o meu, por sinal, acendia mais rápido do que eu pensava. Em um piscar de olhos, eu e ele estávamos trocando beijos quentes, mas muito quentes mesmo, a ponto de tirar nosso fôlego.

Eu não conseguia pensar direito, parecia que era outra pessoa em meu lugar; pois por um lado eu estava tomada por um desejo adolescente, meramente fútil, e por outro, nem sequer queria estar ali realmente. No calor do momento, Gabriel quase partiu para outras ações, mas eu disse que não podia acontecer. Não ali, não tão rápido e não sem camisinha! Querendo ou não, eu ainda era virgem, e não queria ser pega na minha primeira vez ou até mesmo engravidar. Foi então que ele disse: "- Após a saída, aparece em casa.", completando com explicações sobre onde morava. Respondi que sim com a cabeça, e saí dali em direção a sala de aula (a qual cheguei atrasada).

Fiquei o final da aula pensando no que aconteceria se realmente fosse, ou se era certo, já que nem o conhecia direito. Eu estava sentindo uma explosão de sensações dentro de mim, muito confusa, com medo mas, ao mesmo tempo, curiosa. Nunca fui esse tipo de pessoa. Hora vai e hora vem, até que a hora da saída chega, e eu com meus pensamentos a mil decido ir a casa do menino.

— Ele é gentil, divertido, tem um histórico excelente no colegial e nos esportes, além de ter uma boa pegada... Não tem o que dar errado. - Pensei alto, enquanto ia em direção a sua morada. Chegando lá, o mesmo me atendeu e me disse pra entrar, que estava sozinho pois seus pais ainda não haviam chegado do trabalho. Ficamos batendo um papo, conversamos sobre o clima, colégio e outras coisas, e estava até que legal passar um tempo com ele; até que certa hora ele cortou o assunto, me deu um selinho e sussurrou em meu ouvido "- Vamos logo, antes que cheguem em casa", enquanto passava suas mãos em minhas pernas. Achei um pouco rude de sua parte, mas de fato, eu sabia que tinha me chamado ali apenas pra isso.

O mesmo me conduziu a seu quarto, que era grande, cheio de objetos relacionados a esportes e medalhas que já havia ganhado. Num movimento rápido e que me pegou de surpresa, ele começou a me beijar lentamente enquanto tentava tirar minha roupa ao mesmo tempo; comecei a me sentir desconfortável, como se algo me dissesse que aquilo não estava certo, e então decidi que não conseguiria fazer aquilo, não com um quase desconhecido. Tentava me afastar de seu corpo, mas o mesmo me prendia com seus braços à fim de ficarmos mais próximos, e por mais que eu tentasse me debater, ele não sedia.

— O que foi gatinha? Você não queria isso? Por que está tentando sair?

— Por nada, apenas mudei de ideia.

— Como assim, mudou de ideia? Justo agora que estava ficando bom... Lá atrás da quadra não me pareceu que não queria isso.

Eu tentava me desprender dele, mas ele continuava me segurando pelos braços enquanto tirava minha blusa. De repente, Gabriel tira seu membro pra fora da calça e começa a levantar minha saia do uniforme, à fim de forçar "aquilo" a entra em mim.

Num ato de desespero, o empurro contra a cômoda que havia ali em seu quarto e me solto de seus braços. Era possível ver em seu rosto o ódio que sentia, então sem nem pensar duas vezes, saí em direção a porta de sua casa que, felizmente, não estava trancada; e corri sem olhar para atrás e nem pensar em parar até que estivesse em minha moradia. Fiquei com medo que me seguisse, e tentasse algo, mas por sorte isso não aconteceu.

Porém, minha taxa de adrenalina subiu tanto, que assim que coloquei os pés em minha sala e tranquei a porta, desmaiei ali mesmo no chão. Meus pais já não estavam mais em casa, então apenas permaneci ali até despertar. Assim que abri meus olhos, não pensei em outra coisa a não ser contar pra Karol tudo o que tinha acontecido.

Subi em direção ao meu quarto, peguei um cobertor que havia ali do lado, sentei em minha cama e a liguei.

[FIM DE FLASHBACK

 

Depois de pensar em tudo o que tinha acontecido somente em dois dias, e em todos os meus erros; e isso inclui estar perdendo minha melhor amiga por burrice minha e ter corrido risco de estupro TAMBÉM por burrice minha, eu me encontrava perdida, e me sentindo um lixo.

Nesse momento, me senti a pior pessoa do mundo. Me senti horrível em pensar como contaria à Karol o que quase fiz com esse menino, que mal conhecia, simplesmente pra satisfazer um prazer temporário ou então saciar minha carência e esquecer das inseguranças. Consigo imaginar seu rosto, com uma feição triste e no quanto ficará decepcionada comigo, e dói saber que eu poderia ter evitado toda essa bagunça. Eu a amo tanto, e nem sequer fui capaz de dizer isso a ela, simplesmente por ter medo... Medo do que meus pais vão pensar, ou até mesmo os amigos do colégio. O pior é saber que o maior motivo de eu ter aceitado ir pra casa do Gabriel, ou de ter me entregue tão facilmente a ele nesses dias, foi por ter medo de encarar isso tudo.

Karoline sempre esteve certa, eu sou mesmo uma medrosa... A ignorei quando veio falar de seus sentimentos, por medo de dizer sobre os meus; a machuquei sendo fútil, pois pensei somente em mim... E mesmo assim, ela me deu uma chance de convencê-la a ficar ao meu lado, e eu a deixei partir sem nem mesmo dizer uma palavra; sem nem mesmo tentar. E agora eu estava perdendo minha melhor amiga... A minha Karoline, em um piscar de olhos.

Eu devia ter contado a ela sobre tudo que estava acontecendo, sobre tudo que estava passando em minha mente e sobre como eu estava me sentindo em relação a ela... Em relação a nós. Mas, ao mesmo tempo, não queria ser a responsável por abrir o jogo e falar todas as verdades... 

Brrr... Brrr... Brrr...

Meu celular vibrou na mesinha ao lado de minha cama, interrompendo meus pensamentos. Era Karol me ligando, e eu atendi.

 

• Narrador: Karoline

[02:10 - Casa da Karoline]

— Hm, alô?

— Margot? - Perguntei.

— Sim.

— Me desculpa por ter desligado a chamada na sua cara, aquela hora. 

Nevasca ficou em silêncio por um minuto, seguido de altas gargalhadas.

— Do que está rindo?

— Sabe, eu cheguei a algumas conclusões. - Disse. - Primeiramente, quem tem que pedir desculpas, sou eu, e acredite; tenho que pedir várias vezes! Só nesse tempinho que ficamos sem nos falar direito, aconteceram coisas das quais não me orgulho, e que talvez você não me queira ver nem pintada de ouro em sua frente... Mas vamos pular isso por enquanto. Outra coisa é que... Bem... Eu não devia ter evitado de falar daquela noite. - Continuou.

— Não, não precisamos falar dis... - Margot me interrompeu novamente.

— Não é precisar, Karol, é querer falar. Desde aquele sábado, eu só penso nisso, mas temia falar a respeito por medo do que pensaria de mim... A verdade sobre aquele sábado é que... Eu amei sentir seus lábios nos meus, amei sentir sua pele em contato com a minha, amei sentir teu cheiro suave, amei poder olhar nos seus olhos tão de perto; e amaria mais ainda repetir tudo isso, porque você não sabe, mas a verdade é que eu não aguentava mais ter você ao meu lado e não poder fazer tudo isso... A verdade é que a muito tempo já queria ter endoidado assim, por tua culpa... A verdade é que...

A mesma permaneceu em silêncio por um tempo, parecia estar tomando coragem pra continuar a frase. Meu rosto estava corado e muito quente, eu não acreditava em tudo que estava ouvindo ali, ainda mais aquela hora. Margot suspirava do outro lado da linha.

—... A verdade é que eu te amo, Karoline Greenwood, amo com todas as letras, e se você quiser, eu as soletro pra você! Nunca achei que teria tamanha coragem, já que guardo esses sentimentos a uns 4 anos, mas a partir do momento que percebi que estava te perdendo por besteira minha, vi que não conseguiria lidar com a sua ausência, por mais que eu tente preencher o seu "vazio" por algo ou até mesmo alguém.

— E VOCÊ TENTOU, COM AQUELE MENINO, NÉ? - Gritei, quebrando o clima romântico, e comecei a rir, seguida de Nevasca.

— Eu posso até ter tentado, mas percebi que sou incapaz de colocar qualquer coisa em teu lugar. Agora, falando sério Karol... - Nevasca suspirou novamente, com tom de nervosismo. - ...Se você estiver disposta, assim como eu, podemos fazer "isso dar certo". 

— "Isso"?

— "Isso" não... Nós. - Completou.

Bem, nunca pensei que ouvir a frase "a verdade é que" tantas vezes me deixaria tão feliz e tão nervosa ao mesmo tempo. Meu estômago a esta altura estava pedindo socorro, mas junto com ele, estava meu coração e um pedaço dos meus pulmões; estava tudo acontecendo... Falta de ar, uma possível taquicardia por ansiedade e as malditas borboletas no lugar onde só deveria ter comida! Aquilo estava mesmo acontecendo? Meus desejos estavam sendo atendidos, ou era apenas uma pegadinha? " - Câmeras escondidos, podem sair de onde quer que estejam", pensei. Bem, eu não podia mais adiar o "inadiável", tinha que enfrentar seja lá o que fosse vir pela frente, não só por mim... Dessa vez, era por um nós.

— Hm... Karol? - Disse Margot, me tirando de meus devaneios. - Você aceita namorar comigo?

— ...Sim, Margot Bachlion... Eu aceito namorar com você. 


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Notas finais do capítulo

E é com esse final feliz, que encerramos o terceiro capítulo! Espero que tenham gostado. ♥



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