- Eu te amo.

Ela não queria dizer. A certeza não era plena, ou era? Deveria ser, para ter dito involuntariamente.

O vento soprou os cabelos negros de Caio.

Seus olhos piscaram incrédulos por detrás das lentes retangulares daqueles óculos fofos.

Tudo naquele garoto impressionava-a.

Havia descrição?

Ela sentiu vontade de chorar, vergonha e raiva. Jamais teria admitido que amava Caio H, mas era mesmo uma lástima, não?

Caio riu, abaixou a cabeça, empurrando nervosamente as mãos para baixo no bolso de seu moletom vermelho.

Existia perfeição maior? Não naquele momento.

Sua timidez, ou talvez raiva daquela menina estúpida era tão raivosamente fofa.

Ela recuou um passo para trás. Estava preenchida pelo medo, mas o sorriso de Caio também havia feito seu estômago explodir em borboletas.

Sairia uma borboleta roxa? Ou uma monarca laranja?

De sua garganta sairia qualquer animal.

As mãos dela começaram a tremer, e ele percebeu isso, enquanto procurava palavras pra lhe meter um pé na bunda.

Ou não?

- Ontem minha mãe brigou comigo... – começou Caio.

A euforia que havia tomado conta do coração da pobre menina se dissipou com as palavras dele. Um alívio momentâneo preencheu seu peito, e com ele as borboletas se foram também. Mas a tristeza estava ali.

‘’Por que você não me ama, Caio?’’ Pensou, enquanto esperava-o continuar suas palavras.

- Abri à geladeira a noite inteira.

Ela riu.

- Por quê?

Caio demorou a responder.

Seus doces olhos pretos miraram sem pudor o centro das íris castanhas de Sarah.

Era como se quisesse falar por telepatia.

Como se tivesse de se livrar da agonia.

Então foi quando Sarah teve certeza,

Ele se aproximou com destreza.

Disse ele ‘’Eu ouvi’’.

Ela riu, gritando dentro de si.

‘’Eu preciso dizer que eu te amo’’ falou.

Os batimentos pararam. Ela arfou.

‘’Falo sério’’

Os orbes castanhos subiram timidamente em direção a Caio, que também não olhava diretamente para ela.

Seu rosto vermelhinho se abriu em um sorriso pequeno.

Não foi escolha deles, talvez. Simplesmente aconteceu.

Caio e Sarah haviam se abraçado. Um fato curioso, considerando que nunca abraçavam ninguém.

Em seus reconfortantes braços, ela encostou a cabeça em seu ombro e beijou a sua bochecha.

E o tempo passou arrastado, como uma ampulheta de lado, ou como um garoto apaixonado, que curtia ficar calado, para não ser chutado, pela garota mais legal do universo.

Então ali rolou seu primeiro beijo. Um garoto ingênuo, que não sabia beijar direito, mas tinha por ela um completo amor feito.

- Eu não quero mais ser seu amigo, não – sussurrou Caio, de olhos fechados, ao pé do ouvido de Sarah.

- Como quiser.

Seu estômago doeu,

Uma borboleta apareceu,

Em um momento doce como mel,

Ela era da cor do céu.