E apesar de tudo, ele sabia que o cometa iria voltar.

O ardor do hálito do verão ainda refrescava seu rosto. Se ele fechasse os olhos por tempo suficiente, ele poderia voltar para aquela noite cálida e calma, naqueles rápidos momentos onde estava deitado no gramado da fazenda.

“As férias de verão chegaram tão rápido esse ano”, pensou ele, enquanto estava na grama, apenas olhando para o céu, ao mesmo tempo que a escuridão da noite o engolia aos poucos. “Ano passado demoraram muito mais”, disse o garoto para si mesmo, a solidão que o cercava se misturando às trevas e fazendo-o tremer.

Sempre havia sido alguém solitário. Sua mente era sua melhor amiga, e seu cachorro era seu grande companheiro com quem dividia horas de fala. Sempre rodeado de pessoas. Crianças, adultos, conhecidos, colegas… Mas ao mesmo tempo, tão solitário.

“Eu sou uma ilha. Uma ilha no meio de um arquipélago.”, dizia ele para si mesmo. Estava sozinho, não importava o quanto tentasse se convencer do contrário. Uma ilha, não importava quantas outras tinha ao redor, estava cercada apenas de água.

Seus pais tinham morrido há tempos. Não estavam debaixo da terra, como todos os outros mortos. Estavam vivos, ainda respirando apenas pelo despeito de dizer que ainda estavam vivos. Eles podiam cuidar daquele menino. Alimentá-lo. Mas estavam mortos para ele.

“Às vezes, eu só quero que eles me notem. Às vezes, eu só quero que eles percebam que eu existo”, a grama pinicava suas pernas. “Mas eu sou apenas uma ilha; e as pessoas não notam ilhas”.

E veio, tão inesperado e rápido quanto a noite que anteriormente havia chegado. O cometa continuou sua órbita, desatento ao garoto estirado na grama, que olhava admirado para o céu. E ele nunca pôde entender exata e completamente o porquê daquele sentimento; algumas pessoas se contentam apenas em sentir. Mas quando aquele pedaço de rocha, interessado apenas em orbitar pelo espaço, cruzou com a vida daquela pobre e desamparada ilha, em toda a sua imensidão e solidão, ele entendeu.

Entendeu que mesmo as ilhas mais distantes estavam destinadas a algo. Entendeu que não importava se era o garoto mais belo ou o garoto mais feio; pois no fim, ele continuaria destinado a algo.

A partir daquele momento, o garoto deixou de ser uma ilha inserida a força num arquipélago, e passou a ser alguém. Pois havia algo naquele cometa que ninguém poderia explicar. Algo impulsivo, algo fantástico, algo atrativo…

Os cientistas disseram que justamente aquele cometa só voltaria em séculos, anos e anos a fio. Era isso que eles diziam. Mas não era nisso que ele acreditava. Pois aquele garoto esperaria o tempo que fosse por aquele cometa.

Era mais do que um cometa, pelo que trouxe para a vida dele: direção, beleza, significado. Tiveram muitos que não puderam entender, e as vezes ele passou por eles, apenas observando como, um dia, fora igual. Apenas uma ilha, vazia e solitária, cheia de si e mais nada.

Mas até nas suas piores horas, ele sabia em seu coração que algum dia, o cometa iria voltar para ele. E enfim seu mundo estaria completo de novo. A crença no amor e na arte divina renasceriam em seu coração, e ele saberia que era hora de se entregar. Não se entregar ao amor verdadeiro no qual filmes, livros e histórias são centrados. Pois esse amor, à primeira vista, parece tão fácil e sem dificuldades que muitos facilmente se enganariam. Apenas se entregar para algo que pulsava tão forte em seu peito que nada mais o faria. Ou o desfaria.

E quando o cometa voltasse, seriam apenas mais alguns segundos. Segundos rápidos, quase imperceptíveis. Mas que valeriam a pena cada dia de espera.