P.O.V. Percy

Seguimos pelos corredores escuros, ouvindo vozes, gritos expressando o mais genuíno desespero. Annabeth estava mais que assustada, segurava a adaga e a cada berro das almas, fechava os olhos com força.
Peguei sua mão, desejando lhe passar toda a segurança e conforto que, não me pertenciam. Nico parou e virou-se. Pediu para que nós o esperássemos. Entregou a tocha em chamas para Jason e saiu.
— Clarisse, né? Está tudo bem? – Jason perguntou.
Meus olhos voltaram-se para a herdeira da guerra. O rosto parecia aterrorizado. Segurava a lança com força, medo.
Annabeth a abraçou de lado. E eu até me impressionei. Clarisse e Annabeth nunca se deram bem. Mas vista a nossa situação, não estávamos com tempo de brigar, toda a ajuda seria bem vinda.

Na verdade, todos nós estávamos tensos desde o sequestro de Thalia, quando nem o próprio Apolo pôde prever o retorno de Cronos.

Di Ângelo apareceu e nos guiou até os jardins de Perséfone, a entrada do Palácio. Nico parou e direcionou as órbitas negras pra mim entrada do Palácio.

— Percy já é de casa – Ironizou – Quer fazer as honras?

— Contanto que não me deixe viúva... – Disse Annabeth e esboçou um sorriso

Andei até os enormes portões e encarei o rosto sério de Nico. Apoiei minhas mãos no mármore negro e empurrei, dando a visão do grande salão. Hades jazia no trono. O olhar sem vida no rosto pálido. Assim como esperamos do deus dos mortos. Por um momento, pensei na possibilidade dele estar como todos lá fora.

— Pai – O comprimento mórbido do Nico o fez virar a cabeça tão rápido que achei que cairía. O olhar do senhor das trevas se tornou furioso quando notou a presença de Jason, eu desejei a todos os deuses que ele ficasse calado.

— Romano. – Rosnou – Sinceramente Perseu, achei que tivesse mais respeito e consideração — O sorriso irônico me lembrava Nico mais do que ninguém.

— Nós não o trouxemos com o intuito de blasfêmia, Hades

Seu sorriso se ampliou ao ouvir minha resposta.

— Precisamos do acesso ao tártaro – disse Nico.

— Sim. Zeus pediu que eu deixasse vocês fazerem uma busca, mas acho difícil vocês encontrarem alguém vivo por lá. – Debochou

Levantou-se e após erguer os braços, uma névoa violeta se destacou e mostrou a maior porta do salão. Decorada com os monstros mais antigos de toda mitologia. Após a madeira ser tocada pela neblina, abriu-se num estrondo. A Íris divina se tronou da mesma tonalidade que a névoa, seu rosto se contorceu, como se estivesse lutando para deixar a porta aberta. Quando nós entramos, vi o mesmo abismo de todos os meus pesadelos. Ouvi o baque da porta se fechando e senti a mão de Annabeth sobre a minha, a procura de conforto.

Ficamos em silêncio, tentando ouvir algum ruído ou sentir a agonia que Cronos ou a falta de Thalia nos proporcionava. O primeiro passo foi meu. Andava encarando a beirada. Não pensei muito, a única coisa sana que me veio à cabeça foi os olhos azuis da Grace.

— Não sinto nada – disse Annie inquieta

— Precisamos ir mais fundo – Falou Nico – Vou dar um jeito nisso.

Nico correu até a porta e falou frases em grego antigo, algo tão rápido que não pude compreender.

A madeira negra rangeu ao abrir novamente, pude ver o deus no mesmo estado de transe, envolvido pela névoa. Passamos e a porta se fechou pesadamente.

— Não conseguimos nada, será melhor se formos pessoalmente até lá. – Jason se pronunciou.

Hades o ignorou, sentou-se de novo em seu trono divino. Nico tomou nossa frente, como um bom guia, invocou um servo que emergiu do solo escuro do Jardim e veio ao nosso encontro.

— Precisamos ir ao Tártaro, agora – Instruiu o garoto.

[...]

Um barco nos esperava atrás do castelo de Hades. O monstro-escravo de Nico subiu a bordo primeiro, tomou as correntes em mãos, eram ligadas ao barco, ele jogou o monte de madeira flutuante no rio. A água era escura, mas saia fumaça, ao longo do percurso o corpo do rio se unia as chamas do Flegetonte, que percorre o campos da Punição e desce para uma praia, no Tártaro. O amontoado de ferro estígio seguia um curso até monstros subaquáticos, para que nos levássemos.

Após subirmos e navegarmos por alguns minutos, alcançamos uma parte que largava mais fumaça, e então as chamas do rio flamejante foram alcançadas. Os gritos vindos do campo da Punição, eram mais agonizantes e mais altos. O calor que o Flegetonte emitia, nos perturbava e os gemidos das almas, cada vez maiores, nos deixava inquietos.

Annabeth com seus olhos cinzas, brilhando, indicando o terror que era lembrar do tempo em que caímos no Tártaro e tivemos que beber daquelas chamas para sobreviver.

Passamos meia hora de total silêncio, pisamos no solo do tártaro, composto por cacos de vidros. Clarisse e Jason demonstravam total surpresa, nunca haviam visto aquele verdadeiro inferno de tão perto.

Começamos a andar pelo vidro, nas margens rochosas do rio. Nico já havia passado muito tempo ali e sabia onde as partes de Cronos poderiam ser encontradas. Eu orava a todos os deuses para que o deus Tártaro não notasse nossa presença ali, e que se mantivesse dormente.

Nico, que nos guiava, parou de repente, e nos lançou um olhar de total surpresa

— Cronos não... – Sussurrou Annabeth atordoada.

— Não está aqui – Complementou Nico.

Me concentrei na imensidão daquele lugar devastado, e realmente, não se sentia nada.

— Como sabem? – Questionou Jason, parando ao meu lado.

— A aura de Cronos meche com semideuses. Se estivermos fracos, ele nos manipula. Como fez com Luke, pós a morte de Thalia. – Respondeu Clarisse

— ...Luke! – Lembrou Annie – Temos que sair daqui agora

— Ele pode estar... em perigo – Completei

Depois de voltarmos ao submundo, aturdidos e apressados, Nico correu e abriu as portas do salão principal com ar de indignação.

— Você sabia da ausência de Cronos! Atrasou meses de busca porque sabia que Thalia com certeza não estaria lá!– Nico berrou para Hades.

Guiei os outros escada acima e quando tivemos sinal do sol, Annabeth se apressou em sair.

Correu até uma fonte ornamental qualquer e arremessou o dracma.

— Ó deusa Íris, aceite minha oferenda. Mostre-me Luke Castellan.

As águas se fundiram na imagem de um homem, parecia no auge dos 40 anos, com óculos e chápeu de aviador

— Não sabia que o namorado da minha irmã era assim tão velho — Comentou Jason, confuso

— Pai! — Disse Annabeth

— Frederick! – Cheguei mais perto do ornamento.

Ele virou-se e o olhar cansado, tornou-se surpreso.

— Olá Annie – Sorriu forçado – Como posso ajuda-la?

— Onde está Luke? — Annabeth não é boba, sabia que seu pai estava ajudando o Castellan, mas seu orgulho parecia querer ouvir isso da boca dele.

— Luke? Seu amigo de cicatriz? Bem, acho que ligou errado, querida – Sorriu nervoso

— Ele mente tão mal quanto Annabeth – Sussurou Clarisse

— Ei! – Reclamaram pai e filha

— Luke pode estar em grande perigo, Frederick. Você não pode impedi-lo de fazer alguma besteira, nos diga o que ele planeja. – Pedi

— Onde vocês estão? – Perguntou Annabeth

Ele suspirou, derrotado. Abriu e fechou a boca algumas vezes, decidindo contar ou não.

— Estamos no Monte Ótris, estou ajudando-o a resgatar sua namorada, ele chegou ontem em São Francisco.

— Monte Ótris era a morada dos titãs na quando a Grécia era o coração da Civilização Ocidental, e durante a Guerra contra Cronos...

— Monte Tamalpais, mais conhecido entre os semideuses como Monte Ótris, fica perto de São Franciso, não temos muito tempo – Nico apareceu ao nosso lado, sua voz com algum resquício de raiva, mas sua feição calma

— Como sabe tanto? – Perguntou Jason

— Já viajei muito por São Francisco, – Deu de ombros e continuou – Fica longe, mas conseguimos chegar lá hoje

— Precisamos correr – Disse Annabeth — Tchau Pai

— Adeus querida – Ele sorriu, e a ligação acabou. Corremos até o meio fio e Clarisse me olhou.

— Precisamos chegar a São Francisco e Chris está cuidando dos pegasus no acampamento, me dê seu celular Annabeth, talvez ele atenda – Pediu.

— Chris tem celular? – Perguntou, entregando o aparelho.

— Você não é a única que pode quebrar regras. – Discou os números e torceu para que atendesse nos primeiros toques, e assim aconteceu. – Chris! Sou eu, mande Blackjack e mais alguns cavalos para os estúdios M.A.C. em Los Angeles

[...]

POV Luke

No dia anterior, Frederick concordou em me ajudar, e me convidou a dormir, já que partiremos somente ao amanhecer.

Sonhei, nuvens carregadas no céu, destroços do Monte Ótris decoravam o lugar, árvores balançavam empurradas pelo vento forte.

Thalia parecia estar acorrentada a uma coluna. jogada sangrando, o olhar mergulhado em desespero e raiva. Senti um aperto, a consciência pesada, eu sabia que ela estava ali por minha culpa. Eu não conseguia ver mais ninguém, até que avistei uma sombra negra saindo da névoa que circulava a grande atração de São Francisco.

A mecha cinza nos cabelos negros me fizeram tomar um susto. Percy não parecia estar sob controle de ninguém, só estava sério. Os olhos no mesmo tom aqua, carregando sua contracorrente, ele se aproximava de Thalia com a espada erguida, meus instintos acionaram-se e levando uma lâmina que não havia percebido até então, ataquei.

Investi contra Percy com a maior certeza de que estava fazendo a coisa certa, e sem nenhum receio. Ele defendeu e quando menos percebo um raio soa no céu e eu apago. Acordei lembrando o grito de Thalia, agonizando, jogada entre rochas. 

— Está tudo bem? – Perguntou o homem de cabelos grisalhos

— Sim... Não. – Eu disse tentando raciocinar. – Tenho que encontrar Thalia. O Monte Ótris fica muito Longe?

— Alguns quilômetros pelo ar

— Que horas podemos sair?

— Agora mesmo. Mas mesmo indo de helicóptero, ainda teremos algumas horas de caminhada. Não poderia pousar mais próximo do topo por conta das árvores e rochas.

Assenti e me preparei o mais rápido que pude.

A viagem foi longa, paramos na base do monte. Era perceptível a energia que emanava de cima. Ao primeiro passo todo meu corpo estremeceu. Minha alma pedia socorro, e minha pele queria estar indo em direção oposta. Eu já havia sofrido demais uma vez com aquele titã, tinha sido doloroso, mas por Thalia eu passaria aquela tortura novamente.

Embora o sol a pino, podíamos sentir o vento frio anunciando uma possível tempestade se aproximando.

Frederick não quis deixar-me, eu sabia que aqueles momentos seguintes seriam minha responsabilidade. Annie não me perdoaria por fugir e matar o pai dela numa mesma viagem e eu tentei ao máximo argumentar sobre o quanto era perigoso, e que me sairia bem sozinho, mas o Chase parecia tão cabeça dura quanto sua filha, as vezes.

Após horas caminhando, anoiteceu.

Minhas pernas não doíam, e eu não estava tão cansado, mas Frederick parecia exausto. Deitei na grama abaixo dos meus pés, usando a mochila como travesseiro, aos poucos, o cansaço que eu não havia percebido, logo me atingiu, e adormeci.

[...]

POV Annabeth

— Ele está demorando muito, Clarisse – Queixou-se Jason

— Por favor, esperem mais um minuto – Clarisse pediu, nunca a havia visto assim, a máscara de menina má caiu e agora ela era só mais uma de nós, assustada com o futuro que essa missão teria se não encontrássemos Thalia

Logo vi asas cortando o horizonte, Blackjack e mais três cavalos sobrevoando os jardins e quebrando alguns ornamentos ao aterrissarem. E, em cima do cavalo preto, lá estava Chris Rodriguez, o semideus filho de Hermes.

Ele desceu do Pégaso e foi em direção a Clarisse, a abraçando fortemente, e soltando um suspiro de alívio por ver sua namorada bem.

Depois, acenou para cada um de nós e foi em direção ao Percy.

—Foram os únicos que consegui trazer, espero que ajudem – Falou com a respiração entrecortada, cansado

Percy agradeceu e subiu em Blackjack, oferecendo sua mão para me ajudar a subir. Nico e Jason montaram em seus cavalos, e antes que Clarisse pudesse subir também, Chris montou e a ajudou a subir

—Hãm... Chris?— Perguntou Percy

—Quase esqueci.— Riu — Eu vou com vocês

Ninguém reclamou e Jackson levantou o voo me fazendo abraçar forte sua cintura.