A jovem estava sentada na cadeira de Belian, assistindo a gravação da batalha anterior que o irmão estudara meticulosamente por horas a fio. Haviam duas esferas flutuando próximas à sua cabeça.

– Waa, vim pra cá achando que só teríamos três pra brincar, mas são cinco agora! – ela sorria, enquanto olhava para a esfera à sua esquerda. – O que você acha?

Um assobio longo foi a única resposta.

– Hmm, é, você tem razão. Está mesmo na hora de me apresentar – ela encarou a esfera à sua direita. – Quem eu devo levar comigo?

Mais um assobio, dessa vez mais curto.

– Boa idéia! Gairanger... Gai Stars... Mal posso esperar!

***

Mugen, Harumi e Tohma estavam sentados num pequeno café chamado Milkie Way, e já era a terceira vez que tinham de pedir mais copos d’água enquanto esperavam.

– Ela está atrasada – Tohma olhava para o relógio na parede.

– Ela estava atrasada há uma hora, agora deve estar tirando uma com a nossa cara! – balbuciou Mugen, entediado.

– Eu falei que vinha sozinha, vocês que insistiram em vir comigo – reclamou Harumi, olhando feio para os dois. – Só podemos esperar e... Ah! Olha ela ali!

– GAIRANGERS! – Kira entrou gritando, carregando muitas sacolas. Ouviu pesados “SHHH!” dos três enquanto se sentava. – Ah, desculpem, desculpem. Ainda estou pegando o jeito desse lance de voz e tal. E demorei porque tive que despistar o Sr. Sem-Graça, vocês entendem, né?

– Tudo bem. O que você tem aí?

– Ah, são presentes pra vocês! – ela rapidamente sacou três caixinhas (com as cores de cada um), cada uma contendo o que parecia ser um pedaço de cristal. – São fragmentos dos núcleos dos catalizadores das nossas Gai Machines. Vão ajudar vocês a concentrarem mais Soul Energia pra conseguirem lutar contra os Genma-Monstros R.

– Isso é incrível! – Mugen olhava o fragmento de perto, observando seu brilho peculiar. – É muito mais avançado do que os que nós usamos! Onde você arranjou isso?

– Onde arranjaram tudo? – completou Tohma.

– Hm... – Kira fez uma pausa longa, seguida de um suspiro. – Ele não queria que eu falasse pra vocês, mas eu sei que devemos ajudar uns aos outros. Vou contar tudo. Meu nome é Kira, eu e meu parceiro Shido não somos desse planeta.

“Viemos de uma estrela distante, o planeta Mana. Nosso mundo tinha vários conflitos, claro, mas nada poderia nos preparar para a chegada de Zalloss. Belian atacou com seu exército de Genma-Monstros, devastando completamente nosso planeta. Foi o parceiro dele, inclusive, quem matou os pais de Shido...”

Ela parou mais um segundo, torcendo levemente o lábio. Tomou um gole de água e continuou:

“No último dia da guerra, descobrimos que Belian estava procurando uma coisa. Depois de destruir quase tudo, ele concluiu que deveria estar aqui na Terra – então veio para cá. Eu e Shido descobrimos por acaso as Gai Machines, contendo os segredos da Soul Energia. Graças a isso, pudemos seguir Belian.”

– Mas sua aparência... – Mugen tentava não soar ofensivo.

– Esses corpos são emprestados – Kira tocava o próprio peitoral. – O povo de Mana é feito de luz sólida, e para viajar até aqui tivemos que sacrificar nossa forma corpórea de nossas essências. Encontramos um casal à beira da morte e eles nos permitiram o uso de seus corpos para que pudéssemos lutar. Eles disseram que queriam ajudar os Gairanger, que já fizeram tanto por esse mundo.

Harumi corou por um instante, disfarçou com uma tossida e perguntou:

– E o que é essa coisa que Zalloss quer?

– Zallosstone, a pedra das trevas – a voz séria de Shido surgiu atrás de Kira, fazendo a menina ter um calafrio. Ele se sentou ao lado dela. – Achei que tivesse sido muito claro sobre não envolvê-los nisso. Mas agora que você já começou acho que não temos escolha.

– Eu tenho uma pergunta pra vocês – Mugen deixou sua voz quase tão séria quanto a de Shido. – O parceiro de Belian usava o Soul Negro?

– Soul Negro? Nunca ouvi falar. O assassino de meu pai não era membro formal de Zalloss, apenas trabalhava para Belian.

Mugen perdeu o pouco de esperança que a história lhe dera; Dokuross ainda continuaria um mistério por algum tempo. Foi Tohma quem quebrou o silêncio desconfortável:

– E o que é exatamente essa pedra?

Shido e Kira se entreolharam por um instante.

– Tch, acho que vai ser mais fácil mostrar de uma vez. – ele encostou seu dedo indicador na testa, até criar um fraco brilho. Em seguida, pediu para que todos tocassem.

***

Foi como fazer um mergulho inesperado. Agora estavam longe do Milkie Way e jogados na escuridão do espaço sideral. Harumi era a única dos três que parecia não estar surpresa.

– Estamos na sua memória? Já passei por algo assim há algum tempo...

– Sim e não – respondeu Shido. – Na verdade isso é um constructo mental, criado a partir das minhas lembranças sobre a mais antiga lenda de Mana. Vejam...

Da imensidão do espaço, surgiu uma sombra. Algo amorfo e terrível que se estendia produzindo um som assustador – mesmo que não houvesse ar para propagá-lo.

– Essa é a representação de Grandoria, a Mãe de Zalloss – explicou Kira. – Sua real forma é um mistério para todos.

– Um mistério pois essa forma não existe mais – completou seu parceiro. – Pois ele a destruiu! Gai, o Deus da Soul Energia!

Assim que falou, um outro ser surgiu ao lado de Grandoria. Suas asas eram gigantescas, e o brilho dourado produzia um calor agradável. Era como um dragão feito de luz.

Os dois seres se enfrentaram, até que Grandoria foi completamente consumida pela luminosidade de Gai. Antes de desaparecer por completo, porém, uma minúscula pedra foi lançada numa direção aleatória, voando como um cometa.

***

Todos estavam de volta ao café – não que tivessem saído de fato, claro.

– A Zallosstone é o corpo de Grandoria – Shido falava calmamente, enquanto os demais recuperavam o fôlego. – Mesmo derrotada, sua essência maligna continuou a existir, se alimentando da força vital de inocentes. Se seus Sacerdotes puserem as mãos na pedra das trevas, Grandoria retornará com toda a força de antes.

– Gai, nosso protetor, sabia que isso podia acontecer – Kira olhava para o teto, como se quisesse ver o céu. – Por isso influenciou membros de vários planetas para que criassem os equipamentos necessários para enfrentar Zalloss quando a hora chegasse.

Mugen pensou automaticamente em seu pai. Então fora assim que ele começara o projeto dos Gairanger...

– Nosso maior problema é que ainda não sabemos onde a Zallosstone está – Kira continuou a falar, agora também muito séria. – E não sabemos quanto tempo...

– GAIRANGER! – uma voz feminina estridente explodiu as janelas do Milkie Way, como se estivesse sendo amplificada pelo microfone mais potente do mundo. – VOCÊS TAMBÉM, GAI STARS!

Os cinco correram para fora do café, passando pela multidão que corria assustada. Deram de cara com uma garota de aparência muito jovem – ninguém lhe daria mais do que 14 anos –, carregando um megafone roxo berrante.

– Waa, são vocês, não são!? – o megafone se transformou em um par de bolas de cristal flutuantes, negras e com olhos coloridos. – Esse aqui é o Aba – ela apontou para o olho vermelho. – E essa é a Ayo – e em seguida apontou para o azul. – Estávamos ansiosos para conhecer vocês! Sou a Sacerdotisa da Resolução – ela fez uma engraçada reverência. – Meu nome é Zallia.

Shido fez uma cara de confusão, bem como Kira. Eles obviamente não conheciam essa inimiga. Mugen tomou a frente:

– Deixem isso com a gente dessa vez – ele apertou com força o cristal que recebera de presente. – Vamos mostrar que também somos fortes! Gaishin!

Os três se transformaram rapidamente, indo contra Zallia. A sacerdotisa parecia emocionada.

– Zallia! – Red se impôs na frente do grupo. – O que pretendem aqui? Roubar mais energia vital?

– Nossa mãe já está muito bem alimentada... Acho que está dormindo agora. Hoje viemos só pra brincar! Aba, Ayo! – com um assobio, as esferas grudaram nas botas de Zallia, que começou a flutuar. Com essa vantagem, era fácil escapar dos ataques. Ela ria como uma criança a cada movimento – Waa, vocês são muito moles. Melhor chamar outra pessoa pra brincar com vocês... Venha, Rhino Genma!

O imenso monstro rinoceronte surgiu do nada, atropelando os três. O chifre em sua cabeça fora ciberneticamente modificado para se tornar uma poderosa broca. E ele já chegou gritando.

– Os três juntos não são nada pra mim! SCRAP BURNER!! – o Genma-Monstro avançou com seu chifre-broca zunindo fortemente, derrubando seus adversários.

– Aquele chifre é a única arma dele – constatou Gai Blue. – Se conseguirmos parar seus movimentos...

– Deixem comigo! – Gai Red teve uma ideia súbita. – Horn Javelin! Horn Crane!

O gancho foi disparado com precisão, se prendendo ao chifre de Rhino Genma. O monstro urrou de dor enquanto o barulho de sua broca era silenciado e a voz de Gai Red se fazia ouvir.

– Agora!

– Shell Shocker! HYDRO DRIVER!!

– Wing Cutter! SKY SONIC!!

Os ataques seguidos de Blue e Yellow foram suficientes para começar a rachar o chifre. Em seguida, os três se ficaram lado a lado, com Blue à frente.

– ANIMA BUSTER! – o Blue Soul Charge em forma de tartaruga foi deslizando por uma onda invisível até acertar a broca, que se esmigalhou em mil pedaços.

Os três caíram de joelhos, exaustos. Mesmo com o presente de Kira era muito difícil manter a transformação.

– Waa, seu molenga! – Zallia desceu e chutou a cabeça do subordinado. – Vamos dar um jeito nisso – Aba e Ayo se uniram novamente, agora na forma de um tipo de controle remoto com uma longa antena. – Upgrade!!

Com o apertar de um botão, Rhino Genma se levantou, e novas brocas emergiram em suas mãos e ombros. Zallia começou a bater palmas de felicidade.

– Obrigado, mestra! – ele olhou para os desacreditados Gairanger, que tentavam se levantar. – SUPER SCRAP BURNER!!!

A investida agora foi muito mais violenta, a ponto de cancelar a transformação dos três. Foi nessa hora que Shido e Kira finalmente entraram em cena.

– Vieram ajudar seus amiguinhos? – indagou o Genma-Monstro.

– Não confunda as coisas – Shido já preparava seu Soul Touch, assim como Kira. – Só viemos tirar o lixo. Gaishin!

Gai Break e Gai Bright tentavam acertar o vilão com seus Star Sazers, mas as brocas eram sólidas o suficiente para bloquear as flechas de luz como se nada fossem.

– Nunca vão conseguir me derrubar! – Rhino Genma se vangloriava, orgulhoso de seu upgrade. – Vocês podem ser rápidos, mas não são rápidos o bastante!

– Acho que realmente não temos tempo a perder então – disse Bright, encarando o parceiro. – Quanto tempo deve durar nessa atmosfera? Uns 30 segundos?

– Serão muito mais do que o suficiente – ambos tocaram a fivela do cinto, pressionando um botão escondido. Depois, gritaram juntos em uníssono.

– Galaxy Mode!

Zallia tomou em mãos um binóculo roxo para poder apreciar com detalhes o que acontecia: os corpos dos Stars se tornaram negros, salpicados com centenas de estrelas brancas brilhantes e alguns pontos coloridos.

– O universo!? – Rhino Genma estava mesmerizado, mas logo se recompôs. – Não importa, vocês acabam aqui mesmo! Eu vou...

Antes que pudesse terminar, percebeu que os dois não estavam mais ali. Em seguida, sentiu uma dor aguda no ombro. Depois, uma nos joelhos. Cabeça, mãos, cotovelos, peitoral... A velocidade dos Gai Stars agora era como se fossem um clarão de luz piscando consecutivamente.

– GALAXY FINISH!! – com seus Star Sazers em Claw Mode, a dupla desferiu um último golpe, estilhaçando todas as novas brocas do monstro. Os queixos dos Gairanger despencaram ao mesmo tempo.

– Ai ai, mas nem assim? – Zallia voltou a criar seu controle remoto. – Evolução Zalloss!! – enquanto Rhino Genma crescia, a sacerdotisa voltou sua atenção para a dupla. – Até que foi divertido! Nos vemos depois, Stars! – e desapareceu.

– Tch – Gai Break olhava pra cima enquanto puxava seu Soul Touch. – Seigaioh, em ação!

***

O robô gigante dos Gai Stars se movia rapidamente, tentando acha uma brecha na defesa do inimigo.

– Não será tão fácil dessa vez! – Rhino Genma disparou uma de suas brocas como um míssil, errando por muito pouco Seigaioh.

– Precisamos confundir sua mira... Seigai Illusion!! – várias cópias perfeitas do Seigaioh surgiram, cercando o Genma-Monstro.

– Vou simplesmente acabar com todos! – ele esticou seus gigantescos braços, e todas as brocas giraram ao mesmo tempo. – SUPER SCRAP BURNER!

As brocas-mísseis voaram furiosas, explodindo ao entrarem em contato com cada uma das cópias. Em pouco tempo, só restava um – e a última broca ia em sua direção.

– O que é isso!? – Gai Break observou o que pareceu na hora um vulto vermelho cair exatamente na mão do robô, protegendo-o da explosão.

– É o nosso Daigai Shield – a voz de Harumi saía do Soul Touch de Bright. – É o mínimo que podíamos fazer para retribuir o presente! Agora acabem com ele!

Os Gai Stars concentraram sua Soul Energia, dando o brilho metálico para as mãos de seu robô. Ele correu veloz contra o agora desarmado Rhino Genma.

– VICTORY STRIKE! – o Genma-Monstro explodiu em mil pedaços, indo se juntar às suas brocas. – Seigaioh... Soul End.

***

– Esses são todos os dados que temos sobre a Zallosstone – Kira entregava um pendrive para Harumi. – Se vocês descobrirem algo...

– Pode deixar que vamos avisar – Tohma respondeu, com um sinal de positivo. – Depois ainda quero levar vocês para comer takoyaki!

– Eu tenho certeza que vou A-M-A-R! – os olhos dela brilhavam. Shido afastou a garota por um instante.

– Ainda precisam aumentar mais suas forças pra conseguirem usar o cristal por mais tempo. Da próxima vez podemos não estar aqui para salvar o dia. Agora vamos, Kira.

Os dois já estavam a alguns passos de distância quando Mugen gritou.

– Hey! – ambos viraram. – Me chamo Mugen Ishimori. Esses são Harumi Uranami e Tohma Tatsumaki. Se estamos nessas juntos, precisamos começar a usar nomes.

– Tch – respondeu Shido, enquanto voltava a andar. Sem olhar pra trás, ele respondeu – Fique mais forte, Ishimori. Até a próxima.

***

– O que você achou deles, my sister? – indagou Belian com sua rouca voz, enquanto ele e a irmã assistiam a última batalha pelo monitor.

– Eles são muito, muito divertidos! – Zallia sorria de forma assustadoramente inocente. – Mas muito fraquinhos... Agora que já temos certeza da força deles, podemos procurar a Zallosstone sem nos preocupar, não é?

– Kekeke, exactly. E acabei de receber a visita de um old friend que veio nos ajudar. Entre, Cavaleiro Mercenário!

O som de pesadas botas metálicas ecoou por toda a Pregyre, enquanto ele fazia sua entrada no salão principal. O flagelo do planeta Mana agora orbitava a Terra.

No entanto, ele não era a única cara nova.

***

Ele já soprava a flauta há dias. O calor já ardia seus ossos, e o deserto parecia pior do que nunca. Mas agora, finalmente, ele começava a esboçar um sorriso.

O portal estava quase estabilizado. Logo poderia voltar. Um único pensamento passava por sua cabeça:

Respostas. Sobre Zalloss... e Mugen.