A sala estava completamente escura, exceto pelo monitor do computador que mostrava uma série de gráficos. Os irmãos Ishimori esperavam pacientemente enquanto observavam a oscilação na tela, até que finalmente aconteceu: os números começaram a crescer exponencialmente, e uma janela marcada com DANGER surgiu.

– Chegou a hora, Mugen – disse o irmão mais velho, de pé, para o mais novo, que sentou ao computador e começou a ler os dados.

– Vou chamar os outros! – respondeu Mugen. Ele pressionou os comandos e enviou dois sinais.

O outro, por algum motivo, sorria um sorriso quase assustador.

***

– Ai! – gritou Harumi Uranami, ao entrar em casa. Um frisbee voara direto em sua cabeça, acertando em cheio. Ela virou furiosa na direção dos gêmeos de 7 anos que brincavam na sala: – Ah, Meninos! Já falei pra não ficarem jogando coisas dentro de casa! E vão logo tomar banho, a irmã de vocês já deve estar ficando loira debaixo daquele chuveiro...

Os dois subiram as escadas enquanto a garota se sentava na poltrona. Ser a mais velha de 5 irmãos não é fácil quando seus pais já não estão mais por aqui. Pelo menos ela ia poder dormir um pouco agora...

– Mana? – Haruko, a segunda mais velha com 16 anos, cutucou a irmã. Ela respondeu ainda de olhos fechados:

– Ah, estou realmente cansada, não dá pra deixar pra depois?

– Mas... Olha! – ela segurava um aparelho de pulso, que piscava de forma incessante e emitia um som agudo. – Está assim há uns minutos, e você falou que era muito, muito importante!

– Haruko... – Harumi pegou o aparelho e o prendeu no pulso. Seu olhar era determinado. – Eu vou ter que sair por um tempo.

– Encontrar o senhor Ryuusei, né? – respondeu, sorrindo. – Vai, eu cuido de tudo por aqui!

Após um demorado abraço, Harumi acenou com a cabeça e partiu, correndo o mais depressa que podia.

***

Longe dali, três jovens andavam pelo shopping. Tohma Tatsumaki, que estava no meio, carregava um milk-shake numa mão e um imenso pacote de takoyaki na outra.

– Cara, você tem que parar de comer assim, não pode fazer bem! – disse o garoto da esquerda, olhando o amigo jogar a comida dentro da boca.

– Se bem que não sei pra onde vai toda essa comida... – completou o amigo da direita. – Isso porque ele nem joga mais...

– Haha, relaxem! – gritou Tohma, de boca cheia e sorrindo. – Quero comer agora todos os takoyakis que não vou poder comer quando for um velho caquético! Agora vamos procurar umas garotas!

– VAMOS! – gritaram os dois. Antes que pudessem sair, um som agudo e alto começou a perturbar Tohma:

– Caramba, desliga esse celular irritante! Não consigo nem pensar assim.

– Hã, mas isso tá vindo de você – o amigo apontava para o bolso traseiro do outro, onde um aparelho apitava. O olhar de Tohma mudou completamente.

– Vamos ter que cancelar, galera – ele tomou o shake num só gole e devorou todo o takoyaki de uma vez, colocando o aparelho no pulso em seguida. – Precisam de mim agora! Até depois!

Ele saiu correndo, sem ouvir as exclamações dos amigos. Enquanto corria, pensava:

– Ryuusei... Você falou que ia demorar bem mais tempo para me chamar!

***

O prédio do Instituto de Ciências Avançadas G-Pro era como uma Torre de Babel no centro da cidade, dando emprego a centenas de funcionários nas mais variadas áreas de pesquisa e produção tecnológica. No entanto, pouquíssimas pessoas sabiam da sua função real.

– Ah! Harumi! – gritou Tohma ao encontrar a garota na frente do prédio. – Dessa vez não é só um teste, né?

– Parece que não – respondeu a garota, séria. – Vamos logo! – os dois seguiram para os fundos, onde pressionaram um painel secreto que revelou um elevador especial. Descendo vários andares eles chegaram até seu destino.

Ryuusei e Mugen já os esperavam.

– Tohma, Harumi – começou Ryuusei, com uma voz estoica. – Há alguns minutos Mugen captou uma oscilação entre as barreiras dimensionais. Observem. Mugen, por favor...

– Essa é Pregyre, a nave-mãe – Mugen mostrava uma imagem distorcida surgindo no espaço, sob a Terra. – Segundo as informações que nosso pai tinha, eles devem começar o ataque em breve e...

– E nós vamos até lá! – Ryuusei cortou seu caçula, socando a própria mão. – Vocês dois receberam o Soul Changer de meu pai há 5 anos, quando ele descobriu o potencial da Soul Energia em vocês e em mim. Desde então estamos treinando, e nosso Instituto G-Pro criou todos os equipamentos necessários. Meu pai pode ter morrido, mas vamos seguir em frente!

– Vou colocar os últimos algoritmos do programa de transformação em seus Soul Changers agora – Mugen digitava uma série de códigos no computador. – A energia liberada vai ser gigantesca, então os três têm de estar juntos, pelo menos da primeira vez, ok?

Assim que o programa terminou de ser carregado, um novo aviso surgiu, dessa vez acompanhado de uma sirene.

– Eles estão aqui, os seres mais poderosos do universo! – Ryuusei sorriu. – Vamos!

***

O centro da cidade era um grande caos.Figuras roxas humanoides corriam atrás dos pedestres, que fugiam aos gritos. Sempre que um caía, os atacantes os seguravam e com um som terrível sugavam-lhe a energia. Umcasal mascarado e usando capas negras observava a cena no centro de tudo.

– Lixo – disse Doham, o sacerdote. – Essa “humanidade” não passa de lixo. – ele agarrou um homem que tentava fugir passando ao seu lado e o ergueu com uma só mão, levantando a voz: – Humanos! Pela glória do Clã Zalloss, seu planeta nos pertence! Ha! – ele encarou o homem que segurava, sugando-lhe a energia e jogando-o de volta ao chão.

– Os nativos parecem ser extremamente fracos, meu irmão – respondeu Lamarg. Ela estendeu a mão e passou a ler a aura energética da população assustada, abanando um leque com a outra. – Mas a força vital presente aqui é imensa! Não encontramos um planeta com tanto potencial desde o Planeta Mana...

– Parem, Zalloss! – a voz de Ryuusei ecoou ao fundo, e os três surgiram em meio à multidão, ficando frente a frente com os invasores.

– Quem ousa? Eu, o Sacerdote da Destruição Doham exijo saber!

– Acharam que a Terra estaria desprotegida? – Harumi estava com as mãos na cintura.

– Estamos treinando há anos para acabar com vocês! – Tohma apontou para os inimigos.

– Hahaha! – Doham gargalhava. – E de que forma pretendem nos enfrentar? Vocês são... – antes que pudesse terminar a frase, os três ergueram seus punhos e concentraram suas energias. Rapidamente, uma aura esverdeada cobriu todos, para o espanto dos sacerdotes. – I-impossível! A força do planeta Mana... Soul Energia!

Ryuusei, Harumi e Tohma começaram a enfrentar as criaturas roxas, derrotando-as facilmente. Perto dali, Mugen assistia a cena.

– Incrível... – pensou, olhando para seu próprio punho direito. – Eu deveria ajudar... Se pelo menos eu conseguisse... – uma débil fagulha de eletricidade passou por sua mão, surpreendendo Mugen. – O que foi isso!? Será...?

***

– Esse é o nosso poder, Zalloss! – gritou Ryuusei, apontando para Doham após terem derrotado a primeira onda de soldados. – Nós possuímos a Soul Energia que vocês enfrentaram há muito tempo.

– Idiotas! – respondeu Lamarg. – Esse poder sempre nos aborreceu, mas a força de nosso clã é muito mais assustadora, não há igual no universo!

– Hm... Era essa a resposta que eu esperava – Ryuusei saiu de sua posição de luta, e segurou o Soul Changer na mão. – Este aparelho permite que eu e esses dois possamos acessar nosso potencial máximo de Soul. Mas sem os três juntos, ele se torna inútil – ele então jogou o aparelho para trás, com exclamações de surpresa de Harumi e Tohma. – Clã Zalloss! Eu busco um poder muito maior do que a Soul Energia me permite alcançar! Permitam que eu me una à vocês!

– RYUUSEI! – os dois gritaram ao mesmo tempo, enquanto os sacerdotes riam. Ryuusei acertou Harumi e Tohma com golpes de surpresa e caminhou até Doham, ajoelhando-se.

– Fascinante, humano – disse Doham, olhando para baixo. Não custava brincar um pouco com aquela criatura. – Você conseguiu me surpreender! Lamarg, leve-o para nossa mãe... Eu cuidarei dos outros dois.

– Muito bem – respondeu a irmã, enquanto Ryuusei se aproximava dela. – Vamos, humano. Nós... O que!?

Um grito de pura raiva explodiu atrás deles. Era Mugen, correndo com lágrimas nos olhos. Ele atravessou o campo de batalha e acertou um soco no rosto do irmão, que não se mexeu.

– V-você traiu nosso pai! Nossos amigos! Traiu a mim! – as lágrimas do irmão mais jovem escorriam por sua face enfurecida.

– Mugen... SAIA! – Mugen foi lançado para longe pelo golpe de seu irmão mais velho, levando consigo a jaqueta vermelha que o traidor usava até então. – Nosso pai que nos traiu, nunca nos deu a opção de conseguir o verdadeiro poder, o poder máximo! Me diga, meu irmão... O que você pode fazer? Adeus, Mugen!

Lamarg abanou seu leque, criando um vento de energia que sumiu com ela e Ryuusei. Tohma e Harumi ficaram em frente à Mugen, esperando pelo ataque.

– Hahaha! – gargalhou Doham. – E eu que pensei que poderia ter um desafio nesse planeta... Genma-Monstro Koumori Genma! – com um estalar de dedos, um morcego humanoide monstruoso desceu ao campo de batalha, enquanto Doham desaparecia e deixava sua voz ecoar. – Acabe esses seres patéticos!

– O que vamos fazer agora? – perguntou Tohma. – Sem o Ryuusei...

– Eu sei, eu sei! – respondeu Harumi, claramente nervosa. – Mas... Temos que fazer o que pudermos fazer.

As palavras caíram na consciência de Mugen. Fazer o que pudermos fazer... Ele sabia o que isso queria dizer.

Mugen Ishimori levantou-se do chão,vestindo de forma determinada a jaqueta que fora confiada ao seu irmão. Ele segurava em sua mão direita o Soul Changer que Ryuusei havia jogado fora.

– Harumi, Tohma... Eu sei o que eu posso fazer – ele colocou o aparelho no pulso, e a mesma energia de antes começou a brilhar. – Eu sei o que nós temos que fazer!

– Mugen... – Harumi colocou a mão em seu ombro, acenando positivamente. – Vou acreditar em você. Em nós!

– He... Isso vai ser interessante – concordou Tohma, enquanto tomavam posição um ao lado do outro.

– Soul Changer! – os três levaram os transformadores para a altura do peito. – Gaishin!!

Um estouro de luz multicolorida inundou os três, enquanto uma voz mecânica exclamava “SOUL CHANGE”. Em um segundo, três figuras de cores distintas estavam ali, cobertos por um poder nunca antes visto.

– Raging Earth! – Mugen assumiu uma pose de pura força. – Gai Red!

– Dancing Wave! – Harumi movia-se com a técnica de uma bailarina. – Gai Blue!

– Crossing Wind! – Tohma tinha movimentos incrivelmente velozes. – Gai Yellow!

– Com o poder sagrado, alcançaremos a vitória! Guerreiros da Luz Gairanger!! – uma imensa explosão aconteceu à suas costas.

– Soldados Zazer, ataquem!! – as figuras roxas saltaram de trás do Genma-Monstro, avançando contra os Gairangers aos gritos de “Za!”. – O vermelho é meu!

***

Gai Blue puxou sua pistola Gai Laser do coldre, derrubando vários Zazer enquanto corria. Ela então voltou como se estivesse fugindo, fazendo os inimigos virem atrás em linha – como ela queria.

– Soul Changer, set! – ela acoplou o aparelho à arma, e uma voz mecânica exclamou “SOUL CHARGE”. – Soul Shoot!!

***

Enquanto uma explosão imensa ocorria, Gai Yellow enfrentava mais alguns soldados ao lado. Ele pressionou um botão escondido em sua arma, tornando-a Gai Sword. Defendendo-se, ele saltou muitos metros para cima, preparando sua espada.

– Soul Changer, set! – “SOUL CHARGE”, ele voltou ao chão usando a espada como um martelo, destruindo os inimigos aos sons de vários “Za!” ao longe. – Soul Cut!!

***

Koumori Genma abriu suas negras asas e voou em direção à Gai Red, capturando-o.

– Hey, pode ir me soltando! – ele puxou seu Gai Laser e começou a atirar contra o monstro.

– Como quiser! – o Genma-Monstro abriu seus braços, e Red caiu como uma rocha. – Hahaha! Você é meu! Buckshot Bullet!

Um raio de energia saiu da boca da criatura, acertando Red de cima. Ele girou em meio à explosão, caindo desnorteado.

Um grupo de Zazer veio até ele, mas foram facilmente contidos. No entanto, Koumori Genma continuava a voar ao longe, lançando seus raios.

– Droga... Como vou pegá-lo lá em cima? – enquanto se perguntava, um som saiu de seu Soul Changer. Ele aceitou o chamado, desconfiado. – Quem...?

– Você me pergunta depois, Darling! – respondeu a voz misteriosa, cheia de distorção. – O inimigo está voando, você precisa chamar a sua Gai Arm! Eu já liberei os códigos, é só chamar!

– Acho que não tenho muita escolha... – Red apertou o botão secreto de seu aparelho. – Gai Arm! Horn Javelin!! – teletransportado do aparelho, uma lança longa surgiu nas mãos de Gai Red. – Vamos te trazer aqui para baixo! Horn Crane!

Red apontou a lança para cima, disparando seus chifres ligados por fios. Eles encontraram o monstro, furando suas asas.

– Não! – o monstro gritava enquanto caía de volta ao chão. – Sem minhas asas eu...

– Não passa de um rato inútil – completou Red, enquanto colocava seu transformador junto de sua arma. – Soul Changer, set! – “SOUL CHARGE” – É o seu fim, Zalloss! LAND VOLUTION!!!

Enquanto a energia Soul percorria o Horn Javelin, Gai Red girou seu corpo e apontou a ponta da lança contra o inimigo, disparando uma imensa rajada de energia em forma de meia-lua, cortando o chão até encontrar o monstro – partindo-o em dois e criando uma imensa explosão.

– Soul End!

***

Mugen cancelou sua transformação e olhou para Harumi e Tohma, que também haviam destruído seus adversários.

– Acho que... Tudo vai mudar agora, não é? – perguntou Mugen.

– Não... Tudo continua igual! – respondeu Harumi, sorridente. – Ryuusei fez algo imperdoável, mas nós três ainda estamos aqui! E vamos seguir em frente!

– Até que Zalloss tenha sido derrotado – completou Tohma, fazendo um sinal de joia. – Contamos com você, Mugen. Ou melhor... Gai Red!

Mugen sorriu, pois sabia que podia confiar sua vida àqueles dois. Mas na mente dos três ainda pairava uma pergunta... Para onde levaram Ryuusei?

***

Muitos quilômetros acima deles, Pregyre pairava na atmosfera terrestre. Em seu interior, os sacerdotes Doham e Lamarg acabaram de assistir a batalha de Mugen e os outros. Junto deles, Ryuusei Ishimori olhava desacreditado para a tela.

– Mugen... Quem diria que você tentaria tomar meu lugar – disse Ryuusei, com sarcasmo. – Mas isso não importa! Os três são fracos, mais fracos do que eu! Ainda preciso de mais poder... E vocês prometeram me dar!

– Ora, seu insolente! – Doham se preparava para puxar sua espada, mas sua irmã o impediu de forma serena.

– Prometi lhe dar uma chance, humano – disse Lamarg, calmamente. – Ainda terá de conhecer nossa venerável mãe.

– E onde ela está? Digam-me!

– HUMANO TOLO! – a voz monstruosa ecoava por toda a nave, fazendo o chão tremer. Ryuusei, talvez pela primeira vez em sua vida, sentiu medo. – GRANDORIA ESTÁ EM TODO O LUGAR!

Das sombras do espaço sideral à frente deles, um par de olhos soturnos surgiu. Os dois sacerdotes ajoelharam-se, e o humano os seguiu, pois aquela era a essência da Deusa-Fantasma Demoníaca, Grandoria.

– Minha senhora e nova mestra – começou Ryuusei. –, eu busco o poder! O poder absoluto! Possuo a Soul Energia que lhes causou problemas no passado, mas quero mais, muito mais! Farei qualquer coisa para realizar este meu sonho. Qualquer coisa!

– SONHOS... PODER... NADA DISSO IMPORTA PARA ZALLOSS! MAS SUA DETERMINAÇÃO É INTERESSANTE, HUMANO... SERÁ POSTO À PROVA!

Grandoria gargalhou uma risada sinistra, o som de um caçador que acaba de encurralar sua presa inofensiva. Um som capaz de diminuir o mais forte coração.

Na Terra, Mugen, Harumi e Tohma conseguiam sentir que alguma coisa havia mudado. E as cortinas de uma batalha como nunca antes vistas já foram abertas!