Você consegue ouvir o silêncio?

Você consegue ver a escuridão?

Você consegue restaurar o que foi destruído?

Você consegue sentir meu coração?

O céu estava claro e sem nuvens a brisa agitava seus cabelos dourados, enquanto andava calmamente se balançando pela pequena calçada de pedras cantarolando uma melodia qualquer. Em suas mãos segurava as páginas de seu romance, afinal não poderia correr o risco de alguém ver aquilo principalmente Natsu ou Happy que constantemente invadiam sua casa sem permissão.

— Lucy-chan cuidado para não cair.

Ouviu os homens a avisarem dentro da pequena barca se locomovendo pelo rio, acenou com a cabeça confirmando. O vento esvoaçou mais forte quase fazendo o amontoado de folhas caírem de suas mãos.

— Opa! — exclamou surpresa segurando firmemente as folhas.

Havia saído de casa buscando inspiração para escrever, por isso se encaminhava até o Portão do Sul, avistou a sua frente a arvore Sola, andou até ela e se sentou encostando-se no velho tronco. Aquele lugar lhe trazia lembranças um tanto desagradáveis.

— Natsu seu idiota por quê eu tenho que gostar de você — resmungou.

Observou o amontado de folhas em suas mãos pegou o pincel que estava guardado próximo a suas chaves junto a tinta e pôs-se a escrever.

“Olhou abaixo de si vendo a cidade sendo destruída pelo exército. Ela admirava o ser que a segurava calorosamente em seus braços, podia sentir as escamas dele tocando a sua pele desnuda sobre o vestido provando cócegas em seu corpo. Mas não sentia medo ele a salvará de seu cruel destino.

Ele a apertou delicadamente em seus braços tirando-a daquele lugar parando em cima de uma pequena montanha.

— Obrigada — Agradeceu corada pousando seus pés delicadamente sob a grama.

Fitou maravilhada as asas semelhantes a de um dragão nas costas dele. Eram grandes e avermelhas se assemelhavam a chamas, percebeu que o par de ônix a observava curioso com seu olhar sobre si.

— O que está acontecendo lá? — ele perguntou.

Suspirou, teria que contar a verdade.

— Meu pai — engoliu seco — Mandou atacar cidade a minha procura fugi de casa e agora ele está furioso comigo, mas eu não irei voltar, a propósito posso saber o nome de quem me salvou? — Questionou fazendo uma leve reverência.

— Natsu, Natsu Dragneel — respondeu dando um sorriso de canto.”

Quando percebeu o que havia escrito parou imediatamente. Como não havia percebido que até na sua história ele estava presente.

Você consegue ajudar o desesperado?

Bem, eu estou implorando de joelhos

Você consegue salvar minha alma condenada?

Você vai esperar por mim?

Não conseguia entender o que se passava consigo quando estava perto dele. Seu coração acelerava tanto que parecia querer saltar para fora de seu peito, sua face corava e seu corpo simplesmente tremia diante de sua presença. Contudo já não conseguia mais esconder esse sentimento, tinha a suas dores assim como todos magos da Fairy Tail ela também guardava as suas.

— Natsu — sussurrou abraçando as folhas contra seu peito.

Me desculpem, irmãos

Me desculpe, amor

Me perdoe, pai

Eu te amo mãe

Eram só parceiros no final das contas, ficava imaginando que as coisas poderiam ser diferentes se ela tivesse coragem de abrir seus sentimentos com ele. No dia em que Natsu a chamou até aquela arvore seu coração encheu de esperança estava começando a se apaixonar por ele, porém tudo não passava de um favor que ele precisava. Continuou pensando em Natsu e sem perceber adormeceu.

Você consegue ouvir o silêncio?

Você consegue ver a escuridão?

Você consegue restaurar o que foi destruído?

Na guilda mais agitada de Magnólia, o Dragon Slayer entrou desviando de uma cadeira que fora jogada por Gray.

— Oe o que foi que eu fiz cueca de gelo? — Perguntou cerrando o punho com chamas.

— Ora seu! — Gray retrucou irritado — Ice Make ...

— Calados! — Erza gritou furiosa.

Natsu encolheu seus ombros enquanto saia de fininho se esgueirando entre os magos e indo até o balcão procurando Mira.

— Happy, vamos chamar Lucy para ir em uma missão — afirmou sorrindo — Assim ela para de reclamar do aluguel.

— Aye!

— Natsu o que está procurando? — Mira perguntou sorrindo docemente.

— Ah, você viu a Lucy? — Olhou ao redor a procurando – Não a vejo em lugar algum será que ela foi em uma missão sozinha — completou pensativo.

Você consegue sentir meu coração?

— É mesmo, realmente não a vi hoje — comentou preocupada — Dê uma olhada na casa dela pode ser que esteja doente.

Assentiu com cabeça encaminhando-se para a porta e saindo da guilda. Pensava nos motivos para ela ter aparecido, será que estava irritada com si já que sempre o dinheiro das missões era direcionado para pagar as coisas que destruirá.

— Natsu, chegamos — avisou Happy.

Saiu de seus devaneios ao ouvir o pequeno gato.

Happy o pegou pela a sua blusa o erguendo do chão com suas asas o levando até a janela.

— Lucy — Gritou olhando ao redor da casa.

— Lucy você aí? — Happy perguntou.

Rondearam a casa sem encontrar nada, estava ficando realmente preocupado, se ela não havia aparecido na guilda e nem estava em sua casa onde poderia estar.

Tenho medo de aproximar e odeio estar só

Anseio por aquele sentimento de não sentir nada

Quanto mais alto me elevo, mais baixo me afundarei

Não posso afogar meus demônios eles sabem nadar

Saíram pela janela começando a andar pelas ruas, avistou os homens da barca encostados na ponte comentando sobre Lucy e automaticamente se encaminhou até eles em busca de respostas.

— Vocês viram a Lucy? — perguntou irritado

— Quando a vimos ela estava indo em direção Portão do sul – respondeu um deles nervoso.

Saiu andando apressado até o local.

— Natsu me espera! — choramingou Happy.

Ela só poderia estar em um lugar, naquela arvore em que pediu sua ajuda para achar o álbum com as fotos dos magos. Só não entendia o motivo dela ter ficado tão irritada, e também achava estranho como reagia perto da loira em alguns momentos seu coração acelerava quando estava perto dela, além disso sentia uma necessidade de protege-la.

Só sentira assim uma vez, quando era apenas um garotinho que estava começando a gostar de Lisanna, entretanto após a sua morte trancou aquela parte de seu coração ignorando seus sentimentos por qualquer pessoa que não fosse ela.

Tenho medo de aproximar e odeio estar só

Anseio por aquele sentimento de não sentir nada

Quanto mais alto me elevo, mais baixo me afundarei

Não posso afogar meus demônios eles sabem nadar

Avistou a arvore alguns metros de distância de si, aproximou-se vendo que ela estava dormindo encostada desconfortavelmente sobre o tronco. Fitou curioso as folhas que estavam caídas no chão.

— Natsu não pegue isso se ela descobrir vai te matar — gritou Happy.

— Não grite ela pode acordar — sussurrou cautelosamente.

Pegou o amontoado de folhas ajeitando-os com a mão, respirou fundo observando os papéis não iria contar para Lucy que havia lido. Começou a ler arregalando seus olhos a cada linha que lia, o modo que ela retratava sobre ele como um príncipe que a salvava o surpreendeu, pelo fato de parecer que Lucy as vezes nem ao menos se importava consigo. O jeito que ela escreveu fez até parecer que estava apaixonado por ele só de pensar nisso sentiu seu rosto esquentar.

— Lucy — murmurou abismado.

Tenho medo de aproximar e odeio estar só

Anseio por aquele sentimento de não sentir nada

Quanto mais alto me elevo, mais baixo me afundarei

Não posso afogar meus demônios eles sabem nadar

Observou ela adormecida, os fios dourados caindo sob a sua face a respiração tranquila como se estivesse deitada em cama. Aproximou-se lentamente colocou as folhas perto dela, pôs sua mão sobre o seu ombro afim de acorda-la.

— Lucy — chamou calmamente.

Sentiu que alguém a chamava, abriu com relutância seus olhos mas voltou fechar se acostumando com claridade. Levantou-se abruptamente ao ver a figura que a observava de um jeito diferente.

— N-natsu – gritou gaguejando extremamente corada.

Você consegue sentir meu coração?

Ficou constrangida com o jeito que ele a olhava de um modo tão profundo que não aguentou e desviou o seu olhar para o chão pegando as folhas e apertando-as em seu peito.

— Nunca mais suma desse jeito Lucy — disse seriamente.

— Aye Sir!— Gritou concordando

O fitou engolindo seco com o jeito que ele falara, via Natsu se aproximar lentamente em sua direção. Deu um passo traz e acabou batendo suas costas tronco da arvore. Ele chegou próximo de si olhando-a seriamente e pegou em sua mão.

— Natsu o que está fazendo? — Perguntou tentando inutilmente soltar a sua mão.

Ele apenas a olhou e sorriu.

— Você é realmente estranha Lucy.

Você consegue ouvir o silêncio?

Você consegue ver a escuridão?

Você consegue restaurar o que foi destruído?

Você consegue sentir meu coração?