Até a Lua escrita por A Garota Dos Livros


Capítulo 4
Jared Blake




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Quando abro os olhos, Cicero está esparramado e torto dormindo no sofá. Há também uma incessante batida na porta.

– Cicero... – sussurro – Cicero... – chamo um pouco mais alto, mas ele não se mexe.

Pego um dos grandes travesseiros ao meu lado e jogo em seu rosto, ele dá um pulo e cai do sofá.

– Caral... – ele para de falar quando ouve as batidas.

Seus olhos escuros passam por mim, depois ele se levanta e vai mais perto da porta.

– Pois não ? – pergunta.

– Serviço de quarto – diz uma voz feminina.

– Não pedimos serviço de quarto.

A pessoa do outro lado da porta fica em silencio, em seguida ouvimos um click. Um tiro ecoa e a maçaneta da porta é arrebentada, Cicero dá um pulo e se coloca ao meu lado, minhas mãos tampam meus ouvidos e meus olhos estão fechados com força. Sinto a mão de Cicero envolver meu punho direito e me tirar da cama no mesmo momento em que várias pessoas entram no quarto. Entramos no banheiro, o sangue correndo faz um zumbido irritante no meu ouvido enquanto Cicero tranca a porta.

– Como... ? – digo com a voz tremula – Ele... ? E agora... ?

Cicero ignora minhas perguntas e as batidas na porta, ele vai até a janela e a escancara.

– Dá pra pula no andar de baixo – ele diz esticando a mão para mim.

– Pular ? – entro em pânico.

– Vamos, Ana, não temos tempo.

Estico a mão e ele me puxa para perto. Cicero junta as duas mãos que uso de apoio para subir na janela, sento-me nela com as pernas balançando. A altura me causa vertigem e tenho a impressão de estar caindo, mas uma mão forte me segura pela cintura enquanto um corpo se junta ao meu lado.

– Não olha pra baixo! – ele diz.

Apenas assinto, fechando os olhos.

– No três, segure em mim – Cicero diz.

Passo os braço em volta do seu pescoço e me seguro firme.

– Um... Dois...

– Harrison, você está cometendo um erro! – alguém grita outro lado.

– Três.

...

Pulamos da janela e não sei como paramos na sacada do andar de baixo, minhas pernas tremulas cederiam se Cicero não tivesse me segurando. Agora estávamos correndo pelo estacionamento até o carro. Mal entramos dentro do carro e sinto o motor rugir, o carro sair do lugar. O sol nascente bate em meu rosto quando saímos do estacionamento a toda velocidade. Deixamos tudo pra trás, a única coisa que ficou foi a caixa de madeira.

– Você está bem ? – ele pergunta olhando o espelho retrovisor.

Assinto mais ele não vê minha resposta.

– Ana, me responde. Você está bem ?

– Estou!

Cicero volta a olhar pelo espelho, verificando os carros atrás de nós enquanto retomamos a auto estrada.

– Como nos acharam ? – pergunto.

– Eu não sei - os nós de seus dedos estão brancos segurando o volante.

– Quem é Harrison ?

– Eu não sei.

Deixo um soluço escapar pelos meus lábios.

– Eu não consigo mais – abafo as palavras com as mãos nos rosto.

– Ei – ele diz gentilmente – já estamos chegando.

– Mas... Olha só o que aconteceu!

– Eu sei – uma de suas mãos solta o volante e segura a minha – mas não pode desistir agora.

– Por que ?

Cicero olha mais uma vez pelo espelho e desacelera um pouco.

– Porque seu pais precisam de você.

Ouvimos um click, mas esse era diferente. Não sei o que aconteceu depois, mas ouve uma explosão, e senti a mão de Cicero soltar a minha.

...

Acordo em um lugar escuro e frio, minha cabeça está latejando, meus ombros doendo por causa da posição. Meu primeiro impulso é chorar, mas não ouço meu choro, não ouço nada.

– ...na...a... – ruídos começam a tomar forma – Ana, pelo amor de Deus! Me responde – a suplica de Cicero me alcança.

– Onde estamos ? – pergunto ainda com o ouvindo zumbindo.

– Não sei – responde – como você está ? Eles te machucaram ? Consegue se levantar.

– Está tudo doendo! – solto outro soluço – Eles quem ?

– Consegue se levantar ?

– Não. Eles quem ?

– Eu não sei quem eles são.

Volto a chorar ignorando as outras perguntas que ele me faz, não sei quando tempo durou, mas quando parei foi isso que disse:

– A gente vai morrer ?

Ele fica em silencio e eu sei a resposta, ‘’sim, nós vamos morrer’’.

Ficamos em silencio algum tempo, até que ouvimos passos, uma luz se acendeu e eu vi onde estava. Estava em uma cela de grades de metal, eu podia ver Cicero na cela ao lado, a luz do corredor estava acessa e do outro lado mais celas, não sei ao certo quantas tinham, mas eram muitas e todas estavam vazias, a não ser pelas nossas. Sento-me com enforco enquanto dois homens param na frente da cela de Cicero, em seguida, mais dois param na frente da minha. Os homens abrem as grades de metal e entram. Cicero vira para mim e diz sem som ‘’não resista’’. Eu obedeço, quando os homens me levantam e me levam para fora, os acompanho.

Quando as grandes acabam, nós passamos por uma porta de madeira e entramos em um corredor branco e limpo, parecido com o de uma delegacia. Somos arrastados pelo corredor, virando várias direitas e algumas esquerdas. No fim, somos colocados em uma sala de interrogatório, colocados sentados lado a lado, sentados a uma mesa de madeira com as mãos algemadas em uma cano no meio da mesa.

Um homem entra na sala, deve ter uns trinta e poucos anos, cabelos loiros, olhos castanhos, diria que ele é bonito, mas eu estou apavorada demais para isso.

– Olá, Ana – ele diz docemente - ... Cicero – ele diz com um ar divertido, como se compartilhassem uma piada interna.

Não respondemos, queria perguntar porque ele sabia meu nome, e porque queria me matar. O que meus pais poderiam de feito de tão ruim assim ?

– Entenda, Ana – ele começa – isso não tem nada haver com você, mas com seus pais. Você só precisa de me dizer onde está, que eu te deixo ir embora.

– Onde está o que ? – pergunto baixo.

– O projeto.

– Que projeto ?

– Dos seus pais. Por favor, sabemos que sabe onde está.

– Mas eu não sei!

– Ana, você sabe qual é o meu nome ? – ele pergunta casualmente, faço que não com a cabeça – Bom, me chamo Blake, Jared Blake. Irônico, alguém como eu ter um nome assim. Não acha ?

Não respondo, mas o corpo de Cicero responde por mim, ficando tenso ao ouvir o nome de Jared. Jared dá uma risada alta.

– Você me reconheceu, não é mesmo... Cicero – Jared olha divertido para Cicero – bom, não importa. Entenda, Ana, não brinque comigo. Só me diga onde está.

– Mas eu não sei – choramingo.

– Sabe sim, Ana. Talvez não se lembre, mas vou refrescar sua memória.

O sorriso diabólico de Jared me faz estremecer, em seguida ele sai da sala, e outro homem entra, ele está vestido de preto e segura uma maleta.

Odiei essa maleta.


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