Até a Lua escrita por A Garota Dos Livros
Quando abro os olhos, Cicero está esparramado e torto dormindo no sofá. Há também uma incessante batida na porta.
– Cicero... – sussurro – Cicero... – chamo um pouco mais alto, mas ele não se mexe.
Pego um dos grandes travesseiros ao meu lado e jogo em seu rosto, ele dá um pulo e cai do sofá.
– Caral... – ele para de falar quando ouve as batidas.
Seus olhos escuros passam por mim, depois ele se levanta e vai mais perto da porta.
– Pois não ? – pergunta.
– Serviço de quarto – diz uma voz feminina.
– Não pedimos serviço de quarto.
A pessoa do outro lado da porta fica em silencio, em seguida ouvimos um click. Um tiro ecoa e a maçaneta da porta é arrebentada, Cicero dá um pulo e se coloca ao meu lado, minhas mãos tampam meus ouvidos e meus olhos estão fechados com força. Sinto a mão de Cicero envolver meu punho direito e me tirar da cama no mesmo momento em que várias pessoas entram no quarto. Entramos no banheiro, o sangue correndo faz um zumbido irritante no meu ouvido enquanto Cicero tranca a porta.
– Como... ? – digo com a voz tremula – Ele... ? E agora... ?
Cicero ignora minhas perguntas e as batidas na porta, ele vai até a janela e a escancara.
– Dá pra pula no andar de baixo – ele diz esticando a mão para mim.
– Pular ? – entro em pânico.
– Vamos, Ana, não temos tempo.
Estico a mão e ele me puxa para perto. Cicero junta as duas mãos que uso de apoio para subir na janela, sento-me nela com as pernas balançando. A altura me causa vertigem e tenho a impressão de estar caindo, mas uma mão forte me segura pela cintura enquanto um corpo se junta ao meu lado.
– Não olha pra baixo! – ele diz.
Apenas assinto, fechando os olhos.
– No três, segure em mim – Cicero diz.
Passo os braço em volta do seu pescoço e me seguro firme.
– Um... Dois...
– Harrison, você está cometendo um erro! – alguém grita outro lado.
– Três.
...
Pulamos da janela e não sei como paramos na sacada do andar de baixo, minhas pernas tremulas cederiam se Cicero não tivesse me segurando. Agora estávamos correndo pelo estacionamento até o carro. Mal entramos dentro do carro e sinto o motor rugir, o carro sair do lugar. O sol nascente bate em meu rosto quando saímos do estacionamento a toda velocidade. Deixamos tudo pra trás, a única coisa que ficou foi a caixa de madeira.
– Você está bem ? – ele pergunta olhando o espelho retrovisor.
Assinto mais ele não vê minha resposta.
– Ana, me responde. Você está bem ?
– Estou!
Cicero volta a olhar pelo espelho, verificando os carros atrás de nós enquanto retomamos a auto estrada.
– Como nos acharam ? – pergunto.
– Eu não sei - os nós de seus dedos estão brancos segurando o volante.
– Quem é Harrison ?
– Eu não sei.
Deixo um soluço escapar pelos meus lábios.
– Eu não consigo mais – abafo as palavras com as mãos nos rosto.
– Ei – ele diz gentilmente – já estamos chegando.
– Mas... Olha só o que aconteceu!
– Eu sei – uma de suas mãos solta o volante e segura a minha – mas não pode desistir agora.
– Por que ?
Cicero olha mais uma vez pelo espelho e desacelera um pouco.
– Porque seu pais precisam de você.
Ouvimos um click, mas esse era diferente. Não sei o que aconteceu depois, mas ouve uma explosão, e senti a mão de Cicero soltar a minha.
...
Acordo em um lugar escuro e frio, minha cabeça está latejando, meus ombros doendo por causa da posição. Meu primeiro impulso é chorar, mas não ouço meu choro, não ouço nada.
– ...na...a... – ruídos começam a tomar forma – Ana, pelo amor de Deus! Me responde – a suplica de Cicero me alcança.
– Onde estamos ? – pergunto ainda com o ouvindo zumbindo.
– Não sei – responde – como você está ? Eles te machucaram ? Consegue se levantar.
– Está tudo doendo! – solto outro soluço – Eles quem ?
– Consegue se levantar ?
– Não. Eles quem ?
– Eu não sei quem eles são.
Volto a chorar ignorando as outras perguntas que ele me faz, não sei quando tempo durou, mas quando parei foi isso que disse:
– A gente vai morrer ?
Ele fica em silencio e eu sei a resposta, ‘’sim, nós vamos morrer’’.
Ficamos em silencio algum tempo, até que ouvimos passos, uma luz se acendeu e eu vi onde estava. Estava em uma cela de grades de metal, eu podia ver Cicero na cela ao lado, a luz do corredor estava acessa e do outro lado mais celas, não sei ao certo quantas tinham, mas eram muitas e todas estavam vazias, a não ser pelas nossas. Sento-me com enforco enquanto dois homens param na frente da cela de Cicero, em seguida, mais dois param na frente da minha. Os homens abrem as grades de metal e entram. Cicero vira para mim e diz sem som ‘’não resista’’. Eu obedeço, quando os homens me levantam e me levam para fora, os acompanho.
Quando as grandes acabam, nós passamos por uma porta de madeira e entramos em um corredor branco e limpo, parecido com o de uma delegacia. Somos arrastados pelo corredor, virando várias direitas e algumas esquerdas. No fim, somos colocados em uma sala de interrogatório, colocados sentados lado a lado, sentados a uma mesa de madeira com as mãos algemadas em uma cano no meio da mesa.
Um homem entra na sala, deve ter uns trinta e poucos anos, cabelos loiros, olhos castanhos, diria que ele é bonito, mas eu estou apavorada demais para isso.
– Olá, Ana – ele diz docemente - ... Cicero – ele diz com um ar divertido, como se compartilhassem uma piada interna.
Não respondemos, queria perguntar porque ele sabia meu nome, e porque queria me matar. O que meus pais poderiam de feito de tão ruim assim ?
– Entenda, Ana – ele começa – isso não tem nada haver com você, mas com seus pais. Você só precisa de me dizer onde está, que eu te deixo ir embora.
– Onde está o que ? – pergunto baixo.
– O projeto.
– Que projeto ?
– Dos seus pais. Por favor, sabemos que sabe onde está.
– Mas eu não sei!
– Ana, você sabe qual é o meu nome ? – ele pergunta casualmente, faço que não com a cabeça – Bom, me chamo Blake, Jared Blake. Irônico, alguém como eu ter um nome assim. Não acha ?
Não respondo, mas o corpo de Cicero responde por mim, ficando tenso ao ouvir o nome de Jared. Jared dá uma risada alta.
– Você me reconheceu, não é mesmo... Cicero – Jared olha divertido para Cicero – bom, não importa. Entenda, Ana, não brinque comigo. Só me diga onde está.
– Mas eu não sei – choramingo.
– Sabe sim, Ana. Talvez não se lembre, mas vou refrescar sua memória.
O sorriso diabólico de Jared me faz estremecer, em seguida ele sai da sala, e outro homem entra, ele está vestido de preto e segura uma maleta.
Odiei essa maleta.
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