A aula continuou.

Eu não falei com Layne, na ida até a sala. Afinal, o que eu deveria falar?

" É né, eu sou meio lelé mesmo, na primeira vez que te vi achei que você era um pato. Ainda acho, tudo bem?".

Eu estou sendo irônica , ok? Eu nunca vi Layne como um pato, além do mais, percebi o quanto ele era bipolar. Layne de uma hora para outra ele mudava de emoção. Estranho.

–****-

Havia acabado a aula e eu estava indo para casa, andando como sempre. Eu ia de ônibus e voltava caminhando, isso não era problema para mim, nem aos meus pais, isso facilitava para eles. Trabalhavam em uma grande empresa, viviam com reuniões e voltavam para casa normalmente á noite, e raramente, mas muito raramente meus pais chegavam cedo, como ontem.

No meio do caminho senti uma mão no meu braço, era Layne como sempre, ele fez um gesto com a cabeça de "Você acha que pode fugir assim tão facilmente?", estava com aquele sorriso de lado dele que usa para me irritar.

Dei uma meia volta com a púpila dos olhos e cruzei os braços :

– O que você quer?

– Temo que ainda não terminamos a conversa. Terminamos?

– Sim.

Virei de costas e ele me virou de novo. "Que cara chato!"

– Não, não terminamos.

Não respondi. Fiquei de braços cruzados olhando com uma expressão de emburrada para ele. Layne cruzou os braços também, me olhando do jeito que eu estava o olhando. Logo percebi que ele estava me imitando, parecíamos duas crianças de 3 anos, ele descruzou o braços e perguntou :

– Por que você odeia tanto falar disso?

Virei de costas e continuei andando. Fala sério, eu não iria responder essa pergunta.

Ele me virou de frente a ele :

– Tudo bem, saquei. Mas, sério, por que tinha medo?

Tá, essa pergunta eu até poderia responder :

– Eu achava que iam tirar sarro de mim, me chamarem de louca ou sei lá.

Ele colocou a mão em meu ombro :

– Vamos resolver isso, não esquenta. Sério.

Sorri, e ele também.

Eu tinha que sorrir, ué! Era a primeira vez que alguém se oferecia a me ajudar, eu nunca irei ter a mesma chance, mesmo que a chance seja com um cara estranho de olhos azuis, cabelos pretos, branco, alto em relação a mim, bipolar e até que bonito, pelo menos não é por um louco estrangulador gordo.

Continuamos o caminho até em casa, estávamos em silêncio, havíamos falado um pouco sobre terapeutas e ele deu uma gargalhada ao ouvir que eu tinha medo de terapeutas. E logo meu punho se encontrava no ombro dele, socando o seu ombro.

Tentei puxar um pouco de conversa.. Pra sabe, aumentar minha habilidade de carisma :

– Do que você tem medo?

Ele colocou as mãos no bolso, e disse :

– Um dia te conto. Quando tudo isso acabar.

Ele continuava olhando para o caminho a frente, eu perguntei :

– E se nunca acabar?

Por um minuto percebi que havia essa possibilidade.