Gregory House nunca acreditou em felicidade. Não realmente, ao menos.

Sua vida fora sim marcada por uma pequena seleção de momentos felizes. Seu casamento com Stacy. Seu breve relacionamento com Cuddy. Poder torturar seus capachos e até mesmo alguns - um número bastante limitado. - de seus pacientes que passaram por seus anos de medicina. Mas, ainda assim, se colocados na balança, esse número efêmero de "momentos felizes" se tornaria desprezível em meio a toda a sua vida miserável.

Felicidade era apenas uma ilusão. Uma mentira para tolos acreditarem. E Gregory House não era um tolo.

Ao menos era isso que ele achava.

–Happy-

A manhã já ia longe quando o grisalho abriu o primeiro de seus olhos. A visão embaçada pelo sono prolongado, fitando a claridade exagerada de seu quarto bagunçado. Bocejou, enquanto espreguiçava-se contra o colchão fresco e macio. Correu o braço direito pelos lençóis do lado oposto da cama e o constatou vazio.

Apoiou o corpo nos cotovelos enquanto sentia o peito se apertar em uma apreensão exagerada. Onde ele estaria?

Apertou os punhos nos olhos e voltou a jogar a cabeça contra o travesseiro macio. Claro que aquilo iria acontecer. Onde estava com a cabeça quando pensou que dormir com o seu melhor amigo seria uma boa ideia?

Fazia um bom tempo que passara a entender que o que sentia por Wilson era bem mais que uma simples amizade. Por favor, quem nunca percebera? Como se seus próprios atos não beirassem ao possessivo quando se travava do moreno.

Os jantares casuais, as conversas tidas apenas por olhares, os sorrisos cumplices, a preocupação exagerada de Wilson, a implicância de House com cada namorada do outro. Estava tudo ali, estampado na cara de todos, mas mesmo assim...

Seu coração pulou algumas batidas quando a possibilidade de perder a amizade de Wilson para sempre o atingiu. Aquilo seria demais, até mesmo pra ele. House sempre tivera a certeza de que Wilson sempre estaria ali para ele, não importava a idiotice cruel que dissesse ou a besteira insana que fizesse. Sempre tivera certeza que o moreno não o deixaria. Nunca.

Wilson sempre fora sua única constante.

Sempre fora seu motivo pra sorrir.

Suspirou sentindo a perna direita queimar e latejar. Esticou o corpo até o criado-mudo e abriu a gaveta em busca de seu frasco laranja favorito. Precisava seriamente de um Vicodin.

Obrigou-se a lembrar de como aquilo era idiota. Felicidade e Gregory House simplesmente não combinavam. Já se acostumara com aquilo e não seria agora que algo iria mudar.

Engoliu um dos comprimidos brancos, sentindo o gosto amargo na língua seca. Jogou as pernas para fora da cama e sentou-se, precisava de água. Quando procurou a bengala com os olhos azuis, escutou algo vindo da cozinha. Alguém mexia nas panelas.

Como num flash, House passou a sentir o cheiro quente de café que, provavelmente, enchia todo o apartamento. Se pôs de pé e, mesmo sem sua bengala, passou a mancar à passos rápidos em direção a cozinha.

Parou ali, no vão da porta, os olhos azuis fitando a figura despenteada de Wilson. O moreno vestia apenas uma samba-canção e estava metido no avental branco que House comprara especialmente pra ele – depois de anos com o moreno reclamando por ter de cozinhar com o risco de sujar suas camisas.

Ele estava lindo. A luz pálida que entrava pela janela iluminava sua pele e fazia seus cabelos escuros brilharem. House ficou sem fala com a visão, sentindo-se duas vezes mais estúpido do que antes. Como pudera pensar que Wilson iria embora?

O moreno pareceu perceber sua presença e virou o corpo para trás, fitando os olhos azuis de House.

–Bom dia – ele cumprimentou de forma encabulada, uma das mãos viajando até sua nuca. – Achei que você não iria mais acordar.

A piadinha fez o peito de House se encher de um alívio fresco e ele sorriu de forma sarcástica.

–Depois da noite de ontem, pensei que fosse você quem não conseguiria se levantar – zombou, mas a ironia não chegava aos seus olhos.

Wilson o encarou por alguns segundos e sorriu. Sim, ele o entendia e podia ver toda a verdade por trás daquele sarcasmo barato.

House sentiu o piso frio contra os dedos descalços quando caminhou até o lado de Wilson. O cheiro de café brincava em suas narinas e a luz refletida na pia brilhava no castanho dos olhos do moreno.

–Com fome? – Wilson lhe perguntou.

–Morrendo – foi o que o grisalho respondeu. – Vai fazer aquelas suas panquecas?

–Depende – provocou. – Você lava a louça depois?

–Claro, você sabe que eu sempre lavo a louça.

Wilson revirou os olhos ante a mentira descarada, mas continuou a sorrir, agora de forma doce.

House sorriu de volta e, ainda que de maneira um tanto quanto desajeitada, com o cuidado de uma primeira vez, envolveu a cintura de Wilson com o braço. Sentindo a quentura da pele sob os dedos longos e trazendo o calor do corpo do moreno para mais perto.

Roçou a barba mal feita no ombro desnudo do outro e selou os lábios finos ali. Seu peito parecia querer explodir e pela primeira vez em muito tempo sentiu vontade de mandar sua racionalidade para o inferno.

Se sentiu tolo. Se sentiu bem e extremamente feliz.

Talvez não fosse uma ideia tão ruim se aproveitar dessa felicidade.