Tom & Mary - jornada musical escrita por IsaOli


Capítulo 5
Preciso dizer que te amo


Notas iniciais do capítulo

5° capítulo, inspirado na música "Preciso dizer que te amo" de Cazuza



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— Já te contei que uma vez,  eu quase fugi de casa? Tinha a idade de Sybbie!— Mary contou com um sorriso desafiador nos lábios.

—Você, fugindo de Downton? E pode me dizer o por que, ou é um segredo tenebroso? —Tom replicou, todo surpreso.

—Eu nem me lembro mais pra falar a verdade, mas acredito que era por causa da Nanny, meu Deus, ela era tão severa. Carson me dava doces escondidos dela quase toda a semana. Era a única forma que ele encontrava pra me divertir um pouco, me deixar ser criança. Eu apenas me lembro que desci as escadas sorrateiramente até a sala de Carson e pedi que ele me desse alguma  das pratarias pra poder vender e fugir.

Tom pôs a mão sobre a boca para abafar o riso, as crianças tinham acabado de dormir. Sybbie tinha feito manha, pois queria fazer piquenique, e Tom lhe disse que a essa hora do dia isso seria impossível, ela tinha uma certa obstinação e não estava disposta a desistir fácil. Recuperado do riso, Tom disse:

—Bom, estou começando a pensar que talvez a teimosia de Sybbie não tenha nada a ver comigo, isso é coisa das meninas Crawley! —Ele podia imaginá-la uma menininha com ar sério, com poucas oportunidades de se divertir, mesmo vivendo nesse palácio. Podia imaginar uma garotinha cheia de cachinhos e um ar prepotente, disposta a fugir. Anos sendo lapidada para ser uma legítima dama, tinham é claro,  diminuído sua vivacidade, embora ele soubesse que ainda existia, que sua essência sempre seria de pura luz, mesmo que ela morresse por admitir.

Mary sorriu satisfeita —Isso eu não posso negar, de fato. É uma qualidade nossa.

—Como você sabe, eu também sou um fugitivo nato! Já fugi da Irlanda por duas vezes! Na primeira vez, eu havia ganhado em uma rifa, duas passagens de navio para a Inglaterra, convenci meu irmão a vir comigo! Eu tinha 15 anos. Minha mãe quase nos matou quando voltamos para casa! Foi aí que meu irmão se encantou por Liverpool e resolveu ir morar lá, eu demorei mais um tempo até me decidir em vir para cá... e depois, você já conhece a história!— ele terminou a frase com os olhos e pensamentos presos num tempo em que foi um idealista.

—Bem, você ganhou! Eu não cheguei a fugir, Carson me convenceu do contrário. Tomara que Sybbie não seja assim tão rebelde. —Ela olhou para a criança dormindo o sono dos justos, cobriu seus bracinhos e arrumou o travesseiro.

Por mais que fosse difícil para eles essa coisa toda de evitar qualquer assunto romântico, ou aqueles simples toques que poderiam fazer memórias saltarem, a química da amizade entre os dois era inegável. Mary descia as escadas e já perguntava por Tom. Sempre tinham algo a falar, e não conseguiam se evitar. Não queriam que fosse assim.

Tom por sua vez, toda vez que ia a Ripon, se lembrava dela, trazendo algum livro ou quitutes que sabia que ela gostaria. A rotina de conversar contando casos e besteiras não demorou a voltar. Às vezes Mary pensava nele antes de dormir. Às vezes não... era sempre.

Sentia certo medo, que medo! E se um dia ele aparecesse com alguém, como ela deveria reagir? E quando é que os dois iriam deixar alguém novo entrar, já que tinham decidido que esse amor era impossível? De certa forma, já haviam se conformado de que haveria apenas  a amizade e nada mais.

Ela não queria isso, mas tinha medo de dizer... tinha medo de confessar que ainda o amava, tinha medo, mas sentia que precisava lhe dizer isso, mesmo sabendo o quão errado soaria. Eles diziam tudo um para o outro, menos o mais importante. Sentia-se vazia. Queria se sentir mulher. Sabia que queria isso com ele, não conseguia evitar.

******

Tom perdia o sono quase todas as noites por causa de pensamentos que se arrastavam. Cada gesto dela parecia um sinal de que ainda o amava, ele já nem sabia se estava misturando as coisas, afinal, a amizade deles era tão sincera. Mas a cada sorriso que ela lhe dava, ele desejava poder dizer que a amava, com uma vontade imensa de fazer só mais uma vez uma loucura, ganhá-la ou perdê-la sem engano, dizendo apenas a verdade, dizendo "eu te amo". Queimava por ela, todas as noites, rolando insatisfeito na cama, tentando dormir.

Um dia, Tony Gillingham voltou a Downton, foi uma grande surpresa para Mary. Ele não lhe deu nenhuma folga, e para ajudar, Tom se afastava, tentava dar espaço e oportunidade para os dois. Quando Tony estava por lá, Mary estava sempre atarefada com ele, sua mãe fazia questão de programar entretenimento para o dia todo. Tom e Mary se desencontravam no berçário, e ela já não ia ver a propriedade com ele, quando ia, ia a cavalo, com Tony.

Não que ela quisesse ficar com ele o tempo todo, mas ele dava a entender de que era o que esperava, e ela havia aprendido sua vida toda como se comportar como uma legítima anfitriã. Eles viviam algumas aventuras, pontes quebradas, lamaçal, um javali, todas essas coisas Mary contava para Tom, sorrindo, no pouco tempo em que conseguiam se ver.

Quando ele perguntou a ela se Tony estava disponível, ela fechou o seu semblante de imediato.

—Bem, ele tem alguma coisa com Mabel Lane Fox, não sei bem o que é, mas já faz um tempo, ele diz que gostaria de ficar comigo, mas...

Ela buscava palavras, palavras difíceis de dizer, parecia ter um certo interesse em Gillingham, ele era um Lorde inglês, tudo aquilo que ela sempre sonhou, mas por mais que ele chamasse a atenção dela, sabia que não o amava. Sabia que nunca o amaria.

Ouvir Mary falar sobre Gillingham, acabava com o dia de Tom, isso tudo parecia uma novela, mas nesse novela Tom não queria ser seu amigo confidente.

Gillingham gerava algumas dúvidas em Mary, e Tom achava isso tanto mau, quanto bom. Mau porque ela era sua Mary, ele queria dizer que a amava, queria que fosse dele. Bom porque ele sabia que era o melhor, se o amor dos dois era impossível, que ela pudesse ser feliz.

Quando Mary voltava para perto dele, voltava cheia de saudades, querendo ficar o máximo que podia com Tom e as crianças. Planejava piqueniques e passeios pela cidade, e durante esses momentos, parecia que o tempo se arrastava só para que ficassem juntos, um ao lado do outro.

Durante um desses piqueniques a beira do lago, Mary estava sentada com Sybbie à sua frente para colocar uma florzinha pendurada atrás de sua orelha. Ver aquilo fez o coração de Tom se comprimir, principalmente depois de Sybbie dar um abraço apertado em sua tia, como forma de agradecimento.

—Eu amo você tia Mary!— A menina disse, olhando com adoração a mulher que mesmo sabendo que não era sua mãe, era como significava pra ela. Tom viu lágrimas se formarem nos olhos de Mary, ela jurou ser apenas um cisco trazido pelo vento quando percebeu que ele lhe encarava, também emocionado com a cena.

—Um cisco, sei.... deixe eu assoprar!— ele veio rindo em direção a ela, desafiante.

—Não seja bobo Tom, era pequeno, já saiu! —Disse, se empertigando.

—Eu estou vendo um cisco bem grande, aqui!— Ele disse, colocando a mão atrás da orelha dela. Quando Mary passou a mão, percebeu que ele também havia colocado uma flor atrás de sua orelha. —É pra combinar com a de Sybbie— ele disse, se sentindo de repente desajeitado.

Eles se olharam por um momento, uma necessidade tão grande quanto a de Sybbie de dizer "eu te amo", foi suprimida por George vindo correndo e pulando no colo de Tom.

—Pocotó, pocotó!— O menino queria brincar de cavalinho com o tio. Quando George, cansado, adormeceu no colo dele, Sybbie também resolveu sossegar, pedindo pra se deitar sobre o joelho da tia.

—Você ama George, papai?— Sybbie perguntou.

—Claro minha filha, amo ele e a você também!— Ele disse, acariciando a bochecha gordinha que a idade lhe dera.

—E a tia Mary, você ama a tia Mary, papai?— Sybbie perguntou, inocente.

Ele precisava tanto dizer isso a ela e de repente encontrou o momento certo. Olhou carinhosamente para o objeto de sua admiração: —Sim, papai ama muito a tia Mary! —Disse, sem poder se conter.

Mary também precisava dizer que o amava, foi tão bom ouvir isso  quanto ela necessitava dizer também. —Antes que você me pergunte, eu amo minha princesinha Sybbie, meu príncipe George e seu papai Tom!— Ela tocou a ponta dos dedos dele com seus dedos, eles trocaram um olhar profundo durante alguns segundos, até Mary resolver quebrar o silêncio e desviar os olhos. —Está ventando muito, é melhor partirmos.

Tom desviou o olhar vidrado, também, limpando a garganta.

—Sim, é melhor a gente ir, Sybbie não pode tomar friagem, você já sabe que a babá vai chiar por termos saído de novo com eles, não é?

Mary sorriu, sabia como as babás eram terríveis e censuradoras. Como elas acreditavam que o ar fresco do dia era perigoso para a saúde das crianças. Os dois se levantaram e seguiram de volta para Downton um pouco mais aliviados, pois aquela necessidade enorme de dizer "Eu te amo" tinha sido finalmente saciada.

 


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Notas finais do capítulo

finalmente consegui escrever um capítulo um pouco menor, eu gostei muito de escrever esse;



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