Forget-me-not escrita por ohhoney


Capítulo 3
Açucena


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas da Terra e do outer space! Como vão?

Espero que emocionalmente preparadas para o capítulo de hoje, haha



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Açucena

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–Moriyama-san, eu trouxe o café da manhã.

Ouço mais três batidas na porta. Sento-me na cama e coço os olhos. Não sei que horas são.

–Já está acordado? - Izuki-kun pergunta.

–Já.

A porta é aberta, e ele entra no quarto desejando bom dia e carregando uma bandejinha com uma caneca, um prato com duas torradas, e um vasinho com uma flor branca.

–Izuki-kun, não precisava.

–Sem problemas. - ele deixa a bandeja no meu colo e ajeita o avental - Você precisa comer de um jeito ou de outro.

–Ah, claro. - olho para a bandeja. Há café na caneca e as torradas estão meio queimadas nas bordas, mas isso não tem importância. A flor branca é muito bonita e tem um cheiro bom - Que flor é essa?

–Uma açucena. - Izuki-kun sorri e abaixa perto das tulipas na janela - O que vai fazer hoje?

–Bom... Preciso arranjar um emprego novo. E uma casa nova.

–Uhum. - ele levanta carregando um vaso em cada braço, fazendo com que seu rosto fique coberto por flores - Só me avise a hora que for sair, ok?

–Ok.

E ele sai do quarto. Sou deixado sozinho com mais dois vasos de tulipas e as torradas.

Então não foi um sonho. Fui mesmo dispensado por ela. Ah, mas que droga.

Não quero ficar me lamentando para sempre. Se... Se ela resolveu acabar com tudo, é hora de começar de novo. Isso. Namorada nova, casa nova, emprego novo. Vida nova. Soa bem.

As torradas de Izuki-kun estão gostosas, e o café está no ponto certo. A açucena branca deixa um cheiro gostoso no ar quando levanto da cama para ir lavar as coisas na pequena cozinha da loja. Encontro minhas roupas secando na janela e duas jovens bonitas carregando buquês de flores.

Elas são umas gracinhas.

"Cadê Izuki-kun para atendê-las?"

Recolho minhas roupas rapidamente, não antes de ouvir um grito agudo e um baque.

–SHUN-NII! SHUN-NII! UM LADRÃO!

–Q-Quê?

E-Espera... O ladrão sou eu?

A mocinhha da esquerda largou o buquê no chão e segura uma grande tesoura de jardinagem em frente ao corpo. A da direita está trêmula e com os olhos fixos em mim.

Izuki-kun aparece correndo pelo corredor com uma pá nas mãos, e olha em volta aflito.

–Cadê?

–Ali! - a mocinha da tesoura aponta para mim.

–Kobato, ele não é um ladrão. - Izuki-kun abaixa a pá - Esse é um amigo.

–M-Moriyama Yoshitaka, muito prazer - sorrio para elas.

–Ele passou a noite aqui porque brigou com a namorada.

–No dia dos namorados? Tadinho...

–Suzume!

–Desculpe.

–Tudo bem - digo, e vou até elas - Muito prazer em conhecer as senhoritas.

Pego na mão de cada uma e deposito um beijinho. As bochechinhas de Kobato ficam vermelhas.

–P-Prazer. - elas respondem.

As duas são gêmeas idênticas, e têm o mesmo cabelo preto liso e olhos prateados de Izuki-kun. São adoráveis, apesar de serem alguns anos mais novas do que eu ou Izuki.

–Já foram fazer as entregas? - Izuki pergunta.

–Estamos saindo. Tchau, Shun-nii, Moriyama-san - Suzume diz e as duas garotas vão saindo pela porta em direção às bicicletas na calçada.

Izuki volta aos fundos e eu troco de roupa rapidamente. Preciso passar numa farmácia e comprar uma escova de dentes, desodorante, etc.

Encontro Izuki-kun numa pequena bancada nos fundos, cortando as tulipas da janela e ajeitando-as em arranjos bonitos. Chamo-o.

–Só queria agradecer pela hospitalidade - sorrio - e me desculpar por ter causado qualquer tipo de problema.

–Não tem nada de mais, Moriyama-san. - ele tem terra nas bochechas, mas parece não ligar - Onde está indo?

–Vou ver se arrumo um lugar pra ficar, e preciso comprar umas coisas também, já que a copo-de-leite ficou com tudo o que era meu - dou uma risadinha para disfarçar.

Izuki-kun sorri num ato de compaixão.

–Pode voltar se precisar.

–Acho que voltarei - admito, e coço a cabeça - Não tenho mais pra onde ir e você é meu único amigo nas redondezas.

–Boa sorte.

–Obrigado.

Dou meia volta, mas paro por um segundo.

–Izuki-kun, o que significa uma açucena?

–"Tristeza causada pela perda da pessoa amada" - ele recita como se estivesse lendo um livro, mas continua com o olhar focado nas tulipas.

–Entendo.

Ah. Como pode algo tão bonito ter um significado tão triste?

.

.

Depois que Kobato e Suzume saíram para fazer as entregas do dia, fiquei sozinho na loja como sempre. Não houve muito movimento, principalmente porque o dia dos namorados havia acabado de passar, mas sempre tinha alguém apaixonado pronto pra dar um presente ou uma pessoa no hospital precisando de flores.

Moriyama-san tinha deixado o vasinho com sua açucena ao lado do caixa, junto com as roupas dobradas e um bilhete agradecendo novamente.

Pergunto-me o que aconteceu na vida de Moriyama-san para que eu seja seu único amigo por perto.

Também penso como é triste ter que deixar absolutamente tudo para trás e ter que começar uma vida nova do nada. Sem emprego, sem amada, sem casa.

Bom, não há muito que eu possa fazer. Afinal, sou somente um floricultor.

Quando Kobato volta a loja, peço para que ela fique tomando conta por um tempo porque tenho que fazer compras, tanto para casa quanto para a floricultura.

No meio do caminho do supermercado, encontro Moriyama-san sentado num banco na pracinha. Ele parece meio deprimido. Cumprimento-o.

–Que faz aqui? - pergunto.

–Só não sei o que fazer primeiro. - suspira - Estou meio sem rumo agora.

–Você pode me ajudar com as compras que eu depois te ajudo a achar um apartamento pra morar. - sugiro.

Ele sorri de leve e dá de ombros, levantando do banco.

Então eu e Moriyama-san vamos ao supermercado. Compramos, além de comida, alguns vasos novos, terra, tesouras e outros artefatos.

Deixamos tudo na floricultura e vamos procurar uma nova casa para ele.

–Onde quer morar?

–Não sei, não posso gastar muito dinheiro.

–Olha, tem um anúncio nesse prédio - aponto para um predinho de quatro andares meio sem graça - Quer entrar e ver?

–Não tenho nada a perder mesmo.

Nós ligamos para o número no anúncio e um homem atende, dizendo que poderíamos subir para dar uma olhada.

O interior do prédio não é dos melhores, o carpete está meio rasgado e sujo e as paredes estão descascando.

–Talvez o apartamento seja legal - digo, tentando incentivá-lo. Moriyama-san concorda com a cabeça.

–Vamos subir, então.

O apartamento fica no último andar, à direita. O corredor não tem janelas e a luz amarelada não dá um ar muito agradável. Batemos na porta de número 42.

Um homem baixinho, gordo, numa camisa suja, e barba por fazer aparece.

–O-Olá - Moriyama-san diz.

–Vieram ver o apartamento?

–Sim.

–Podem entrar.

–Ah, não. Acho que o cara é um anão. - sussurro para Moriyama-san, arrancando dele uma risadinha. Pelo menos meus trocadilhos animam um pouco.

O apartamento não é grande. Tem uma sala de tamanho médio, separada da cozinha somente por um balcão pequeno. Um corredor estreito leva ao único quarto e ao banheiro.

O chão de madeira está todo riscado e as paredes têm umas manchas pretas e amarelas. A janela, pelo menos, é grande.

–Vou deixá-los aí discutindo enquanto pego as contas - o homem diz e sai do apartamento.

Olho para Moriyama-san.

–E então?

–Sei lá...

–Olha, não é tão ruim - digo - Tem uma iluminação natural boa e a sala é grandinha. O quarto não é apertado. Só precisa de uma boa pintura nas paredes e uma lustrada no chão.

–O balcão é horroroso - Moriyama-san faz cara de nojo.

–É, realmente...

–Ugh. Ok, acho que dá pra pintar, certo? - ele faz uma forcinha para sorrir e eu balanço a cabeça.

–Só precisa de umas flores - digo quando o dono do apartamento volta.

–E aí, vão querer ou o quê?

–Quanto você quer?

–Hm... - ele coça o queixo sujo de cheetos - 15 mil.

Olho para Moriyama-san. Ele franze a testa por uns segundos.

–Ok, é justo.

Espera. É?

Não faço ideia.

–Eu ligo depois para acertarmos o pagamento.

–Ok.

–Obrigado.

Saímos do apartamento e a porta bate às nossas costas.

–Meu Deus. - Moriyama-san respira fundo - Acho que vi uma barata.

.

.

Como chovera forte na noite anterior, a calçada está repleta de poças e o trânsito está complicado. Buzinas soam por todos os lados, e eu e Moriyama-san vamos caminhando pela rua até a floricultura. O apartamento que visitamos fica a cinco quadras de distância.

–15 mil é justo por um apartamento daqueles? - pergunto só para ter certeza e ele ri.

–Claro que sim, é até uma promoção! Você viu a vista da janela? É ótima! - ele parece feliz, apesar de tudo - E o quarto é espaçoso, o banheiro tem até um chuveiro decente. Como você disse, só precisa de uma boa pintura e umas flores.

Sorrio. Moriyama-san tem bom gosto.

O sininho da porta toca quando entramos. Kobato está sentada atrás do balcão lendo uma revista.

–Não posso sair por duas horas que minhas flores ficam abandonadas. - suspiro - Eu falei para regá-las, Kobato.

–Eu reguei, Shun-nii - ela ergue os olhos da revista e sorri quando vê quem está ao meu lado - Ah, Moriyama-san! Bem vindo de volta.

–Obrigado - ele sorri para ela.

–Escuta, Kobato - digo e pego meu avental no gancho - Moriyama-san está sem lugar pra morar por enquanto, por isso ele vai ficar aqui por um tempo, ok?

–O que aconteceu? - Kobato vira-se para ele, que está vendo algumas flores na vitrine.

–Minha namorada me deu um pé na bunda e, como a gente morava junto, fiquei sem casa - ele sorri e dá de ombros.

–Que coisa mais triste... - Kobato parece preocupada. Pego o regador e vou aguar as plantas do fundo da loja que, ao que parecem, estão secas. Ah tá que foram regadas - Fique para o almoço, Moriyama-san. Suzume está fazendo o macarrão especial dela pra comemorar.

–Comemorar o quê?

–Nosso aniversário.

–É seu aniversário? - ele ergue as sobrancelhas e vai até ela - Meus parabéns. Quantos anos?

–19. - ela está mesmo corando? Jogo mais água nas plantas.

–Mas já é uma mulher! E também é bonita e inteligente como uma.

–O-Obrigada.

Volto para pegar mais um pouco de terra para o vaso dos alecrins.

–Toma. - Kobato estende uma flor vermelha para Moriyama-san.

–Outra açucena? - ele ri - Muito obrigado, Kobato-chan. É tão linda quanto você.

–O almoço está pronto! - Suzume grita pela janela de seu apartamento, que dá direto para os fundos da loja.

Coloco o avental no gancho.

–Vamos comer.

Entramos pela porta dos fundos e subimos pelo elevador até o apartamento de Kobato e Suzume. A porta está aberta e de lá sai um cheiro muito gostoso.

–Pode entrar - Kobato puxa Moriyama-san pela manga da blusa e arrasta-o para dentro de sua casa. A mesa está posta e margaridas preenchem o vaso no centro da mesa - Suzume, Moriyama-san vai almoçar conosco!

–Ok! - ela sai da cozinha carregando uma travessa de vidro com seu macarrão especial dentro - Shun-nii, pegue um prato para ele, por favor.

Muito bem. O que está acontecendo aqui?

Desde quando minhas irmãs ficaram tão... Gentis? Só pode ser por causa da visita. Que assanhadas! Entendo que Moriyama-san é um cara alto e bonito, mas mal podem ver um homem novo e já ficam desse jeito?

Vou até o armário da cozinha e pego um prato, um copo, e talheres.

–Isso está tão bonito, Suzume-chan! Tão bonito quanto vocês duas!

–I-Imagina, Moriyama-san...

Oh, meu Deus. Elas estão mesmo bobinhas perto dele.

.

.

–Izuki-kun.

Ergo o olhar das petúnias e vejo Moriyama-san ao lado do caixa com uma xícara em cada mão. Sorrio, limpo as palmas no avental e vou até ele.

–Obrigado.

–Eu que agradeço, Izuki-kun, por me deixar ficar aqui e me acolher. Você e sua família são muito gentis.

–Já falei que pode ficar o tempo que for preciso, Moriyama-san.

O chá está gostoso.

–Você e suas irmãs não são muito novos para morarem aqui sozinhos? - ele pergunta por cima da xícara, e eu apoio os cotovelos no balcão.

–Bom, meus pais se divorciaram faz um tempo, e minha mãe ficou com a loja e com a nossa guarda... Aí ela foi embora.

–Embora pra onde?

–Não sei - dou de ombros - Um dia eu acordei e ela não estava mais aqui. Como eu estava me formando no colégio, resolvi tomar conta da floricultura. Agora que Kobato e Suzume se formaram também, elas fazem as entregas.

Moriyama-san olha para mim como se sentisse pena. Tomo mais um gole de chá.

–Fazer o quê? Agora eu tenho 24 e gosto de cuidar da loja. - sorrio pra ele - Não sei se minha mãe volta, mas, se isso acontecer, quero que ela saiba que cuidei bem das flores dela.

–Que gesto bonito.

Ele sorri e eu sorrio também.

Moriyama-san pousa a xícara de chá vazia em cima do balcão e se espreguiça, fazendo uma careta.

–Amanhã tenho que sair e procurar um emprego novo.

–Você se formou em quê?

–Arquitetura - ele diz -, mas não sei se quero continuar fazendo isso. Saí do emprego antigo porque achava muito chato.

–Hmm - coloco a mão no queixo - Você gosta de quê?

Ele solta uma risada anasalada.

–Não faço ideia.

–Aí fica difícil.

Moriyama-san diz que vai me ajudar a limpar a loja antes de fecharmos. O céu está nublado e várias nuvens cinzas sobrevoam a cidade, deixando o ar abafado. Garoa. A rua está surpreendentemente quieta, um ou outro passante olha através da vitrine para as flores coloridas.

É, as flores estão coloridas. Isso deixa o ambiente alegre.

Kobato e Suzume terminam de arrumar os fundos e se despedem de nós, dizendo que Moriyama-san poderia passar no apartamento delas ou no meu (que fica no outro lado do corredor no mesmo andar) se precisasse de alguma coisa. Ele concorda com a cabeça e dá um beijinho na mão de cada uma.

Moriyama-san varre o chão da loja enquanto limpo as prateleiras de vidro e rego as plantas da vitrine. Já se passam das dez horas, por isso resolvo fechar a loja. Desligo o anúncio luminoso da porta e volto-me para Moriyama-san, que está passando um pano na bancada de embrulhos.

–Muito obrigado pela ajuda, Moriyama-san - coloco os produtos de limpeza no armário e penduro o avental.

–Não tem importância. É bom ocupar a mente com outras coisas - ele sorri tristemente enquanto olha para as tulipas ao lado da porta.

Fico triste em vê-lo triste.

–Bom, - ele diz, colocando as mãos na nuca e suspirando - acho que vou dormir, se não se importa.

–Claro que não. - ele vai, mas chamo-o quando ele abre a porta do quarto - Esqueceu suas açucenas - estendo-lhe o vasinho com as duas flores, uma vermelha e uma branca.

–Ah. - ele pega-as da minha mão e as olha por um tempo, e sorri para si mesmo - Não posso ficar me lamentando, Izuki-kun. A vida segue em frente, certo?

Apesar do que diz, os olhos dele estão tristes.

–Não faz mal ficar chateado por um tempo - digo.

–Não é a minha cara. - ele dá de ombros e toca as pétalas das flores - Além do mais, como vou achar alguma moça bonita se continuo triste por outra? - ele me olha através das pétalas com um sorriso um pouco mais feliz. - Particularmente, não acho o copo-de-leite a flor mais bonita. Com certeza há coisas mais belas por aí.

Concordo com ele, mas dou-lhe as açucenas do mesmo jeito.

–Para enfeitar o quarto, então. - digo.

Moriyama-san me deseja boa noite e sorri antes de entrar no quarto, e a única coisa que consigo pensar é como ele se parece com as açucenas que carrega.


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Notas finais do capítulo

Não consigo decidir de quem gosto mais. Os dois são tão asdfghjkl ;u;