Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 4
Rio Festival Gay de Cinema




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Chego em casa e sou recebido por minha mãe sorridente e com telefone em mãos.

— A Liliane acabou de ligar pra cá, sabe aquela menina que veio na festa aqui em casa outro dia? - Minha mãe diz completamente animada.

— O que tem? - Pergunto assustado e retraído.

— Ela está totalmente a fim de você! Liliane disse que quer seu facebook e tudo...

Sigo para o sofá calado, meu olhar fica congelado no chão.

— Eu lhe dou o carro, você já tem carteira mesmo, vai poder andar de carro para onde for, a mulherada vai ficar louca! - Diz meu pai, tentando me animar e com seu tom de voz mais feliz que uma criança quando ganha um brinquedo.

— É! - Digo frio e com muito esforço.

— Pode até pegar meu carro se quiser, eu não esquento - Aline fala enquanto mexia no celular perto da janela.

— Ta vendo? Até sua irmã te dá força para ficar com aquela menina - Minha mãe insiste nisso, eu de verdade só queria que todos parassem de falar.

Sem aguentar mais um segundo ali, me dirijo à escada deixando minha mãe falando sozinha.

— Adiciona ela no facebook! - Ouço sua voz esperançosa.

Como eles não podem ver que isso não vai me destruindo cada vez mais? Eu não entendo.

— Eu acho que ela não tem facebook, mãe! - Respondo.

— Tem sim, eu já encontrei!

Subo a escada sem nem respondê-la.

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— Agora fala, qual o problema?- Ana me pergunta deitada de costas na cama e os pés para o alto e encostados na parede.

É muito tarde, estamos prontos para dormir, uso aquela minha camisa de manga cumprida favoritas, com a manga larga chegando a cobrir minhas mãos. Isso me deixa mais a vontade na casa dos outros. A encara com um sorriso.

— Tem que ter um motivo pra eu querer dormir na sua casa? - Lhe pergunto.

— Sim! - Sua resposta rápida me tira uma bufada e olho para o lado.

Ana senta na cama e me encara.

— Ei... - Eu a olho - Sabe que pode confiar em mim!

Minha visão cai para a cama. Não consigo encará-la para dizer isso... Eu quero, mas as palavras não conseguem pela minha boca. Meus pensamentos ficam mais fortes, naquele momento a tensão tomou conta de mim, eu olho para ela e vejo que esperava eu começar a falar, mas eu ainda não me sinto bem em dizer isso, é estranho... É complicado!

— Fala logo... - Ana insiste perdendo a paciência, a pouca que ela costumava ter para esse tipo de assunto.

— Eu... - Minha voz tremula entre o alto e baixo enquanto tentava dizer alguma coisa. Minha nossa, minhas mãos nunca ficaram tão geladas, nem consigo sentir meus dedos. - Tava na faculdade hoje e... Um garoto veio falar comigo na sala, ele perguntou se era a sala certa, mas...

— Mas... - Ana insiste.

—Não sei... E-eu to confuso, não sei o que pensar... - Levanto rápido da cama inquieto, me sentindo muito estranho por estar conversando isso com uma pessoa, não é uma pessoa qualquer, porém não melhora muito essa situação. Meu desejo é poder contar tudo, tudo que sinto e pelo amor de Deus, me ajuda! Mas não seria certo, eu não poderia fazer isso com ela, jogar essa bomba e fazer com que ela resolva tudo. Isso depende mim e somente de mim, não gosto de pensar desse jeito, me parece solitário demais, no entanto eu não vejo alternativa, tenho que mostrá-la o quanto bem estou, apesar de nunca ter atuado tão bem antes.

— Felipe... Você não vai ter certeza agora... - Ela senta na beira da cama e me assiste a andar de um lado para o outro sem parar - Porque não tenta assistir algum vídeo gay e...

— O que?- Paro na mesma hora e a encaro surpreso.

— Vai ajudar... Se você sentir alguma coisa... Bem, ai vai confirmar o que você acha que é!

Suas palavras podem até soar normais para ela, pra mim foi como algo um tanto radical. Ela não parou para saber melhor, não quis entender pelo que estou passando e as dificuldades que estou enfrentando todos os dias. Podia jurar que nossa conversa levaria um rumo diferente, achei que seria aquela pessoa pra quem eu contaria tudo e ela me ajudaria com conselhos sábios e animadores.

— Já assistiu algum vídeo pornô Gay?

— Não, Ana! - Eu digo ficando impaciente com sua insistência nessa pergunta estúpida.

— Assiste, alguns são bem românticos, mas fica longe dos Hardcore, são pesados demais! - Sua brincadeira no final não aliviou a tensão que se formou no quarto.

Eu não consegui rir, parei de frente para janela e fiquei observando a rua deserta.

— Ah... Amanhã vai ter um festival de cinema por aqui por perto, ta a fim de vir?

— Onde vai ser?

— Vai ser perto de um museu, é Rio Festival Gay de Cinema, você...

— Oi? - Eu a interrompo. Acabei de falar isso com ela, não estou bem ainda para ficar frequentando esses lugares, eu não me sentiria bem, talvez soubesse disso se deixasse eu falar de vez em quando. - Festival Gay de Cinema? Eu acho que não, Ana.

— Qual é?... Vai gostar, você adora essas coisas de cinema... - Insiste levantando da cama e se aproximando de mim.

— E o que eu digo para os meus pais?

— Ah, diz que vai para o museu!

— Ana, e se alguém me vê lá? - Creio que isso era o que eu mais temia, não que eu não quisesse ir, mas eu tenho medo das consequências que as minhas escolhas teriam. Eu nunca fui de agir sem pensar, e agora eu penso mais de mil vezes antes de fazer qualquer coisa.

— Felipe, o evento não é tão grande, você não vai encontrar ninguém conhecido - Diz Ana, com seu tom presunçoso.

Na verdade eu já estou acostumado com seu jeito de falar, então não me importo tanto da forma que ela age a respeito disso. Fico um tempo pensativo, eu queria muito ir, mas ao mesmo tempo não poderia me arriscar, eu não sei o que faria se encontrasse com alguém lá!

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— Eu não acredito que você me convenceu a vir - Digo olhando todos ao meu redor.

O local era bem grande, três andares e os corredores completamente lotados. Surpreendi-me com o jeito da decoração e as pessoas, nem todos eram gays, alguns escandalosos gritavam ao se encontrarem por acaso e abraçavam sem parar. No canto perto do carrinho de pipoca, ficavam os mais tímidos, a maioria com seus pares, um casal me chamou atenção por estarem se beijando na frente de todos. Pela primeira vez parecia que eu poderia ser eu, sabe... Sem ter medo de ser julgado, porque aqui somos todos iguais.

— Temos que escolher qual sessão nós vamos assistir primeiro - Ana comenta comigo, mas eu não ouvi metade do que ela disse, tudo me chamava atenção ao mesmo tempo - Ei! - Ela me vira.

— O que foi?

— Qual sessão nós vamos assistir primeiro?

— Eu não sei quais são os filmes ora!

Caminhamos pelo corredor cheio de cartazes dos filmes na parede. Eu vou analisando cada um, não sabia que faziam tantos filmes com essa temática. Não sei ao certo como aconteceu, mas esbarro em uma pessoa e troço no chão, não chego a cair por completo, apenas me agacho, mas isso não diminui o fato de que agora todos ali por perto estão olhando para mim.

Como uma pessoa pode ser tão estabanada ao ponto de tropeçar no próprio pé...? Fico poucos segundos olhando para o chão, tenho que encarar todos me olhando agora, e o que meu mais odeio é esse tipo de atenção.

— Desculpa, está tudo bem? - Eu ouço a voz de um garoto.

Nesse momento eu reparei que eu cai feio, não teria outro motivo cabível para ele me fazer essa pergunta, ou poderia ser o fato de que eu não levanto faz uns dois minutos. Levanto meu rosto e como já esperado, todos estão me encarando. Minha vontade agora era sair correndo dali, mas fui forte e respirei fundo, sinto a mão dele tocar meu braço e me ajudar a levantar.

— Desculpa, foi culpa minha! - Diz o rapaz corpulento, usando uma blusa de manga cumprida e calça jeans, seu cabelo castanho claro é arrepiado, mas não daquele jeito que você passa gel e fica tudo grudado e estranho, está mais para o modo estiloso.

Apesar de tentar não encará-lo, era impossível não olhar aqueles olhos verdes chamativos na sua frente, a sua pele era na tonalidade perfeita, e os lábios pouco rosados.

— Está tudo bem? - Ele pergunta novamente.

Sim, eu poderia falar alguma coisa, caso eu não tivesse em choque por ter tropeçado em frente de várias pessoas e um garoto como esse não tivesse me ajudado. Juro que lutei comigo para responder um breve.

— Sim!

— Oi! - Ana tenta quebrar o clima constrangedor que havia se formado naquela hora.

— Ah, essa é a minha amiga, Ana! - Eu lhes apresento - Me chamo Felipe!

— Prazer, Zac!

Então apertamos as mãos e eu não consegui parar de olhar para ele, eu não sei o que aconteceu comigo, não sou assim, porque eu não olho para o lado? Porque eu simplesmente já não fui embora? Sabe aquela necessidade que você tem de querer conversar com a pessoa por mais um tempo? Conhecê-la melhor, por que de alguma forma ele me fez sentir bem, algo que nenhuma pessoa tinha feito comigo até agora.

Meu coração está acelerado, mal consigo controlar minha respiração, noto que minhas mãos estão realmente quentes e suadas, devo estar parecendo um bobo em frente a ele.

— Eu tenho que ir, desculpa de novo! - Ele diz se afastando e indo em direção a outro rapaz.

É, eu pensei que fosse seu namorado, se abraçaram e andaram um pouco afastados. Fiquei encarando-os, até Ana me puxar pelo braço dando uma risada. Não sei ao certo o que estou sentindo no momento, não sei o que é amar, não sei qual é a sensação, mas eu senti algo bom.

"A alegria nunca dura por muito tempo" me disseram uma vez, e então passei a acreditar nisso, pois lembrei que nunca mais vou vê-lo de novo e mesmo se visse, eu não seria capaz de fazer nada, não posso... Não consigo!


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo talvez apenas no Domingo, estou com dificuldades para continuar a história, tem se tornado um pouco difícil =/
Mas não vou parar, e provavelmente Domingo teremos capítulo novo!



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