Nascida nas Sombras escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 7
Capítulo 6




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CAPÍTULO 6 - POR QUE SINTO COMO SE TODO MUNDO NÃO GOSTASSE DE MIM?

–Ei, ei, ei – Florence sentiu alguns beliscões contra sua pele, mas os ignorou – Você morreu, garota?

–Estou completamente morta – ela resmungou – Vá embora!

–Quero lembrar a você – a voz era feminina, sem dúvida, e também, percebeu Florence, azeda – que por ontem não ter sido um dia letivo, o café da manhã acontecerá mais cedo.

–Eu como depois! Me deixa descansar!

–Você não pode! É proibido!

Florence saiu de baixo do edredom que a cobria dos pés a cabeça e encarou, com uma raiva absurda, a figura de uma garota magrela, alta e com cabelos tão loiros, que a deixaram quase cega.

–Que droga, eu estou com sono! – vociferou, Florence – Quero dormir, meu Deus, é pedir muito? – a garota cerrou os olhos em sua direção - Que horas são?

–São nove horas!

–Meu Deus! – Florence, exclamou assustada.

–Meus Deus! – repetiu a menina, se sentindo vitoriosa por ter esclarecido a situação.

–Que cedo! – completou, se jogando na cama novamente.

–Mas o quê? – a garota loira colocou as mãos na cintura e encarou perplexa a novata em sua frente. Sim, ela já tinha escutado as histórias sobre a família Willis, mas essa garota era impossível! – Levante-se já!

–Por que se importa, hein? – Florence se sentou na cama mais uma vez – Sou eu e não você!

–Se você não vier agora, Minerva ficará a semana inteira me dizendo como sou uma colega de quarto irresponsável.

–Calma, você é minha colega de quarto?

–Não, sou Chapeuzinho Vermelho e vim trazer doces deliciosos para você – Florence revirou os olhos – Levanta, Willis!

–Okay, você ganhou – com os braços levantados em rendição, Florence caminhou até o banheiro.

–Seu uniforme está ai, se apresse!

Florence bufou.

{...}

–Minerva – explicou Amélia, a colega de quarto mais chata do mundo e que por sorte (ou um completo azar) era justo de Florence – tem uma opinião muito severa sobre quase tudo e ela não costuma acatar outras opiniões. Uma delas é sobre colegas de quarto. Ela considera que as colegas de quarto tem que ser como irmãs e tipo, bem, cuidar uma da outra. Se eu entrasse no refeitório sem você, sem dúvida eu voltaria para busca-la de qualquer jeito.

Florence dobrou em um corredor, sem se importar com mais nada. ‘’Colegas de quarto são irmãs para Minerva?’’ Ela riu por dentro ‘’Não considero nem como meia-irmã ou, pelo menos, amiga’’

Um apito soou pelo corredor e todos ao redor das duas se apressaram. Amélia puxou Florence com rapidez e correram na mesma direção que todo mundo.

–Que som é esse? – perguntou Florence.

–As campainhas estão sempre avisando alguma coisa. E desobedecê-las é insano. Essa, que você acabou de ouvir, quer dizer que falta cinco minutos para as portas do refeitório se fecharem e quem não estiver lá dentro na hora exata, terá sérios problemas.

–Esse lugar vai me matar.

–Poderia perguntar de quê?

–Basicamente? Tédio!

–Vamos, pessoal! – a menina que Florence viu no corredor, no primeiro dia, e que a proibiu de entrar novamente na ala masculina, estava gritando junto com uma outra colega em frente a uma grande porta. – Vamos, vamos, vamos! As portas logo serão fechadas!

–Que diabos... – mas Florence não terminou sua fala, pois sua colega de quarto parou de correr e começou a andar calmamente, entre a multidão.

–Minerva não gosta de correria – ela sussurrou para Florence.

–Me impressionaria se gostasse de algo – sussurrou de volta.

Os olhos de Florence varreram o corredor por onde passavam com rapidez e se perguntou como não tinha percebido aquilo antes. As pessoas pareciam se apertar para passar pela porta de entrada para o refeitório do lado contrário ao dela, sem se aproximar. Quando ela chegava perto de alguém, essa pessoa se afastavam tão rapidamente quanto possível.

–O que há com eles? – Florence perguntou para a colega de quarto – Nosso lado está quase vazio, por que eles estão se apertando para passar por ali?

–Alguns alunos são estranhos, só isso – mas Amélia hesitou e isso só confirmou o que Florence já acreditava. Havia algo de errado ali e ela estava envolvida.

Assim que as duas, finalmente, adentraram no refeitório, Florence teve que confessar para si mesma que aquele lugar era fantástico! Tinha um banquete, posto em uma mesa retangular gigantesca cheia de coisas maravilhosas e diferentes para se comer. Também havia várias mesas espalhadas por todos os lados, com flores decorando seus centros de forma doce e tranquila, como deveria ser o café da manhã. A parede era completamente branca, mas o teto tinha alguns detalhes que, depois de olhar bem, Florence percebeu serem desenhos pintados a mão. Embora parecesse que ali não haveria espaço para tantos alunos, havia sim. Todos sentavam confortavelmente em mesas redondas e riam com seus colegas. Do lado oposto da sala e em pé, Minerva observava atentamente a tudo, junto com seu fiel escudeiro Rick.

–Minerva não vai se sentar? – perguntou Florence.

–Ela, professores e outros funcionários só comem depois de nós. Os alunos sempre em primeiro lugar. – respondeu, Amélia.

Florence percebeu que não tirava os olhos da diretora, quando a mesma começou a encará-la. Corada, a garota quebrou o contato visual. Mas isso foi pior, porque seus olhos acabaram encontrando Alexander. Ele não percebeu que era observado, porque estava lendo, com a cabeça baixa, um livro com capa marrom, parecendo bastante concentrado. Os músculos, agora cobertos, pareciam relaxados.

Outra campainha suou e todos se apertaram ainda mais, quando as portas começaram a se fechar.

Amélia, em reflexo, jogou Florence na cadeira vazia mais próxima que, depois de minutos procurando, encontrou.

–Fique aqui – ela disse – Não vai encontrar um lugar melhor.

–E você?

–Tenho amigos que guardam meu lugar sempre – e foi embora. Por mais que Amélia não tivesse feito de propósito, aquilo machucou Florence, porque a fez lembrar de Susan. A única amiga que ela tinha e que, de fato, não era bem sua amiga.

Conformada com a situação, Florence se virou para seus colegas de mesa. Todos a encaravam com um olhar de puro desdém, menos Anna Jones, que sorria abertamente. Assim que o olhar de Florence foi percebido, todos começaram a ignora-la de maneira precisa, menos, mais uma vez, Anna Jones, que trocou de lugar com uma menina morena apenas para conversar com ela.

–Isso não é realmente um máximo? – Anna comentou, maravilhada – Essa escola é a melhor. Nem consigo acreditar em tamanha sorte que temos.

–Você sabe por que seus amigos estão me olhando desse jeito?

–Que jeito? – Anna sorrio, mas estava meio atordoada.

–Eles não parecem gostar de mim.

–Eles são muito legais! – Anna contou, como se não entendesse a preocupação da amiga – Me acolheram rapidinho. Vou mostrar!

–O que vai fa... – Florence não conseguiu pará-la.

–Olá, pessoas, essa é a Florence Willis! Liana para de mastigar esse chiclete, essa é Florence! – todos encaram a com mais desdém ainda, como se ela fosse um inseto e merecesse ser pisado. – Nossa, eles odeiam você – Anna sussurrou apenas para ela, depois de todos virarem a cara – Nossa, nossa, nossa.

– O verdadeiro mistério é o porquê – Florence falou – Eu não fiz nada.

–Tem certeza?

–Absoluta.

–Hmmm... Vamos descobrir então – Anna sorriu ainda mais e, pela primeira vez, Florence retribuiu. Isso pareceu deixa-la feliz.

–Caros alunos e alunas – Minerva começou a falar, com o microfone em mãos e a voz mais alta e abafada por causa dele – É com completa satisfação que anuncio o começo do nosso ano letivo. E é também com enorme satisfação que recebo os alunos novatos do primeiro ano. Vocês aprenderão muito esse ano e em todos os outros, então, meu caros, atenção por favor em tudo. Bem, uma ótima refeição a todos. As comidas serão levadas até vocês, não se preocupem, e qualquer coisa peçam a um de nossos receptivos funcionários.

–Com licença, senhorita – uma mulher, de mais ou menos, 50 anos, disse a Florence, tremendo – Você vai querer pe-peru?

Florence, confusa, fez que sim com a cabeça e a senhora se colocou o mais distante possível depois de servi-la com uma quantidade razoável.

–Viu isso? – Florence puxou o braço de Anna – Até os funcionários me odeiam, mas eu não sei porquê.

–Talvez seja seu cabelo.

–Meu cabelo?

–Em algum lugar do mundo, ruivas devem ser vistas como má sorte. Esse lugar deve ser aqui. É a única explicação.

–Você acha?

–Não completamente.

–Então, esquece.

–Calminha, ruiva demoníaca, vamos descobrir.

Florence cortou um pedaço de peru e o comeu com raiva.

–Eu jamais aceitaria isso! – alguém gritou de alguma mesa do lado oposto e todos pararam de comer no mesmo instante. Arriscando um olhar, Florence percebeu que Alexander parecia tenso, enquanto observava uma garota com cabelos negros e pele parda se levantar. – O que ela faz aqui? – e apontou para a direção de Florence e Anna.

Florence olhou para os lados, como se procurasse quem estava sendo acusado, mas, no fundo, sabia quem realmente era.

–Florence Willis? Sério? – a garota continuou, raivosa – Essa garota deveria ser mantida o mais distante possível de todo mundo que está aqui, não, de todo mundo da face da terra – Minerva apenas continuou calada, imóvel – Depois daquele pai maldito dela ter...

Ouououou. Tudo bem dizer que Florence deveria ser deportada do mundo, mas xingar seu pai que nem estava li para se defender parecia absurdo e ela não foi capaz de conter a própria ira.

–Quem você acha que é para ofender meu pai? – Florence se levantou e todos os olharem se cravaram nela. Isso era realmente desconfortável, mas o importante naquele momento era defender seu pai – Que tal você apenas calar a boca, querida? Ainda não encontraram vida em Marte, amor, mas assim que encontrarem você pode pedir para o Papai Noel me mandar para lá como presente de Natal, o que acha?

–Quem eu penso que sou? – a garota parecia igualmente furiosa – Me chamo Lindsay Miras

–Nossa, uma desconhecida! – Florence bateu palmas, sem ânimo – Que bom conhecer você Linda Midas.

–Não finja que não me conhece.

–Não sou boa em atuação, querida, teatro nunca foi meu forte. Não estou fingindo e nunca ouvir falar de você na minha vida!

–‘’Miras’’ não lembra algo a você?

–Midas.

–Não seja engraçadinha.

–Não seja uma completa idiota. O que há com você?

–Minha família está morta!

–Sinto muito, mas por que está querendo me expulsar do mundo?

–Você é... Você é tão... Você é um monstro! – e então saiu correndo e chorando, deixando uma Florence completamente confusa parada no refeitório.

Todos os olhares pareciam ainda mais indignados e cheios de desprezo, como se Florence estivesse atacado a menina e não o contrário. Era como se eles acreditassem em Linda, quer dizer, Lindsay. Era como se, para eles, ela estivesse realmente certa. Florence apenas queria gritar para todo mundo que não era um monstro, era só uma garota comum que estava tentando estudar em uma escola incomum.

– Qual o problema de vocês? – Florence perguntou, afinal – O que está acontecendo aqui?

–Florence, sente-se – Minerva resolveu falar – E coma seu café da manhã.

–Eu não vou comer peru e fingir que tudo está bem. Todo mundo nessa sala parece querer me jogar de uma escada. Eu exijo uma explicação.

–Você não po...

–Isso não foi um pedido, Minerva.

–Então venha comigo.

Assim que as duas deixaram o cômodo, todo mundo queria saber o que aconteceria depois.


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