Não quero olhar para trás. escrita por JulianaR


Capítulo 1
Capítulo 1




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Lá estava eu, olhando o horizonte, observando as nuvens escuras que cobriam o céu, e enquanto eu andava distraidamente... Um garoto se choca comigo - Ei você por acaso não me viu? –digo alto e olho feio para o rapaz de óculos que acabara de derrubar chocolate quente em mim, ele me olhava um tanto constrangido, e antes mesmo de ele responder me desviei e continuei andado, óbvio que eu também não estava prestando atenção, mas ídai? Ele derrubou chocolate quente em mim, pelo menos não era refrigerante, está muito frio, porém, deve ter manchado meu lindo casaco. Me sentei na sala de espera enquanto espera meu vôo que sairia as 7h, comecei a me arrepender por ter sido tão ignorante com o garoto dos óculos, olhei para trás e lá estava ele, nossos olhares se cruzaram e senti o constrangimento em seus olhos, dei de ombros. Também notei que por trás daqueles óculos havia lindos olhos grandes e azuis, um cabelo liso do tipo que fica caído nos olhos, uma boca bem desenhada, ele é bonito. Virei o rosto e sorri, não queria que ele me visse sorrindo, posso ter me arrependido de ter sido ignorante, mas a culpa ainda era dele, aliás, ele parecia mais novo do que eu e nada disso importava, porque o motivo de eu estar tão estressada estava se aproximando.

No avião já estou mais relaxada, até porque era impossível não estar com essa maravilhosa massagem que estou recebendo, sinto todos os meus problemas desaparecem. Então a massagem termina, volto para a poltrona e peço morangos, olho para os passageiros que estavam ali comigo, a maioria já são idosos, tem uma garota bonita e mais jovem do que eu, um olhar amigável e cabelos ruivos, e outros que olhei rápido sem dar muita importância. Mas voltando ao assunto dos problemas, você deve estar se perguntando, problemas? Que problemas? Sim eu não deveria ter problemas, estou voltando de Paris, de 1° classe, sou inteligente e bonita, minha família é rica, quais problemas eu poderia ter? Bom, vou te adiantar um pouco, tenho medo. Medo? Sim medo, medo da vida, medo de sair da minha bolha novamente, eu ainda me sinto tão vazia, tem uma parte de mim que ainda é completamente perturbada. Motivo? Mas tarde você saberá, e você vai dizer, ah fala sério? Só isso? E vai rir de mim, porém, só quem já passou por isso vai entender, pode ser uma coisa mínima para você, mas para mim, foi a pior coisa!
Enquanto tomo um drink meus olhos pesam, me sinto tão solitária, como sempre me sinto quando bebo, mas eu sempre soube disfarçar, mesmo antes de tudo, então levo na boa. Estou ansiosa para reencontrar meus pais, meu lar. Mentira, não estou nem um pouco, por mim eu jamais voltaria, não por eles é claro, meus pais são super carinhosos e atenciosos, às vezes até demais, mas também são tradicionais e maçantes. O problema é o lugar, aquele lugar, o lugar onde nasceu e mora meu medo, e no momento, odeio meus pais por estarem me forçando a voltar, dizem que tenho que furar minha bolha, enfrentar a vida, eles não entendem. Enquanto penso em tudo meus olhos vão fechando e a última coisa que vejo antes de fechar os olhos é a garota de cabelos ruivos e olhar amigável voltando para seu lugar.

Saio do avião com as malas e o celular na mão, enquanto sigo para onde marquei com meus pais vejo aquele garoto, o garoto do chocolate quente (HÁ HÁ), ele ta vindo em minha direção, olho para o lado a procura de alguém, mas não, não havia ninguém, ele estava vindo falar comigo. Pedir desculpas por causo do chocolate? Olho para baixo antes de ele chegar até mim e disfarço um riso, ele deve ser aquele tipo de garoto nerd e fofo. Acordei agora pouco, não estou nem um pouco a fim de ouvir desculpas e bater papo. Ele para em minha frente e diz. –Olha me desculpe se... –Parei de ouvir o que ele dizia e foquei meu olhar apenas em sua boca se mexendo, uau, que boca, e antes de ele terminar de falar eu digo. –Ta. –Me desviei dele novamente e voltei a andar. Depois de dar alguns passos com as minhas botas de salto, não contenho um sorriso e decido olhar para trás para confirmar minha teoria. E sim, ele estava lá, me olhando, boquiaberto, se sentindo um “trouxa” no mínimo. Ri um pouco e continuei, sem mais olhar para trás, eu adorava fazer isso, e ele mereceu, derrubou chocolate quente em mim. Além do mais, só tem duas teorias para ele vir pedir desculpas depois de horas.
1- Ele é um safado, e usou a desculpa pra vim falar comigo e pedir meu telefone. Ou vai ver ele até derrubou chocolate quente em mim por querer. (HÁ HÁ)
2- Ele realmente é um nerd fofo que precisa aprender a viver e não ser idiota.
Fala sério, porque ainda to pensando nesse garoto? Enquanto continuo minha caminhada olho para as muitas pessoas que passam por ali naquela hora, eu não era nem um pouco fã de aeroportos, sempre tão cheios de pessoas estressadas e amontoadas. Percebo vários homens me olhando e sorrio, eu sabia que estava meio descabelada e quase sem maquiagem, mas também sabia que continuava linda, eu também olhei para a maioria, eu gosto de olhar para coisas bonitas, adoro chamar atenção e amo ver o efeito que tenho sobre os homens. Queria ter tido essa autoconfiança toda no ensino médio.

Depois acabo lembrando o que estava tentando ao máximo reprimir, eu estou aqui. De novo. Depois de três anos tentando esquecer o que aconteceu, sinto as lembranças mais próximas, mais vívidas, sinto todos os meus sentimentos renascerem, sinto tanto ódio, sinto amor, desconfiança, vergonha e medo, tanto medo. E depois de três anos eu pareço à mesma garota que passou chorando por esse aeroporto, naquela tarde chuvosa. Meus olhos lacrimejam e olho para o céu, tentando conter as lágrimas, eu sou forte, eu consigo, já passou. E agora eu posso... Vingar-me. Como não havia pensando nisso antes? Sorrio entre as lágrimas, um sorriso de ódio e vingança, sim, me vingar, como eu nunca havia pensado nisso? Esses três anos e eu apenas tentando esquecer, seguir em frente, mas agora eu sou outra pessoa. Eu ainda tenho tudo daquela outra garota que eu era, apenas reprimo essa parte ao máximo, e também aprendi a ser ignorante, sarcástica, desconfiada, apenas para a minha proteção, agora sei lidar bem com engraçadinhos.
Nesse momento vejo meus pais, sentados na mesa me esperando, no lugar em que havíamos marcado, limpo as lágrimas e ando até lá, com passos forçados mais firmes.


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Notas finais do capítulo

Vai ficar bem mais interessante, acreditem! kkk
Obrigada por lerem, fico muito feliz.



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