No intervalo da aula, na terça-feira:

–K tem tarefa de Química para amanhã, topa fazer lá em casa? - Pedro convidou.

–Hoje?

–É depois da aula.

–Poxa, não sei se vai dar. Chegaram os materiais que pedimos pela internet para fazer as lembrancinhas e hoje prometi ajudar a Bi e a Dandara. Amanhã a noite provavelmente também, é muita coisa.

–Vocês querem ajuda? - perguntou Pri.

–Você pode? Olha que é uma boa.

–Posso, mas rola de ir direto para sua casa depois daqui?

–Claro! Por que você não dorme lá? Vai ser maneiro.

–Mas e roupa?

–Ah eu te empresto e lavamos a sua na máquina, até amanhã já vai estar seca.

–Fechou então, vou ligar para minha mãe para avisar.

–Você sabe lavar roupa, Esquentadinha? - Pedro perguntou.

–Sei ué. É só colocar na máquina e ela faz quase tudo sozinha.

–Até eu tive que aprender, faz parte do plano de sobrevivência do professor de briga.– reclamou João.

–Ah não! Essa eu queria ter visto!

–Vai zoando, quando vocês se casarem e você fizer parte da família, certeza que ele também vai te ensinar esse plano!

–Casar? Vira essa boca pra lá moleque! - Karina reclamou.

–Que? Não quer casar comigo não Esquentadinha?

–Pedro a gente só tem 17 anos. Pelo amor!

–Meu coração está em ruínas.

–O que que você tanto escreve nesse celular?

–Ah! Quinta a noite vamos tocar em um barzinho, vocês vão né?

–Foi mal Pê, mas é niver da minha priminha e já ficamos de ir. –Pri respondeu.

–Eu vou ver meu namorado lindo.

–É no bar do pai da Fernanda?–João quis saber.

–Amanda e é.

–Quem é essa Amanda? Eu conheço?

–Acho que não, ela faz aula de português comigo.

–Hum... - comentou olhando desconfiada para ele. - E é com ela que você tanto conversa?

–É que estamos combinando os detalhes.

–Olha lá hein Pedro?! – Karina imitou o sinal que o Gael sempre faz de "Estou de olho em você"

–Relaxa que minha única musa é você. Quer ver a conversa?

–Não exagera, eu confio em você.

–Só não quero que fique preocupada. Minha linda.– puxou-a para um beijo.

*****

Pedro estava fazendo a lição de casa sentado no chão da sala e apoiado na mesinha de centro, quando a campainha tocou.

–Você veio?! – surpreendeu-se a ver a namorada na porta, vestindo uma regata branca e um short larguinho preto de malha.

–E aí pronto para desvendar o universo dos Carbonos?

–Já até comecei, você disse que não vinha.

–É que comentei com a Dandara e ela disse que o dever é mais importante. A Pri está lá ajudando elas, só não posso demorar muito.

–Entra aí. Quer alguma coisa para beber?

–Valeu, estou bem. - sentou-se e abriu o caderno.– Vamos fazer assim, vai classificando os que você sabe aí, que eu classifico aqui. Depois a gente compara e os que não soubermos, resolvemos juntos.

–Já é.

–Química orgânica é a que eu mais gosto.

–A que eu mais gosto é a química de pele.

–De pele?

–É, tipo eu e você, a gente tem muita química.

–Aff Pedro.

Continuaram respondendo a tarefa e depois de uma meia hora Pedro interrompeu o silêncio que se instalou.

–Terminei.

–Já estou acabando, tem um tanto aqui que fiquei na dúvida. Espero que você tenha entendido mesmo essa matéria...

–Não tema que com Pedro não há problema. Vou pegar um suco lá no Perfeitão, você quer?

–Será que tem água de coco? Bateu uma vontade.

–Vontade? Xii...você não tá grávida não né? Sou muito jovem para ser pai!

–Claro, porque a gente transa loucamente todo dia. Óbvio que não né. Vai, enquanto eu confiro aqui.

–Você tá meio cavala hoje hein? É TPM?

–Vai logo antes que eu jogue esse livro na sua cara! - esbravejou.

–Só pode ser TPM! - resmungou para si, mas Karina ouviu, atirando o livro na parede e fazendo-o correr para o restaurante.

Karina pegou o caderno dele para comparar as respostas.

–Caramba, ele respondeu todas. Melhor que eu...vamos ver. Hum...aparentemente tá tudo igual, só preciso que ele me explique esses aqui que eu não fiz.

Quando foi colocar o caderno dele de volta no lugar, um papel dobrado escorregou de dentro.

–Que isso? – comentou abrindo o papel.

Nele tinha um poema, mas não passou despercebido que tinha um número de celular anotado com letra de menina e um coraçãozinho. Amanda, a tal.

–Mas que merda é essa? - perguntou completamente confusa ao ler o poema.– Entre minha boca e a tua, certamente?

Karina entendeu tudo errado e estava com a respiração acelerada pela raiva e os olhos ardendo quando o namorado voltou com um copo de suco e um coco com canudinho.

–Aqui está seu pedido, madame. K? O que você tem?

–O que é isso aqui Pedro? - falou empurrando o papel para ele.

–Ah, é um poema. Você estava mexendo nas minhas coisas?

–Não, peguei seu caderno e ele caiu no meu colo. Você me disse que não tinha nada a ver com essa Amanda!

–Calma Esquentadinha, não é o que você está pensando!

–Não é? Então me explica porque o nome e telefone dela está em um poema que está falando da sua boca na dela? Anda!

–Calma K, não é nada disso!

–Calma o caramba! Tá pensando que eu sou idiota? Ninguém me contou não, eu estou vendo!

–O poema era para você e não para ela!

–Para de mentir! Se fosse para mim você não ficaria bravo por eu ver!

–Porque era uma surpresa!

–Mentiroso! ARGH! – a lutadora tremia de raiva.

–Calma, respira K. Você está muito nervosa. Vamos conversar.

–Conversar? Eu vou embora antes que eu te mato! - reclamou e ao tentar sair, Pedro a segurou.– NÃO TOCA EM MIM!

Foi para cima dele com uma sequência de Jeb/direto e ele foi correndo pela sala, com ela tentando acertá-lo, tendo sucesso em algumas tentativas.

–Para com isso! Você tá me machucando Esquentadinha.

–É para machucar mesmo!

–CHEGA! Se controla! Não dá para resolver as coisas na violência não! - gritou parando de correr e tentando imobilizá-la, sem sucesso. Karina era ágil e forte. -Ah! Para Karina!

Por fim conseguiu deitá-la no sofá, prendendo-a com seu corpo.

–Me solta moleque!

Não! Enquanto você não me ouvir, não sai daqui!

–Eu não quero ouv... - Pedro a calou com um beijo. Ao recuperar-se do susto inicial a lutadora mordeu o lábio do namorado com força, até tirar sangue.

–Ah! Sua louca! - Pedro levantou-se, tocando o lábio.– Você me mordeu? - incrédulo por ela o ter machucado.

–Avisei para não tocar em mim! Se eu ficar aqui mais um segundo, eu taco esse coco na sua cabeça!

O músico não respondeu nada, estava assustado com toda aquela situação. Sabia que Karina era brava e tinha problemas em direcionar sua raiva, mas nunca sequer imaginou que ela seria capaz de machucá-lo. Estava decepcionado.

A lutadora pegou rapidamente suas coisas e saiu batendo a porta, sem falar mais nada. Pedro sentou-se no sofá, olhando para os dedos manchados com o sangue de sua boca sem acreditar que aquilo realmente acontecera.

Karina precisava correr, cogitou convidar Cobra para acompanhá-la, mas corria o risco de Jade estar com ele e tudo o que ela não precisava agora era brigar com Jade. Acabou correndo pelo bairro durante meia hora, voltou para casa completamente suada. Não falou uma palavra para as garotas que estavam na mesa montando as lembrancinhas e subiu diretamente para o banheiro, onde deixou a água fria esfriar o resquício de raiva que ainda tinha.

Colocou seu pijama e foi ajudar as garotas que logo quiseram saber o que tinha acontecido, mas ela desconversou, como era de sua especialidade.

Antes de dormir, tomava leite com Pri na cozinha e a amiga insistiu.

–K tem certeza que não quer me contar o que aconteceu? Você não parece bem.

–Ah Pri! Eu fiz uma burrada...

–Que burrada? Você sabe que pode me contar qualquer coisa...somos parceiras de crime.

–Eu sei. Mas putz...nem sei como começar.

–Pelo começo. Você foi estudar com o Pedro.

–É e estava tudo bem. Até que eu peguei o caderno dele e aí um papel caiu de dentro e eu abri e era um poema falando da boca dele na de uma menina e no papel tinha um número de telefone daquela Amanda escrito com a letra dela. Eu surtei.

–Respira K, calma. Não entendi nada, fala mais devagar. Um poema caiu de dentro do caderno, é isso? - Karina confirmou com a cabeça. -E era um poema falando sobre beijo? - confirmou novamente.–E o que o número da menina tem a ver?

–Não sei, mas não é estranho? Um poema falando que tem poesia entre a boca dele e a dela. E o nome dessa garota com o telefone bem ali?

–Você acha que o poema era para ela?

–Não sei...parecia. Acho que sim. Já nem sei mais.

–O que ele disse?

–Que o poema era pra mim e eu entendi tudo errado.

–E você deixou ele explicar?

–Não, acabei machucando ele.

–Como é?

–Perdi a cabeça Pri, eu estava com tanta raiva. Arranquei sangue da boca dele quando ele me beijou.

–O Pedro é um idiota também, não viu que você estava brava e foi te beijar?

–Isso não justifica Pri, eu não podia ter machucado ele. Agi que nem um animal.

–Calma amiga. Você deve ter ficado com muita raiva para agir assim.

–Você não imagina o quanto! Sò de lembrar já fico com raiva novamente. Se ele estiver mentindo pra mim....

–E se ele não estiver K? Essa Amanda não é a que tá agilizando o show para eles? Tipo se ele conversa com ela no WhatsApp, ela precisa ter dado o número para ele certo? E se quando ela pediu para anotar, ele entregou uma folha aleatória para ela, que coincidentemente era essa?

–Será? Não sei...algo está estranho nisso tudo.

–Acho que você está exagerando K. Eu sabia que você ficar tanto tempo sem treinar não seria uma boa. Já está explodindo com as pessoas.

–E agora Pri? Se o Pedro estava falando a verdade, ele nunca vai me perdoar!

–Calma K. Relaxa, tenta acalmar essa raiva e amanhã na escola vocês conversam.

–Ele não vai me perdoar, você precisava ver o olhar dele.

–Eu tenho certeza que vai, K. O Pedro te ama. Vem cá, me dá um abraço.

–Você é a melhor amiga desse mundo. Que bom que veio dormir aqui!

–Ai amiga, você precisa tomar mais cuidado com esse temperamento.

–Estou me sentindo péssima.

–Vem, vamos dormir. Nós temos um monte de lembrancinhas para terminar ainda pela manhã.

No dia seguinte as amigas acordaram cedo e foram correr no parque com Cobra por uma hora. Voltaram quando Bianca e o pai estavam acordando e foram ajudar com as lembrancinhas - menos Gael que não levava o menor jeito com coisas delicadas.