–Karina, já falei para você não pegar tão pesado no treino!

–Ah pai, me deixa! Você sabe que me faz bem.

–Sei, mas sabe o que também faz bem? Estudar! Vai se arrumar que já está na hora da escola.

–Tá bom "seu" Gael, já estou indo. Beijo pai.

–Beijo minha filha. Ah! E Karina?!

Ela que já estava saindo, olha para trás.

–Seu chute circular está muito bom!

Karina abre um sorriso, tudo o que ela quer é o reconhecimento de seu pai.

Dirige-se até sua casa que fica no mesmo quarteirão da academia e se apronta para a escola, almoça, para depois pegar o ônibus. Quem faz o almoço é a Bete, que já trabalha para eles desde que as meninas ainda eram bebês. Eles tem um carinho todo especial por ela, que por sua vez sempre cuidou muito bem das meninas e da casa.

*****

Na classe, Karina está sentada em sua cadeira habitual conversando com Pri, uma das únicas meninas que ela suporta. A maioria de suas amizades são os garotos da academia, mas Pri também treina Muay Thai.

O professor inicia a aula e todos param de conversar. Cinco minutos depois surge um garoto interrompendo a aula:

–Professor posso entrar?

–Ah você é o Pedro, o aluno transferido? Não é muito comum termos transferência no meio do semestre, mas pode entrar. Pessoal, dê as boas vindas para o Pedro.

Os alunos ficam alvoroçados, algumas meninas o acham gatinho e alguns meninos se identificam pelo estilo skatista do garoto. Ele dirige-se ao único lugar disponível e encara Karina ao passar, sentando atrás da loira. Ela não é seu tipo de garota, mas por algum motivo ficou intrigado com seu olhar.

Karina olha para trás e ele dá uma piscadinha para ela, que vira rapidamente com as bochechas corando.

A aula de literatura transcorre normalmente e Pedro está desinteressado, por já ter estudado o assunto na outra escola. Ele sente falta de seus amigos e de sua antiga escola, mas não encana muito com essas coisas, gosta de levar a vida com alegria e tentar tirar sempre o melhor das situações. Ele sabe que seus pais estão empolgados com o restaurante e fica feliz por isso. Resolve tentar compor uma música para a hora passar.

Karina está com os fones escondidos pelo capuz do moletom e desenha distraidamente no caderno. Pensando em Bianca e... Duca. A irmã ontem conseguiu convencer o pai a deixá-la participar da Ribalta, escola de teatro onde sua mãe iniciou a carreira de atriz. Bianca é extremamente parecida com a mãe, enquanto Karina só herdou os olhos azuis.

Ela pensa se um dia vai pensar em Duca sem que sinta esse aperto no peito. Dói.

O sinal toca e K. sai ainda chateada por Duca, quando o garoto novo a segura pelo braço. Ela já vira pronta para desferir um golpe, mas ele se assusta e a solta.

–Tá maluco moleque?

–Poxa gatinha, estou te chamando e você não responde. Não sabia que é proibido usar fones durante a aula? - diz ele debochando.

–Gatinha não, meu nome é Karina. O que você quer? - ela responde irritada.

–Você sabe onde fica o laboratório de Química? Minha próxima aula...

–Estou indo pra lá, é só me seguir.

E Karina sai andando rápido, fazendo o garoto quase correr para alcançá-la.

–Faz tempo que você estuda aqui? Eu mudei faz pouco tempo para essa cidade, meus pais estão abrindo um restaurante...

–Falei para me seguir e não para falar comigo!

–Uau quanta gentileza! Você é sempre legal assim? - Pedro abre um sorriso irônico

–E você é sempre debochado?

Pedro ri:

–Esquentadinha heim?!

–Não, peraí. Cê me chamou de que?

–Esquentadinha! - E Pedro abre um sorriso maior ainda.

–Quer morrer moleque? - avança e segura a cabeça de Pedro.

–Calma gatinha, assim eu me apaixono.

Karina se envergonha e solta Pedro

–Isso é Muay Thai moleque! Me erra - e sai andando novamente.

Pedro abre um sorriso de satisfação e fala para si mesmo:

–Já vi que vai ser interessante estudar aqui!

O skatista segue a menina até o laboratório. O corredor está cheio de alunos e já na porta do laboratório algumas meninas tentam se aproximar de Pedro, que conversa animadamente com elas.

O professor de Química chega e todos entram.

Pedro entrega sua autorização de transferência ao professor, que se apresenta como Rodrigo e pede que ele se acomode.

–Olha só que coincidência, vou sentar pertinho de você novamente!

Karina olha com desprezo para o rapaz e nem se digna a responder. Ela o achou irritante, é bonitinho, mas faz o estilo engraçadinho e Karina detesta esses idiotas. Sempre querem aparecer. E além disso acabou de tirar onda com ela no corredor. Santa paciência, espera que não tenham mais nenhuma aula juntos!