—Certo, Thalles. Eu tenho várias perguntas, você sabe, não é mesmo?
— Sim, vocês geralmente tem. E eu respondo na medida do possível.
— Está bem. A primeira pergunta é: por que eu não tenho dislexia? Quero dizer, os semideuses têm, porque a mente deles... A nossa mente, está programada para entender o grego antigo, ou latim, no caso dos romanos.
— Bom, geralmente - Thalles começou a me explicar- Mas existem exceções. Frank, um romano que conheci no acampamento depois da guerra, ele não tinha dislexia também. Você também se encaixa na exceção. Por acaso os livros de Rick caíram em suas mãos e você ficou sabendo da história. O que me poupa de ter que te colocar a par de tudo. Obrigado por gostar de ler, srta. Pamela.
— Rick Riordan escreve as histórias como ficção para os humanos, porque os semideuses são dislexos, então não leriam? - Fiquei pasma - Puxa! Que inteligente!
— Sim, sim. Ele foi inteligente mesmo. -Thalles parou pensativo por um momento- Você acha mesmo que isso tudo surgiria da imaginação dele?
— Acho que sim - analisei - ele era professor de história, sabe várias coisas sobre mitologia, sabe? E mais uma pergunta: Quem é meu pai? Minha mãe sabe que meu pai é um deus?
— Sua mãe provavelmente não sabe. Pensa que seu pai abandonou vocês, mas os deuses não podem viver com os humanos, nem ficar fazendo muito contato com os filhos, acho isso um tanto triste. E, bom, não faço ideia de quem seja seu pai, Pamela.
— Eu tenho um palpite - falei num sussurro - Hades.
— Por que você acha que seu pai é Hades?
— Eu, eu tive um sonho. Eu vi minha avó. Eu estava no mundo inferior e a vi. E ela sorria pra mim e acenava com a cabeça, como se estivesse me confirmando algo, mas não sei por que.
— Hm, em seu sonho você desceu ao mundo inferior?
— Sim. E as pessoas que falam comigo são poucas. E me dizem que as outras não falam comigo pois tem medo de mim. Me acham... Sombria.
— Pode ser uma hipótese, mas só vamos descobrir no acampamento. Seu pai é obrigado a te reclamar pelas leis do Olimpo.
— E quando vamos?
— No início do verão. Nas férias. E você irá morar lá. Terá que dar um jeito de dizer à sua mãe.
Ao pensar que dali algumas semanas eu iria morar no acampamento quase pulei de alegria! Seria um sonho!
— Percy, Annabeth e os outros... Vou vê-los?
— Com toda a certeza. Só não fique os tratando como celebridades só porque leu as histórias. Lembre-se que eles são como você...
Uau! Eu sou como os semideuses dos livros! Isso é demais! Cada coisa que Thalles falava me deixava um pouco mais animada. Mal podia esperar.

A cada dia que passava, a expectativa aumentava dentro de mim, e passar a ver o mundo sem a névoa era absolutamente incrível.
Está certo que descobri que a Dona Iveta , que morava no segundo andar do prédio, era uma fúria. Ela tentou me atacar umas sete vezes. Por sorte, agora eu andava o tempo todo com Thalles e ele me protegeu, já que eu não tinha nenhuma arma ainda.
Thalles ia direto a minha casa e um dia insisti tanto que ele me mostrou as patas de bode.
Mamãe foi se acostumando com a presença de Thalles em casa e chegou a achar que eu e ele estávamos namorando. Vai entender...
Com o passar dos dias e o fim das aulas se aproximando, tive que contar a minha mãe, e pedi a ajuda de Thalles. Ele deveria saber como era isso, já que tinha buscado muitos semideuses até então.
— Mas, Thalles, como é que vou dizer isso pra ela?
— Não sei. Mas se eu disser a ela que vou te levar para Nova Iorque ela vai achar q sou um sequestrador maluco!
— Ela não vai achar isso! Minha mãe te adora! - Foi aí que eu tive a brilhante ideia - É isso, Thalles. Minha. Mãe. Te. Adora! Ela te adora!
— E como isso vai ajudar a gente?
— Segue meu raciocínio. - Eu disse animada. E comecei a explicar meu plano incrível - Ela insiste na ideia de que a gente namora. Teremos que assumir nosso namoro.
— Pamela, eu sei que sou muito atraente e você deve sonhar comigo todas as noites. Mas isso aqui é a vida real, e a gente não namora.
— Ai, Thalles! Eu sei! Que ideia, hein! Não sonho com você todas as noites, seu bode convencido! Mas temos que fingir para a minha mãe que estamos loucamente apaixonados! - Thalles e eu fizemos uma careta e demos risada com a ideia de fingir esse namoro e então continuei o plano - Você é um intercambista e vai voltar pra Nova Iorque. E quer que eu vá junto porque não conseguimos nos separar. E eu volto de vez em quando pra visitá-la. Mas vou para Nova Iorque morar com você e seus pais! Fim!
Thalles olhou pra mim por alguns instantes e depois caiu na gargalhada.
— Pam, você acha que sua mãe vai mesmo cair nessa?
— Não custa tentar, Thalles! A não ser que você tenha uma ideia melhor.
Isso foi o suficiente para fazer Thalles ficar caladinho e então fomos falar com minha mãe.

— Mãe, você sabe que o verão está chegando, e Thalles terá que voltar para Nova Iorque, não sabe?
— Ah, é verdade! Sentirei sua falta, Thalles, querido. Você vem nos visitar, certo?
— Mãe, na verdade Thalles quer pedir uma coisa.
Thalles arregalou os olhos pra mim, surpreso. Não achou que eu o deixaria com a parte difícil. Doce ilusão.
— Claro, querido. Fale.
— B-bom. Como sabe, eu e sua filha estamos namorando, e muito apaixonados, não é amor? - Prendi o riso ao ouvi-lo me chamar de amor - E pensamos, talvez...Bem... Ela pode ir pra Nova Iorque comigo? Eu adoraria. Poderei apresentá-la aos meus pais, e poderemos continuar juntos!
— Mas, filha, e sua escola? E, ah meu Deus! Você é tão nova ainda!
— Mãe, por favor! Os pais do Thalles já aceitaram e eu vou estudar na mesma escola que ele. Seria perfeito. Por favooooor!
Minha mãe pensou por um momento. Thalles e eu, que estávamos de mãos dadas para dar um ar melhor à atuação, ficamos apreensivos e apertamos as mãos. Se minha mãe não concordasse, teríamos que inventar outra coisa.
Então ela respondeu com um sorriso no rosto:
— Posso ajudar a fazer as malas?