POV Valentim

Respirei pesadamente,entrei no prédio e comecei a subir as escadas.Quanto mais rápido eu agisse melhor,antes que Luke chegasse.

Digo,não que ele fosse atrapalhar muito os meus planos,aquele lobisomem não era páreo para mim,afinal eu mesmo o ensinara,antes de mim,ele era um desastre na luta.Mas de qualquer forma,era bom evitar certas inconveniências.

Quando fiquei em frente á porta do apartamento de Jocelyn levantei o pulso e quase cometia maior burrice de minha vida,era óbvio que ela não iria me atender se eu simplesmente batesse na porta,ela não me amava mais,na verdade,eu temia que Jocelyn me odiasse,afinal,era essa a única explicação plausível para ela ter se casado com quem antes era meu melhor amigo e agora era algo que eu desprezava.

Suspirei ao me dar conta da minha burrice,e consegui me conter a tempo de não cometer a sandice de bater na porta.Jocelyn não iria me recepcionar com uma xícara de café e um pedaço de bolo.Sendo assim,alcancei minha estela no casaco e fiz um simples símbolo de abertura.

Quando entrei no apartamento música clássica tocava,vindo de um pequeno rádio portátil na bancada da cozinha.De costas parra mim estava uma mulher baixinha e ruiva,com um macacão todo sujo de tinta.Jocelyn.Eu a reconheceria de quaquer jeito,em qualquer lugar,em qualquer tempo.

Encostei a porta atrás de mim,e a tranquei com uma runa utilizando minha estela.Não podia facilitar sua fuga.Ao ouvir o barulho do girar da maçaneta,Jocelyn começou a dizer,com um tom de voz alegre e jovial:

–Luke,chegou mais cedo do...-Jocelyn empalideceu,e o sorriso em seu rosto se desfez quando ao se virar mirou não um homem de cabelos pretos e um par de óculos,mas sim eu,com meus cabelos prateados e olhos escuros sem qualquer sinal de miopia ou outro problema do gênero.

–Valentim.-Foi tudo o que ela disse,com a voz opaca.

Surpreso,percebi que aquilo me atingira fortemente.Em sua voz havia medo,raiva,desconfiança,incredulidade,qualquer coisa,menos amor.

No momento em que entrei em seu apartamento não pude deixar de me sentir um pouco saudoso da época em que eramos casados.

Aquele clima de intimidade de um casal,me fez lembrar.Me fez lembrar de quando minha casa era assim.De quando em Idris,eu chegava em casa com a música clássica flutuando até meus ouvidos e Jocelyn passava as tardes pintando.De quando ela se virava para mim sorrindo porque estava de fato esperando por mim.

E ela de fato não mudara nada.O mesmo corpo magro e os seios pequenos,a mesma cintura fina que eu envolvia com meus abraços,a mesma estatura baixa que me permitia me debruçar sobre ela.O mesmo cabelo ruivo preso desajeitadamente num rabo de cavalo.Os mesmos lindos e apaixonantes olhos verdes.Idênticos aos de nossos dois filhos.

Tal pensamento me despertou de meu transe e me faz lembrar do motivo de minha vinda a Nova York.Não havia tempo para ficar sonhando acordado.Talvez...depois...

Sim.Depois que meu plano funcionasse e ela visse como eu sempre estivera certo e fosse vitorioso ela se arrependeria,largaria aquele ser do Submundo e voltaria para mim.Eu a teria de volta.Teria minha vida de volta.

Mas para que isso acontecesse precisava me concentrar no meu plano.Não podia falhar.Avancei mais alguns passos,ficando próximo dela.Apenas alguns centímetros de distância nos separavam.A proximidade pareceu devolver a voz a Jocelyn,que até então não pronunciara uma palavra sequer,com exceção do meu nome,é claro:

–O que faz aqui Valentim?-Pude perceber que ela lutava para encobrir o tremor na voz,ela era boa naquilo,mas não o suficiente para me enganar.

–Precisamos conversar.-Antes que Jocelyn tivesse tempo ou oportunidade de reagir peguei uma adaga qualquer entre as milhares de armas que escondia,e com a parte oposta á lâmina dei uma coronhada em sua cabeça.