Susan estava velha e prestes a enfrentar o destino inevitável dos senhores do tempo. Ela sentia que algo estava errado, ela não sentia mais a presença da própria raça quando se concentrava. Ou eles estavam camuflados, ou estavam... Ela não queria pensar nisso.

Ian e Barbara estavam mortos faziam dois anos e ela ainda não estava acostumada, mas pelo menos ela tinha Eric, um garoto que ela adotou faziam dez anos. Susan sentia muitas saudades do Doutor e não entendia o porquê dele não visitá-la, pelo menos não visitá-la de verdade.

Em algumas noites, Susan acordava com o som da Tardis e um brilho muito forte na rua. Ela se perguntava se o Doutor sabia de Eric e se ele pretendia voltar. Ela não se arrependia de desistir do tempo e espaço para ficar na Terra, mas ela daria tudo por mais uma aventura com o avô.

Agora, ela estava ali, de frente para ele. O Doutor apertava alguns botões calmamente, evitando contato visual e fingindo que as autoridades do lado de fora eram uma ameaça. A garota que o acompanhava chegou perto de Susan:

–Quem é você?

–Quem é você?! -Disse Susan, deixando claro que a nova pessoa ali não era ela.

–Clara. -Disse a garota. -Clara Oswald. Sua vez. -Ela parecia muito preocupada com a presença de Susan.

Antes que ela pudesse responder, o Doutor tomou voz no ambiente:

–Esta é Susan. Minha... -O Doutor hesitou. -Minha neta.

Susan encarou Clara por alguns segundos e logo depois encarou a nova aparência da Tardis. Ela estava muito diferente da última vez que a havia visto. Susan já teve a oportunidade de ver mais do que um modelo moldado pelo Doutor, mas não daquele jeito tão elegante. A nostalgia de Susan quase a fez chorar.

–Você está diferente, vô.

–Você também. -Disse o Doutor, puxando a alavanca de freio da Tardis fazendo a máquina vibrar e fazer barulho. -Está loira agora.

Susan foi para mais perto de um espelho que estava em uma poltrona, talvez fosse de Clara, e observou o reflexo. Ela parecia mais nova do que no início do dia, ela regenerou pela primeira vez e aquilo fez com que ela aparentasse ter dezenove anos novamente. Ela se aproximou do Doutor e sorriu, Susan confiava o suficiente no Doutor para saber que ele teve algum motivo para não visitá-la por todo esse tempo. Algum motivo.

–Você voltou ao grisalho. -Susan disse.

O Doutor a abraçou. O momento teria durado por muito tempo, mas a Tardis enlouqueceu. Sem mais ou menos diversas faíscas surgiram no console da máquna do tempo fazendo Clara recuar para longe do centro da sala de comando. Susan escorregou para o corrimão na lateral da sala e o Doutor correu para o monitor. Luzes piscavam e a Tardis começou a tremer ainda mais.

–O que está acontecendo? -Gritou Clara, se segurando para não cair.

–A energia liberada das células regeneradoras da Susan ultrapassaram os limites dessa existência, atraíndo não só a mim, mas como alguma raça com o a habilidade de... -O Doutor parou de explicar. -Você não entenderia.

A Tardis parou e a porta se abriu. Clara encarou o Doutor por alguns segundo deixando-o sem graça:

–O que foi? -Ele perguntou.

–Eu não entenderia? -Clara pousava as mãos na cintura.

Antes que o Doutor se desculpasse, Susan se aproximou da porta e gritou para ambos correrem para mais perto. Quando a Garota Impossível olhou para o que havia do lado de fora, não viu coisas mais esquisitas do que já havia visto, mas de uma coisa ela tinha certeza:

–Com certeza não estamos mais em Londres.

Grandes pilares de metal cobriam o enorme galpão que a Tardis estava estacionada. Caixas metálicas com marcas arredondadas eram guardadas nas laterais do ambiente e o Doutor pareceu reconhecê-las, pois quando olhou para o lado de fora correu para mais perto das caixas. O espaço podia ser visto pelo enorme vidro ao lado, deixando claro que era algum tipo de nave.

–Isso é... -Susan não encontrou a palavra certa para o que estava vendo.

–Um depósito. -Disse o Doutor, tocando nas caixas metálicas.

–E o que isso tem de surpreendente? -Clara disse.

O Doutor caminhou por mais alguns metros e e tocou em outra caixa de metal. O Senhor do Tempo encarou Susan como se deixasse claro qual tipo de depósito era aquele e se voltou para Clara para responder a pergunta.

–Isso é tecnologia dos senhores do tempo. -Disse o Doutor. -É um depósito de armas.

–Armas? -Perguntou Susan.

O Doutor lembrou que a neta não sabia da Guerra do Tempo. Ele abaixou os olhos e hesitou em responder. Clara o encarou e pareceu triste também, fazendo Susan perceber que aquele era um assunto delicado e que envolvia o planeta natal dela.

–Vô, o que aconteceu em Gallifrey? -Ela perguntou.

–Uma guerra. -Respondeu o Doutor. -Uma guerra do tempo. Todos se foram.

Susan ficou chocada. Tudo que ela um dia conheceu em Gallifrey se fora? O instinto dela pulsou e percebeu que o Doutor tinha algo a ver com a Guerra ou com o seu final trágico, quase culpou o avô pela morte de todos quando pessoas surgiram do outro lado da sala.

As pessoas eram muito parecidas com humanos, mas usavam um tipo de armadura avermelhada com mais marcas de Gallifrey o que fazia eles parecessem senhores do tempo, mas o Doutor e Susan sabiam que não eram, teriam sentido a presença deles.

–Mãos para o alto! -Um dos homens gritou.

Os três fizeram o que foi mandado, talvez por causa das grandes armas apontadas para eles. Os homens se espalharam em volta deles e da Tardis deixando-os impotentes. Um dos homens não se moveu junto aos outros e andou pelo depósito calmamente para recepcioná-los.

–Finalmente! -Exclamou o homem. -Os últimos senhores do tempo e a última Tardis!

–E você seria..? -Perguntou Susan.

O homem tinha cabelos pretos e o rosto antigo, a armadura parecia mais vermelha do que dos outros e a arma estava presa nas costas, ao contrário dos outros que pareciam nervosos na presença dos senhores do tempo. Clara observou que assim como as caixas, as armaduras também eram roubadas e de origem gallifreyana. O homem ignorou a pergunta de Susan e gritou para os outros:

–Levem-os para fora!

E assim, o Doutor, Susan e Clara foram levados para fora do depósito.