Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 52
A Descoberta Árabe | Augusto e Alba


Notas iniciais do capítulo

Oioi, gente! Todas vivas? Acharam que tinham se livrado de mim? Nananinanão! Estou aqui, firme e forte, novamente. Não vou nem explicar o porquê de minha ausência, já que os motivos são sempre os mesmos... Dessa vez até tem mais um obstáculo entre eu e o ato de escrever RDC: um artigo científico que vale nota para quase TODAS as matérias e que está me fazendo pirar (o trabalho é em grupo, mas o pessoal não está colaborando).
Enfim, meu repertório de reclamações sobre isso é grande, então vou parar por aqui e deixar vocês com o capítulo!
Espero que gostem!
xoxo ♥ ACE



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"Quem não compreende um olhar, não compreende uma explicação"

Provérbio Árabe

 

O sol no lado de fora do Palácio de Amalienborg brilhava, iluminando todas as mais belas cores do outono, dos mais profundos tons de vermelho aos mais vibrantes verdes, que ainda não haviam secado. A maioria dos cômodos tinha suas janelas abertas para todas as maravilhas da natureza, porém um deles não. Este impedia que qualquer luz entrasse com suas grossas cortinas cor de vinho, fazendo com que tudo mergulhasse na escuridão. Inclusive a única figura humana que ali se encontrava.

Augusto, trajando um de seus melhores ternos, movia-se de um lado para outro pelo chão de carpete do quarto. Sua mente viajava entre os vários caminhos que a conversa que estava prestes a ter poderia tomar. Dependendo da maneira que começasse, os assuntos seriam diferentes. Talvez ele nem conseguisse chegar ao ponto necessário para que todo aquele esforço — desde encontrar um horário em que sua esposa, Courtney, não estivesse por perto até achar uma desculpa para chamar sua convidada até seus aposentos — valesse a pena. Cada palavra deveria ser pensada e ele não poderia deixar que a insegurança tomasse conta. Na verdade, nem precisava, a final, ele era poderoso e rico, ninguém tinha a capacidade de tirar isso dele.

Por alguns minutos, ele repassou seus possíveis discursos, como se treinasse com as paredes ou com os móveis. Até que, finalmente, o som de alguém batendo à porta ecoou pelo silencioso espaço, anunciando a tão esperada chegada. Depois de respirar fundo, o Príncipe foi até a entrada, revelando uma bela figura à medida que puxava mais a maçaneta. Os cabelos extremamente vermelhos brilhavam mesmo com a pouca luz. As roupas simples e azuis — que ela já usava no almoço — pareciam luxuosas em seu corpo cheio de curvas. Seus lábios perfeitos não esboçavam nenhum tipo de sorriso, mas mesmo assim, ela trazia alegria ao nobre em sua frente. Usar sua beleza como desculpa para um encontro fora a melhor ideia que ele já tivera, justamente porque não era mentira.

— Wanessa — ele disse, se inclinando para beijar a mão da moça. — É um prazer tê-la aqui.

A convidada não respondeu, apenas o olhou com seus hipnotizantes olhos azuis. Ele, não surpreso pela reação, simplesmente ignorou a falta de comunicação e a conduziu cômodo a dentro. Os dois se sentaram em duas poltronas lado a lado bem ao canto, as quais formavam uma pequena sala. Da mesa de centro era exalado um forte cheiro de laranja e especiarias vindo do chá que Augusto mandara preparar especialmente para a ocasião. Por algum estranho motivo, tudo parecia mais simples quando a conversa era acompanhada daquela deliciosa bebida quente — que, apesar de não ter álcool, deixava todos mais calmos.

Wanessa continuou em seu voto de silêncio. Com calma, ela pegou a xícara, levando-a até a boca como uma verdadeira dama. Vê-la naquela posição fazia sua mente voltar em muitos anos, quando ela ainda convivia com os outros nobres.

— Era bom quando nós tomávamos chá juntos, não é mesmo? — ele resolveu começar, tentando obter o que queria por meio de lembranças que, certamente, a pequena menina ruiva que corria pelo jardim ainda tinha. — Antes de você sumir e deixar toda a vida pública de lado…

— Minha vida foi sempre na pequena Krusa, todos se conhecem, não há como não ter uma vida pública lá — respondeu ela, com muita firmeza, como se estivesse prestes a bater no Príncipe. — E creio também que Vossaa Alteza nunca chegou a nos visitar, até porque a cidade tem míseros dois mil habitantes.

— Ah sim. Essa localidade… Você realmente pensa em tudo, não é? — falou ele, balançando a cabeça frente a tanto fingimento. — Não precisa esconder de mim, Wanessa. Eu sei os seus segredos, Wanessa. Acha que eu sou burro a ponto de não perceber?

— Acreditei que eu estaria segura para sempre aqui — admitiu ela, encolhendo os ombros. — Nem mesmo a Família Real, que era tão amiga de meus pais, parentes, inclusive, me reconheceu. E eu não estou aqui há pouco tempo.

— Nem todos são tontos, minha cara — afirmou ele, casualmente tomando um pouco de seu chá, como se falasse algo amigável. — Em algum momento você teria de ter uma conversa como a que estamos tendo agora. Sorte sua que eu fui o primeiro a notar.

— Por quê?  — questionou ela, enrolando uma mecha vermelha de seus cabelos no dedo.

— Porque eu estou do seu lado. Por anos estive preparando esse momento — explicou ele, encarando a moça com seus belos olhos azuis. — Você é a única que pode me ajudar. Juntos, nós podemos derrubar todos esses governos medíocres e dominar uma nova Europa.

— Você tem sonhos grandiosos, Augusto, mas não tem o que é mais importante: força para realizá-los. Não era você o Principezinho sem talento para herdar o trono que foi rejeitado pelo próprio pai? — ela atacou, erguendo as sobrancelhas. — Posso estar longe de tudo, mas isso não quer dizer que eu esteja desatualizada.

— Não é necessário talento para se ter algumas armas e um batalhão de militares revoltados com a Coroa — disse ele em um tom desafiador.

Ela finalmente pareceu ceder à retórica do ibérico, se inclinando um pouco à frente como se quisesse ouvir melhor as propostas dele. No meio do movimento, suas madeixas moveram-se um pouco, deixando à mostra os belos e definidos ombros e, o mais importante de tudo, a marca de nascença que por tantos anos metade da Europa desejara ter.

— Esse é um ponto com que ambos concordamos — ela falou, com um pequeno sorriso nos lábios. — O que você pretende fazer?

Antes que ele pudesse responder, porém, o som da porta se abrindo tomou conta do recinto. Logo, uma criança apareceu no campo de visão dois dois jovens. Seus cabelos extremamente louros caiam sobre seus olhos azuis, sendo levemente assoprados para cima por sua respiração ofegante, provavelmente causada pela corrida — até porque os pequenos do Palácio, de forma irritante, estavam sempre gritando e correndo pelos corredores.

— Phil, o que você está fazendo aqui? — questionou o Príncipe ibérico, levantando as sobrancelhas para o primo sueco, claramente irritado pela interrupção.

— Você precisa me salvar, primo! — o pequeno praticamente implorou, chegando mais perto do mais velho. — Aquelas meninas malucas não param de me perseguir. A única coisa que quero é estar sozinho!

— Saphira e suas amigas? — o outro perguntou, recebendo um aceno positivo de cabeça como resposta. — Achei que você gostasse de brincar com elas…

— Phinny é irritante. Sybbie e Althea mal conseguem se comunicar, só falam grego. Natasha é tímida demais. A melhor delas é Salimah, mas ela é muito ativa e eu não quero mais correr! — explicou o garoto muito rápido. — Achei que vindo aqui eu estaria salvo…

— Pois não está. Você deveria mesmo era tentar se resolver com elas — afirmou Augusto, tentando não levantar o tom de voz com o menino e levantando da poltrona. — Tenho certeza que elas vão entender sua posição.

Colocando uma das mãos nas costas magras do principezinho, Augusto o conduziu até a porta, recebendo algumas reclamações da vozinha fina do outro. Ignorando esse fato, ele empurrou levemente a criança, incentivando-a a sair do cômodo. Ele encarou com tristeza o primo mais velho preferido, que apenas rio ao observá-lo andar pelo corredor. Antes de entrar novamente, o ibérico para os dois lados, certificando-se que ninguém estava ouvindo. Mas ele não notou a pequena e magra figura que se escondia embaixo de um dos bancos ao lado da porta.

***

A grande sala de jantar do Palácio de Amalienborg estava mais lotada do que nunca. As mesas, que sempre eram o local de uma refeição calma entre os sete membros da Família Real é um ou dois convidados, agora juntavam os mais diferentes tipos de pessoas, desde as simples Selecionadas até uma das figuras mais importantes da Europa, a Rainha-mãe Sybil. A confusão, como o esperado, era total, com todos as vozes que ecoavam pelas paredes rosadas, com os risos que preenchiam o ambiente e com o barulho que os talheres faziam ao encostar nos pratos de cerâmica. E, por incrível que pareça, aquela situação não incomodava Alba Dahba em nenhum sentido.

Em sua casa, um dos luxuosos Palácios da nobreza saudita, tudo era confusão, o que era de se esperar de uma família de seis crianças, cinco meninos e uma menina, ainda mais com a cultura muçulmana. Apesar do extenso protocolo que deveria ser seguido antes de simplesmente entrar na residência real, a mesma estava sempre aberta para os mais diferentes convidados. Desde pequena, a amada Princesa Herdeira de um dos países mais ricos do Oriente Médio aprendeu a receber, a lidar com diversas culturas e, principalmente, com muita gritaria, ainda que todos os visitantes fossem muito educados.

E, assim como sabia acolher, ela também sabia ser acolhida, viver como uma das causadoras do fim da calmaria do lar anfitrião. Desde que completara 15 anos, três anos antes, seu pai a permitiu fazer viagens pelos países islâmicos, com o intuito que a filha aprendesse como governar dignamente, nos moldes de Alá. Porém a garota aproveitou a oportunidade para conhecer pessoas e para levar os tantos ensinamentos que os mais velhos tinham para passar e, sem dúvidas, fora uma das melhores decisões de sua vida. Em uma dessas ocasiões, por exemplo, visitou o Marrocos, tendo a oportunidade de conviver com Said e Salimah, que inclusive estavam na mesma mesa que ela naquele exato momento, tão longe de sua bela terra natal.

Relembrando os bons momentos que teve nos imensos e bem decorados corredores do palácio Dâr-al-Makhzen, em Rabat, Alba olhou para a pequena princesa marroquina, esperando receber mais um de seus belos sorrisos. Ela, porém, tinha seus belos e expressivos olhos castanhos voltados para Augusto, sentado a algumas cadeiras de distância, de uma maneira muito estranha. Em tantos anos que a conhecia, a saudita nunca tinha a visto daquele jeito. Depois de viver tantas situações ruins, quando, com a leucemia, a morte quase bateu em sua porta, a criança aprendeu a valorizar cada dia, cada gargalhada. Ela, acima de tudo, tinha uma sensibilidade incrível, tinha a capacidade de perceber problemas, sentimentos e tantas outras coisas muito antes dos mais experientes adultos. E foi justamente por isso que a Herdeira da Arábia Saudita se preocupou. Algo estava errado.

— Salimah, o que você tem? — Alba perguntou, em árabe, para a menina, levantando a sobrancelha. — Está com raiva de Augusto?

— Alá, grandioso seja, precisa salvá-lo — respondeu ela, tocando de maneira nervosa em seu belíssimo colar de esmeraldas.

A mais velha olhou para a pequena, desconfiada. Aquela garotinha nunca faria uma tempestade em copo d’água, nunca usaria o nome do tão poderoso Alá em vão. Alba sabia, assim, que algo sério ocorrera, tentando, assim, fazer contato visual com Aline, que se sentava logo ao seu lado. Porém a britânica estava tão envolvida com uma conversa com Yelizaveta — a bondosa e misericordiosa siberiana —, que quem percebeu sua chamada de atenção foi Saphira, que estava a duas cadeiras de Salimah. Os olhinhos azuis da princesa dinamarquesa mais nova passaram pela amiga marroquina e pela saudita.

— Não se preocupe, ela só está assim porque Philip, meu primo, gosta mais de Augusto do que dela — se intrometeu a pequena dinamarquesa em um inglês carregado de sotaque, claramente inferior a seu alemão quase perfeito. — Ela está com ciúmes.

Apesar de saber que, para a menina, aquilo não era mentira, Alba sabia que não poderia acreditar naquelas palavras. Salimah não estaria assim se fosse só ciúmes. Ela era apenas uma criança de 10 anos, que deveria apenas se preocupar com as brincadeiras e com os estudos, não com o amor. Ciúmes nem deveria estar em seu vocabulário. E, ainda por cima, não se tratava de uma garotinha tão especial quanto ela.

— Eu sei que não é por isso — a saudita afirmou, em árabe, para que a outra criança não entendesse. — Pode me contar, não precisa ter medo.

— Eu ouvi coisas, Alba. Coisas nada agradáveis, você pode ter certeza — a Princesa contou na mesma língua e tremendo. — Não quero falar sobre isso.

Saphira sussurrou algo para a amiga em dinamarquês, que Alba não entendeu, claramente percebendo que a amiga não estava bem. Logo depois, ela se levantou e se conduziu, seu vestido azul claro se confundindo com as outras tantas cores do Salão, até a mãe, do outro lado da mesa, trocando palavras em murmúrios com a mesma. Depois de uma pequena conversa, a Rainha fez que sim com a cabeça, porém acrescentou mais alguma coisa e a criança, apesar de um pouco triste, concordou e se afastou. Ao voltar a seu local de origem, ela pegou a pequena marroquina pela mão, logo chamando uma outra criança, Natasha, a tímida soviética. As três garotinhas, então, seguiram seu caminho até a porta, aos poucos sumindo entre as mesas.

Alba encarou-as, desconfiada, pela última vez, vendo a dinamarquesa abraçar o seu irmão mais velho, Alexander, enquanto ele beijava o topo de sua cabeça. Salimah. Assim que perdeu-as de vista, olhou para Augusto, sem mudanças perceptivas de comportamento, até um tanto feliz — dentro dos padrões dele —, conversando animadamente em espanhol com Teresa Cristina, tia de Luísa.

— Aline — a árabe cutucou a Princesa britânica, que finalmente olhou para a amiga. — Você sabe a identidade de Eris?

— Não posso afirmar com total certeza, mas tenho um palpite muito firme — respondeu ela, passando as mãos pelos cabelos escuros. — Achei que tivesse contado tudo para vocês.

— E você o fez. Entretanto acho que não somos as únicas a buscar a garota — Alba desviou o seu olhar para Augusto, tendo os seus atos acompanhados pela outra nobre.

— Augusto sempre teve grandes sonhos em relação à Germânia. Quando mais novo, talvez aos 7 ou 8 anos de idade, logo após minha proposta de casamento ter sido recusada, ele exigiu ao pai que Helga fosse sua noiva — revelou a europeia, levantando as sobrancelhas. — Mas não creio que a Inteligência dele seja tão grande a ponto de desvendar um mistério que tem sido investigado há mais de 17 anos.

— Concordo, porém não custa chegar, até porque ambas sabemos o quão poderosas e persuasivas as palavras que saem da boca desse rapaz podem ser — a outra disse, suspirando ao tentar esconder a frustra. — Se ele achou a perdida, bem… Ou ele pode ter…

— Encontrado a infiltrada, eu sei — ela completou, mordendo o lábio inferior.

— Certifique-se de que você escolheu a certa, ou você disse coisas para a traidora — aconselhou a saudita, balançando levemente a cabeça. — Seria bem mais fácil se pudéssemos simplesmente pedir a foto mais recente de Helga para Elisabeth, ela com certeza tem acesso a esse tipo de coisa.

— Ela apenas não fez isso ainda porque precisa sobreviver no Palácio, jogar as cartas assim tão rápido é muito arriscado — contou a britânica, com os olhos verdes cheios de preocupação, tanto pela situação, quanto pela prima mais nova, que vivia sob os cuidados do tirano Luther. — Não podemos esquecer que ela e principalmente Andreas, com todas as suas dificuldades, precisam do apoio do Rei.

— Juliane ama a sobrinha, pude perceber apenas nas poucas vezes que as vi interagindo, muitos anos atrás, quando visitei a Dinamarca com meus pais. Ela nunca negaria abrigo, tenho certeza. E Luther, apesar de idolatrar a garota, não iria contra as vontades dela — a outra afirmou, com a voz firme.  — Eu sei que você quer proteger nosso pequeno pássaro, mas estamos em uma situação muito delicada e precisamos dessa informação. Não teremos chance alguma se alguém mais sabe a identidade das duas Princesas.

Aline suspirou, encarando a amiga silenciosamente por alguns segundos, o verde dos dela quase que perfurando os castanhos escuros da outra. Mesmo sem palavras, Alba podia sentir que ela estava aflita, que não sabia qual seria o próximo passo a dar. Por tantos anos, elas e suas colegas trabalharam naquela missão com Anastásia. E agora, tão perto do fim dela, elas não poderiam falhar. Mas, apesar de tudo, de tantas coisas com as quais a princesa saudita não concordava, ela sabia que a decisão certa seria tomada.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? E agora: quem é a verdadeira princesa, Layla ou Wanessa? Ou nenhuma das duas? O que Aline e suas amigas farão sobre isso?
Muitos questionamentos, muitas revelações!
Espero de todo coração que vocês tenham gostado!
Semana que vem RDC faz dois anos! Enquanto aguardam o especial, assistam às Olimpíadas (estou olhando sempre que dá, inclusive enquanto pesquiso para o artigo) e estudem bastante hahah!
Até a próxima!
xoxo ♥ ACE
PS: Obrigadaaa pelos comentários, assim que a apresentação desse meu trabalho (dia 24), vou responder!



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