Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 47
Uma Paz Preciosa | Juliane


Notas iniciais do capítulo

Hoje é quinta, hoje é dia de RDC! Como prometido, aqui estou eu no dia 17!!! Aeee, escritora fiel. Por alguns momentos, achei que não conseguiria, porque tinha muitas provas e trabalhos (tá complicada a coisa por aqui) e também porque comecei a ler Lady Midnight e estava usando todo meu tempo livre para isso. Mas deu tudo certo!
Ah, me desculpem por não ter respondido aos comentários (mesma desculpa que ali). Li todos com muito carinho, mas o tempo não foi legal comigo para me deixar respondê-los da maneira que gosto. Prefiro demorar um pouco mais e fazer algo com muito amor a fazer logo e fazer de qualquer jeito.
Outra coisa, a Ravena, como dona do 400º comentário, escolheu seu prêmio. Será uma matéria sobre a Luísa do Império Latino-Americano. No próximo capítulo, quando ela estiver pronta, colocarei o link aqui!
Aproveitem o capítulo! ♥



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A festa estava melhor do que Juliane jamais poderia imaginar. Petiscos e doces de qualidade, ótima distribuição da decoração e uma receptividade encantadora. Por mais que não quisesse admitir, as Selecionadas tinham feito um ótimo trabalho. Quando as vistoriara nos dias anteriores, nada daquilo estava pronto, fazendo com que tudo parecesse uma confusão sem fim. A Rainha até pensara que passaria vergonha na frente de todos os convidados. Mas a verdade era que as pretendentes de Alexander tinham mágica em suas mãos.

Esperava ela que elas continuassem assim depois que fossem coroadas, porque, se acontecesse o contrário…

— No que minha bela esposa tanto pensa? — questionou uma voz masculina suave, vinda de trás da loura. —Não acredito que os assuntos da guerra não a deixam em paz nem em um momento de celebração.

A mulher se virou, ficando de frente para o marido. Ele, como sempre, estava mais que elegante trajando um de seus ternos cinza feitos sob medida. Seus braços — que não eram tão magros nem tão musculosos — estavam definidos como nos desenhos dos melhores artistas e as pernas pareciam mais longas. Mas era na parte superior de seu corpo que se encontrava sua maior beleza. Destacados pela cor pacata da vestimenta, seus olhos brilhavam com uma alegria que eles raramente revelavam. Uma alegria que tinha o poder de a contagiar de uma maneira que nem ela conseguia explicar.

 — Estou apenas observando tudo, nada de conflitos ou qualquer outra coisa que faça minhas têmporas latejarem — ela respondeu rindo, enquanto ele se aproximava para depositar um beijo delicado em sua bochecha. — Mas você não tem permissão de me julgar, já que estava conversando com Harald e Gustav...

—Não temos apenas esse assunto em comum, sabia? —ele disse, sorrindo e passando as mãos pelos cachos da amada. —Estávamos falando sobre nossas famílias, como em breve todas estarão interligadas pelo sangue. Os noruegueses estão muito animados com a entrada de Isabella em sua Casa Real.

Quando o nome da filha foi citado, Juliane se pegou olhando para o outro lado do jardim. Duas meninas de quase a mesma estatura, ambas muito elegantes com os cabelos ondulados balançando com o vento. Seus sorrisos, tão parecidos com o do Rei, pareciam abrilhantar ainda mais o ambiente enquanto elas conversavam com o pretendente de uma delas, Arthur. Mesmo com seus poucos 16 — em alguns meses 17 — anos de vida, elas já portavam uma beleza que muitas outras dinamarquesas muito mais velhas gostariam de ter. Ou seria essa apenas o ego de uma mãe, de uma Rainha que queria que suas herdeiras tivessem o melhor destino possível?

Ela, sinceramente, não sabia.

—Eles estão crescendo muito rápido, nossos filhos — falou Christian, acordando a esposa de seus devaneios, mas parecendo tão envolto nos seus pensamentos quanto ela. —Parece que foi ontem que as bonecas e os carrinhos estavam espalhados pela casa.

—Saphira ainda tem uma quantidade considerável de brinquedos que deixam as criadas furiosas — a Soberana riu entrelaçando as mãos em frente a uma das flores vermelhas de seu vestido creme. — Apesar de eles muitas vezes estarem no hospital, ainda são de uma de nossas crianças.

—Shh, nada de assuntos ruins hoje, temos o ano todo para citar — ele pediu, entrelaçando sua mão grande à delicada dela com muita ternura.

Ela, então, se deixou ser guiada por ele pelos caminhos do jardim que ela conhecia tão bem. Naqueles breves momentos, ela teve conversas leves com os outros nobres, que, apesar de suas funções de tanta seriedade, ainda eram pessoas com quem mantinha suas mais sinceras amizades.  Conversas que ela não tinha há semanas e, com certeza, não teria mais por muito tempo...

***

Apesar de estar gostando da festa do jardim, em algum momento, ela teria de terminar, dando espaço para a parte considerada mais importante —porém mais séria — da celebração.  E isso aconteceu muito rápido, ou talvez fosse apenas uma ilusão, já que os assuntos leves com seus colegas monarcas envolviam Juliane completamente.

De qualquer maneira, desconsiderando fator para que os eventos no jardim fossem de tanto agrado da Soberana, logo ela estava sendo arrastada pelo resto da multidão, que se movia em uma espécie de marcha desajeitada pelas escadas. Por mais que sempre se sentisse superior a todas aquelas garotas plebeias — que formavam a maior parte da procissão —, agora ela sentia como se fosse uma delas. Totalmente perdida e escondida, sem que ninguém por ali notasse sua verdadeira identidade. O que, por alguns minutos, era até bom, já que nenhuma das Selecionadas tentava chamar sua atenção. Mas que também causava certa agonia. Tanta impotência a fazia se sentir inútil.

 Em seu quarto, de volta a sua posição de nobre, após passar por muitos degraus e corredores lotados, suas criadas a banharam e a arrumaram da maneira delicada como sempre faziam. A mais antiga delas Aina, que acompanhava Juliane desde seu casamento, penteava as longas madeixas longas com todo o cuidado, tentando não desfazer os cachos feitos com tanto carinho naquela manhã. A outra, Elva, massageava seus pés, preparando-os para horas em saltos extremamente altos. E a última, a jovem e miúda Hella, tirava do armário o vestido separado para a noite. Desde que a festa fora anunciada, as três serventes não paravam de falar sobre a tal peça de roupa, mas Juliane se recusara a vê-la. Tinha confiança o bastante nas moças para se deixar ser surpreendida.

—A senhora está linda, Majestade — admitiu Aina, sorrindo ao tocar levemente os fios loiros da Rainha, certificando-se de que tudo estava perfeito. — Depois de tantos dias, creio que agora seja a hora de finalmente ver o belo vestido que preparamos para essa ocasião tão especial.

A aristocrata, então, se levantou da cadeira luxuosa de couro vermelho e caminhou com seus pés descalços pelo carpete até o espelho do outro lado do quarto. Assim que chegou à frente da peça, que era ricamente decorada com pedaços de prata, visualizou algo que nem ela imaginava. Um vestido longo acinzentado com flores bordadas com a linha do mais escuro azul caia perfeitamente em todas as curvas de seu corpo, devido ao corte bem definido. Em seus ombros, destacando-se da cor do tecido, estavam seus cabelos, que, diferente do usual, estavam soltos. No topo de sua cabeça, encontrava-se uma pequena coroa dourada que se fundia aos fios loiros, porém ainda assim brilhava com as minúsculas pedras que ali se incrustavam.  

Ela, em momento algum, poderia negar que suas criadas faziam um bom trabalho. Por mais que tivesse muita confiança em si mesma, sabia que era difícil deixar belas as formas de uma mulher que já passara por quatro gestações. Muitas vezes, as roupas serviam de maneira estranha, como se ela estivesse fingindo ser a jovem que já não era havia. Mas daquela vez não. Ela estava bonita como alguém de sua idade, como uma Rainha. E não era a única que achava isso.

Pela segunda vez apenas naquele dia, Christian surgia por suas costas, arrancando-lhe um sorriso. Ele trajava um terno muito semelhante ao da festa do jardim, a única diferença aparente era a gravata, que agora era de um vermelho vivo. A alegria, como era de se esperar, era a mesma. Parecia até que a festa era para ele, não para o filho.

— O que está fazendo aqui? —questionou ela, tentando soar divertida e ainda se admirando no espelho. — Quer tirar a minha privacidade?

—Não esqueça que esse também é meu quarto — respondeu ele, sentando-se no banquinho à esquerda de Juliane. —E minha visita valeu à pena, pois pude ver minha esposa arrumada de uma maneira linda antes que todos os outros.

—O propósito era ser uma surpresa para todos — ela disse, se virando para ele. —Afinal, preciso impressionar os convidados.

—E estar bonita para o anúncio de nosso pequeno segredo — falou, já se levantando novamente e entrelaçando seu braço ao dela.

—Espero que tudo ocorra bem — ela admitiu, dando um sorriso fraco. — As crianças andam um tanto rebeldes nos últimos tempos, chego até a ter medo da reação dele.

—Vai dar tudo certo — ele afirmou, mas, ao observar atentamente sua expressão, ela pôde perceber que ele não estava tão seguro assim.

Ignorando a manifestação duvidosa do marido, então, ela seguiu até a porta do aposento. Antes de sair, acenou em gratidão para as criadas, que desejaram boa sorte silenciosamente — coisa que ela realmente iria precisar.

***

Assim como a celebração externa, a interna surpreendeu Juliane. Grandiosos arranjos de flores azuis se encontravam dispostas periodicamente pela extensa mesa, casando sua cor com a das delicadas pinturas da prataria. Os talheres que foram, sem dúvidas, muito bem limpos, brilhavam com a luz artificial fraca do ambiente. Os copos, feitos dos mais preciosos cristais que a Família Real possuía, carimbavam sua sombra bem delineada na toalha creme.

Sentada ali, na ponta de toda aquela decoração espetacular, o grandioso Salão — que já não era muito usado normalmente — parecia estar localizado em outra parte do mundo, não em Copenhague. A sofisticação se assemelhava à dos grandes jantares organizados pelos grandes Czares da Rússia no passado, que eram tão apreciados nos mais diversos livros de história. As cores e os ornamentos lembravam Juliane das festas realizadas pela parte grega de sua família nos tempos de glória. Mas não importavam as semelhanças, e, sim, a maneira como as características mais marcantes das festas mais prestigiosas foram utilizadas ali em extrema sintonia.

Não era, porém, apenas a visão da Rainha que saiam satisfeitos do evento. A audição, agraciada pela bela música clássica tocada pela Orquestra Juvenil da Academia Real Militar, se maravilhava. Para o olfato, então, não havia explicação para tantos aromas que saiam da pequena porta que levava até a cozinha auxiliar — o que estava extremamente ligado ao paladar, que se deliciava a cada prato que era trazido. Tudo harmonizava de uma maneira que Juliane jamais pensara ser possível, vindo de plebeias, que há poucas semanas, chegaram ao Palácio sem ter ideia de como se portar.

Realmente, ela estava impressionada.

Os assuntos com seus amigos nobres seguiram muito leves, tal como estavam no jardim. Nada de guerra, apenas a paz e a felicidade que eles tinham naquele momento. Se, alguns dias depois, perguntassem à Soberana sobre o que se tratava a conversa daquela noite, ela, provavelmente não saberia responder. As palavras proferidas por elas eram tantas e tão sem conteúdo comparadas às das reuniões, que não precisavam ficar guardadas em sua memória. Era como se ela fosse uma jovem Lady germânica novamente, falando asneiras para suas irmãs e amigas.

Assim como as conversas, a comida também estava muito agradável e bem preparada, apesar do cardápio que não seria a primeira opção da Rainha. Ao ver o que lhe era servido, ela logo notou que as Selecionadas tentaram agradar o aniversariante. Havia vários pratos exóticos, vindo de diferentes países, como o consumê mediterrâneo a entrada indiana. Mas, como não poderia faltar, o stegt flæsk, tipicamente dinamarquês fora escolhido como prato principal.

E, depois de vários minutos que pareceram segundos, foi colocada a sua frente a sobremesa, uma perfeita fatia torta de maçã que tanto se assemelhava à que costumava comer na infância. Por mais que quisesse levar o garfo com pedaços daquela delícia logo à boca, ela se conteve. Deveria cumprir o combinado primeiro.

—Atenção a todos — ela proferiu, levantando-se e fazendo com que os demais presentes todos voltassem seus olhares para a ponta da mesa. —Espero que todos estejam aproveitando a festa, mas tenho que interromper seu divertimento para saudar quem é o real motivo para estarmos aqui: Henrik.

Tímido, o menino moreno, que estava escondido atrás da áurea de alegria que as irmãs irradiavam, apenas sorriu para os convidados. A mãe, entretanto, não se conteve, pedindo para que ele levantasse, o que fez, muito relutante. Assim, todos o aplaudiram com muita emoção. Uma pequena confusão, cheia de conversas paralelas e felicitações ao Príncipe mais novo. Logo, o ambiente, que antes era de tanta paz, estava mais tumultuado até —a Rainha poderia arriscar — que o desfile do dia anterior.

Juliane, a fim de conseguir terminar o seu anúncio, pegou o copo já vazio em sua frente e bateu nele com a pequena colher de sobremesa, a última que sobrara dos seus inúmeros talheres. Assim, a atenção de todos estava nela novamente.

—Bom, apesar de já considerarmos essa comemoração um grande presente, temos mais uma surpresa para nosso filho querido — ela anunciou enquanto o marido também se erguia da cadeira, como o combinado, com uma pequena caixa cinza em mãos. — Luísa, aproxime-se.

Do outro lado da mesa, uma garota surgiu. Seus cabelos extremamente longos estavam presos em uma trança, que descia perfeitas pelas costas do belo traje típico verde e azul de seu país, o kafkan. Enquanto se movia, sua pequena coroa de ouro incrustada de brilhantes absorvia uma nova luz, ora a artificial das lâmpadas, ora a natural da lua. E, desse modo, a ideia de Juliane de que aquela jovem herdeira era uma princesa perfeita só se confirmava.

—Tenho muito orgulho de apresentar a todos vocês, em primeira mão, a noiva de meu filho, Luísa Mercedes Gloria da Casa Imperial Viegas-Montenegro, Princesa Herdeira do Império Latino Americano — disse a Rainha, quando a menina já estava em posição de destaque junto aos dois dinamarqueses. —Henrik, venha aqui para fazer as honras.

Incrédulo, ele andou até os pais. Seus olhos castanhos estavam arregalados, como era de se esperar de um menino de quinze anos recém-completos que acabara de descobrir que iria se casar. Para a sorte da família, ele não era como Isabella, que bateria boca com a mãe sobre o assunto na frente de todos, exatamente do jeito que a mãe temia. Muito pelo contrário, ele reagiu de forma muito adequada, aceitando a caixa do pai. Abrindo o pequeno objeto, ele descobriu um anel de ouro branco com uma única pedra vermelha e delicada, tratando logo de colocá-lo no dedo de sua prometida. Apesar de todo o nervosismo, ambos sorriram um para o outro quando a joia estava em seu devido lugar.

Assim como no momento das felicitações, o período que seguiu o anúncio de Juliane foi muito barulhento. Todos comentavam a formação do mais novo casal, sendo de forma positiva ou negativa, em voz alta ou em voz baixa. Todo aquele som, entretanto, não conseguiu esconder o alto barulho que a porta do Salão fazia ao se fechar.


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Notas finais do capítulo

Quem será que saiu correndo?
Não vou falar mais para deixar esse questionamento no ar! Até dia 31/03 (e o spin-off, que será semana que vem)
xoxo



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