Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 11
O Primeiro Jantar | Alexander


Notas iniciais do capítulo

Oii! Estou pelo celular, qualquer erro avisem!
Aproveitem a leitura!
xoxo ♥ ACE

[CAPÍTULO ATUALIZADO 04/10/2020 - LEIAM AS NOTAS FINAIS]



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Mais uma vez, Alexander se encontrava na companhia de centenas de páginas de leis, reclamações e projetos não aprovados, abandonado por todo e qualquer outro ser humano. Nem mesmo o pai, que era sempre tão dedicado às atividades reais, aguentara as inúmeras horas na penumbra da biblioteca, tendo deixado o filho alguns minutos antes ao alegar ter necessidade de um pouco de ar puro.  Apesar de se sentir solitário, Alexei não poderia reclamar. Afinal, esse era seu trabalho durante a Seleção,  já que não poderia deixar o Palácio para longas visitas diplomáticas a outros países como costumava fazer — as Selecionadas não teriam como conquistar o Príncipe se ele estivesse ausente. Mas isso não o impedia de ficar frustrado com sua situação atual

Se já não bastasse estar vazia, a biblioteca também estava estranhamente silenciosa. Não havia nenhuma criada limpando. Nenhum guarda checava o corredor. E, o pior de tudo, ninguém estudava em uma das diversas mesas do local. Geralmente, durante as tardes, Ingrid fazia companhia ao irmão, sentando-se a algumas mesas de distância e fazendo barulhos animados quando conseguia terminar algum exercício de matemática — uma companhia reconfortante que Alexander não apreciava propriamente. Mas, naquele dia, como a Princesa fora obrigada a acompanhar as Selecionadas na Academia Real Militar até mais tarde,  o único som do grande cômodo era o do virar de páginas do Príncipe, que já começava a irritá-lo profundamente.

No meio de tantas palavras, divididas em inúmeros tópicos, houve uma que chamou a atenção de Alexei. Nela constava o descontentamento de imigrantes germânicos em relação à Dinamarca. Mas o pior não era a infelicidade deles, mas sim a nota escrita à mão:

 

O governo Germânico pode interferir.

 

Esse era um problema real. A Germânia, uma grande potência vizinha, já não tinha muita afeição pela Dinamarca, por mais que Juliane fosse sobrinha do atual Rei. Se Alexei nunca tivesse lido as reclamações, não saberia o quão sério aquilo era. Apesar de ter ficado assustado com a nota,  resolveu não se estressar com ela naquele momento. Quando voltasse de sua caminhada,  o pai poderia, com toda sua calma e prudência, resolver a situação.

Os próximos itens eram entediantes. Apenas projetos sociais que pediam, ou melhor, imploravam pela ajuda do governo. Não que Alexei não achasse importante para o país ter esses projetos — na verdade, achava essencial — mas não estava com humor para eles naquele momento. Encarar a parede parecia muito mais interessante.

Desse jeito, ele pode perceber a beleza oculta do local. As estantes eram ornamentadas elegantemente com leões, símbolos da família. As poltronas eram de um vermelho vivo muito elegante, apesar de simples. Os livros completavam o cenário rústico com suas lombadas coloridas. O ambiente era tão acolhedor e íntimo, uma herança de família, que Alexei não queria que as Selecionadas o frequentasse. Nunca. Aquele era o espaço de pesquisa de Ingrid, o refúgio do próprio príncipe e o esconderijo de Saphira nas brincadeiras de esconde-esconde. Assim, só a mais querida das garotas poderia conhecer o lugar, sem exceções.

— Como vai meu irmão mais velho favorito? —  Uma voz, cuja dona Alexei logo reconheceu, quebrou o silêncio do recinto, sendo acompanhada de passos nada graciosos. 

— Sou seu único irmão mais velho. — Ele revirou os olhos para a irmã, que apenas riu. — Vou bem.

Alexander não sabia bem há quanto tempo estava ali, mas, ao ver a irmã, percebeu que horas deveriam ter passado. Isabella já não vestia as fardas militares da Academia, o que indicava que ela já tivera tempo de se banhar e se trocar, o que costumava levar algum tempo..  Ao olhar para ela, o Príncipe também conseguia notar os efeitos da Seleção. Geralmente, após voltar da escola, ela trajava um abrigo confortável ou alguma outra roupa qualquer, deixando a mãe furiosa. Contudo, naquele momento, a Princesa estava impecável com o vestido cinza de seda que Alexei jurava pertencer a Ingrid.Conhecendo a irmã como conhecia, Alexander tinha certeza que ela se arrumara apenas para impressionar as Selecionada — ou amedrontá-las, nunca era possível saber qual dois dois quando se tratava de Isabella.

— Passou o dia lendo essa chatice? — perguntou ela e, quando recebeu um balançar de cabeça afirmativo como resposta, deu mais uma risadinha. — Deu para perceber, meu querido.

— É tão óbvio assim? — questionou ele, largando os papéis que se encontravam em suas mãos. — Pobres pretendentes, irão me ver mal-humorado logo na primeira noite.

A Princesa riu suavemente, a fim de evitar que alguém os ouvisse ali, principalmente a mãe. Ela, então, sentou-se de modo dramático na poltrona ao lado do irmão. Os movimentos elegantes incomuns e o sorriso em seu rosto acobertavam algo, e Alexander sabia que não era nada bom. Qualquer que fosse o plano da vez — provavelmente algo relacionado as Selecionadas, o que mais seria? — Alexander pressentia que ele seria envolvido. 

— Sobre isso, tenho uma sugestão. — Sua voz era mansa. — Acredito que você deveria mostrar algum afeto por elas, sabe? Elas precisam saber que você se importa com elas.

Alexander encarou os grandes olhos azuis da irmã. Por mais que não quisesse acreditar, sabia que ela não estava mentindo ou sendo irônica. Aquela era a real opinião dela e, se Isabella estava pedindo para ele ser mais carinhoso, ele deveria ouvi-la. Afinal, Alexander não sabia ao certo como se portar em frente às pretendentes — Ophelia não contava nesse quesito, ela nunca o deixara nervoso — e Bella era uma garota, deveria saber o que outras garotas gostavam. 

— Eu mal as conheço! — argumentou ele, tentando tirar a ideia da cabeça da menina.

— Exatamente — disse ela, rindo como se fosse óbvio. — Você precisa conhecê-las de alguma maneira. Essa demonstração de carinho não precisa ser um beijo, um abraço amigável já está ótimo. Os verdadeiros amores vêm de verdadeiras amizades, irmãozinho.

Alexander suspirou. Isabella estava certa: ele precisava aproximar-se das garotas logo. Caso contrário, ele nunca encontraria seu amor entre elas. E começar por amizade era o melhor caminho.

— Mamãe não vai gostar nada disso — constatou ele.

— Alexei, você tem 19 anos! Não precisa mais da opinião da mamãezinha. — O menino tentou protestar, mas ela tapou a boca dele com a mão. — Não interessa se ela vai ou não o matar.

— Quero um funeral bem bonito.

♕♕♕

O sol se punha em Copenhague e, em Amalienborg, todos já estavam sentados à mesa de jantar, esperando ansiosamente o prato principal ser servido. Diferente das refeições usuais da Família Real, naquele dia, a refeição era servida na linda porcelana centenária em comemoração à primeira noite das Selecionadas no Palácio — uma grande honra, já que estes eram apenas retirados dos armários para visitas ilustres. A última vez que Alexander comera neles fora no jantar de boas-vindas da Imperatriz Regente do Império Sul-Asiático, Kanima e sua filha, Farrah, quase dois anos antes.

Suas pretendentes pareciam bastante animadas, mas mesmo assim não omitiam ruídos. Elas sabiam que poderiam ser eliminadas pela Rainha numa simples risada muito alta. Essa preocupação apenas deixava Alexei mais feliz, pois isso significava que elas realmente desejavam estar ali.

Alexander ainda observava a mesa das garotas quando o garçom apareceu ao seu lado com um prato de frikadeller, escolhido pelo próprio Príncipe para a ocasião. O cheiro de peixe temperado com ervas tomou conta do ambiente. Apenas de ver as batatas de aparência macia cobertas de molho e as pequenas bolas de carne, o Príncipe ficou com água na boca. E o prato estava completo com a taça de vinho que outro rapaz depositou ao seu lado.

— Bom apetite — declamou o pai, permitindo que todos comessem.

Com a fala do Rei, todos começaram a refeição, seguindo os protocolos Reais. Alexei lembrou-se de Saphira, que nunca conseguia esperar pelo comando do pai para comer, mas nunca era punida por isso, diferente dos outros irmãos. A mãe sempre dizia que Christian “pegava muito leve com os filhos, principalmente Saphira e Henrik”. Alexander, porém, achava que essas regras eram rígidas demais e faziam com que todos sempre estivessem tensos. Pobres Selecionadas, que — mais até que os jovens Príncipes e Princesas — teriam de estar sempre na linha, tendo motivos ainda mais sérios para seguir as regras do Palácio. Afinal, nenhuma delas gostaria de ser eliminada pela temida Rainha Juliane por conta de um deslize bobo.

Apesar da tensão, assim como Alexei, todas as meninas pareciam estar gostando da refeição, visto que, faziam caretas de satisfação a cada mordida. Uma delas, porém, sentada na extremidade esquerda da grande mesa das Selecionadas, não apreciava o prato. Estranhamente, a menina de belos e longos cabelos ruivos mal olhava para sua refeição, fazendo de tudo para desviar os olhos delas enquanto conversava com as outras competidoras. Apesar de ficar preocupado com o bem-estar de sua pretendente,  Príncipe sabia que, se levantasse, seria severamente repreendido pela Rainha, que se sentava logo a seu lado. Poucos instantes depois, porém, para alívio de Alexei, a Senhora Gillies também notou o comportamento estranho da garota, logo se dirigindo até ela.  

Assim que a coordenadora se aproximou dela, a  ruiva — cujo nome Alexander tentava, sem sucesso, lembrar — disse algo com uma expressão séria no rosto. A Senhora Gillies, que outrora fora a rígida baba do pai e tios de Alexander, era conhecida no Palácio por não abrir exceções, mas, em um momento de compaixão, pareceu se comover com o que a Selecionada dizia. Com carinho, ela ajudou a garota a se levantar e pediu sussurrou algo a uma das outras criadas.

— A Senhora Gillies está pedindo permissão para liberar a Senhorita Laryssa — anunciou a criada, que foi às pressas até a mesa da Família Real. — Ela não está se sentindo bem.

O rei apenas assentiu com a cabeça, autorizando a saída antecipada da Selecionada. Alexander, porém, não queria deixar Laryssa — que alívio finalmente saber seu nome, ele pensou — sair sem que ele fizesse algo. Antes do encontro que tivera com a irmã na biblioteca, refletiu muito sobre o que ela falara. Não entendia ao certo quais eram os motivos de Bella, já que ela nunca fora a maior fã da Seleção, mas ele tinha de admitir que ela estava certa: ele deveria demonstrar carinho, de alguma forma. Enquanto se preparava para o jantar, então, ensaiou a despedida que daria a todas as 35 garotas assim que elas fossem liberadas para voltar a seus quartos. Em seu plano, ele se levantaria e ficaria em frente a porta da Sala de Jantar, dando boa noite a todas as Selecionadas. Mas agora, com uma delas saindo mais cedo, não sabia como prosseguir. Será que as outras meninas acharão que eu estou favorecendo Laryssa? ele ponderou, aflito. 

— Espere! — o menino falou impulsivamente em um tom um tanto alto demais, o que fez com que sua mãe lhe lançasse um olhar repreendedor.

Subitamente, todos ficaram em silêncio, esperando os próximos passos do Príncipe. A Rainha, já furiosa, ameaçou levantar, mas foi impedida pelo Rei, que segurava sua mão com força. As gêmeas, sentadas na outra extremidade da mesa da Família Real, sussurravam uma para a outra, dando risinhos discretos — provavelmente achando graça do constrangimento do irmão mais velho. As Selecionadas arregalaram os olhos, confusas. E Laryssa, já de pé, parecia constrangida. Alexander, porém, ignorando tudo isso, andou até Laryssa. A cada passo que dava, seu nervosismo aumentava. Será que deveria mesmo fazer aquilo? Esperava que sim.

— Não poderia deixar uma das minhas Selecionadas sair sem me despedir — ele disse quando finalmente parou em frente à Laryssa.

Alexander, então, estendeu sua mão em direção a da garota, pegando-a com muita suavidade. Como o cavalheiro que era — e que fora treinado a ser durante toda a sua vida — aproximou a mão da garota a sua boca e ali depositou um beijo cordial. Ainda um tanto chocada com o súbito ato do Príncipe, Laryssa sorriu tímida. Por alguns segundos, os dois se encararam, sem saber o que dizer. Era a primeira vez que Alexei via uma de suas pretendentes de perto, e ele não conseguia tirar os olhos dela. E, naquele momento ele soube: seria uma tarefa praticamente impossível se apaixonar por apenas uma delas.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Até o próximo!
xoxo

[ATUALIZAÇÃO 04/10/2020]

Esse capítulo foi postado no final de outubro de 2014, quase exatos 6 anos atrás. E, nossa, que experiência nostálgica que é revisá-lo agora. Essa foi a primeira interação real de Alexander com Laryssa e com qualquer uma das Selecionadas, na verdade (se você está lendo a história pela primeira vez agora, vou tentar não soltar spoilers hahaha).Comparado com outros capítulos que editei nos últimos tempos, achei a escrita desse bem aceitável, sem muitas passagens problemáticas. Mas, como sempre, a escrita era ainda bem básica, por isso, adicionei alguns detalhes. Além disso, acabei mudando a "demonstração de carinho" de Alexander. Na versão original, ele abraçava Laryssa. Porém, agora penso que um abraço era muito íntimo para o momento. É bem coisa de brasileiro sair abraçando todo mundo logo quando conhece, mas, para outras culturas, isso não é tão normal (e imagino que, para a realeza, isso seja menos normal ainda). Por isso, agora Alexander apenas beija a mão de Lary #cavalheiro.

Por hoje era isso de atualizações. Qualquer erro ou sugestão, minha MP está sempre aberta!

xoxo ♥ ACE