Doeu. Eu lembro que doeu, não tanto pela pancada, mas vê-la correndo para ele foi o que mais me abalou. O idiota loiro obtinha um sorriso debochado para mim.

Veja bem, é humilhante apanhar. Pior que isso é apanhar em frente ao colégio com todos os alunos em volta, ainda por cima tumultuando e gritando por briga. Aquele povo queria sangue! Foi tudo tão rápido:

– Vamos, levanta Jackson! - Jason, o adversário na visão do público amador, me chamou para a ação - Não é mais tão valente agora não é?!

– Jason! Chega. Vamos embora. - Ela se pronunciou pela primeira vez desde que chegara na "roda" da confusão.

– O que é Annabeth? Está com pena dele agora? Eu ainda não terminei aqui. Enquanto a você, Castellan - Jason virou-se para Luke - Mantenha distância da minha irmã.
Jason cuspiu no gramado, tentando parecer superior. Thalia, a irmã dele, bufou em descontentamento.

– Jason, sabemos muito bem que você não liga para os meus relacionamentos. Pare de cuidar da minha vida, posso resolver meus problemas sozinha, okay? - sempre admirei Thalia, ela é totalmente oposta do que o irmão babaca é, pelo menos agora.

– Como é? Thalia, estou tentando te proteger aqui. Quando chegarmos em casa o papai ficará sabendo que você dá bola para qualquer vagabundo. - Jason era o filhinho perfeito na visão do pai dele (iludido), e Thalia a irresponsável. Cansado desse vexame, me pronunciei levantando:

– Isso, Grace, sempre correndo para o papai não é? - provoquei o garoto, já de pé com meu típico sorriso desafiador e debochado no rosto.
Luke já havia se levantado e ao longe pude ver Leo e Nico chegando, meus amigos.

Pensei que Jason não gostaria muito da minha pequena provocação, porém nesse meio tempo que desviei minha atenção aos meus amigos, tive certeza de que ele havia odiado. Antes de ter a chance de fazer algo (nem que fosse correr), fui apanhado por dois de seus coleguinhas pitbulls segurando meus braços.

– É o que você pensa, Jackson? Pelo menos meu pai me dá atenção. Aonde está o seu, Perseu? Em algum bar enchendo a cara? - Jason estava pronto para socar minha barriga. Ele tocou minha ferida.

Não aguentei e acabei surtando. Nico e Luke trombaram nos garotos que me seguravam, perguntei-me aonde Leo estava, mas pude vê-lo pelo canto do olho com o celular na mão, belo amigo que eu tenho. Ele não era o único que estava filmando.

Aproveitei a minha chance e parti para cima do Jason, pulei nele ficando por cima. Dei o primeiro soco no seu rosto.

– Você não tem o direito de falar sobre isso, seu cretino! - praticamente gritei. Eu parecia uma garotinha histérica. Que marica! Pelo menos distribuí mais dois socos de cada lado de seu rosto.

– Percy, para! - era ela, Annabeth me chamou. Desesperada, me pedindo para parar de bater em seu namoradinho.

Meu coração falhou uma batida, não, espera. Não foi o meu coração. Annabeth me desconcentrou por um segundo, tempo suficiente para Jason se recuperar do soco e chutar minha barriga. Aquilo realmente doeu.

Foi quando ela correu para ele e me abalou profundamente. Não me acostumei até hoje com os dois juntos. Annabeth falou algo em seu ouvido, Jason deu um sorrisinho satisfeito, aquilo me deixou zangado, o que ela havia dito a ele? Ao examiná-lo vi o filete de sangue escorrendo pelo canto da boca, seu rosto com certeza ficaria marcado e inchado, fiz um bom trabalho até.

O casal feliz foi embora, seguidos por seus fiéis cães do time de basquete e algumas garotas líderes de torcida. Afinal, ele era capitão do time e ela capitã das líderes. Isso me parece tão clichê que tenho vontade de vomitar.

Leo, que não tinha feito nada para me ajudar até agora, resolveu agir mandando a multidão embora.

– Vamos pessoal, não há mais nada para ver aqui! Acabou tudo! Por Zeuza Fabulosa! Aquele é o diretor?! - logo todos saíram o mais rápido possível.

Já recuperados do choque, pude assimilar tudo o que aconteceu com mais calma e até lembrar do meu nome! Milagre! Sou Perseu Jackson, tenho 17 anos, pais divorciados porque o meu progenitor é um babaca e sou um garoto frustrado. Ótimo, sem amnésia, já é um avanço.

Nico e Leo vieram até Luke e eu. Devo mencionar que eram ótimos amigos, pelo menos Luke e Leo. Nico é meu primo, e família a gente não escolhe não é?! Okay, o Nico é legal.

– Cara, o que aconteceu aqui? - perguntou Nico exasperado, não sei se pela preocupação ou pelo choque da briga. Provavelmente a segunda opção.

Se Nico não fosse o meu priminho babaca eu até poderia ter medo dele! O garoto já foi mais normal, entretando, quando a mãe dele morreu, deixando o garoto sozinho com o pai, a irmã, uma mansão e carros importados (eu mencionei que o pai dele é rico?), o garoto se fechou pro mundo, nunca mais foi o mesmo menino brincalhão e sorridente. Só para os mais intimos.

– Nem me pergunte! - respondi frustrado.

– Okay, eu conto - Luke me fez esse favor, agora estávamos em uma lanchonete perto do colégio - tudo começou quando eu resolvi tomar uma atitude com a Thalia, seguindo o conselho de vocês - disse comendo uma batata - eu iria tentar chamá-la para sair...

– Assim que você parasse de gaguejar - completei.

– Hey, pensei que tivesse chegado já no começo da encrenca, como sabia que eu gaguejei?

– Eu não sabia! Você realmente gaguejou?! - não aguentei, Nico e Leo me acompanharam na gargalhada enquanto Luke corava.

– A questão é - continuou, tentando mudar de assunto - quando eu iria chamá-la para sair, aquele idiota do irmão dela chegou todo putinho mandando eu me afastar dela. Foi quando a treta começou e...

– E eu entrei no meio quando vi uma rodinha se formando, o Luke já estava jogado no chão a uma hora dessas - o interrompi, sempre fui uma criança um pouco hiperativa.

– Obrigado pela consideração, Percy. Você faz parecer como se eu fosse a sua donzela em apuros. - Luke resmungou bravinho.

– Own, sempre shippei vocês dois! - disse Leo, enquanto roubava o brinquedo do mc lanche feliz de Nico. Ele cometeu um erro ao fazer isso.

– Seu filho de metamorfo, funkeiro, cú de cadela! Devolve meu brinquedo, cretino! Eu vou invadir sua casa durante a noite e cortar sua garganta! - Nico é sempre tão amável.

Pois é, velhos hábitos não mudam, Nico sempre foi possessivo em relação ao mc lanche feliz dele. Mas pensando bem, é comida! Vale a pena surtar!

A família da mesa ao lado qua antes estava feliz, nos encarou perplexa de boca aberta, pensei que o garotinho iria chorar.

– É brincadeira, esse cara adora uma piada, liga não gente! - soltei uma risada totalmente sem jeito à eles.

A família não mais tão feliz continuou a comer, mas em outra mesa, bem longe da gente. Percebi que era o mais seguro a fazer no lugar deles.

– Cara, não dê uma de filho do diabo na frente de criancinhas. Não me surpreenderia se chamarem um manicômio para vir nos buscar. - repreendeu Luke, enquanto Leo gargalhava da situação.

Não é legal quando você fala algo impróprio bem na hora em que todos decidem parar de conversar e todos te escutam.

– Continuando a fofoca, digo, história - tentei mudar de assunto - o Luke estava no meio de uma briguinha com os servos de Jason. Eu como sou um amigo exemplar, já cheguei na voadora!

– É, e você tem uma péssima mira, Percy! Acertou mais em mim do que no outro cara! - não sei do que o Luke estava reclamando, eu cheguei lá, não cheguei?

– Olha aqui, sua vadiazinha loira, não é porque você tem olhos azuis que pode reclamar dos meus serviços okay?! Eu faço o que posso e você sempre cobra mais e mais de mim! - eu disse em um tom choroso e gay, devo admitir.

– Cara, você não faz o serviço direito, a culpa não é minha! Eu estou insatisfeito sim! - okay, se antes estava estranho, agora até eu estou assustado!

– Hey - Nico nos chamou a atenção enquanto arrancava seu brinquedo das mãos de Leo - deixem a DR de vocês para depois, okay? Quero saber o que aconteceu.

– Certo, depois de me recuperar da estúpida voadora de Percy, foi quando a desgraceira começou, parecia um MMA..

– Na verdade, a gente apanhou feio! - admiti - aquele tal de Ethan, um dos fiéis seguidores de Jason, me atingiu covardemente pela reta-guarda com um taco de beisebol! Eu me pergunto até agora aonde ele conseguiu aquilo!

– E essa foi a parte em que já estávamos no chão e o Jason começou a falar umas bobagens para Thalia, me chamando até de vagabundo.

– O que não deixa de ser verdade. - rimos com o belo comentário de Leo Valdez!

É, bem-vindo ao meu mundo!