Os cabelos negros de Ellie balançavam em suas costas cobertas pelo vestido negro.A jovem andava decidida pelas ruas sombrias e escuras da madrugada de Londres, a procura de uma vítima qualificada.
Talvez ela tenha exagerado um pouco no batom vermelho, mas leu em um livro que alguns demônios seduziam suas vítimas, então elas iam até eles, Ellie achou interessante tentar.
A capa roxa da menina estava escondida em um beco, era uma isca.

Mal sabia a garota que seu pai e seu mordomo andavam sobre os telhados das casas da rua mal iluminada, observando cada passo da jovem dama.

– O que ela está fazendo? Faz meia hora que está só andando por ai, e já passamos por umas cinco almas. - reclamou baixinho o Conde com seu mordomo.

– Ora Jovem Mestre, não espera que uma Phantomhive coma qualquer coisa que encontra por aí, espera? - Sebastian disse, com um sorriso.

– Humph.

A bota negra de salto de Ellie fazia um barulho maior do que o normal graças ao silencio do lugar deserto. A Lady deu um pequeno sorriso ao sentir o cheiro de uma ótima alma próxima.

– Já era hora. - murmurou para sí.

Ela não gostava de matar.
Mas também não gostava de sentir fome.
Ellie desmanchou a expressão satisfeita assim que viu o dono da alma que lhe dera água na boca, a transformando em uma expressão, de certa forma,assustada.
O homem vestia roupas de nobre, tinha um cabelo longo e castanho, olhos oliva e carregava um sorriso, como se fosse o dia mais feliz de sua vida.

Ao passar por Ellie, ele a encarou preocupado e parou.

– Com licença jovem dama, está perdida? - perguntou, segurando delicadamente o braço da mesma.

– Es-Estou. - gaguejou. - e ainda perdi minha capa, minha avó havia feito para mim antes de...antes de...

Um soluço alto - e falso - escapou da garganta da menina.
Ciel e Sebastian haviam parado em um dos telhados, cujo tinham uma ótima visão da cena.

– Onde a Ellie aprendeu isto? - perguntou o Conde, estranhando, normalmente a garota estaria vacilante em enganar alguém.

– Você mais do que ninguém deveria saber que durante a caça, demônios são mais traiçoeiros que o normal, jovem mestre. É a nossa natureza. - disse Sebastian, sorrindo de canto.

– É, suponho que você esteja certo.

Ambos acompanharam Ellie e o homem até um beco, onde assim que os dois entraram, a jovem pressionou o cara na parede, as asas negras surgindo, a expressão demoníaca veio de brinde, assim como os chifres.

– Obrigada, senhor. - disse a garota.

Após estas palavras, gritos agonizantes se instalaram no local, e minutos depois, um corpo sem vida estava caído no beco.

– Definitivamente, você tem razão. - Ciel disse, por fim.

– O senhor sabe que eu sempre tenho.

– Humph, não se ache muito.

A Jovem Phantomhive vestiu sua capa novamente, e voltou a andar como quem não queria nada. O faro da mesma acabou a levando para a floresta, onde começou a saltar sobre as árvores, seguindo um cheiro ótimo, quase tão bom quanto o de sua refeição anterior, e dificultando seu pai e seu mordomo de lhe acompanhar.
A garota parou bruscamente em um galho, avistando uma menina de aproximadamente sete anos, e obviamente, perdida.

– Mamãe? Mamãe, onde está a senhora? Você prometeu que iríamos em um lugar legal, por que me deixou aqui? - a garotinha chorava.

– "Eu não posso fazer isso com ela..."- Ellie pensou, enquanto saltava para o chão, se escondendo sob a árvore.

– Por favor mamãe, não me deixe aqui eu...eu tenho medo do escuro. - a garotinha gritou o final, e se ajoelhou no chão, chorando.

– " Eu definitivamente não posso fazer isso com ela. " - decidiu a jovem Phantomhive.

– Por favor...por favor....- murmurava a menina.

– Ei, garotinha. - chamou a Lady Phantomhive.

– Ahm? Qu-Quem está ai? - a criança se levantou, pronta para correr.

– Olhe, não precisa ter medo, eu vou te ajudar está bem?

Ellie saiu das sombras, dando seu melhor sorriso para a menina, que mesmo relutante, permaneceu no lugar enquanto a mais velha se aproximava dela.

– Ei ei campeã, o que aconteceu? - perguntou, se ajoelhando na frente da garotinha.

– Minha mãe disse que iria comprar um doce para mim e depois iríamos para algum lugar legal, e eu deveria esperar aqui, mas...mas ela não voltou! - a garota soluçou.

– Sh sh, calma, eu vou te ajudar a encontrar sua mãe, talvez ela tenha se perdido...mas primeiro eu preciso saber o seu nome.

– Meu nome é Chloe...

– Prazer Chloe, eu sou a Ellie. Pronta para achar sua mãe? - a dama se levantou, estendendo a mão para Chloe segurar,

– Pronta! - Chloe segurou a mão que fora lhe oferecida, e sorriu para a mais velha.

Ciel e Sebastian observavam tudo do alto de uma árvore sem entender absolutamente nada.

– O que ela está fazendo? - rosnou Ciel. - ela está atraindo a garota ou vai lhe ajudar realmente...?

– Parece que encontramos, Jovem Mestre. - falou Sebastian, vagamente.

– Encontramos o que?

– A Ellie que você pensou que havia sumido.

Antes que as duas pudessem se afastar a procura da mãe de Chloe, alguma coisa acertou Ellie no rosto, que bateu bruscamente contra uma árvore.

– ELLIE-SAN! - gritou Chloe.

– SAIA DE PERTO DO MEU JANTAR, DEMÔNIO! - uma voz feminina, porem forte, gritou.

Ellie arregalou os olhos verdes, pensando se o cheiro é o que ela pensava que era.

– Ah não...CHLOE, CORRE!

– MAS ELLIE...!

– EU LHE ALCANÇO, ENCONTRE SUA MÃE, CORRE!

A vampira de longos cabelos brancos que havia atacado a lady se virou furiosa para a garotinha, que ao ver a expressão da mesma, saiu correndo como lhe foi mandado.
A vampira ameaçou ir atrás, mas vou impedida por um golpe.

– NÃO CHEGUE PERTO DELA! - gritou Ellie, desferindo mais um soco na face de porcelana da vampira.

– Ora ora, uma demônio boazinha? Ou é apenas atuação? Você iria tão longe por uma alma, demônio? - a de cabelos brancos encarou de morena debochada, exibindo os dentes pontudos.

– Cale a boca! Cale a boca!

A mulher desferiu um soco na cara da jovem, que depois, lhe deu um chute na cara. A vampira rosnou e partiu para cima da demônio, praticamente arrancando seus cabelos, deixando a morena quase sem saída.
Até se lembrar da adaga dada por seu pai.

– Nunca mais encoste na minha refeição, sua mestiça imunda. - rosnou a vampira (n/a: Bellatrix aprovess).

Ellie começou a gargalhar, assustando a de cabelos brancos que até o momento a batia sem parar.

– Acho que você se esqueceu...- em um movimento, a demônio ficou por cima da vampira, com a adaga apontada para o pescoço da mesma. - que em comparação a mim, você é a imunda.

No momento que a morena foi cortar a garganta da vampira, a mesma deu um tapa na mão que segurava a adaga com força, fazendo acertá-la na barriga. A vampira utilizou o resto de suas forças para afastar Ellie de sí, e apenas encarava o céu com os olhos arregalados de dor.

Ciel e Sebastian as observavam, tentados a ir ajudar Ellie, mas sabiam que isto não seria possível.
Ambos se assustaram ao ouvir a vampira implorar a Ellie ajuda, sendo recusada diversas vezes.

– Por favor...- insistia.

– O que eu ganho ao ajudar alguém que tentou me matar?! - disparou a jovem dama.

– Se me ajudar até eu melhorar eu...eu lhe digo onde está a mãe de Chloe, e te ajudo com tudo o que precisar, eu lhe prometo. - dizia a vampira sem forças.

A Phantomhive considerou por muito tempo, analisando os prós e contras.
Haviam mais prós.

– Feito. - disse por fim. - me diga, onde está a mãe de Chloe, eu levarei a garota até ela e depois voltarei para lhe buscar.

– Como saberei que não está mentindo?

– Eu não minto.

A de cabelos brancos suspirou, estava perdendo todo seu sangue, não que realmente precisasse dele, mas a adaga era especifica para ferir seres da noite, se não fosse tratada o quanto antes, morreria.

– Tudo bem, a mãe dela está presa em uma cabana abandonada no fim de um beco. - informou.

– Certo, volto logo.

Em menos de minutos, Ellie havia encontrado Chloe, a levado até a mãe e deixado as duas em casa com segurança, coisa que surpreendeu a vampira ao ver a jovem voltar.

– Mas já?! - indagou, espantada.

– Eu sou uma Condessa em tanto, afinal de contas. - disse a jovem com um sorriso. - Agora, preciso que se apoie em mim, vamos para minha mansão.

– Tu-Tudo bem. - a vampira se apoiou na demônio. - antes...como se chama?

– Sou Ellie Phantomhive, você seria?

– Blair Cromwell.

Já em seu escritório, Ciel resmungava com Sebastian.

– Será que a Ellie tem noção do que está fazendo?! Mantendo uma vampira em casa?! E ainda nem veio me informar! - resmungava.

– Talvez por que tenhamos chegado a apenas meia hora e ela está tratando dos ferimentos da senhorita Cromwell? - opinou Sebastian.

– Cale-se! - chiou Ciel.

Na mesma hora, três batidas leves foram escutadas, depois de um breve " Entre" o som da porta rangendo preencheu o local, e duas figuras apareceram.
A garota de longos cabelos negros e olhos verdes-esmeralda e a outra.
Uma mulher alta, de cabelos brancos um pouco menores que os de Ellie, olhos dourados, bochechas sem cor e lábios rosados apareceu, ela usava um vestido branco que ficara um pouco curto em sí, já que provavelmente pertencia a Ellie.

– Pai, com licença, eu preciso falar com o senhor. - ela disse.

– Sente-se.

A menina obedeceu, e se sentou de frente para o pai, a mulher que havia entrado consigo a seguia como uma sombra.

– Esta é Blair Cromwell...- começou, logo contando toda a história ao pai. - então eu cuidei dela, e depois fizemos um contrato de sangue.

A garota mostrou a rosa negra, manchada pelo sangue das duas para Ciel, ao mesmo tempo que Blair mostrava a dela.

– Ellie, tem noção do quanto isto foi perigoso? - chiou o Conde.

– Eu sei, mas a questão agora é que não é mais e...ela tem resposta para algumas coisas que eu preciso. - disse a menina, vacilante.

– Que tipo de coisas?

– Coisas minhas!

O pai bufou.

– Tudo bem, mas Sebastian terá que ter permissão de investigar a senhorita Blair, e saiba que se ela tiver ao menos um erro, poderá dar adeus a ela. - falou Ciel, contrariado.

– Sebastian tem a permissão, e a Blair tem noção disso, eu já lhe deixei informada sobre tudo da mansão, e a história que combinamos é de que ela é filha de um conde da Itália, que veio passar uma temporada conosco por você conhecer o Conde. - disse a dama, falando tudo em um só fôlego.

– Certo, certo. - falou Ciel. - então, me apresente a Condessa Cromwell.

Ellie se levantou e se postou ao lado da vampira.

– Blair, este é Ciel Phantomhive, meu pai. Pai, esta é Blair Cromwell.

– Prazer.

– Prazer.

Os dois apertaram as mãos, Blair parecia ter adorado Ciel, o encarava de um modo esquisito.

– Agora, Blair, este é Sebastian Michaelis, nosso mordomo. - falou a garota, sorrindo para o mesmo.

– Cara, seu mordomo é lindo! - falou a " convidada" sem ao menos pensar.

Ellie sem nem desviar o olhar, deu um soco na cara da albina, que caiu no chão, assustando a todos.

– É, eu sei. - falou simplesmente. - boa noite pai, boa noite Sebastian. Venha Blair.

E saiu com passos firmes, sendo seguida por uma Blair assustada. Ciel encarou Sebastian o fuzilando, que apenas sorriu e deu de ombros como se não soubesse de nada.

– Vou verificar se Ellie ou Blair não precisam de nada. - disse o mordomo.

Ao mesmo tempo se reverenciando e saindo, deixando o Conde sozinho com seus pensamentos.

– " Acho que estou entendendo o que está acontecendo...e eu definitivamente não gosto nem um pouco do rumo que isto está tomando. " - pensou, suspirando. - " mas em como toda investigação, são preciso provas."

Enquanto isso as duas meninas se encontravam no quarto da dama, tentando arrumar um pijama para Blair.

– Eu não acredito no que vou dizer agora mas...desculpe por te atacar Ellie, o sangue daquela menina era com certeza saboroso, e eu estava a caçando faz uma semana, quando vi um demônio perto dela simplesmente pirei. Desculpe. - falou Blair, cujo estava sentada na enorme cama da garota.

– Eu te desculpo. - falou a mais nova, se virando. - amigas?

– Amigas.

Elas sorriram e depois começaram a rir, ambas nunca tiveram alguma amiga que haviam conhecido em outro lugar, claro que Ellie tinha Meyrin, Bard, Finny etc, mas eles são sua família, então ter uma amiga que não era de sua família era algo inteiramente novo para ela.

– E o que amigas fazem? - perguntou Blair.

– Apenas são...amigas? - respondeu. - ah, é só agirmos como companheiras e a gente vai descobrir, aqui seu pijama.

– Obrigada.

A vampira entrou no banheiro, e depois voltou com uma camisola de Ellie que como ficava grande na mesma, coube perfeitamente nela.

– Eu tive uma ideia! - disse, correndo até a cama da garota e pulando nela, se sentando de frente para Ellie. - vamos fofocar.

– Fofocar?

– É, falar sobre garotos, roupas, lutas, esse tipo de coisa. E ainda podemos descobrir mais uma sobre a outra.

– Certo, mas o que for dito aqui não sai daqui. - declarou Ellie.

– Concordo. Então...tá, já sei, quantos anos você tem? - perguntou a vampira.

– Quinze. - respondeu a demônio.

– Não, não sua idade humana, se vire. - e assim a dama fez, e Blair começou a fazer-lhe uma trança. - eu digo sua idade demônio.

– Eu descobri minha parte demoníaca a pouco tempo atrás. - falou Ellie.

– Como?! - exclamou a amiga da garota. - me conta tudo!

A Phantomhive suspirou, já não aguentava mais essa história, porém contaria, se ambas iam ser amigas de verdade tinham que saber tudo sobre a outra. E então contou a história, tentando poupar alguns detalhes.

– E foi isso. - disse, por fim.

– Wow, é a primeira vez que escuto algo do tipo. - declarou Blair. - incrível Ellie!

– Mas agora eu estou caçando um anjo sem nem saber como eu mato ele, além de que quero descobrir algum modo de separar meu pai e Sebastian. - suspirou a menina, acariciando Sebby, o gatinho que havia acabado de pular em seu colo.

– Eu posso te ajudar! Minha mãe era uma caçadora de anjos e demônios, e me ensinou tudo antes de morrer, sobre o contrato de seu pai e seu mordomo, nós vamos descobrir juntas. - Ellie a olhou curiosa, inclinando a cabeça, um sinal claro que de queria ouvir mais sobre a história da vampira, que suspirou e sorriu. - Tudo bem, eu te conto tudo, lá vamos nós...Minha mãe como eu já disse, era uma caçadora, uma das melhores, devo acrescentar, meu pai era um vampiro caçado por ela, um vampiro odiado pelo mestre de minha mãe, já que meu pai havia transformado a esposa do mesmo. Porém assim que se enfrentaram pela primeira vez se apaixonaram, e era novo, um vampiro se apaixonar por uma humana? Ainda mais uma caçadora. E então, ele se declarou durante uma luta dos dois, e ai eles fugiram juntos, tipo Romeu e Julieta.

– Mas o Romeu e a Julieta não fugiram juntos, eles se mataram para um ficar com o outro.

– Da na mesma, continuando, eles viviam felizes, e me tiveram, minha mãe foi transformada em vampira logo após meu nascimento por que ficou muito fraca com isso, eu incrivelmente não tenho nenhum sangue humano, embora minha mãe fosse uma, nasci completamente vampira. E aí, todos começaram a ficar doentes, a Europa inteira...

– A peste negra. - sussurrou Ellie (n/a: pouhan Sebby - o demônio, não o gato- valeu hein.)

– Sim. E na nossa aldeia, como éramos os únicos que nunca nem pegavam uma gripe, acharam que fomos nós que espalhamos. Uma noite, todos se juntaram com tochas em volta de nossa casa, com fogo, cruzes e estacas de madeira, nos chamando de demônios. - os olhos de Blair se encheram de lágrimas. - meus pais ficaram, e me mandaram fugir, prometeram que iriam sair vivos, mas ambos não lutavam a vários anos, estavam fracos. Eu corri e me escondi, e eles...eles não sobreviveram.

A vampira começou a chorar, as lágrimas dela não eram cristalinas como as de Ellie, eram vermelhas e escuras, eram sangue. A demônio a abraçou e afagou os cabelos brancos, sem saber muito o que fazer, as lágrimas manchavam o pijama branco de ambas em vermelho.

– Está tudo bem Blair, eles não iam gostar de te ver assim. - disse Ellie.

– Você tem razão...sabe Ellie, você é a primeira demônio realmente boa que eu conheço.

– Eu acho que nesse quesito eu devo ser mais parecida com a minha mãe.

Elas sorriram uma para outra, e depois de lavarem o rosto de Blair, voltaram a conversar. Sebastian, que ouvia tudo atrás da porta, deu seu típico sorriso.

– Uma vampira e uma mestiça amigas...isso vai ser interessante.