O vento soprava do lado de fora de minha janela, fazendo finos e secos galhos de árvore arranharem o vidro que não permitia o frio entrar no quarto. Era madrugada, uma pessoa normal estaria dormindo neste horário, mas, eu estou longe de ser normal de qualquer forma, e, ver Kyle dormindo me parecia muito mais interessante no momento. Eu poderia embarcar no mundo dos sonhos a qualquer momento, mas a visão que tinha, fazia-me sentir estar lá havia um longo tempo.

Ri baixinho enquanto o vi virando-se durante seu sono profundo, fazendo com que seus cabelos alaranjados caíssem por cima de seus olhos. Então, apenas estiquei meu braço e, suavemente, joguei as madeixas para o lado.

Eu tentava desviar o olhar, mas não consiguia, era impossível. Ele parecia estar dormindo tão tranquilamente... me pegava pensando em como ele parecia um anjo, um milagre, que estava ao meu lado o tempo todo, mas que eu não tinha percebido até alí.

Nós já tínhamos dormido muitas vezes na casa um do outro, mas daquela vez parecia diferente. Pela primeira vez notava que Kyle era muito atraente, sua expressão inocente enquanto dormia me fazia sorrir sem que eu percebesse.

Continuei deitado, apenas apreciando seu pequeno corpo adormecido.

Sim, isso é um pouco... assustador... e gay. Mas realmente não me importo. Qualquer um que visse a mesma imagem que eu estava presenciando, notaria o quão adorável ele era.

Imaginava com que tipo de coisa ele estaria sonhando. Talvez apenas um sonho sem sentido, ou então algo sobre Kenny, ou Cartman. Mas eu não gostava de pensar nisso, prefiria imaginar que está sonhando algo relacionado a mim, que aquela expressão angelical de seu rosto vinha a partir de pensamentos sobre minha pessoa.

A minha vontade de chegar mais perto de Kyle aumenta a cada momento, queria apenas apoiar minha cabeça em seu peito, sentir o calor e ouvir sua respiração, ou então envolvê-lo em meus braços, mas eu não podia fazer isso. Não queria acordá-lo. E também, não queria que ele acabasse me achando estranho por isso.

Continuei parado, o olhando... respirando tão calmamente... até ele se mexer.

Parecia estar acordando de um sono muito profundo, sentava-se no colchão vagarosamente, enquanto espreguiçava-se.

Com pressa, fechei meus olhos, apertei-os de leve. Se fizesse isso com força, ele notaria que estava apenas fingindo dormir, e provavelmente perguntaria qual era o problema, e cara, essa, de todas as perguntas possíveis, era a que eu menos queria responder. Então apenas fiz o melhor que pude para fingir estar desacordado.

"Stan?" - sussurrou ele com uma voz sonolenta.

Silêncio de minha parte.

"Que bom." - sussurrou mais uma vez.

Senti quando ele apoiou seus cotovelos perto do meu corpo, que tremia de nervosismo. O som dos meus batimentos cardíacos deveriam estar mais altos do que a própria voz dele antes, Kyle deveria ser surdo para não notar isso. E, apesar de mais cedo eu ter desejado que o quarto fosse mais claro para eu poder enxergá-lo melhor, agora queria que fosse o mais escuro possível, assim ele não veria meu rosto ficar avermelhado.

Senti uma de suas mãos encostar meu ombro esquerdo, e logo depois seu dedo contornar as linhas dos meus lábios, como se estivesse os desenhando com cuidado, traços suaves, que não me acordariam caso eu realmente estivesse dormindo. Senti o calor de seu corpo se aproximando cada vez mais de mim, até chegar ao ponto de estarmos tão próximo ao ponto de conseguirmos ouvir nossas respirações, cada vez com uma diferença menor de distância, até Kyle finalmente encostar seus lábios nos meus.

Foi um beijo inocente, como se fosse o primeiro, tanto para ele quanto para mim. Depois disso, beijou minha bochecha uma vez, e quando pensei que estava prestes a recuar e voltar para seu colchão como se nada tivesse acontecido, ouvi o sussurrar de uma voz doce chegar em meus ouvidos.

"Por que você insiste em permanecer com os olhos fechados, Stan?" - abro meus olhos de uma vez só para me deparar com o garoto de cabelos vermelhos incrivelmente próximo de mim, com seus olhos verde-mar me encarando de perto - "Você estava corando, eu consegui ver."

Realmente, a visão boa de Kyle compensou sua audição incapaz de perceber os batimentos acelerados que meu coração emitia a cada segundo.

"Cara, que porra foi essa?" - falei o encarando de volta, tentando parecer calmo, apesar de saber que estava falhando nisso - "E, você também está completamente corado."

O rosto de Kyle tornou-se ainda mais avermelhado, provavelmente até mais que o meu.

"Puta merda, eu apenas tive vontade de fazer isso, qual o problema?" - falou ele aparentemente esforçando-se para não aumentar o tom de sua voz.

"Não, problema nenhum. Aliás, queria fazer isso a algum tempo, mas é tão... gay." - Kyle pareceu se surpreender com minhas palavras, mas logo sua expressão irritada converteu-se a um sorriso.

"Cara, nós já somos muito gays." - falou rindo em meio de suas palavras.

"Você tem razão, somos mesmo." - concordei, enquanto levantava levemente minha cabeça, para resultar em mais um beijo.